sábado, 3 de fevereiro de 2024

Ana Soares (Às vezes o amor pode esperar)

Seria um dia normal, como qualquer outro, não fosse o encontro casual com uma garotinha ousada, falante e   linda num dia frio e chuvoso.

Na verdade fui eu quem a provoquei...

Cheguei ao ponto de ônibus como de costume e constatei que não encontrei as mesmas pessoas e acho que pelo próprio costume, me vi sentindo falta delas... Estava ali: eu, um garoto e a garotinha ousada, falante e linda, quando quase acidentalmente, perguntei a ela: - Onde foi parar todo mundo hoje? E ela com um sorriso largo no rosto, desembestadamente começou a falar:

- Acho que não saíram de casa por causa da chuva, eu mesma não deveria estar aqui se não fosse a minha prova de português, pois tenho sinusite e minha mãe me deixa em casa toda vez que o tempo muda assim...

Achei-a no primeiro momento falante demais, mas não parou por aí, logo continuou: – Você conhece um menino que se chama Rafael Sato?

- Não, respondi a ela... 

E logo ela respondeu: - Você tem cara de quem é amiga do Rafael Sato, por isto perguntei... Por que você conhece outro garoto que conhece ele, pois te vi conversando com ele dia destes aqui.

Pude perceber neste momento então, que estava sendo observada por ela há alguns dias e nem tinha me dado conta disto... Eu, parada ali, olhando atentamente aquele rostinho dócil, meigo e astuto, pensei: Não me lembro...

Mas ela prosseguiu insistindo, até que minha memória me revelou o tal menino: Era o Mateus, meu sobrinho... Após minha revelação a tal garota, presenciei um suspiro seguido de um: – Eu amo o Mateus! (Esta frase parecia representar a ela, uma revelação bombástica, algo sério, temível, que ela entregara ali a mim, assim: de bandeja e com algum acréscimo: – Sou muito nova pra ele e ele nem sabe que eu gosto dele, na verdade, ele conhece mesmo a minha irmã, que é a namorada do Rafael Sato...

Aquele desabafo tão sério, tão importante, tão revelador de uma menina de nove anos, me fez segurar um riso que estava pronto a explodir, não por chacota, nem por desprezo, pelo contrário, pois eu senti a seriedade do assunto...  

Prestando muita atenção, depois de ouvi-la com toda seriedade e respeito, eu a encorajei: –                        Hoje você só tem nove anos, são seis anos de diferença que se faz grande agora, daqui algum tempo não mais, já que as meninas amadurecem muito mais cedo dos que os meninos, logo, logo, esta diferença de idade não representará nenhum problema, mas isto, só daqui alguns anos e quem sabe, se daqui alguns anos você não será minha nova sobrinha?

Neste exato momento ela soltou um riso largo e grato e o meu ônibus chegou...

A vida é assim!

E o amor, quem sabe? Às vezes o amor espera, não na tentativa branda de esperar, mas se guarda, congela, simplesmente para reacender depois, quando tiver que ser! É eu acho que assim o amor pode esperar!

Ah! Queria amar sempre assim... Feito uma criança!   Sem reservas, sem pressa, sem vergonha, simplesmente amando do melhor jeito, sob o melhor ângulo: um amor inocente e inofensivo!   Amor de criança é assim...

Quanto a menininha: ousada, falante e linda? Vou guardar a coragem, a seriedade e a inocência dela em relação ao amor... Quem foi que disse que criança não sabe amar? Pra ela, isto sim, é amor!

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Daniel Maurício (Poética) 63

 

Mensagem na Garrafa = 95 =

Legião Urbana:
Eduardo Dutra Villa Lobos 
Marcelo Augusto Bonfa 
Renato Manfredini Junior

VENTO NO LITORAL

De tarde eu quero descansar
Chegar até a praia e ver
Se o vento ainda está forte, vai
Ser bom subir nas pedras, sei
Que faço isso pra esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando tudo embora

Agora está tão longe, vê
A linha do horizonte me distrai
Dos nossos planos é que tenho mais saudade
Quando olhávamos juntos na mesma direção
Aonde está você agora
Além de aqui dentro de mim?

Agimos certo sem querer
Foi só o tempo que errou
Vai ser difícil eu sem você
Porque você está comigo o tempo todo
E quando vejo o mar
Existe algo que diz
Que a vida continua e se entregar é uma bobagem

Já que você não está aqui
O que posso fazer é cuidar de mim

Quero ser feliz ao menos
Lembra que o plano era ficarmos bem?

Ei, olha só o que eu achei, hmm
Cavalos-marinhos

Sei que faço isso pra esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando tudo embora

Cantiga Infantil de Roda (Festa dos insetos)


A pulga e o percevejo
Fizeram combinação.
Fizeram serenata
Debaixo do meu colchão.

Torce, retorce,
Procuro mas não vejo
Não sei se era a pulga
Ou se era o percevejo

A Pulga toca flauta,
O Percevejo violão;
E o danado do Piolho
Também toca rabecão.

Torce, retorce,
Procuro mas não vejo
Não sei se era a pulga
Ou se era o percevejo

A Pulga mora em cima,
O Percevejo mora ao lado.
O danado do Piolho
Também tem o seu sobrado.

Torce, retorce,
Procuro mas não vejo
Não sei se era a pulga
Ou se era o percevejo

Lá vem dona pulga,
Vestidinha de balão,
Dando o braço ao piolho
Na entrada do salão.

Jessé Nascimento (A despedida)

Eles se beijavam demoradamente, prendendo a atenção e emocionando a todos que os estavam observando. Pareciam sós naquele local, alheios aos que estavam ao redor.

Fiquei a imaginar que uma despedida é sempre dolorosa quando o amor é muito forte, mesmo que a separação possa não ser demasiadamente longa.

Alguns minutos depois, beijaram-se, de maneira alongada, pela última vez, ela foi se afastando e acenando continuamente.

Ele ficou parado e vi que seu semblante denotava profunda tristeza ou preocupação. Será que eles nunca haviam se separado?

Apesar de toda a cena ter acontecido em menos de quinze minutos, parecera uma eternidade.

Por fim, mais um aceno; era a despedida que ele respondeu sem muito entusiasmo, evidentemente como se tímido ou triste.

Ambos tinham os cabelos muito brancos e seus rostos marcados, demonstrando idades bastante avançadas e uma longa vida de sólida união.

Barulho do motor, os últimos passageiros entraram, sentaram-se e o ônibus deixou a rodoviária.

Para muitos, o amor pode mesmo ainda durar "até que a morte os separe.”

Fonte> Recanto das Letras

Caldeirão Poético LXXVIII

Elisa Alderani
Ribeirão Preto/SP

DOCE DE VOVÓ

A menina que obediente,
a vovó sempre ajudava,
e feliz e sorridente
muitos gravetos levava...

para acender o fogão,
a vovó, doces fazia
para neta, tem paixão,
pois o gás não existia.

Tudo feito com amor,
mexer tacho devagar
para doce ser primor,
de colher, saborear ...

E alguns dias passava
com a vovó, pra ajudar,
e com ela se alegrava,
feliz pra casa voltar!
= = = = = = = = = = = 

Emílio de Meneses
(Emílio Nunes Correia de Meneses)
Curitiba/PR (1816– 1918)

A CHEGADA

Noite de chuva tétrica e pressaga.
Da natureza ao íntimo recesso
Gritos de augúrio vão, praga por praga,
Cortando a treva e o matagal espesso.

Montes e vales, que a torrente alaga,
Venço e à alimária o incerto passo apresso.
Da última estrela à réstia ínfima e vaga
Ínvios caminhos, trêmulo, atravesso.

Tudo me envolve em tenebroso cerco
D'alma a vida me foge, sonho a sonho,
E a esperança de vê-la quase perco.

Mas uma volta, súbito, da estrada
Surge, em auréola. o seu perfil risonho,
Ao clarão da varanda iluminada!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Gaitano Laertes P. Antonaccio
Manaus/AM

AMOR SEM EMOÇÃO

O amor de agora é uma troca virtual,
tão diferente, tão estranho ao coração,
que mais parece uma relação pactual,
entre seres humanos, sem emoção!…

O amor que se contempla nos amantes,
perdeu hoje, a essência da sinceridade.
É falso, não se manifesta como antes,
porque despreza a ética e a moralidade.

O amor agora, vem se transformando
a cada dia, todo minuto, todo instante
deixando a paixão, muito mais distante,

enquanto a falsidade vai se avolumando.
O amor, hoje, não cede nenhum espaço,
não cabe num beijo, não vale um abraço!…
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

José Riomar de Melo
Caucaia/CE

MEU VERSO

 Se meu verso te agrada, te conforta,
 Faz lembrar-te emoções que já viveste,
 Com algum deles talvez te comoveste,
 Ativando a esperança quase morta!

 É sinal que choveu na minha horta,
 Na emoção que a mim tu concedeste,
 Ao sentir que no verso que tu leste
 De euforia e de paz teu peito aborta;

 Entretanto se um deles não ressoa,
 Na fiel sintonia e te magoa,
 Na palavra ou na frase te feriu...

 Eu te peço perdão em tom profundo,
 Porque mesmo agradar a todo mundo,
 Jesus Cristo também não conseguiu...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Maria Evan Gomes Bessa
Fortaleza/CE

PRAIA DE IRACEMA
 
Águas revoltas na ponte metálica
E o mar de um verde estonteante
Brinca com o vento em ondas
Que agitam turistas e visitantes.
 
A linguagem do mar é envolvente
Seduz a todos com seu simbolismo
E se traduz em falas misteriosas
Que inspiram ou provocam imobilismo.
 
Quantas histórias e vidas se passaram
Naquela praia de mares bravios,
Onde os poetas e boêmios viram
Guerreiros deslizarem em seus navios.
 
E a índia Iracema a correr na areia
Branca, esbelta, de pés descalços,
À espera do Guerreiro vive ainda
No inconsciente coletivo do povo.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Paulo Roberto Walbach Prestes
Curitiba/PR, 1945 – 2021

MEU ESPELHO

Vejo meu espelho, todo estilhaçado,
Que surpresa!... Como isso aconteceu?...
O meu rosto...  vejo tão transfigurado:
Foi o tempo, grande obreiro, quem teceu.

Traços profundos; um olhar apagado
Dum ser que passou pela vida e viveu...
Assim mesmo, valha Deus! Muito abençoado...
Que apesar dos estilhaços – cresceu!

Retornei  -  Ele não estava quebrado...
Que surpresa!... Como isso aconteceu?...
Não foi ele...  E o que deixou marcado?
Foi o tempo. Foi a vida. Ou fui eu...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Rodrigo Zuardi Viñas
Porto Alegre/RS

SE EU PARTIR ANTES DE TI

Quero que isso aconteça
numa manhã tranquila
e agradável
para que o momento
seja eternizado
pela beleza do dia
e pelos sentimentos
que temos um pelo outro.
Ah, se eu partir antes de ti,
sei que, além de saudades,
manterás, por mim,
muito carinho e admiração.
A amizade que nos une
foi construída
com muito respeito, sinceridade
e companheirismo.
Ah, se eu partir antes de ti,
sei que me guardarás
como uma das tuas boas lembranças.

Antonio Brás Constante (Conceitos, Preconceitos e Chá)

As pessoas costumam dizer que muitas coisas se curam com um bom chazinho quente. Infelizmente a humanidade ainda não encontrou um chá que cure o preconceito, qualquer preconceito, mesmo o preconceito que alguns têm por chá.

Outro dia entrei na comunidade SKOOB do Orkut, um lugar interessante. Ela é uma comunidade em uma rede social utilizada para debater outra rede social que parece uma comunidade. Ali havia um tópico que gerou tanta polêmica que acabou sendo excluído.

No referido tópico os Orkutskoobianos (acho que se a palavra existisse seria escrita assim), citavam seus escritores preferidos. Lá pelas tantas, uma jovem que não me recordo o nome, escreveu que não gostava de autores nacionais, e essa afirmativa fez com que as postagens pegassem fogo.

Muitos foram aqueles que criticaram a menina. Principalmente porque ela não era muito boa em articular seus motivos, apenas dizia que não gostava e pronto. Era sua opinião final. Vivemos em um país democrático, onde as pessoas podem gostar ou não das coisas, entre elas, das coisas feitas aqui. Mas o bate boca já estava feito.

Daí eu fiquei pensando, por que não gostar de algo daqui? Quando alguém não gosta de brócolis, por exemplo, até dá para tentar entender (mesmo sabendo que um alimento pode ser preparado de inúmeras maneiras, e que alguma delas pode cair no gosto do sujeito desgostoso com aquele tipo de iguaria), mas com a diversidade de autores nacionais, que cobrem todas as áreas da literatura, como alguém poderia simplesmente não gostar do que é escrito aqui, sem que existisse algum motivo concreto para isso?

Então me lembrei da história do homem que não gostava de vinhos nacionais. Ele nem sequer provava os vinhos, tamanha era sua aversão por eles. Um dia este homem viajou para França, que é uma das fabricantes dos melhores vinhos do mundo. Ele foi a um restaurante de lá e chamou o garçom, pedindo-lhe o melhor vinho que eles pudessem ter para servi-lo. O garçom prontamente lhe disse que traria o melhor vinho nacional da adega. O homem levantou irado de sua cadeira, e gritando disse que ele não tomava nenhum tipo de vinho nacional, não importando onde estivesse, e mandou que o garçom fosse buscar um vinho importado.

Enfim, praticamente tudo no mundo se transforma. O próprio universo sofre alterações. O planeta em que vivemos vai se modificando a cada estação. Até nossos corpos vão mudando seus átomos e neurônios com o passar dos anos. As únicas coisas que muitas vezes não mudam, são os conceitos enraizados e transformados em preconceitos na mente das pessoas.

Fonte: Recanto das Letras.

Hinos de Cidades Brasileiras (Bauru/SP)


Música e letra: Manuel Domingos de Oliveira

É Bauru, terra branca, ditosa
é a esperança e o desejo febril
amparada na árvore frondosa
cidade franca do nosso Brasil.

É a luz do céu resplandecente
nesta terra abençoada
Bauru, és o sol nascente
que surge na madrugada.

Vivas na paz bem altaneira
tens gloriosa tradição
saudamos-te como a primeira
da brasileira Nação!

De São Paulo és cidade querida
Bauru, berço da região
Sempre bela e engrandecida
no progresso de grande extensão.

Vida própria da Noroeste
de riqueza e amplidão
é a esperança que nos resta
e de grande satisfação. 

Oh! que terra tão querida
de todo meu coração
saudamos-te por tua vida
na brasileira Nação!

Estante de Livros (“O grande mentecapto”, de Fernando Sabino)

Fernando Sabino é autor contemporâneo dos mais importantes. Dono de um estilo inconfundível em que ressalta o extremo cuidado com a linguagem, é um especialista em criar situações cômicas de profunda beleza plástica. Sua capacidade descritiva faz com que o leitor, além de se deleitar com a complicação da trama, consiga visualizar a cena criada pelo narrado. Sua obra é extensa e inclui principalmente crônicas e contos. Seus romances: O Encontro Marcado; O Menino no Espelho; O Grande Mentecapto , são fruto de profunda preparação e artesanato impecável. Por isso mesmo cresce a cada dia a importância de sua obra no panorama da atual Literatura Brasileira.

Nesse romance de 1979, o autor elabora uma trama com a nítida intenção de homenagear as pessoas humildes, simples e puras. Já na epígrafe da narrativa, “Todo aquele, pois, que se fizer pequeno como este menino, este será o maior no reino dos céus.” Nota-se a vontade de elevar os puros, os inocentes e os ingênuos.

Na linha da novela picaresca “vide o Dom Quixote de La Mancha, de Cervantes”, em que o personagem desloca-se por um espaço indefinido, à cata dos conflitos, para resolvê-los heroicamente, Viramundo vive uma sequência de peripécias acontecidas no Estado de Minas Gerais, contracenando com personagens dos mais variados matizes e comportando-se sempre como o bem-intencionado, o puro, o ingênuo submetido às artimanhas e maldades de um mundo que ainda não está de todo resolvido. Andarilho, louco, despossuído, vagabundo, idealista. Marginal em uma sociedade que não entende e em que não se enquadra, o Viramundo instaura um sentimento de ternura e de pena por todos aqueles que, em sua simplicidade, sofrem o descaso, a ironia, a opressão e a prepotência.

Como o Quixote, com a sua amada Dulcinéia, e como Dirceu, com a sua adorada Marília, Viramundo põe em suas ações tresvariadas a esperança de realizar-se emocionalmente com a sua idealizada e inalcançável Marília, filha do governador de Minas Gerais. Sua ilusão alucinada é reforçada pelos pseudo-amigos que o enganam com falsas cartas de amor e incentivam sua loucura mansa e seu sonho impossível.

Viramundo conhece que o mundo é uma grande metáfora e o trata com idealismo como se ele fosse real. Consertar o mundo é sua missão e ele se dedica a ela com toda a força de sua decisão, não se deixando abalar pelo insucesso, pelo ridículo, pela violência ou pelo vitupério. Em seu delírio, o irreal e o real andam de mãos dadas, não há a separação entre o concreto e o abstrato, e por isso o herói não se abala física ou emocionalmente com nada com que se defronte: não teme os fortes, os violentos; não se assusta com fantasmas e nem com ameaças; aceita resignadamente o que a vida lhe reserva.

Percebe-se aqui que, além de pícaro, nosso herói pode ser considerado como bufão, pois jacta-se tolamente sobre supostas capacidades de resolver as injustiças e o desacerto do mundo. Não tem qualquer ligação definitiva com a vida; não assume compromissos; é desprezado e usado por aqueles com os quais se relaciona.

A pureza deste aventureiro é a crítica à hipocrisia das relações humanas em um mundo que perdeu o sentido da solidariedade e da fraternidade. Sua alegria ingênua e desinteressada opõe-se ao jogo bruto dos interesses malferidos, ao conservadorismo e à arrogância. Porta-voz dos loucos, dos mendigos, das prostitutas, o Viramundo conhece os meandros da enganação e da falsidade dos políticos e dos poderosos.

A crítica à mesmice, ao chavão e ao clichê faz-se pela presença da paródia a muitos autores e personagens historicamente conhecidos.

Viramundo não era conhecido, mas termina por criar fama em razão dos casos incríveis em que se envolve. Sob a aparência imunda de um mendigo está um sujeito com cultura geral incomum. Sua fala de homem conhecedor surpreende e sua experiência de ex-seminarista e ex-militar confunde e admira aqueles com quem convive. Sua esquisitice e suas respostas prontas a todas as indagações fazem com se acredite tratar-se de um louco manso e inofensivo.

Outro aspecto interessante é a exploração da temática da loucura. O autor parece convidar o leitor a uma reflexão sobre a origem e o convívio com a ideia da excentricidade do comportamento humano. Viramundo pode ser considerado um louco, mas quem não o é? O que a sociedade considera loucura? Como classificar e tratar os indivíduos que atuam em dissonância com aquilo que se considera normalidade? A sociedade mostrada no romance está povoada de tipos que comumente chamamos de loucos: os habitantes de Mariana agem desvairadamente ao tentar linchamento; o diretor do hospício é mais estranho que os próprios internos do manicômio; o capitão Batatinhas é absolutamente alienado. Há no decorrer de toda a narrativa o questionamento da fragilidade dos limites entre a sanidade e a loucura.

No limiar da consumação de sua caminhada, Viramundo mudou. No começo era idealista e cheio dos cometimentos da paixão. Manteve-se assim durante muito tempo até encarar a dura realidade da convivência humana. A série de acontecimentos em que figura como perdedor físico e emocionalmente faz com que se desiluda. Descobre que as cartas de amor eram falsas; os amigos eram falsos; sua crença era falsa. Por todo lado só encontra sofrimento, opressão, hipocrisia. Está só, absolutamente só, e a solidão é tudo que lhe resta.

Seu fim é emblemático. Morre vitimado pelo próprio irmão. Paga por um crime que não cometeu. A intertextualidade bíblica é evidente: compara a trajetória e o comportamento de Viramundo com a Via-Sacra do Cristo, em todos os sentidos, inclusive no sacrifício final.

Fonte> Algo sobre.
https://www.algosobre.com.br/resumos-literarios/o-grande-mentecapto.html#menu2

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quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Edy Soares (Fragata de versos) – 42: Eu creio

 

Mensagem na Garrafa = 94 =

Carina Isabel Machado Cardoso
Sorocaba/SP

CARTA AO PASSADO
  
Querido passado,

Desculpe-me, mas estou me despedindo, não fique triste, tenho certeza de que irá superar minha ausência, pois nunca esteve lá comigo.

Quando estávamos juntos, somente me ignorou, me entristeceu, chorei tanto por você que nem sei como ainda tenho lágrimas.

Agora me vou, quero me libertar de você, quero ser feliz e viver intensamente meus sonhos e lutar bravamente para realizá-los, libertar-me dos grilhões pesados que me prendiam à submissão e ignorância.

Quero dizer o que penso, ousar ser mais do que sou, pois sei que posso e você só me segurava no chão, impedindo meu voo...

Agora me vou... estou forte, sábia e consciente de meu poder e minhas possibilidades, e enfim sozinha, esperando um novo amor, uma nova chance de ser feliz e plena.

Quero viajar nos livros, quero chorar em filmes, quero rir de qualquer bobagem que eu ver ou ouvir, enfim... sentir, pois sou mulher e nasci para sentir, amar e ser amada.

Você me impedia de pensar, de ser, só me dizia para ficar quieta e calada, era grosseiro e maldoso.

Maltratou meu físico e meus sentimentos, me derrubou no chão, sem nenhuma pena, apenas para sua diversão, ria enquanto eu chorava por ti, quanto te valorizava mais que tudo e era meu mundo, e todo meu amor era para você!

Mas agora me vou e, por favor, não se sinta mal, pois, se não fosse você, eu jamais saberia meu valor, saberia das minhas possibilidades e ousaria sonhar e voar mais alto.

Você foi meu maior mentor, que me ensinou como ser e não ser, como chegar ao fundo do poço e sair, e que é possível cair e levantar.

Mesmo apanhando como apanhei de você, levantei, sacudi a poeira e estou dando a volta por cima mais mulher, mais forte, mais feminina que nunca.

E, como aprendi tudo isso com você, agradeço seu esforço em me ensinar, em me calejar, apesar disso, fiquei apenas mais macia, leve, segura de mim.

Agora quero passar tudo isto a todas as queridas amigas que também querem te dizer adeus, afinal você não apenas me maltratou, e sim a muitas pessoas maravilhosas que não puderam sair do chão e voar por sua causa, pois você não permitiu. Era mais fácil para nós acreditarmos que você cuidava de nós e que não poderíamos nos libertar, vivendo à sua sombra, dependendo de seu abraço apertado e sufocante que não nos alimentava, mas sim a você, sugando nossa energia, nos prendendo a um piso frio cinza e triste chamado solidão.

Quando ler essa carta querido passado, saiba que há uma verdadeira rebelião querendo a libertação, a alforria tão merecida, conquistada a ferro e fogo, mas conquistada.

Não.... engano meu, não foi a ferro e fogo, mas sim com a delicadeza, doçura, força e paciência que nós mulheres temos.

Sou herdeira das que queimaram sutiãs, e não das que usavam apertados espartilhos para agradarem seus homens.

Sou herdeira das que pensam, amam, choram, riem, sentem sem medo, pois fomos projetadas para sentir e não para obedecer com submissão, como você quer.

Sou rosa, mas também sou vermelho sangue, vermelho paixão, paixão pela vida, por sentir e ser alguém plena, que luta por seus sonhos e não arrefece nunca.

Adeus meu querido passado, levarei de ti lembranças que me fizeram o que sou, mas não o que posso ser, levarei de ti as dores que me fizeram forte, corajosa, determinada.

Espero que tenhas boas lembranças de mim, pois foi longo o tempo que passamos juntos. Mas não me importa o que pensa de mim, somente a você importa.

Agora me vou, disse o que queria, tirei o peso do peito, estou leve e pronta para uma nova aventura.

Não pense que te odeio ou mesmo me ressinto, ao contrário, você me ensinou a ser o que sou hoje, o que pode não ser muito, mas que é o que tenho e me orgulho!

Até mais.

(www.sorocult.com/el/view.php-cod=1805.htm)

Cantiga Infantil de Roda (Sereno da Meia-Noite)


É uma uma roda de crianças, com uma no centro. Cantam as da roda:

Sereno da meia-noite 
Sereno da madrugada
Sereno da meia-noite 
Sereno da madrugada

Eu caio, eu caio
Eu caio, sereno, eu caio
Eu caio, eu caio
Eu caio, sereno, eu caio

Responde a menina do centro:

Das filhas de minha mãe 
Sou eu a mais estimada
Das filhas de minha mãe 
Sou eu a mais estimada

Eu não me importo, 
Que da amiguinha, 
Eu seja a mais desprezada 
Eu não me importo, 
Que da amiguinha, 
Eu seja a mais desprezada 

(Fonte: Veríssimo de Melo. Rondas infantis brasileiras. São Paulo: Departamento de Cultura, 1953)

Silmar Bohrer (Croniquinha) 104

"Um antropólogo propôs um jogo para crianças de uma tribo africana. Ele colocou um cesta de frutas perto de uma árvore e disse às crianças que quem chegasse primeiro ganharia as frutas doces. Quando ele disse para eles correrem, todos pegaram as mãos uns dos outros e correram juntos. Depois sentaram juntos desfrutando das guloseimas. 

Quando ele perguntou a eles por que eles eles correram juntos assim, já que um poderia ter todos os frutos para si, eles disseram: " Ubuntu ", como um de nós pode ser feliz se todos os outros estão tristes ? " 

"Ubuntu" em sua civilização significa "eu sou porque nós somos". Assim essa tribo conhece o segredo da felicidade que se perdeu em todas as sociedades que a transcendem e que se consideram sociedades civilizadas". 

Então a gente pergunta, civilizado é ter mais riquezas, mais conhecimentos, mais influências? O que gera isso? Opulência, cobiça, ganância, furor... Se vivêssemos em harmonia com o simples, com o singelo na busca de objetivos sem atropelos, não seríamos mais felizes repartindo com o vizinho ao invés de duelar? 

Tolstói já dizia que "não há grandeza sem simplicidade e sem humildade". E nós sabemos que o humilde e o simples põem água no nosso poço de tranquilidade. 

Fonte> Texto enviado pelo autor 

Cris Anvago (Poemas Avulsos)


A LUA E O SOL 

Esta noite a lua não está cheia
Nem é lua nova
Pode ser meia-lua ou quarto minguante
Não sei distinguir

A lua só aparece quando quer
Por vezes esconde-se por detrás das nuvens

A lua é inconstante
Assim como o sol

São irreverentes
Têm vontade própria
E brilham à sua maneira
Mas podem ser amigos a vida inteira

Encontram-se poucas vezes…

Quando o sol caminha para outro lugar
A lua aparece já sem tempo para o abraçar

Mas, quando se querem abraçar
ou encontrar-se mais perto
Existe a eclipse lunar
e, a terra não os deixa abraçar

A lua e o sol comandam as marés…

A lua não pode ter o sol a seus pés
O sol é movido pelo sentimento das marés

São distintos, fortes e frágeis
Belos elementos da natureza
Furacão, sentimento e beleza

O sol e a lua são seres potentes
Enigmáticos
Seres únicos na natureza!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

A música faz sonhar
Lembrar, sorrir
Ficar sentada
Fluir no oceano
Que nos acolhe
E escolhe o que merecemos
E queremos tudo de bom
Porque queremos
Ser como somos
Ser nós!

Com os abraços amigos
Sem estarmos sós
Queremos o som
E, na madrugada
Saborear fruto bom
Antes de irmos para a estrada
Somos quem somos
E, não temos de ser mais nada!

Chegamos, partimos
Andamos a deambular pela estrada
Sempre pensamos em quem nos ama
Sempre somos acarinhados pelos amigos
Somos nós 
Com todas as imperfeições
e. se não estivermos sós
somos bons nas nossas relações
de amizade, da amor e carinho
assim vamos caminhando
nesta estrada dura do destino!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

O TEU ENCANTO

Tudo em ti é beleza
mesmo nas horas de tristeza
és um ser simples e natural
Fazes tudo com paixão
Tens uma força visceral
que me arranca o coração
Já não és só poema és canção!

Deslumbras quem te conhece e,
sem saberes, até parece que és tu
que todos queres conhecer

Tens ímã no sorriso
e a luz nos teus olhos
são botões de rosa
que espalhas aos molhos
pelos que por ti passam
nem tens noção do bem que fazes
e, quando te elogiam
ficas sem saber qual a razão

Quando falas, as tuas palavras
são gotas de água fresca
que caem em cascata
refrescam a mente mais sombria

Tu nunca és noite és sempre dia

Sempre motivas quem se cruza contigo
És conselho sem saber e abrigo
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Porque dizes não quando pensas sim?
É timidez, medo do que eu possa dizer?
Sabes que os teus olhos se focam em mim
Lês tudo o que eu não consigo escrever

Nas entrelinhas dos meus versos
Existe um segredo que se esvai no nevoeiro
Todas as palavras inversas se cruzam
Todos os medos ficam pendurados no bengaleiro

Estou protegida quando chove
Quando ninguém me vê no nevoeiro
Não sou D. Sebastião
Sou mais guerreira!
Não desaparecia do nada para a vida inteira!

Quero ser tudo o que sonho
Sim! O impossível vive em mim!
Perco-me no horizonte e amo o infinito
Sei que o amor é e será assim…
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Tudo é importante?
Não!

Só é importante o que eu quero que seja!
Os teus lábios cor de cereja
O teu sorriso que abraça o meu
O teu corpo mel
E, o meu corpo, extensão do teu…

O teu olhar que me encanta
No rio ou no mar sempre me espanta
A maneira do sorriso do teu olhar

Quando me canso do dia
volto para ti,
tudo é harmonia.
Foram minutos que perdi
que são preciosos todos os dias

Nas madrugadas despertas
Nas horas tão incertas
O sol sempre nasce
mesmo que não apareça

Tu sentes o calor do abraço
Não existe espaço entre nós
O coração bate no mesmo compasso
No mundo que é só nosso!

Fonte: Facebook da poetisa.