Era
uma tarde chuvosa na pequena casa de Dona Elza. Ela estava na cozinha,
concentrada em preparar seu famoso ensopado. Com um avental florido e uma
colher de pau na mão, ela mexia os ingredientes quando seu marido, Seu Manoel,
entrou com um olhar curioso.
— O que você está fazendo, minha querida? — perguntou Manoel, coçando a cabeça.
— Estou fazendo ensopado, Mané. Você sabe, o seu favorito! — respondeu Elza, sorrindo.
— Ah, sim! E eu posso ajudar? — ele disse, já se aproximando da mesa de temperos.
— Claro, amor! Só não mexa nos potes, por favor — advertiu ela, lembrando-se de algumas tentativas anteriores.
Manoel começou a olhar e mexer nos potes, mas logo se deparou com um dilema.
— E a pimenta? Onde está? Você já colocou?
— Coloquei sim! — disse Elza, sem muita certeza.
— Tem certeza? O que você acha que é essa cor aqui? — apontou ele para o ensopado.
— Mané, isso é o colorau! — ela riu, balançando a cabeça. — Você ainda lembra o que é pimenta?
— Ah, estou certo de que não colocou... — ele murmurou.
— Então, vamos colocar mais um pouco, só para garantir! — decidiu Elza, pegando o frasco de pimenta.
— Espera! — Manoel gritou. — E se já tiver? E se ficarmos com a boca em chamas?
— Mané, você está exagerando! A comida não vai explodir! — ela riu, já despejando uma boa quantidade.
— Ok, ok! Mas se eu não conseguir sentir o gosto depois, a culpa é sua! — ele retrucou, cruzando os braços.
Após o tempero, Dona Elza serviu o ensopado fumegante em dois pratos. Ambos se sentaram à mesa, ansiosos para experimentar a refeição.
— Vamos lá! — disse ela, pegando a colher. — Um brinde ao nosso jantar!
— Ao nosso jantar! — replicou Manoel, levantando o garfo.
Os dois deram a primeira colherada ao mesmo tempo. O silêncio pairou por um momento, até que Manoel começou a chorar.
— O que foi, Mané? Está tudo bem? — perguntou, preocupada.
— Eu... estou... — ele tentou falar, mas as lágrimas escorriam. — Está muito forte! Parece que coloquei fogo na boca!
— O que você esperava? — disse ela, tentando conter o riso. — Você mesmo insistiu que não sabia se a pimenta já estava lá!
— Agora eu sei! — ele respondeu, fazendo caretas. — Eu não vou conseguir comer isso!
— Que bom que você decidiu ajudar! — Elza brincou, servindo-se de um copo de água. — Deixa que eu cuido do jantar da próxima vez.
Manoel, ainda ofegante, sorriu e levantou o copo.
— Então, um brinde à pimenta esquecida e ao nosso amor!
— E que nunca mais esqueçamos onde a pimenta está! — Elza completou, rindo.
Fontes:
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Plat. Poe.
Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
Nenhum comentário:
Postar um comentário