aprendi uma lição:
eu poderia plantar
um pezinho de feijão
num copinho de café,
mostrando ali minha fé
no Senhor, com gratidão.
O grãozinho de feijão
com água e algodãozinho
com o tempo despertou
do delicado soninho,
abriu braço, espreguiçando-se
e foi logo então mostrando-se
verdejante bebezinho.
Os meus olhos de criança
mal podiam ver então
um broto pequenininho
num tiquinho de algodão,
uma base ao crescimento
e com água e sentimento
ter uma suave explosão!
Depois do braço miúdo
que cresceu e se mostrou
ser o caule de uma planta
uma folhinha brotou
como espinafre, verdinha,
alegrando a criancinha,
dando um baita sorrisão!
Claro, por falta de espaço,
e por ser experiência
com algodão e não terra,
o pé demonstrou carência
e de fato não vingou,
o que então me demonstrou
biologia em excelência.
Mais tarde tive um canário
que nem chegou a durar
um mês na “sua” gaiola,
vindo o tal a então tombar
com um mês de aprisionado
sob um facho acalorado
do sol do seu libertar...
Logo depois um coleiro
eu ganhei de um primo meu
e fiquei muito feliz,
pois nova vida se deu
lá em casa, na gaiola:
um coleirinho de gola
filhotinho se prendeu...
Eu ainda era criança
e de fato não sabia
que tristeza era manter
uma ave qualquer dia
na gaiola, aprisionada;
mantive então a empreitada
e segui com alegria.
O bichinho tinha um canto
alto e forte toda vida!
Parecia um tenorzinho
com a voz fortalecida
pelo alpiste e pela água,
não mostrando muita mágoa
por ter a vida apreendida...
Claro, o bicho nem lembrava
a vida fora das grades!
Quando vira aprisionadas
todas as suas verdades,
ele era um filhotinho
frágil e muito novinho,
sem conhecer liberdades...
Porém, ele foi crescendo
sem carinho pela mão
que sempre o alimentava,
tentando com atenção
bicá-la sem demonstrar
qualquer remorso ao tocar,
não aceitando perdão.
Quando eu tirava a banheira
para pôr água limpinha,
ele voava pra longe,
ao teto da gaiolinha,
tentando fugir de mim,
do monstro de carmesim
que ia contra a sua vidinha...
Quando eu tirava seu forro
de jornal para trocar
por um limpo e higienizado,
ele seguia a voar
para o teto da gaiola
nada feliz, nem gabola,
até tudo se findar.
O jiló eu descascava,
e não satisfeito ainda,
deixava à mostra sementes
para a criatura linda
logo bicar e encontrar
muitas sem nem precisar
se sentir numa berlinda!
Eu ficava imaginando
como ele se sentia
ao saber que passarinhos
voavam à luz do dia
para todo e qualquer canto
e tinham no bico o canto
de estar livre em alegria!
Justo quando eu fui crescendo
percebi que o passarinho
não teria namorada,
nem ao menos o seu ninho
com filhotes para amar,
o que me fez enxergar
não ser bom o seu caminho.
Mas como é que eu poderia
libertá-lo da prisão,
se ele já praticamente
lá nascera sem senão?
O coitado morreria
no escuro ou à luz do dia
sem defesa e sem perdão!
Era um animal herbívoro
que se tornaria caça
de algum gato ou de coruja,
de algum rato ou de trapaça
que o levaria de novo
a outra gaiola, meu povo!
Tudo na cabeça passa!
Os anos foram passando
somente comendo alpiste
e jiló na tal gaiola,
o que me deixava triste
por ele jamais poder
deixar a prisão e ver
o que de mais belo existe!
No final da sua vida,
nos poleiros não subia,
ficando só lá no fundo
da gaiola e já não via
nada à volta, só “sentava”
quieto e velho e esperava
o fim da sua agonia.
Três dias longos assim
se passaram ao coitado,
que num sábado morreu
e por mim foi enterrado
na calçada de uma escola
de minha infância gabola.
Foi o fim deste pecado.
Eu vi o pranto incontido
de minha mãe e minha irmã,
mas eu só senti alívio
naquela dita manhã,
pois não mais iria ver
aquele imenso sofrer
que não era o meu afã.
Nós pusemos logo fora
aquela podre prisão
para nunca mais mantermos
qualquer ave sem razão
encarcerada a sofrer
e sua beleza perder
por tristeza e depressão.
O que ganhamos em troca
Minha irmã, minha mãe e eu
Foi algo nunca pensado
Que do nada aconteceu
E pode sempre ocorrer
Quando quiser vir nos ver!
Eu te conto o que se deu.
O que ganhamos então
eu te digo já risonho:
uma coruja aparece
lá em casa (não em sonho!)
sempre que lhe dá na telha,
mostrando que a casa velha
não é um lugar medonho!
E a cada vez que observo
uma gaiola a ostentar
uma criatura indefesa,
um passarinho a cantar
fico triste de repente
por saber que a dita gente
ainda ama aprisionar.
Um recado que aqui deixo
é que não prendas ninguém
numa gaiola apertada,
mas sim faças sempre o bem
de tão somente aplaudir
do que é belo o ir e vir
livre, não sendo refém!
Outro recado bem simples
é que procures plantar
uma árvore na vida,
porque Deus vai se orgulhar,
como um ipê que eu plantei
quando um dia me lembrei
do feijão a não vingar.
Fontes:
Enviado pelo autor.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
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