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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Francesco Petrarca (Poesia Sem Fronteiras)




“DOCE IRA, DOCE MAL, DOCE BRANDURA”

(Espera que a fama há de compensar
                      o seu atual tormento)

Doce ira, doce mal, doce brandura,
doce afã, doce peso que hei sentido,
doce falar tão docemente ouvido
e que é doce de luz ou de aura pura.

Alma, sofre calada o que tortura,
mitiga o doce afã que te há ofendido
com o doce louvor que hás recebido
por esta que é minha única ventura.

Dia virá que suspirando diga
alguém cheio de inveja: assas sofrera
este por belo amor e seu enredo.

Outros: Ó sorte dura e tão inimiga!
Por que esta doce Dama não nascera
pouco mais tarde, ou eu, pouco mais cedo?

(Tradução de Jamil Almansur Haddad)
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1 "EM VIDA DE LAURA"

(Narra a sua miséria que atribui à Laura )

Paz não tenho, sem ter motivo à guerra:
temo, espero, ardo em fogo, e sou de gelo,
quero subir ao céu e caio em terra,
nada abraço, e o universo ando a conte-lo.

Preso, a prisão não se abre, e não se cerra:
prendem-me o coração, mas sem prendê-lo,
não me dá vida ou morte, Amor, e erra
minha alma sob o enorme pesadelo.

Odeio-me a mim mesmo, alguém amando,
grito, sem boca ter, sem olhos, vejo,
quero morrer, e a morte me apavora.

A dor me apraz, e rio-me, chorando:
não quero a morte, a vida não desejo...
Eis o estado em que estou por vós, Senhora.

(Tradução de Luiz Delfino)
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4 "EM VIDA DE LAURA "

(Longe de Laura, teme nunca mais a ver, duvidando
 de sua morte e da esperança de ainda a ver).

Neste meu dúbio estado, ou choro, ou canto,
temo, espero, suspiro e em branda rima
afogo a minha dor: amor esgrima
contra mim, todo o mal que pode entanto.

Hei de ver outra vez seu rosto santo?
Que deus levou-a a regiões de cima?
Ou ele só à minha vida anima
para que a chore em meu eterno pranto?

Queria o céu estrela radiante;
e Laura, o sol do meu viver, já erra
no céu: que lhe importou seu pobre amante?

E assim vivo em terror, infinda guerra:
não sou quem fui, e vago delirante
sem saber do caminho e estanho à terra.

(Tradução de Luiz Delfino)
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1 "NA MORTE DE LAURA"

(Sofre por ter a morte extinto o sol da beleza
 humana, e por não ter outro consolo senão
 vê-la em sonho ou na imaginação).

Aquele belo rosto esvaecido
e os olhos seus, ó morte, hás empanado:
espírito mais belo, separado
de um corpo mais gentil jamais há sido.

Em que instante este bem foi-me extorquido!
Fui dos acentos de sua voz roubado,
e a grande dor em que caí prostrado
tirou-me a cor à vista, o som ao ouvido.

Mas em sonho ela volta e me consola;
tenho em sua piedade o meu recurso,
dê-me a sua vista, como a um pobre a esmola.

Se eu recontar pudera o meu discurso
que riso então a fronte lhe aureóla
fizera amá-la até de um tigre ou urso.

(Tradução de Luiz Delfino)
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3 "NA MORTE DE LAURA"

(Privado de Laura não mais fará cantos de amor)

Seus olhos que eu cantei ardentemente,
rosto, pés, braços, mãos, já não diviso:
de mim mesmo arrancaram-me, e o juízo,
para os ter, eu fugia à toda gente.

A crespa coma de ouro reluzente,
o lampejar do angélico sorriso
que fazia da terra um paraíso
não tem mais vida agora, é pó somente.

E vivo? E calmo, tudo em torno eu olho?
Não tenho mais a luz que amava tanto
sou como nau lançada em rude escolho.

Morra também meu amoroso canto;
de lágrimas a lira em luto eu molho:
para chorá-la fique só meu pranto.

(Tradução de Luiz Delfino)
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“VÓS QUE OUVISTES AS MINHAS POESIAS”

Vós que ouvistes as minhas poesias,
com que eu nutria outrora o coração
nos juvenis e suspirosos dias,
quando aquele que eu fui tinha ilusão;

se conheceis do amor a reflexão
e o pranto, entre esperanças fugidias,
piedade espero achar, mais que perdão,
para as dores das minhas fantasias.

Agora vejo bem que longamente
em mim falou-se, e ria muita gente,
e de mim mesmo, às vezes, me envergonho.

Amargo fruto que colhi sonhando,
já sei, - me arrependendo e envergonhando –
que a sedução da vida é breve sonho.

(Tradução de Waldemar De Vasconcelos)

Fonte:
J. G. de Araújo Jorge. Os Mais Belos Sonetos Que O Amor Inspirou. vol. 3. 1966.

sábado, 17 de agosto de 2019

Giuseppe Bezzi (A Última Luz)

Imagem: Lágrima de Mulher, em  http://omundoinvisiveldeumamulher.blogs.sapo.pt

Giuseppe Bezzi é natural de Tolentino/Itália. Reside em São Paulo/SP.