sábado, 25 de novembro de 2017

João Batista Xavier Oliveira (Trovas de quem entende de Trovas) III


A goteira enciumada
feriu a rosa em botão
porque à chuva misturada
nunca chamou atenção.

A janela da poesia
aberta às rimas do amor
deixa passar, noite e dia,
toda a ternura da flor.

Ao som da noite uniforme
comigo a tristeza dança;
enquanto a esperança dorme
a saudade não descansa.

A terra liberta cios
e os braços do homem aceita
quando a chuva, por seus fios,
tece o manto da colheita.

Eu me preocupo em colher
bons frutos da educação,
para evitar encolher
o pomar do meu irmão.

Junto à árvore da trova
conheci minha poesia,
pois quem do seu fruto prova
faz do verso moradia.

Meu barco à deriva assume
ao abraço do arrebol
na fuga do teu ciúme
que fingiu ser meu farol!

Não faça do amigo a ponte
para o sucesso alcançar;
muitas o horizonte
é onde começa o mar.

Não queiras me envenenar;
minha dor está dormente;
ternuras no teu olhar
são dois ninhos de serpente.

Na rotina cansativa
o vai-e-vem, burburinho,
escondem a paz que ativa
novo brilho do caminho.

Nas teclas do meu piano
a emoção rompe barreiras
ao teu sentimento insano
mesmo que as pazes não queiras.

No alvor do seu uniforme
mais parece anjo da terra
velando a dor que não dorme
em tempo de paz... de guerra!

O chilrear matutino
numa cadência sem fim
é o legado do menino
cantando dentro de mim.

O tempo ensina a chorar
represando a quem não chora
um sentimento de amar
a paz que jamais aflora.

Pergunto ao tempo até quando
a falsa paixão se esconde
e ele passando... passando...
simplesmente já responde.

Quando a dor fica teimosa
e a esperança nem murmura,
o espinho a zombar da rosa
exala a sua amargura.

Quando se enxerga o inimigo,
o embate é menos atroz,
pois ele é maior perigo
estando dentro de nós

Que valor tem conquistar
poder e glória sem fim...
se no aconchego do lar
solidão ganha de mim?

Quisera, nos meus delírios,
que alcançam versos celestes,
a liberdade dos lírios
nos vastos vergéis agrestes.

São nos pequenos sinais
que a natureza diz tudo;
a indiferença jamais
ameniza o conteúdo.

Tens apenas um defeito:
ferir-me na insensatez;
e eu apenas o direito
de morrer uma só vez.

Teu retrato em preto e branco
a colorir a saudade
pereniza o riso franco
no tom que não tem idade.

Tijolos, bola de meia,
nosso futebol de rua.
Essa paisagem clareia
doce infância de alma nua.

Fonte:
Trovas enviadas pelo autor

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