quarta-feira, 23 de julho de 2025

Aparecido Raimundo de Souza (O sofrimento de um pobre banco de praça, o eterno ser inanimado)


FRUTUOSO PETELECO e Juvenal Carcomido se encontram na praça principal da cidade onde residem. Se cumprimentam, sentam no único banco existente e começam a conversar.

Frutuoso: — Meu velho, você acredita que as minhas segundas-feiras têm gosto de papelão molhado?

Juvenal: — Acredito. As minhas não. Só quando o meu despertador decide dormir mais que eu.

Frutuoso: — Hoje meu café discutiu comigo. O filho de uma rapariga disse que estava exausto de sempre ser o primeiro.

Juvenal: — O meu dejejum fugiu. Entrou num livro de receitas da minha esposa e não saiu mais, pelo menos até a hora em que resolvi botar os pés na rua. Acho que virou sobremesa.

Frutuoso: — E o seu trabalho como anda?

Juvenal: — Uma porcaria. Se eu soubesse fazer outra coisa além de desapartar briga de urubus, caia fora.

Frutuoso: — Já lhe passou pela cabeça enxugar gelo?  

Juvenal: — Engraçadinho... apesar de não saber fazer outra coisa que desapartar briga de urubu, ontem preenchi uma planilha chamada "Planilha de Preenchimento da Planilha".

Frutuoso: — Isso é arte contemporânea.

Juvenal: — Ou sobrevivência performática.

Frutuoso:  — Vamos mudar de assunto. Já pensou em trocar de banco?

Juvenal:  — Melhor não. Se mudarmos de banco, mudamos de conversa.

Frutuoso: — Talvez o banco novo fale francês.  Mas alto lá. Se você olhar para os lados, verá que a praça só tem esse banco.

Juvenal: — Verdade. O mais sensato é continuarmos aqui. Voltando à nossa conversa, hoje senti que a manhã estava me observando...

Frutuoso: — A minha não só me olhou, como tentou me convencer que terça-feira não existe. E eu quase acreditei. Faltou pouco...

Juvenal: — Ontem fui ao supermercado comprar um pacote de esquecimento. Só tinha latinha de memória afetiva em promoção.

Frutuoso: — Também fui ao supermercado. Levei uma dessas latinhas. Meia hora depois, estava de volta para devolver. Muito pesado.

Juvenal: — Frutuoso, me responda sem pensar muito: já se sentiu como uma geladeira desligada num deserto?

Frutuoso: —  Sim. Principalmente quando recebo e-mails sobre reuniões que não aconteceram.

Juvenal: — O tempo me ligou hoje. Logo pela manhã. Disse que estava cansado de correr. E de ter você colado na aba dele. Não é hilário?

Frutuoso: — O tempo realmente me bloqueou. Disse que eu vivia de ressaca de manhã. Realmente um troço de maluco.

Juvenal: — Vamos lançar um livro?

Frutuoso: — Só se o prefácio for escrito por um poste.

Juvenal: — Hoje cedo mal havia colocado os pés fora da cama, pensei em adotar uma nuvem passageira. 

Frutuoso: — E por qual motivo uma nuvem?

Juvenal: — É que ela me pareceu solitária. E disse estar cansada do Hermes Aquino. Desde 1976 esse cantor vem divulgando-a pelo Brasil afora e ela não ganha absolutamente nada. 

Frutuoso: — Tem que ver se ela aceita um contrato para trabalhar de chuva alternada. Se não tiver medo, aliás, o mais importante: averiguar minuciosamente se ela não tem receio dos trovões sentimentais.

Juvenal: — Mudando a prosa: Você acredita que a minha sombra pediu demissão ontem? Me disse na lata que não aguentava mais me seguir sem saber para onde eu ia.

Frutuoso: — Acredito sim. A minha fez algo quase igual. Virou autônoma. Abriu uma empresa de abraços em silêncio.

Juvenal: — Tomara que essa nova empreitada dela dê certo. Hoje cedo, quando vinha para cá, topei na porta da farmácia do seu Bizantino com um calendário chorando. Pela história que me contou, acho que ele desconfia que ninguém mais acredita nos dias passados.

Frutuoso: — A nossa geração está ficando pirada. Ontem quando fui na padaria o ventilador de teto piscou para mim. Pode ser impressão minha, flerte, ou pior, só cansaço. Afinal de contas, permanecer o dia todo girando sem parar num espaço enorme sem um minuto de descanso... 

Juvenal, mudando de assunto: — Você já conversou com uma cadeira?

Frutuoso: — Claro. Elas são ótimas falantes. Só não gostam de gente indecisa, tipo esses banquinhos de restaurantes onde os frequentadores sentam e levantam como se tivessem um par de marimbondos colados no  traseiro.

Juvenal: — Estava pensando em escrever um tratado sobre o não-dito.

Frutuoso: — Boa ideia, Juvenal. Aliás, excelente ideia. Mas pense num detalhe: se você for publicar aqui no jornal local, fale com o Marcos Pena de Galinha Caipira para que ele traga a matéria à público em código Morse... 

Juvenal e Frutuoso se levantam do banco ao mesmo tempo. O assento de pedra range silenciosamente e parece se aliviar do peso que suportava. 

Juvenal faz um convite: — Escuta aqui, meu amigo Frutuoso. Eu vou dar uma passadinha no dentista. Quer me acompanhar? 

Frutuoso: — O que você vai fazer lá?

Juvenal: — Dar uma cantada de leve na Suzana Bico de Papagaio, a secretária do doutor Percival, e ao mesmo tempo verificar se a sala de espera da criatura sofreu alguma modificação. Desde que fui lá, pela última vez, saí com a ideia de que a recepção remonta a um espaço de tempo esquisito. Sempre cheia de almas penadas e os pacientes, como um todo, não atinando exatamente com o que estão esperando.

Frutuoso: — Você falou em tempo e eu me lembrei que ele, o tempo é só uma fila mal organizada. Isso vale para todas as filas onde esperamos para sermos atendidos. Na padaria, por exemplo, a gente por um tempo enorme “ficamos” em standby. Pela espera cansativa e enfadonha, perdemos a paciência, o bom senso, e por fim, não sabemos se continuamos na agonia estafante para comprar o pão e o leite, ou se saímos correndo se descabelando igual essas moscas varejeiras que pousam em nossos rostos como se fizessem um voo de reconhecimento para verificarem se de alguma forma nos reconhecem, ainda que por ouvir dizer.

O banco onde ambos os amigos estavam a conversar, (embora com eles ainda parados em pé, meio que indecisos), respira aliviado. Frutuoso Peteleco sofria da síndrome do intestino irritado, ou irritável e, por conta, tinha a péssima mania de soltar uns puns fedidos. A pobre base com a saída dele, se alivia do cheiro desses traques inoportunos e realmente começa a se sentir mais livre, leve e solto. Sorri faceiro, dá graças aos céus, quando os dois senhores, finalmente se afastam e seguem em direção ao prédio onde funciona a clínica odontológica, local de trabalho da inoxidável e linda Suzana Bico de Papagaio.  
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Aparecido Raimundo de Souza, natural de Andirá/PR, 1953. Em Osasco, foi responsável, de 1973 a 1981, pela coluna Social no jornal “Municípios em Marcha” (hoje “Diário de Osasco”). Neste jornal, além de sua coluna social, escrevia também crônicas, embora seu foco fosse viver e trazer à público as efervescências apenas em prol da sociedade local. Aos vinte anos, ingressou na Faculdade de Direito de Itu, formando-se bacharel em direito. Após este curso, matriculou-se na Faculdade da Fundação Cásper Líbero, diplomando-se em jornalismo. Colaborou como cronista, para diversos jornais do Rio de Janeiro e Minas Gerais, como A Gazeta do Rio de Janeiro, A Tribuna de Vitória e Jornal A Gazeta, entre outras.  Hoje, é free lancer da Revista ”QUEM” (da Rede Globo de Televisão), onde se dedica a publicar diariamente fofocas.  Escreve crônicas sobre os mais diversos temas as quintas-feiras para o jornal “O Dia, no Rio de Janeiro.” Acadêmico da Confraria Brasileira de Letras. Reside atualmente em Vila Velha/ES.

Fontes:
Texto enviado pelo autor. 
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

O Folclore Brasileiro

 O folclore brasileiro é sinônimo de cultura popular brasileira, e representa a identidade social da comunidade através de suas criações culturais, coletivas ou individuais; é também uma parte essencial da cultura do Brasil. Embora tenha raízes imemoriais, seu estudo sistemático iniciou somente em meados do século XIX, e levou mais de 100 anos para se consolidar no país. A partir da década de 1970, o folclorismo nacional definitivamente se institucionalizou e recebeu conformação conceitual.

Sendo composto por contribuições as mais variadas - com destaque para as culturas portuguesa, africana e indígena - o folclore do Brasil é extremamente rico e diversificado, sendo hoje objeto de inúmeros estudos e recebendo larga divulgação nacional e internacional, constituindo além disso elemento importante da própria economia do Brasil, pela geração de empregos, pela produção e comércio de bens associados e pelo turismo cultural que dinamiza.

O folclore brasileiro teve muitos dos seus elementos registrados e comentados por viajantes estrangeiros e cronistas residentes desde o período colonial, mas só começou a receber uma atenção mais concentrada e científica da elite nacional em meados do século XIX. Naquele período estava em voga o Romantismo, movimento cultural que prestigiava as singularidades e as diferenças, consagrando as tradições e cultura popular dos povos como objetos dignos de atenção intelectual. Naquele momento, acompanhando a mesma onda de interesse pela cultura popular que crescia na Europa e nos Estados Unidos, alguns estudiosos brasileiros, como Celso de Magalhães, Sílvio Romero e Amadeu Amaral, passaram a pesquisar as manifestações folclóricas nativas e publicar estudos sistemáticos, lançando no país os fundamentos do folclorismo — a disciplina dedicada ao estudo do folclore — que só conquistaria prestígio no meio acadêmico brasileiro após um século.

A partir de um primeiro interesse pelas tradições orais, depois se passou a estudar a música, e mais tarde as festas, folguedos e outras manifestações. Ao mesmo tempo, diversos artistas ligados à elite passaram a empregar elementos da cultura popular na criação de obras destinadas aos círculos ilustrados, como parte de um projeto, estimulado e desenvolvido pelo governo de Dom Pedro II, de construção de um corpo de símbolos nacionalistas que poderia contribuir para a afirmação do Brasil entre as nações civilizadas. As classes superiores nunca foram inteiramente livres da influência da cultura popular, mas obras como por exemplo I-Juca-Pirama, de Gonçalves Dias, e a música de Luciano Gallet e Alexandre Levy deram a temas do folclore brasileiro um papel de destaque na arte culta. Desde então o interesse pelo assunto só cresceu, e em várias frentes.

O impulso nacionalista rendeu ainda maiores frutos com o advento do Modernismo, quando o folclore passou a ser visto como a verdadeira essência da brasilidade. Mário de Andrade, um dos líderes do Modernismo brasileiro, foi um grande pesquisador do folclore nacional, procurando colocá-lo em diálogo com as ciências humanas e sociais, que naquela altura nasciam no país. Outros nomes influentes ligados ao movimento modernista, como os pintores Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral e o músico Villa-Lobos, também incorporaram elementos folclóricos em suas obras de maneira destacada. Mário teve a oportunidade de agir oficialmente pelo folclore, criando a Sociedade de Etnologia e Folclore quando dirigiu o Departamento de Cultura do Estado de São Paulo entre 1935 e 1938, abrindo cursos para a formação de pesquisadores, onde palestraram eruditos renomados como Lévi-Strauss.

Na década de 1950 essa movimentação se multiplicou em larga escala, atraindo outras figuras ilustres como Cecília Meireles, Câmara Cascudo, Edison Carneiro, Florestan Fernandes e Gilberto Freire, além de estrangeiros como Roger Bastide e Pierre Verger. O movimento folclorista nesta época encontrou a consagração institucional maior na Comissão Nacional de Folclore, fundada em 1947 por Renato Almeida, através de recomendação da UNESCO, vinculada ao Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura e à própria UNESCO. No contexto do pós-guerra, a preocupação com o folclore se inseria nas iniciativas em prol da paz mundial. O folclore era visto como elemento de compreensão entre os povos, incentivando o respeito pelas diferenças e permitindo a construção de identidades diferenciadas. Como disse Cavalcanti, o Brasil de então "orgulhava-se de ser o primeiro país a atender à recomendação internacional no sentido da criação de uma comissão para tratar do assunto". Em 1958 foi instituída a Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, órgão executivo do Ministério da Educação, dinamizando os debates e pesquisas através de comissões estaduais de folclore, e adotando a prática de engajar colaboradores do interior, mesmo que fossem diletantes, uma vez que se considerou que a intimidade deles com a cultura interiorana contrabalançaria a sua falta de especialização profissional.

Paralelamente à luta pela institucionalização desenvolvia-se um debate a respeito da formulação dos conceitos delimitadores do folclore como uma ciência, o que dependia da libertação do folclore em relação à literatura e à história, que tradicionalmente absorviam o pensamento sobre a cultura popular. Mas a tarefa foi, em muitos aspectos, inglória, como aponta Travassos ao resenhar as ideias de Vilhena sobre a dificuldade de consolidar o folclore como campo científico no Brasil.

"A concepção de sociologia que predominou inicialmente nas universidades brasileiras destacava as deficiências de rigor científico dos trabalhos de folclore. De outro, divergências metodológicas entre folcloristas e sociólogos estavam entrelaçadas a concepções distintas da formação nacional. Enquanto os primeiros orientavam as pesquisas na direção das formas que evidenciassem fusões e sincretismos culturais, os segundos indagavam o grau de integração das camadas sociais e grupos étnicos. Finalmente, a 'tradição cultural nascente' que os participantes do movimento prezavam não tinha relevância para aqueles que, na linha dos folcloristas europeus, consideravam folclóricos os fenômenos identificados com um estrato cultural muito antigo. Assim, o movimento distanciou-se também das concepções europeias e norte-americanas que adotam, respectivamente, os critérios básicos de antiguidade e oralidade na definição de folclore. As discordâncias devem-se, mais uma vez, ao peso das preocupações com a nacionalidade".

Além da pesquisa requisitou-se a participação das escolas como instrumentos de preservação e disseminação do folclore, acreditando-se que o caráter intervencionista e "artificial" dessa medida seria compensado pelas possibilidades de vivência "real" do folclore nas festas e brincadeiras infantis, fomentando a inclusividade, o engajamento na defesa de tradições ameaçadas e a formação de um senso de "fraternidade folclórica", como queriam Renato Almeida e outros que viam o movimento quase como uma missão sagrada. O movimento folclórico brasileiro produziu enfim um projeto paradoxal de ciência, na qual não havia diferença marcante entre leigo e cientista, entre objeto e sujeito, entre participação efetiva e observação impessoal. Essas ideias e posturas tinham seus riscos e contradições, e deram margem a críticas que alegavam que a interferência ativa do Estado na interpretação e no fomento do folclore servia como uma cortina de fumaça para esconder problemas sociais apresentando-os como realidades folclóricas.

De qualquer maneira, os trabalhos desses pesquisadores fizeram evoluir as concepções brasileiras sobre o que é o folclore. Reunidos no Rio de Janeiro em 1951, no I Congresso Brasileiro de Folclore, publicaram a Carta do Folclore Brasileiro, onde se definiu o folclore como "as maneiras de pensar, sentir e agir de um povo, preservadas pela tradição popular e pela imitação e que não sejam diretamente influenciadas pelos círculos eruditos e instituições que se dedicam ou à renovação e conservação do patrimônio científico e artístico humano ou à fixação de uma orientação religiosa e filosófica". Benjamin diz que se estabeleceu também como folclore os fatos sem o fundamento da tradição, bastando que fossem de aceitação coletiva e essencialmente populares, anônimos ou não, derrubando os requisitos de antiguidade, oralidade e anonimato e relativizando a condição de tradicionalidade.

A partir de 1961 os folcloristas passaram a contar com um importante meio de divulgação e discussão, a Revista do Folclore Brasileiro, que circulou até 1976 totalizando 41 volumes, e se tornando um catalisador de pesquisas. Mas apesar das conquistas do folclorismo nacional, ainda lhe faltava credibilidade, o que só seria conseguido, como pensava Almeida, quando ele penetrasse nas universidades. Em meio à polêmica que cercava o tema, o folclore foi gradativamente sendo alijado do modelo acadêmico que se consolidava. Embora muitos de seus estudiosos permanecessem ligados às universidades, a disciplina foi se cristalizando como um subcampo das ciências sociais. A situação ficou pior com o golpe militar de 1964, que ocasionou a demissão de Edison Carneiro, o principal folclorista daquele momento, do cargo de diretor da Campanha, fechada no dia primeiro de abril com um cartaz na porta que dizia: "Fechado por ser um antro de comunistas". Com isso se encerrava todo um ciclo do folclorismo brasileiro.

Mas a Campanha foi finalmente reaberta com Renato Almeida como seu diretor. Incorporada à Funarte, transformou-se em 1979 no Instituto Nacional do Folclore. Em 1990 o Instituto passou a ser denominado Coordenação de Folclore e Cultura Popular, hoje chamado Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, vinculado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, tendo como missão declarada "formular, fomentar e executar programas e projetos em nível nacional voltados para a pesquisa, documentação, difusão e apoio a expressões das culturas populares brasileiras".

Desde essa retomada nos anos 60-70 se acelerou e aprofundou a modernização da sociedade, a televisão entrou decisivamente no cotidiano, e ao contrário do que temia a Campanha em seus primórdios, o folclore não acabou, mas adaptou-se e transformou-se, assim como continuaram em mudança seus conceitos e práticas. Cavalcanti sumarizou o processo:

"A cultura não é mais entendida como um conjunto de comportamentos concretos mas sim como significados permanentemente atribuídos... Uma festa é mais do que a sua data, suas danças, seus trajes e suas comidas típicas. Elas são o veículo de uma visão de mundo, de um conjunto particular e dinâmico de relações humanas e sociais. Não há também fronteiras rígidas entre a cultura popular e a cultura erudita: elas comunicam-se permanentemente... Na condição de fato cultural, o folclore passa a ser compreendido dentro do contexto de relações em que se situa".

Em 1995, numa revisão da Carta do Folclore Brasileiro realizada no VIII Congresso Brasileiro de Folclore, reunido em Salvador, os folcloristas brasileiros definiram folclore como "o conjunto das criações culturais de uma comunidade, baseado nas suas tradições expressas individual ou coletivamente, representativo de sua identidade social. Constituem-se fatores de identificação da manifestação folclórica: aceitação coletiva, tradicionalidade, dinamicidade, funcionalidade".

Apesar da existência destes critérios, muitas vezes é difícil determinar se um fato é ou não folclórico, até porque os pesquisadores não raro divergem sobre os conceitos e suas aplicações. Nesse contexto, disse Cavalcanti que antes do que tentarmos saber se um dado fato é ou não folclórico, é mais produtivo entender o folclore como um campo de estudos ainda em expansão, significando que o elemento folclórico não está tanto no fato concreto, mas em seu entendimento como folclórico, e por isso a definição do que é folclore varia com o tempo. Ultrapassando a fase semi-amadorística dos pioneiros do século XIX, hoje o estudo do folclore é uma ciência bem estabelecida com associações multidisciplinares, e seu campo está em contínua expansão e reavaliação. Câmara Cascudo, um dos grandes folcloristas brasileiros, assim se expressou sobre a matéria: "Não consiste o [estudo do] folclore na obediência ao pinturesco, ao sertanejismo anedótico, ao amadorismo do caricatural e do cômico, numa caçada monótona ao pseudotípico, industrializando o popular. É uma ciência da psicologia coletiva, com seus processos de pesquisa, seus métodos de classificação, sua finalidade em psiquiatria, educação, história, sociologia, antropologia, administração, política e religião".

A despeito das polêmicas entre os estudiosos, o resultado dessa evolução continuada é que atualmente o folclore brasileiro se elevou a uma posição de destaque tanto entre o público leigo como entre os acadêmicos. Além de ser a base alimentadora de boa parte do turismo cultural do país, dinamizando comércio, indústria e serviços, se tornou instrumento de educação nas escolas, tem museus para ele e está protegido por lei, sendo considerado um bem do patrimônio histórico e cultural do país. A Constituição do Brasil protege o folclore através dos artigos 215 e 216, que tratam da proteção do patrimônio cultural brasileiro, ou seja, "os bens materiais e imateriais, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira".

Por outro lado, como se observa em outras partes do mundo, o folclore brasileiro está experimentando modificações importantes em virtude do apelo turístico, e da influência dos novos meios de comunicação de massa e das novas tecnologias de registro e difusão de informações, ocasionando a descaracterização de muitos fatos folclóricos e sua transformação em espetáculos de massa, o que está gerando preocupação. Benjamin esclarece:

"Um outro processo a merecer atenção é o da espetacularização das manifestações folclóricas pela pressão dos meios de comunicação de massa e do turismo. Algumas das manifestações tradicionais guardam a natureza de espetáculos, que têm sido levados à exacerbação, convertendo-se em produto da cultura de massas. O exemplo mais evidente é o do boi-bumbá de Parintins. Preocupante, porém, é o caso de manifestações de natureza ritual, reservadas aos membros de comunidades religiosas, que por seu exotismo estão sendo cooptadas para converter-se em eventos de massa. É o caso das panelas-de-Iemanjá, convertidas em festivais para turistas. Diante desse quadro, torna-se necessária uma nova postura liberada dos preconceitos etnocêntricos, a reciclagem das técnicas de pesquisa em trabalho interdisciplinar com a incorporação das contribuições renovadas das ciências humanas e das ciências da linguagem, o uso de novas tecnologias e equipamentos disponíveis".

O QUE É FOLCLORE E O FOLCLORE BRASILEIRO

Há uma diversidade de definições do conceito de "folclore" e de "fato folclórico". Em geral elas reconhecem uma origem principalmente popular, mas influenciada em vários níveis pelas tradições cultas; um caráter espontâneo, de criação não programada; a tradicionalidade, ou seja, uma transmissão regular através das gerações; a funcionalidade, atendendo a uma necessidade objetiva de uma coletividade; e a aceitação coletiva, devendo constituir prática autêntica. A Unesco definiu folclore como "sinônimo de cultura popular", "representa a identidade social de uma comunidade através de suas criações culturais, coletivas ou individuais, e é também uma parte essencial da cultura de cada nação".

Como sinônimo da cultura popular, o folclore brasileiro é o rosto social e identitário de uma vasta população de cidadãos brasileiros, cada um deles possuindo sua própria história, e seus próprios referenciais culturais - pois nasceu em uma sociedade -, que constituem sua identidade como pessoa e como membro dessa sociedade: o folclore é, digamos, o cenário, o enredo geral e o acervo de apetrechos materiais e imateriais dos quais dependem os atores humanos para desempenhar o seu papel vital, elementos criados pelos próprios atores e que não só estruturam e articulam a sua vida como em muito a definem, justificam e até pré-determinam, pois muitos deles foram herdados de seus ancestrais, colorem a cultura onde eles vivem e possuem força atávica, com raízes cuja origem se perde no tempo e transcende as fronteiras geográficas. Da combinação perene, viva e ininterrupta, dos cenários e enredos e das maneiras como eles interagem, se manifestam, se reproduzem e evoluem, surge a cultura deste povo, com todas as suas variantes regionais e locais, um mosaico multifacetado de expressões, modos de ser e entender o mundo e de com ele interagir.

O folclore inclui mitos, lendas, contos populares, ritos e cerimônias religiosos e sociais, brincadeiras, provérbios, adivinhações, as receitas de comidas, os estilos de vestuário e adornos, orações, maldições, encantamentos, juras, xingamentos, danças, cantorias, gírias, apelidos de pessoas e de lugares, desafios, saudações, despedidas, trava-línguas, festas, encenações, a gestualidade associada à intercomunicação oral, artesanato, medicina popular, os motivos dos bordados, música instrumental, canções de ninar e roda, e até mesmo maneiras de criar, chamar e dar comandos aos animais. A lista do que é folclore não se limita ao que vem do interior, inclui as expressões próprias da vida em cidades, lendas urbanas, os reclames dos vendedores de rua, os símbolos, modelos de arquitetura e urbanismo vernáculos 

Na apresentação do folclore brasileiro oferecida pelo IBGE, "através do folclore o homem expressa as suas fantasias, os seus medos, os melhores e piores desejos, de justiça e de vingança, às vezes apenas como forma de escapar àquilo que ele não consegue explicar". Todas essas manifestações se manifestam peculiarmente em cada cultura e diferem de região para região, e de indivíduo para indivíduo.

O Brasil possui um folclore riquíssimo, sendo impossível entrar em detalhes aqui; pode-se outrossim elencar algumas categorias mais comuns, dando-lhes um ou outro exemplo. Muitas expressões têm uma presença nacional, ou quase isso, como o carnaval, as farras de boi, as festas juninas, as cavalhadas, a festa do Divino e as lendas do curupira, do saci pererê e da mula sem cabeça; outras, são restritas a regiões e estados ou mesmo a pequenas comunidades esquecidas pelo progresso, como os fandangos de tamancos do interior de São Paulo ou a lenda da Teiniaguá no Rio Grande do Sul.

MÚSICA E DANÇA

Frequentemente interligadas, muitas formas musicais, seja puramente de instrumento ou com canto, são ritmos de dança, como o cateretê, a polca, o maxixe, o lundu, o baião, o samba, o frevo, o xaxado, o fandango, a vanera, o xote, o maracatu, a ciranda, o jongo, a tirana, a catira, o batuque, o pau-de-fita, a quadrilha, as cantigas de roda, sendo bem conhecidas as melodias Escravos de Jó, Sapo Cururu, O Cravo e a Rosa, Ciranda-Cirandinha e Atirei o Pau no Gato. Outros exemplos de música são os acalantos, como o Dorme, neném, que a Cuca vem pegar; as modinhas, desafios e repentes; as cantigas de trabalho, velório e cemitério; as serestas, as modas de viola; as ladainhas, responsórios e outros cânticos sacros.

FESTAS E ENCENAÇÕES

Algumas das principais festas são o Carnaval, a Folia de Reis, as Farras de boi e Cavalhadas, as Festas Juninas, a Festa do Divino e o Congado. Em todas elas várias expressões folclóricas se encontram reunidas, como a culinária, o vestuário, o teatro, jogos e competições, contação de casos e lendas, ritos religiosos, danças e cantos. E sendo festas de grande difusão, se encontra uma infinidade de variantes através do território brasileiro.

CARNAVAL

Tem uma origem antiquíssima; há mais de seis mil anos, no Egito, quando se comemoravam as colheitas, nasceu o Carnaval. Depois se alastrou pelo Mediterrâneo e Europa, onde especialmente a Roma Antiga e mais tarde Veneza desenvolveram carnavais suntuosos. Hoje é festejado em quase todo o mundo. No Brasil fez sua aparição por volta de 1640, sendo conhecido pelo nome de entrudo, uma festa que simbolizava a liberdade mas amiúde acabava em tumultos violentos, pelo que acabou sendo banido várias vezes, sempre sem efeito, até a década de 1930, quando passou a ser substituído pelos folguedos mais aceitáveis do Carnaval como hoje o conhecemos. Mas também as elites promoviam seu próprio carnaval, sendo o primeiro deste gênero registrado no tempo de Dom João IV, e realizado em sua homenagem. Contou com desfiles de rua, bloco de sujos (travestis) e mascarados, corridas e combates simulados. Em torno de 1840, realizou-se o primeiro baile público de máscaras, no Rio. A mascarada carnavalesca, que predominava nos teatros e salões frequentados pela elite, foi aos poucos ganhando forças até, por volta de 1850, se projetar para a rua. Os mascarados desfilavam a pé ou de carro puxado a cavalos, origem dos carros alegóricos, estendendo-se até os arrabaldes. Desfilavam grupos numerosos de estranhos personagens fantasiados como figuras cômicas ou elegantes. Festa disseminada em todo o Brasil, consolidou-se apenas em meados do século XX e hoje tem diversas variantes regionais, que adotam ritmos e decorações específicos a cada local. Permanece até hoje forte influência europeia, que transmitiu personagens carnavalescos típicos como o Rei Momo, o Pierrô, a Colombina e o Arlequim.

CONGADA

Também chamada de Congo, nasceu entre as irmandades de negros em Portugal, no século XV, recordando as festas que homenageavam a realeza africana, absorvendo também traços católicos. Trazida para o Brasil, teve ampla difusão, mas a festa se fortaleceu na região das Minas Gerais no século XVIII, quando da chegada, capturados como escravos, de membros da realeza congolense, que aglutinaram os negros em torno a si dentro da moldura das irmandades católicas. É uma festa de apoteose e redenção, encenando a coroação do Rei do Congo, acompanhado de um cortejo compassado, cavalgadas, levantamento de mastros e música. São utilizados instrumentos musicais tipicamente africanos, como a cuíca, a caixa, o pandeiro, o reco-reco, que sustentam a batucada. Na celebração dos santos associados, frequentemente São Benedito e Nossa Senhora do Rosário, a aclamação é animada através de danças, e há uma hierarquia, onde se destaca o rei, a rainha, os generais, capitães, etc. O resto do povo é dividido em grupos de número variável, chamados ternos: Moçambiques, Catupés, Marujos, Congos, Vilões e outros. Cada terno desempenha uma função ritual própria na festa e no cortejo.

FARRAS DO BOI E CAVALHADAS

Suas muitas variantes, que florescem por grande parte do Brasil, são em essência teatralizações dramáticas que envolvem um ou mais animais, respectivamente bois e cavalos. Às vezes o animal é real, como nos rodeios, e a festa se concentra em torno da doma da besta, simbolizando o domínio do ser bruto pelo homem pensante e sendo uma prova de coragem e habilidade; ou, no caso mais comum do cavalo, se presta a corridas e outros exercícios montados, em exibições de destreza e arte. Às vezes o animal é um personagem criado, uma estilização, como no caso do Boi-bumbá, com os conhecidos bois-ícones do Festival de Parintins, chamados Garantido e Caprichoso, representantes de grêmios rivais. A representação é dramática porque o boi é às vezes um mártir, transfigurado pela sua ressurreição, a exemplo da festa do Boi Calumba, ligada ao ciclo do Natal, ou acontece uma luta, ou ele escapa da morte por um triz, novamente características do Bumbá. Às vezes as cavalhadas reencenam as lutas entre mouros e cristãos e os torneios medievais, com trajes apropriados, como no caso das Cavalhadas de Pirenópolis, hoje tombadas pelo IPHAN como patrimônio cultural imaterial do Brasil. Também é comum a inserção de trechos satíricos na narrativa encenada.

FOLIA DE REIS

Tem origem europeia e foi trazida para o Brasil pelos portugueses, sendo comemorada em todo o território nacional entre a véspera de Natal, 24 de dezembro, e o dia de Reis, 6 de janeiro. Em geral grupos de cantadores e instrumentistas se reúnem e, acompanhados de multidão e às vezes outros personagens, como o Louco, o Juiz, palhaços e porta-estandartes, saem pelas ruas a pedir esmolas. Suas cantigas evocam e parafraseiam os textos e eventos bíblicos referentes a estas datas, como se lê em um verso recolhido por Faleiro:

"Oh de casa! Oh de fora!
Que hora tão excelente,
E o glorioso santo Reis,
Que é vem do Oriente...
Oh de casa! Oh de fora!
Alegre este morado,
Que o glorioso santo Reis
Na sua porta chegô...
Aqui está santo Reis!
Fora, Donas!
Procurando vossa morada,
Pedindo sua esmola..."

FESTA DO DIVINO

Foi um desenvolvimento germânico da festa romana Floralia, que celebrava a renovação da vida na primavera. Introduzida em Portugal pela esposa do rei Dom Dinis, Dona Isabel de Aragão, depois santa, que, segundo a tradição, teve um sonho que lhe indicou um local onde deveria erguer uma igreja em honra ao Divino Espírito Santo. No século XVII a Festa do Divino era comemorada em todas as colônias portuguesas, com muitas variantes. No Brasil se fundiu a outras tradições: índias, emprestando por exemplo a dança do cateretê, e africanas, entre elas a congada, a marujada, o maracatu. Conforme a localidade, coretos animam as praças, descem os blocos de foliões e bandas de música pelas ruas, correm cavalhadas, dançam bailes de fandangos e quadrilhas, passam em desfile carros de boi enfeitados, seguidos de escolares, devotos e quantos queiram; outros se entretêm com números circenses. Vários rituais compõem a festa, que simbolizam relações de classe e onde se perpetuam valores coletivos. Elege-se um "Imperador do Divino" para presidir a festa, lembrando o rei e a corte lusitana; ergue-se um mastro com uma pomba no topo, há procissões com cantorias visitando casas, rezam novenas, ocorrem encontros com bênçãos e saudações cerimoniais. Em Mogi das Cruzes, por exemplo, Fernando de Moraes coletou este refrão:

Ao chegar o grupo a uma casa, saúdam dizendo:
"O meu Divino aqui chegou, nesta hora abençoada,
Veio salvar meu senhor, abençoar sua morada".
Diversas situações rituais são previstas, tendo falas específicas. 
Por exemplo, se encontram uma vela acesa na casa, dizem:
"Abençoada foi a mão que acendeu aquela vela,
Há de ser abençoada por esta bandeira donzela".

FESTA JUNINA

Comemoram os santos católicos João Batista, Antônio e Pedro, são possivelmente uma herança de antigas tradições agrícolas pagãs. Vieram com os portugueses, enraizaram-se primeiro no Nordeste e logo se espalharam por todo o Brasil. As referências mais antigas foram dadas no século XVI pelo Frei Vicente de Salvador:

"As fogueiras, os fogos de artifícios, as brincadeiras, o pagamento de promessas e outras tantas crendices, atraiam silvícolas e camponeses à capela. Missas eram celebradas, se contavam histórias, faziam-se adivinhações. Os padres procuravam conquistar aos neocristãos e lhes fortificar a fé católica".

LINGUAGEM, LITERATURA E TRADIÇÃO ORAL
As principais manifestações do folclore na linguagem popular são as seguintes:

ADIVINHAÇÕES
Também chamadas de adivinhas. Consistem em perguntas com conteúdo dúbio ou desafiador.

Exemplo:
O que é o que é?
Está no meio do começo, está no começo do meio, estando em ambos assim, está na ponta do fim?
Branquinho, brancão, não tem porta, nem portão?
Uma árvore com doze galhos, cada galho com trinta frutas, cada fruta com vinte e quatro sementes?
Uma casa tem quatro cantos, cada canto tem um gato, cada gato vê três gatos, quantos gatos têm na casa?
Altas varandas, formosas janelas, que abrem e fecham, sem ninguém tocar nelas?

Respostas:
A letra M
Ovo
Ano, mês, dia, hora
Quatro
Olhos

PROVÉRBIOS OU DITOS POPULARES

Ditos que contém ensinamentos, como "Dinheiro compra pão, mas não compra gratidão"; "A fome é o melhor tempero"; "Ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão", e "Pagar e morrer é a última coisa a fazer".

QUADRINHAS

Estrofes de quatro versos sobre o amor, um desafio ou saudação.

PIADAS OU ANEDOTAS

História curta de final geralmente surpreendente e engraçado com o objetivo de causar risos ou gargalhadas no leitor ou ouvinte. É um tipo específico de humor que, apesar de diversos estilos, possui características que a diferenciam de outras formas de comédia. No Brasil são muito comuns piadas envolvendo o Joãozinho ou a Mariazinha, personagens supostamente ingênuos mas de fato espertos e ferinos; as piadas de papagaio, sexo e pescaria

Um exemplo de piada de papagaio:

"Um homem entra numa loja de animais, querendo comprar um papagaio e encontra três idênticos numa gaiola e pergunta o preço: 

– O da esquerda custa 500 Reais – diz o dono. 
 Nossa, que caro! Por que vale tanto? 
– Ele é um papagaio muito especial, sabe operar um computador. 
– Ah, sei... E o da direita, quanto vale? 
– Esse custa 1000 Reais. 
– Nossa, mas por que custa tão caro? 
– Ah, porque além de saber operar um computador, também domina Windows 98, Unix e Macintosh. 
– Sei, interessante... E o papagaio do meio? 
– Esse custa 5 mil reais! 
– Que é isso! O que ele sabe fazer de tão especial? 
– Na verdade – diz o dono, - nunca vi esse papagaio fazer coisa nenhuma. Mas os outros dois o chamam de chefe...".

LITERATURA DE CORDEL

Também chamada de folheto ou romance, tem origem nas tradições medievais da literatura europeia. As canções de gesta, as narrativas históricas, novelescas ou fantásticas, as histórias bíblicas e os exemplários (contos usados para ilustrar tratados morais) são algumas das fontes que contribuíram para o seu surgimento. Introduzida no Brasil via Portugal, se consolidou em meados do século XVIII, ligada ao nascimento das feiras de agricultores. Comum no nordeste brasileiro, consiste de livrinhos com narrativas em verso, que são expostos para venda pendurados num barbante (daí a origem de cordel), sobre assuntos que vão desde mitos sertanejos a situações sociais, políticas e econômicas atuais. Muitas vezes são ilustrados com xilogravuras de caráter ingênuo mas muito expressivo, o que lhes aumenta o interesse e os torna rica fonte iconográfica do imaginário popular. Entre seus autores mais notórios estão Leandro Gomes de Barros, Zé Limeira, João Martins de Athayde e Cuíca de Santo Amaro. 

Um trecho de Zé Limeira:

"Eu me chamo Zé Limeira
Da Paraíba falada
Cantando nas escrituras
Saudando o pai da coaiada
A lua branca alumia
Jesus, José e Maria
Três anjos na farinhada".

FRASES DE PARA-CHOQUE DE CAMINHÃO

Frases que caminhoneiros pintam em seus para-choques, podendo ser humorísticas, sexuais, moralidades, devoções, ou podem revelar sucintamente uma visão de mundo e de vida, em pérolas de sabedoria prática. Exemplos: "Mulher bonita e melancia grande, ninguém consegue comer sozinho"; "Na subida, paciência; na descida, dá licença"; "Nasci pelado, careca e sem dente: o que vier é lucro".

TRAVA-LÍNGUAS OU PARLENDAS

É um pequeno texto, rimado ou não, que constitui um desafio de pronúncia. Os exemplos são ilustrativos: "Um tigre, dois tigres, três tigres"; "Atrás do quadro da escola bibliotécnica estava um papibaquígrafo"; "Num ninho de mafagafos tem seis mafagafinhos; quem desmafagafizar esses seis mafagafinhos bom desmafagafizador será".

Algumas lendas e mitos bem conhecidos (serão publicados futuramente neste blog, individualmente)

Boitatá; Capelobo; Cobra-grande; Corpo-seco; Lenda do boto; Curupira; Lobisomem; Cuca; Iara; Mandioca; Mapinguari; Mula sem cabeça; Saci Pererê; Negrinho do Pastoreio; Lenda da vitória-régia, etc.

CULINÁRIA

O Brasil possui uma culinária original, resultado da fusão de uma variedade de influências, principalmente a portuguesa, adicionando-lhe ingredientes e pratos das culinárias africana e indígena.

Os portugueses, além de suas tradições próprias, como a panelada, a buchada, o cozido, o pudim de iaiá, os arrufos de sinhá, o bolo de noiva, o pudim veludo, em virtude das navegações conheceram e introduziram no Brasil o coco, a manga, a jaca, a fruta-pão, a canela, a carambola, o sarapatel, o sarrabulho, trazidos do oriente. Também transmitiram pratos mouriscos como o alfenim. No cozido português se adicionou feijão preto ou mulatinho, carnes salgadas e defumadas, farinha de mandioca e muitas verduras, criando-se um dos pratos mais conhecidos da cozinha brasileira: a feijoada. Dos índios foi assimilada a farinha de mandioca, os alimentos preparados em folhas de bananeira, as comidas à base de milho, a paçoca, a moderação no uso do sal e dos condimentos, os utensílios de cerâmica, o gosto por alimentos frescos. Os negros contribuíram por exemplo com o dendê, a pimenta malagueta, o inhame, o caruru.

Na atualidade, cada região brasileira possui os seus pratos típicos. No Norte, devido à presença de florestas, à influência indígena e à abundância de grandes rios, predomina o consumo de peixes de água doce, de mandioca e de frutas, além de iguarias como a caldeirada de jaraqui, o pato no tucupi, o tambaqui assado na brasa, a cuia de tacacá, a farofa de ovos de tartaruga, o creme de bacuri e de cupuaçu.

No Nordeste são comuns os pratos à base de feijão, inhame, macaxeira, leite de coco, azeite de dendê, peixes, crustáceos e frutas nativas. Os pratos mais populares são a buchada, o sarapatel, a dobradinha, a galinha de cabidela, o quibebe, a carne-de-sol, peixes e crustáceos ao leite de coco, amendoim, canjica, pamonha, munguzá, cuscuz, milho cozido e assado, acarajé, caruru, vatapá, pé-de-moleque, arroz-doce, tapioca, caldo de cana, além de doces de frutas regionais.

No Sul, onde se encontram grandes rebanhos, a população tem predileção pelo churrasco assado na brasa com farinha de mandioca, o prato tradicional da cozinha campeira. Pode também se servido com arroz branco, salada de maionese, saladas verdes e pão. Outros alimentos tradicionais são a tripada, o carreteiro, o chimarrão.

No Rio de Janeiro é famosa a feijoada carioca; o cuscuz paulista se popularizou em São Paulo; em Minas Gerais, os produtos lácteos como o famoso queijo de Minas, requeijões, iogurtes, manteigas e doces de leite, além do pão de queijo, biscoitos de polvilho, goiabada cascão, o tutu à mineira e o feijão de tropeiro. No Espírito Santo são apreciados peixes com urucum, assim como a moqueca capixaba. No Centro-Oeste predominam os pratos à base de carne e peixes de água doce, aves e caça do Pantanal, frutas do cerrado como o pequi e erva-mate.

Além das cozinhas regionais, populações específicas, descendentes de imigrantes, também elaboraram sobre suas tradições próprias, como as culinárias italiana, japonesa, chinesa, coreana, vietnamita, alemã, húngara, francesa, polonesa, russa, ucraniana, aumentando a diversidade. A pizza e o macarrão, por exemplo, vieram com os italianos e já foram incorporadas à alimentação cotidiana de muitos brasileiros.

ARTESANATO

A história do artesanato tem início com a história do homem, que desde logo teve a necessidade de produzir objetos utilitários e adornos, expressando assim sua capacidade criativa e produtiva. Os primeiros artesãos surgiram no Neolítico, quando o homem aprendeu a polir a pedra, a fabricar a cerâmica e a tecer fibras. No Brasil o processo foi idêntico, sendo os índios os primeiros artesãos brasileiros, com sua habilidade na cerâmica, na cestaria, na pintura corporal e na arte plumária.

A definição de artesanato é polêmica, seus limites são imprecisos e muitas vezes se confunde com a arte. Segundo Barroso Neto, o primeiro é uma "produção seriada de peças semelhantes que são resultantes, normalmente, de uma prática coletiva", ao passo que a segunda é "única, temática e fruto de uma produção individual cuja autoria reclama um nome".[60] Ricardo Lima, por sua vez, enfatiza a necessidade do predomínio do trabalho manual para a definição do caráter artesanal de uma peça.

O artesanato pode se manifestar de várias formas, como na confecção de vasos, panelas e potes de barro cozido e decorado; na funilaria, nos trabalhos em couro e chifre, nos trançados, rendas, bordados e tecidos; em formas de produção industrial caseira, como no fabrico de farinha de mandioca e no monjolo de água; nos instrumentos musicais, brinquedos, esculturas e entalhes, nas bijuterias, e numa infinidade de outras formas. O artesanato brasileiro é um dos mais ricos do mundo, revelando, quando tem características folclóricas, usos, costumes e tradições de cada local. Nos últimos anos o artesanato nacional tem conseguido grande projeção, inclusive para fora das fronteiras do país, dignificando o trabalho dos artesãos. Além disso, por empregar grandes contingentes de mão-de-obra pouco especializada, tem importante função social e econômica, garantindo o sustento de muitas famílias e comunidades.

Fontes:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Folclore_brasileiro
Imagem = Neli Neto

terça-feira, 22 de julho de 2025

José Feldman ( Oração em Versos de um Cão Abandonado)


Oh, Deus, que tudo criou com amor,  
que deu ao homem o dom de cuidar,  
por que há tanto desprezo e tanta dor  
nos olhos dos que só querem amar?  

Fui fiel ao meu dono, ao meu lar,  
brinquei com as crianças, sempre contente,  
lati aos estranhos para os afastar,  
fui guardião, amigo e tão presente.  

Um dia, cheio de alegria e esperança,  
subi no carro achando que ia passear,  
mas meu coração perdeu a confiança  
quando me deixou sem olhar para trás.  

Corri atrás, com todo o meu vigor,  
meu peito arfava, meu coração doía,  
mas meu corpo cansado perdeu o calor,  
e caí na calçada molhada e fria.  

Arrastei-me pelas ruas, tão magoado,  
meu olhar suplicava por compaixão,  
mas fui chutado, ignorado, humilhado,  
recebendo migalhas de pão.  

Nas esquinas frias, busquei abrigo,  
no canto sujo da cidade sem luz,  
mas a maioria me negou um amigo,  
e só o céu ouviu meu pedido, minha cruz.  

Oh, Senhor, fui criado para servir,  
para ser fiel, para amar sem medida,  
mas por que tantos me fazem ferir,  
negando-me carinho, calor e comida?  

Será que quem me deixou já se esqueceu  
do olhar que um dia nele confiou?  
Será que as crianças ainda dizem meu nome,  
ou meu afago no lar se apagou?  

Peço-te, Senhor, pelos outros iguais,  
aqueles que sofrem na mesma solidão,  
protege-os da fome, dos golpes fatais,  
que encontrem amor e um lugar quentinho no chão.  

Que nunca mais um ser desprezado  
vague pelas ruas com olhar de dor,  
que as mãos humanas, em vez de pecado,  
ofereçam abrigo, esperança e amor.  

E quando chegar minha última hora,  
acolhe-me em Teus braços, meu Senhor,  
dá-me a paz que tanto imploro agora,  
pois só em Ti encontro meu valor.  

Sou apenas um cão, um ser criado,  
mas meu amor foi puro e verdadeiro,  
e mesmo sofrendo, jamais fui culpado,  
só quis ser leal ao meu companheiro.  

Agora descanso, já sem forças para andar,  
meu corpo cansado espera o final,  
mas minha alma, Senhor, quer Te encontrar,  
e em Teu abraço esquecer o mal.

Imagem de JFeldman com Microsoft Bing

Carolina Ramos (Zéco)

Num sô Zeca porcaria nenhuma! Meu nome é Zéco! Zé... co! Tábom?!


Estrilava feio, cada vez que o chamavam de Zeca, E explicava:

- Zeca é nome prá muié! - conheço inté uma dona Zequinha, lá da loja da esquina, santa mãe do Serafim... garoto que de anjo... só tem o nome!

- Meu nome intêrinho é José Corifeu. - Zéco descia às minúcias:

- Zé de José, Pai do Minino e Esposo da Virge. E Co... de Corifeu... chefe de coisa nenhuma! - Zécooo!

Zéco sabia que corifeu queria dizer chefe disto ou daquilo, como lhe dissera o seu Pepe da farmácia, homem de "munto " estudo e "i munta curtura tamém!" E Zéco terminava o discurso com advertência inflamada:

- Quem me chamá de Zeca, vai tê di se havê cumigo! Vai tê mêmo!...

Contudo, quem menos ligava para tais ameaças era a molecada do bairro, irreverente... doidinha por fazer ferver a chaleira da paciência do Zéco:

- Zeca!... Zeca!... Lá vem o Zeca... boboca e careca... jogando peteca!

A melodia improvisada, a abusar da rima proibida, deixava em ebulição os brios do pivô da questão, que, indignado, apanhava um punhado de terra... Não raro, voavam mesmo algumas pedras em direção à corja atrevida. E era aquele atropelo! Pernas pra todo o lado!

- Eu sô Zéco, seus marditos! Zé - de José. Co - de Corifeu! — e as pedras choviam!

Raro o dia em que a porta do casebre, na qual vivia o pobre, não aparecia garatujada a giz! O nome escrito soava como palavrão, dispensando qualquer esforço para ser reconhecido. E enquanto as letras brancas gritavam ZECA, a chaleira da "reiva " apitava e Zéco esbravejava furioso, a esfregar a porta com pano encardido, molhado nas águas do ribeirão que corria próximo. E, então, ele apertava os olhos, fechava o punho e sibilava entre os dentes:

– Ah! Se eu pego um desses marvados de jeito...eu mato! Ah, se mato!! Mato, sim, pra todo do mundo sabê di veiz quem é Zeca e quem é o Zéco! - Os olhos fuzilavam e o punho fechava-se ainda mais à altura do nariz. - Molecadinha sem-vergonha! Dêxa... quarqué dia pego um! Ah... si pego!...

Zeco sabia haver muito homem de verdade, macho mesmo, chamado Zeca, mas não queria nem saber! Sabia, isto sim, que ele era o Zéco... e de Zéco queria ser chamado! Era o dono do nome e pronto!... Ninguém tinha o direito de chamá-lo como bem entendesse... sem se havê com ele!

Naquele dia, Zéco não saíra para trabalhar na roça. Amanhecera de cabeça tinindo, a latejar como se o coração houvesse mudado para lá. A dor crescera, acabando em "pingação " de nariz. Gripe! Gripe daquelas de criar ninhada de gatos no peito! Nem precisava ser médico para fazer o diagnóstico! O corpo doía... Moído como se um trator tivesse passado por cima dele!

Sem ninguém para mimá-lo, sem mulher nem filhos - que sua Candinha se fora, sem deixar prole - Zéco arrastou-se até a garrafa de aguardente, como se a carcaça lhe pesasse uma tonelada. Gole generoso afogueou-lhe o rosto, ao descer como lixa pela garganta irritada.

A esperar pelo efeito, sentou-se no catre, cotovelos fincados nas coxas... testa aninhada nas mãos...

Não demorou para que o suor brotasse, farto, a lhe escorrer pelas costas.

De repente... aguçou o ouvido: - Ruído na porta. Alguém a arranhava, por fora. Ao espiar pela fresta da fechadura... Olho no olho! Surpresa dos dois lados!... E consequente fuga do garoto, apavorado... enquanto Zéco rugia, escancarando a porta com fúria:...

- Então é tu, coisa ruim! Anjinho de meia tigela! Péra aí que eu te pego!

Irmão do Serafim, Rafael, o caçula temporão de dona Zequinha, lívido de medo... não tinha asas para alçar voo, apesar do nome... mas provou ter boas pernas para enfrentar uma corrida!

Sorteado, daquela vez, para garatujar a porta do Zéco, passou de volta como um pé de vento, gritando à turma que o aguardava:

- Foge, gente! O home tá em casa!...

Debandada geral!

Zéco... mais febril que nunca, olhava a porta com desgosto, alheio à aragem fria que começara a soprar... e esquecido das próprias dores e mazelas.

Mais uma vez, lá estava o estigma! Incompleto, sim... apenas três letras. Faltava a principal - aquele A, no final - pivô de toda discórdia! O maroto não tivera tempo de completar o acinte, apenas – ZEC... é o que se lia. Mas... o acinte estava lá! Ah, se estava!... E as provas, também! - O giz jogado no chão, pisado pelos pés do susto... naquela fuga estabanada, bastava como prova indiscutível! - "Quem não deve... não teme!"

O intuito de provocação era explícito e sem deixar qualquer dúvida! Absorto pelas evidências e cego pela raiva, nem mesmo assim, Zéco deixou de ouvir a gritaria da meninada em alvoroço, à beira do rio de águas revoltas! Entendeu de pronto que alguém se afogava!

Sem perda de um minuto, Zéco sacudiu o peso da gripe, esquecido dela e da birra, correndo para a margem do ribeirão.

Era Rafael! O rosto do garoto estampava terror ao tentar agarrar-se à fragilidade da vegetação beira-rio. Perigo de todos os lados! Avolumada pelas chuvas, a correnteza que o arrastara após o resvalo do pé, na fuga às mãos justiceira, por cruel ironia o colocava, agora, ao alcance daquelas mesmas mãos ávidas de justiça!

O garoto, contudo, não hesitou. Entre ver-se tragado pelas águas turbulentas e o risco de ter o pescoço espremido pela ira do Zéco, não teve dúvidas: - atirou-se por inteiro à mão salvadora, que da margem lhe era estendida.

Os dedos do homem e os da criança tocaram-se de leve, antes que Zéco se lançasse às águas geladas que, implacáveis, arrastavam o menino para o meio do rio.

Rafael debatia-se em desespero, até ser alcançado, agarrado pela roupa e entregue à margem, entanguido... mas salvo!

A surpresa tomara conta da molecada, pasma, que a tudo presenciava com olhos de espanto. O homem durão, antes desacatado e temido, num segundo transformara-se em herói!

Naquela mesma noite, Zéco foi internado. Pneumonia dupla. Delirava! O dilema que o atormentava subia à tona, fortalecido pela febre:

- Eu sô Zéco!... ZÉ-CO! Zé – de José. Co – de Corifeu! Mato quem me chamá de ôtro jeito! Pode inté tê nome de anjo, que eu mato! E mato mêmo!

Ao pé da modesta sepultura, uma cruz agasalha nos braços um nome inexpressivo: - JOSÉ CORIFEU.

A complementação vem logo abaixo, desenhada a giz, por mão infantil, em letra irregular, mas bastante clara: - ZÉCO – definitiva autenticação do nome de um homem que o defendera, com unhas e dentes, até o final de sua vida!

E isto porque... na verdade, tal nome era tudo o que de realmente seu, aquele homem possuíra, ao longo de toda sua insignificante existência.
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 
CAROLINA RAMOS nasceu em Santos/SP, em 1924. Dia 19 de março de 2025, comemorou seu 101. aniversário. Desde cedo atraída pelas letras, seus amigos mais chegados eram os livros. Essa preferência aproximou-a das artes e literatura. Na Escola Normal, diplomou-se como Professora e Secretariado.. Completou seus estudos formando-se em música. Fez o curso completo de Música. Vários cursos de Literatura, de Folclore, Línguas e um pequeno Curso de Enfermagem. Leu na adolescência, tudo o que lhe caia nas mãos, desde toda a obra de Machado de Assis, José de Alencar, e outros nacionais e estrangeiros. No ginásio, costumava fazer algumas quadrinhas de pé quebrado. Fez seu primeiro poema quando a filha, Márcia, nasceu, “Se eu soubesse esquecer”. Publicou versos num Suplemento de Arte, do Jornal local, A Tribuna. Possui vários prêmios, no Brasil e alguns no Exterior, de Contos, Poesias, Trovas e Crônicas. Por seu poema, Paz, foi agraciada com Diploma e Medalha de Mérito Internacional, em Nocera - Salerno, Itália. Trovadora, contista, poeta, santista ilustre, foi Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Santos por oito anos (2001 a 2007) e Presidente da União Brasileira de Trovadores – Seção de Santos. Pertence a diversas entidades culturais, como Academia Santista de Letras, Academia Feminina de Letras, Academia Cristã de Letras de São Paulo, Confraria Brasileira de Letras, e de várias outras Academias de Letras e entidades culturais do Brasil. Agraciada com diversas medalhas de mérito cultural em Santos, com a “Medalha do Sesquicentenário de Santos”, outorgada pela Prefeitura Municipal; “Medalha dos Andradas”, pelo IHG de Santos e “Medalha Brás Cubas”, outorgada pela Câmara de Santos, em 2006”. Recebeu diversos títulos, homenagens e prêmios em Portugal e Angola. Em 2021 o título de "Princesa da Trova" . Em 2023, vencedora do Hino Oficial da Academia Cristã de Letras de São Paulo. Alguns livros publicados:
“Sempre” – (Poesias); “Cantigas Feitas de Sonho” – (Trovas); “Interlúdio” – (Contos); “Paulo Setúbal – Uma Vida Uma Obra”  (em parceria c/Cláudio de Cápua); “Júlia Lopes de Almeida” – (Biografia); “Feliz Natal!” – (Contos Natalinos); “Príncipe da Trova” – (Biografia); “Liberdade... Sonho de Todos!” – (Prosa – Poesia – Trova) ; “Destino” -  (Poesias); ”Canta...Sabiá!”  (Folclore do Brasil); ”Bichos... Bichinhos... e Bichanos...” (livro infantil), entre outros.
 
Nas palavras de Carolina em entrevista concedida a José Feldman: 
“A obra do escritor não tem fronteiras. Não há limites que cerceiem a sua criação, e, muito menos, cronológicos. Mas o escritor não é imune às influências do meio e da época em que vive. Seus escritos bebem a água da inspiração, na fonte que corre perto de seus pés. A voz do escritor incorpora a voz do seu tempo e, automaticamente, através do que escreve, passa a interagir, de acordo, ou não, com a vida que rola à sua volta, e até mesmo contra suas próprias convicções, segundo as exigências da personagem criada. Note-se, que há, sempre, escritores e poetas envolvidos nas grandes causas que o cercam e que acabam por marcar suas existências. É por isso, que podemos afirmar que poetas e escritores, em qualquer tempo ou lugar, são quase sempre ativistas sociais e arautos dos grandes acontecimentos que marcam o seu tempo.”

Fonte:
Carolina Ramos. Canta… Sabiá! (folclore). Santos/SP: Editora Mônica Petroni Mathias, 2021. Capítulo 5: Contos rústicos, telúricos e outros mais. Livro enviado pela autora.
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