João Batista Xavier Oliveira nasceu em Presidente Alves/SP em 16 de junho de 1947, e faleceu em Bauru/SP, em 27 de abril de 2025. Aos onze meses sofreu poliomielite (numa época que não tinha vacina), porém, com muito empenho dos seus pais, teve uma vida normal, sem traumas. Em 1958 concluiu os estudos primários e, em 1965, concluiu a quarta série ginasial. Em 1968 formou-se técnico em contabilidade. Eleito vereador em 1968, porém, por motivo de mudança, assumiu o seu suplente. A partir de janeiro de 1970, assumiu profissionalmente no Banco Bradesco, Cidade de Deus. Na juventude em Presidente Alves, trabalhou de 1964 a 1967 na Exatoria Federal; de 1968 a 1969 na Coletoria Estadual; no escritório de contabilidade. Casou-se em 1977. Na vida profissional teve sete promoções, chegando a gerente executivo, cargo no qual aposentou-se em 1991 por motivo de saúde. Quanto à poesia, esta despertou a ele a partir de 1961, porém, ficou um longo período sem compor, pois a dedicação ao trabalho profissional ocupava muito tempo. A partir de 1998 dedicava-se à poesia, ganhando inúmeros prêmios de trovas em vários estados, inclusive em Portugal.
HAICAIS
1
Abelhas procuram
nas moradas dos jardins
doçura dos favos.
2
Aponta no céu
pontos de constelação.
Ponte para Deus.
3
A prisão vazia
anuncia que a alegria
bateu suas asas.
4
Arrastão de flores
invade o bosque inocente.
Tela colorida.
5
Arrebol agreste
abrindo ou fechando o dia.
Sino dos portais.
6
Arrebol ecoa
na despedida da noite
o canto de pássaros.
7
A voz da manhã
no acalanto das roseiras:
adejar dos pássaros.
8
Brisa em acalanto
ao passar a tempestade.
Novas esperanças.
9
Buris naturais
patenteiam ao jardim
joias lapidadas.
10
Canário da terra
olha o canário do reino
que olha a liberdade.
11
Casulo se rompe
no festival colorido.
Linda borboleta.
12
Chuva tecelã.
Tapetes esverdeados
aplaudem com flores.
13
Dança vespertina
no palco da natureza.
Bando de andorinhas.
14
Dupla cancioneira
caramanchão e varanda.
Sombra alvissareira.
15
Espumas rendadas
enfeitando toda praia.
Canções a bailar.
16
Estrelas festejam
arpejos do trovador.
Notas luminosas.
17
É um prazer olhar
o mar acolhendo o rio
em ciclo divino.
18
Floresta segura.
Machados distanciados...
curupira dorme.
19
Lar do joão de barro
destruído na queimada.
Colheita de prantos.
20
Lírios a bailar
nos vergéis de chão agreste.
Brisa matutina.
21
Luar sem fronteiras
representa na aquarela
farol das estrelas.
22
Na moldura azul
figuras esvoaçantes
inspiram pincéis.
23
No canto de outono
em hino de primavera...
calor para o inverno
24
Olhares de estrelas
desenhados no infinito
buscam mãos unidas.
25
O som campesino
na madrugada solene
é o canto do galo.
26
Os verdes dos montes
parecem dedos pintados
apontando o azul.
27
O vento remove
nuvens cinzas nordestinas.
Rezas atendidas.
28
Pirilampo luz
na esteira da lua cheia.
Esmeralda-prata.
29
Veredas maternas.
O casal de sombra e sol
alimenta as fontes.
30
Violeiro alegre
tangendo com grossas mãos
suaviza a noite.
TROVAS
1
A essência da liberdade
todo ser pode senti-la:
o fluido do amor invade
a consciência tranquila.
2
A fé tem luz invisível
que brilha no coração
iluminando o possível
no caminho da oração.
3
Amor, dádiva Divina,
semente humilde e perfeita;
a luz que nos ilumina
pela caminhada estreita!
4
A vida é maravilhosa;
divina luz que nos traz
com a beleza da rosa
meros eflúvios de paz!
5
Bandeiras em mãos amigas
seguindo ao mesmo portal
revelam o fim de intrigas
consagrando paz mundial !
6
Como sou tão distraído!
Após você ir embora
notei quem tinha fugido:
eu de mim... somente agora!
7
Coração desiludido
não culpe ninguém por isso;
se agora vive esquecido
é porque já foi omisso!
8
Cultivar rosas consiste
em saber do espinho oculto.
A ilusão dorida existe
na vida envolta num vulto.
9
Dinheiro não cai do céu
e de pedra não sai leite.
Quem espera sempre ao léu
não passa de um mero enfeite!
10
Diógenes, hoje em dia,
alerta à corrupção,
a lanterna acenderia:
- os honestos, onde estão?
11
Do além cantos eu ouvi
em tons de grande emoção
ao receberem CAUBY
nos braços de "Conceição
(Homenagem a Cauby Peixoto)
12
Façam o povo feliz:
a mente aberta é capaz
de saber o que se diz
por saber o que se faz!
13
Foi excesso de cautela
a causa do meu tormento:
guardei o retrato dela
dentro do meu pensamento!
14
Nas noites esperançosas
meu sonho... apenas um vulto...
é um jardineiro entre as rosas
nos seus espinhos oculto!
15
Oxalá flores nascentes
em vergéis adormecidos
despertem as novas mentes
aos caminhos coloridos.
16
Para segui-la de fato
livrando-me dos abrolhos
vou tirá-la do retrato
e guardá-la nos meus olhos!
17
Pés na calçada da fama,
mãos abanando fortuna...
porém sua alma reclama
na solidão que importuna!
18
Por que o poeta é sensível
de tal forma a sofrer tanto?
- Seus olhos, em qualquer nível,
represam dor... flui o pranto!
19
Pranto, rio que desliza
em pedras, curvas, escolhos
às carícias de uma brisa
que externa o brilho dos olhos!
20
Quanto mais a idade avança
mais minha alma se aprimora;
meu coração de criança
brinca de saudade agora!
21
Se palavras são em vão
ao amigo, no fracasso,
externo toda emoção
no silêncio de um abraço!
22
Teatral, muito fagueira,
a trova não é pequena:
representa a peça inteira
em uma única cena!
23
Um dos milagres celestes
que a nossa vida germina
é a nossa mãe com as vestes
da providência divina!
24
Volto a crer no amor... senti-lo;
bastou o exemplo que ouvi
partindo de um simples grilo
o estridular: - CRI! CRI! CRI!
POEMAS
A morte do poeta
Fenece o poeta na paz da poesia.
Os ares dos cantos, calados, sentidos,
acenam tristezas nos vagos ouvidos;
o sol perde o brilho no pranto do dia.
Um misto de dores e versos não lidos
acena sem cena à linha vazia-
num gesto de pautas à vã melodia-
um canto no canto dos temas queridos.
Às rimas no templo sagrado, converso
silêncio das flores de triste universo.
Poeta parece que ouve o lamento...
no alto da estrofe gravada na mente
cantiga do tempo que faz permanente
a bênção divina no lar, firmamento.
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Primeiro de maio
Olhando o calendário fico pasmo:
Que maravilha de nação feliz!
...E ao ver as folgas com entusiasmo
lembro das malas: nossa! Nem desfiz!
E num enlevo a remedar orgasmo
vou planejando: e agora, meu país?
Em qual lugar eu vou curtir marasmo
longe da lida que nada condiz?
Conto nos dedos os dias faltantes.
Se é feriado na terça ou na quinta
falto na sexta ou segunda e bem antes
Que outro espertinho na frente desminta
fico doente de espirro por nada.
Vejo-me a postos: mais uma jornada!!
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Deixe-me viver
(Poema contra o aborto)
Mamãe, eu quero viver;
pedi para retornar
e procurar evolver
no seio de um simples lar.
Não se culpe constrangida
por um ato intempestivo;
o mais importante é a vida;
eu, no seu útero vivo!
Sinta com delicadeza
no seu ventre o movimento
e agradeça à natureza
esculpir o seu rebento.
É uma dádiva divina
ter minha vida em você.
Não descarte na latrina
um ser que sente... que vê...
Imagine o meu futuro
a seu lado, vencedor,
com seu caminhar seguro
cumprindo a sina do amor!
Pense em seu corpo cansado
precisando de um abraço;
eu caminhando a seu lado
a proteger o seu passo.
Mamãe, alimente a aurora
em mim tão frágil, indefeso,
para quando for embora
não carregar nenhum peso!
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Monólogo do bastidor
Sou a ferida exposta acobertada
por mentes que dominam consciências;
cinismo onde plateia entusiasmada
entorpecida perde referências.
Caráter e vaidade sem decência
abarcam teoria distanciada
na prática sem ética... ciência...
sem brio que ao vazio leva ao nada.
O aqui e agora são mais importante;
lá fora o vento sopra bem distante.
Eu sou o cerne que requer destreza,
porém pressinto tempos exigentes,
sentimentos puros, transparentes ,
num palco pelas artes da certeza!
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O caminho da rosa
Se cada um fizer a sua parte
não sobra parte para repartir;
não sobra aparte que preocupe a arte...
mundo destarte só resta sorrir.
Se cada um plantar uma roseira
a vila inteira será um jardim;
não sobra beira à espinhosa asneira...
dessa maneira é sorriso sem fim.
Se cada um olhar-se na verdade
fraternidade romperá vereda;
o pensamento terá mais espaço
e minha parte será rosa e há de
ser a verdade daquele que ceda
do seu caminho todo seu abraço!
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Fontes:
Versos enviados pelo poeta
Montagem da Imagem por JFeldman