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segunda-feira, 21 de julho de 2025

Asas da Poesia * 55 *

 

Soneto de
EDY SOARES
Vila Velha/ES

A desconhecida

De onde ela veio os riscos eram poucos;
cais de sossego e amores comedidos…
porto seguro…, mas de ouvidos moucos
aos seus anseios, sempre preteridos.

Um dia, enfim, nos descobrimos loucos,
incendiando instintos escondidos
e nos amando entre os gemidos roucos
das feras que contêm suas libidos.

Aos poucos pude ver que descobrimos
detalhes tão comuns de um sonho imenso,
motivos pelos quais nós nos unimos…

E agora a vejo triste e dividida
entre as surpresas deste amor intenso
e o porto que acolheu a nau transida!
= = = = = = = = =  

Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Alarme no galinheiro. 
- Será que há gambá na granja?... 
- Bem mais grave: é o cozinheiro 
que avisa: “Hoje vai ter canja!”…
= = = = = = = = =  

Poema de
CARLOS LÚCIO GONTIJO
Santo Antônio do Monte/MG

Oração dos casais

Meu bem, sei que Deus protege os casais
Semeia trigais de ternura na pele
Para que o amor sele as marcas da procura
Então, na hora em que a gente for dormir
Façamos jus aos cuidados do Senhor
Por favor, acenda-me quando apagar a luz!
= = = = = = = = =  

Aldravia de
HELENA LUNA
Fortaleza/CE

sonho
poeira
que
o
vento
carrega
= = = = = = = = =  

Soneto de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

O teu rosto de sal na praia vã
(José Charles González in "Cem Sonetos Portugueses", p. 148)

O teu rosto de sal na praia vã
Filtrava a luz do sol nesse cristal
E lá do sul, subindo o areal
Vinha a lua dizer que é tua irmã.

Sendo a razão de ser desta manhã
Silhueta esculpida num vitral
Serias Virgem numa catedral
Se não tivesses já coroa de romã.

És sereia que o mar azul trouxesse
Uma rosa de orvalho que amanhece
E, por milagre, a Terra iluminasse.

És aragem lembrando borboleta
Vestida de amarelo, azul, violeta
E que ao bater das asas nos deixasse.
= = = = = = = = = 

Trova de
FERNANDO BURLAMAQUI 
Recife/PE, 1898 – 1978

A Saudade, com certeza,
tem poderes encantados
que fazem doce a tristeza
dos corações separados.
= = = = = = = = =  

Soneto de
AFONSO FREDERICO SCHMIDT
Cubatão/ SP, 1890-1964, São Paulo/SP

Rosas loucas

A rosa louca é a rosa mais singela
de todas as rosas, mas é bela
porque nasce nas cercas, nos caminhos
e conta menos flores do que espinhos.

A rosa louca é a rosa mais plebeia
dentre todas as rosas, traz à ideia
a moçoila do bairro, tão bonita
com vestidos de cor, feitos de chita.

A rosa louca é a rosa que se olha
sem tirar do pé, porque desfolha;
ela pede perdão de não ter graça;

desponta, desabrocha, encanta... e passa.
Estas rosas são breves e são poucas,
como o riso feliz em nossas bocas…
= = = = = = 

Trova de
SINCLAIR POZZA CASEMIRO
Campo Mourão/PR

Todas  manhãs são seguras,
pois há toques de poesia
que tu, mágico, asseguras
Sir Feldman de cada dia!!!
= = = = = = = = =  

Poema de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP

Elogio ao Soneto

No meu viver de agitação, proscrito,
eu busco a paz para escrever um verso
e de alma pura, coração contrito,
procuro a melhor rima do Universo.

O desespero aperta, estou aflito…
Como escrever num mundo tão perverso?
A inspiração me acode com um grito,
e o meu soneto nasce, incontroverso…

Ao verbo de Camões me fiz escravo.
em busca da palavra me fiz bravo,
para dar ao soneto nova aurora…

Que o pavilhão tremule lá na praça,
e brilhando, qual pérola sem jaça,
reine o soneto pelo mundo afora!
= = = = = = = = =  

Trova de
DIVENEI BOSELLI 
São Paulo/SP

Choro junto à sepultura
De sonhos mortos repleta,
E a razão, mãos na cintura,
Diz: – quem mandou ser poeta.
= = = = = = = = =  

Soneto de
MIGUEL RUSSOWSKY
Santa Maria/RS (1923 – 2009) Joaçaba/SC

Oração do poeta

– Que me darás, Senhor, pela jornada
de dores, privações e misereres?
– Eu te darei a noite salpicada
de estrelas e silêncio. Que mais queres?

– E para a solidão da madrugada?
– Já fiz o mundo cheio de mulheres.
procura e encontrarás a tua amada.
Faz os mais lindos versos que puderes.

– Mas como irei, Senhor, reconhecê-la?
– Há no céu, entre todas, uma estrela
que apenas tu verás. Que mais perguntas?

– E este frio e esta angústia que ora sinto?
– Quando ela penetrar em teu recinto
a primavera e a paz hão de vir juntas.
= = = = = = = = =  

Trova de
FAGUNDES VARELA
Rio Claro/RJ, 1841 – 1875, Niterói/RJ

A mais tremenda das armas,
bem pior que a durindana,
atentai, meus bons amigos…
se apelida: – a língua humana!
= = = = = = = = =  

Cantiga Infantil de Roda
PEZINHO 

Ai bota aqui 
ai bota ali 
o teu pezinho
O teu pezinho 
bem juntinho 
com o meu

Ai bota aqui ai bota ali 
o teu pezinho
O teu pezinho o teu pezinho 
ao pé do meu

E depois não vá dizer 
que você já me esqueceu
E depois não vá dizer 
que você já me esqueceu

E no chegar deste teu corpo, 
uma abraço quero eu
E no chegar deste teu corpo, 
uma abraço quero eu

Agora que estamos juntinhos, 
da cá um abraço e um beijinho
Agora que estamos juntinhos, 
da cá um abraço e um beijinho

E depois não vá dizer 
que você já me esqueceu
E depois não vá dizer 
que você já me esqueceu
= = = = = = = = =  

Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO

Teu coração bem amado,
é de tão grande doçura,
que se fosse esquartejado
parecia rapadura.
= = = = = = = = =  

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

O portão e o vento

Num piscar de olhos
Distancia-se o pensamento,
Busco encontrar-te
Em cada folha do Plátano
E pétalas de rosa que guardei...
Imagino que esteja próximo a esquina
Vindo em minha direção,
Mas, num piscar de olhos.
Você retorna aos meus sonhos,
E o portão abre-se com o vento...
= = = = = = = = =

Poetrix de
ANGELA TOGEIRO
Belo Horizonte/MG

Falsa borboleta

Ousei ser lagarta e pupa.
Rompi o casulo
numa sociedade de asas tolhidas.
= = = = = = = = =  

Pantun de
OLGA MARIA DIAS FERREIRA
Pelotas/RS

Pantun da Cegueira do Amor

TEMA:
Se o amor é cego, entretanto,
por que nos faz tanto bem?
Mesmo cego, é luz no entanto,
nos olhos cegos de alguém!
PROFESSOR GARCIA 
Caicó/RN

PANTUN:
Por que nos faz tanto bem
essa pauta de carinho,
nos olhos cegos de alguém,
a enfeitar o nosso ninho.

Essa pauta de carinho,
tanto amor ao entardecer,
a enfeitar o nosso ninho
e nos ajuda a viver.

Tanto amor ao entardecer,
traz grande brilho ao olhar
e nos ajuda a viver,
vibrar, sorrir e sonhar.

Traz grande brilho ao olhar
e traz muita paz… enquanto,
vibrar, sorrir e sonhar
Se o amor é cego, entretanto...
= = = = = = = = =  

Aldravia de
ANNA RIBEIRO
Itajaí/SC

nas
entrelinhas
a
busca
de
mim
= = = = = = = = =  

Soneto de
FILINTO DE ALMEIDA
Porto/Portugal, 1857 – 1945, Rio de Janeiro/RJ

Zumbidos

Eu quisera ter voz para cantar
A tua glória — portentoso guia
Nas ascensões da minha fantasia —
Voz do Céu, voz da Terra, voz do Mar.

Mas tão potente voz, tão singular
Que concertasse a tríplice harmonia,
A só digna de ti, quem a teria
Neste soturno mundo sublunar?

Eu, abelhão fugaz do ático Himeto,
Dou-te o meu surdo canto, asas abrindo,
Num sussurro de loa triunfal;

Dou-te mais um zumbido num soneto;
Que eu vivi sempre e morrerei zumbindo
Em torno da tua sombra colossal.
= = = = = = = = =  

Trova de
J. UDINE VASCONCELOS
Fortaleza/CE

Como filho do Universo,
vejo a vida em poesia,
por isso é que faço verso,
dia e noite, noite e dia…
= = = = = = = = =  

Poema de
JOHN DONNE 
Londres/Inglaterra, 1572 – 1631

A Isca 

Vem viver comigo, sê o meu amor
E alguns novos prazeres provaremos
De areias douradas e regatos de cristal
Com linhas de seda e anzóis de prata.

Aí o rio correrá murmurando, aquecido
Mais por teus olhos do que pelo sol;
E aí os peixes enamorados ficarão
Suplicando a si próprios poder trair.

Quando tu nadares nesse banho de vida
Cada peixe, dos que todos os canais possuem,
Nadará amorosamente para ti,
Mais feliz por te apanhar, que tu a ele.

Se, sendo vista assim, fores censurada
Pelo Sol, ou Lua, a ambos eclipsarás;
E se me for dada licença para olhar
Dispensarei as suas luzes, tendo-te a ti.

Deixa que outros gelem com canas de pesca
E cortem as suas pernas em conchas e algas;
Ou traiçoeiramente cerquem os pobres peixes
Com engodos sufocantes, ou redes de calado.

Deixa que rudes e ousadas mãos, do ninho limoso
Arranquem os cardumes acamados em baixios;
Ou que traidores curiosos, com moscas de seda
Enfeiticem os olhos perdidos dos pobres peixes,

Porque tu não precisas de tais enganos,
Pois que tu própria és a tua própria isca,
E o peixe que não seja por ti apanhado,
Ah!, é muito mais sensato do que eu.

(Tradução de Helena Barbas)
= = = = = = = = =  

Trova de
DJALDA WINTER SANTOS
Rio de Janeiro/RJ

Houve muita confusão
quando o morto, no velório,
dando um tapa no caixão,
reclamou do falatório...
= = = = = = = = =  

Glosa de
GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS

E é quase dia...

MOTE:
No talvez da quase noite,
quando a espera me angustia,
horas batem feito açoite...
Tu não vens...e é quase dia...
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG

GLOSA:
No talvez da quase noite,
eu me perco em devaneios
e temo que a dor se amoite
e se instale nos meus seios!

O pranto cai devagar
quando a espera me angustia,
sentindo – não vais chegar,
morre em mim toda a alegria!

A tristeza faz pernoite
no meu pobre coração...
horas batem feito açoite...
sem nenhuma compaixão!

Quando a solidão aumenta,
a noite perde a magia
e minha alma não aguenta,
tu não vens...e é quase dia…
= = = = = = = = =

sábado, 2 de novembro de 2024

Vereda da Poesia = 147 =


Soneto de
LUIZ POETA
Rio de Janeiro/RJ

Lírico artefato

Não sigo a frota, quando a rota é sem destino.
Que poliglota fala a linguagem do mar?
... sei velejar com a inocência de um menino:
Faço um barquinho... e deixo o vento me levar.

A ingenuidade foi meu ponto de partida
Busquei amar sem questionar a alma alheia,
Fui enganado... ou me enganei, pois minha vida,
É mais que o canto sedutor de uma sereia.

Há, na candura, essa espécie de contato
Que sempre foge da frieza de um retrato
E mostra um rosto que sorri à revelia

Da poesia que se torna um artefato,
No exato instante em que o dragão foge o rato
E a explosão do amor detona a fantasia.
= = = = = = 

Trova de
FLÁVIO ROBERTO STEFANI
Porto Alegre/RS

Reunião, hoje em dia,
neste mundo a balançar,
é, senhores, quem diria,
ao redor de um...celular!...
= = = = = = 

Soneto de
JOÃO BATISTA XAVIER OLIVEIRA
Bauru/SP

Isolado encanto

Salão repleto, nobre de artes belas,
murmúrios, gestos, ares estilistas.
O afago forte nos pincéis de artistas
moldura abraços, traços, luz nas telas.

A flor disposta à porta em todas vistas
exala as auras plácidas, singelas.
Porém as vistas todas são aquelas
voltadas às paredes tão benquistas.

Se os quadros levam ao encantamento
no brilho mais audaz de um só momento...
o vaso à entrada ampara, preterida,

a forma que transforma a transparência:
- a tela estampa a vida, é consequência;
a flor no entanto é causa, pois tem vida!
= = = = = = 

Trova Premiada no Japão
RELVA DO EGYPTO REZENDE SILVEIRA
Belo Horizonte/MG

Nós fios de luz – as pautas –
são as notas musicais
aves migrantes, incautas,
arpejando madrigais.
= = = = = = 

Poema de
MARIA LÚCIA SIQUEIRA
Curitiba/PR

A janela

Vem de outras eras as fontes do espírito.
Os jasmins renascem nos canteiros,
a chuva já deu badaladas no telhado.
E quem sou? Me pergunto na noite morna.
Talvez uma ave noturna lenta demais
para atravessar as planícies.
Toda imensidão termina no ocaso.
E para além do sol... onde estão os meus olhos amados?
Sempre atravesso essas sombras ao anoitecer,
diante do quartel de estrelas que me policia.
E a janela é um avental que me convida
a continuar servindo.
= = = = = = 

Fábula em Versos
adaptada dos Contos e Lendas da África
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR

A Lenda do Macaco e do Crocodilo

No rio profundo, um crocodilo esperava,
um macaco travesso, sua fruta roubava.
“Venha, amigo, venha aqui me contar,
sobre a vida no fundo, onde o sol não vai brilhar.”
O macaco, astuto, viu a armadilha,
mas decidiu brincar, com uma brilhante artimanha.

“Vou te levar, se me prometer,
que nunca mais vais tentar me comer!”
O crocodilo riu, achando que era um jogo,
mas o macaco pulou, e escapou como um fogo.
Aprendeu uma lição, sobre a esperteza,
e nunca mais quis saber de certeza.

A esperteza pode salvar, dos perigos que rondem,
mesmo os mais fortes devem saber que se escondem.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Popular

Ó morte, ó tirana morte,
contra ti tenho mil queixas
quem hás de levar, não levas,
quem deves deixar, não deixas!
= = = = = = 

Soneto de
JERSON BRITO
Porto Velho/RO

Instinto

Escondes nesse corpo, fino manto
As cores da mais pura donzelice
Permitas que navegue em tal encanto
Fascina-me a candura, essa meiguice

Do teu fatal sabor estou faminto
Desejo fenecer no doce enlace
Não posso resistir ao meu instinto
O brilho do querer tomou a face

Armaste uma delícia... Oh, nobre teia!
É natural, princesa, que me atraia
O meu pensar em ti, ledo, passeia

Tu és o mar revolto, eu sou a praia
Um beijo teu em mim, decerto enleia
De laço assim não há, amor, quem saia
= = = = = = 

Trova de
AUTA DE SOUZA
Macaíba/RN (1876 – 1901) Natal/RN

Paixão é diamante bruto,
que burilado, a rigor,
surge mudado no tempo
em linda estrela de amor. 
= = = = = = 

Poema de
CECY BARBOSA CAMPOS
Juiz de Fora/MG

Invasão 

A primavera chegou de madrugada 
e entrou pela janela do meu quarto 
vestida de prateado. 
Enluarando a minha cama 
cobriu o meu corpo insone 
e anestesiou os meus sentidos. 
= = = = = = 

Trova de
VICENTE LILES DE ARAÚJO PEREIRA
São Simão/SP

O sol pela rocha aberta
parece aviso divino,
indicando a rota certa
ao barqueiro sem destino.
= = = = = = 

Soneto de 
ALFREDO SANTOS MENDES
Lisboa/Portugal

O embrião

Mãe! Por que não me deixas ver teu mundo?
Por que acabas assim com minha vida?
Por que será que estás tão decidida,
a praticar tal ato tão imundo!

Mãe! Eu não sou um ser nauseabundo!
Não sou uma doença contraída!
Faço parte de ti, fui concebida!
Sou vida no teu útero fecundo!

Não queiras destruir-me por favor!
Não transformes em ódio, aquele amor,
do momento da minha concepção!

Eu sei que não pensavas conceber…
Mas, por favor mãe, deixa-me nascer,
eu sou um ser humano em formação!
= = = = = = 

Trova do
Príncipe dos Trovadores
LUIZ OTÁVIO
Rio de Janeiro/RJ, 1916 – 1977, Santos/SP

Como Colombo, singrando
esta vida - incerto mar,
vivo no mundo esperando
um Novo Mundo encontrar...
= = = = = = 

Soneto de
FLORBELA ESPANCA 
Vila Viçosa, 1894 – 1930, Matosinhos

Horas rubras

Horas profundas, lentas e caladas
feitas de beijos sensuais e ardentes,
de noites de volúpia, noites quentes
onde há risos de virgens desmaiadas.

Ouço as olaias rindo desgrenhadas...
tombas astros em fogo, astros dementes
e do luar, os beijos languescentes
são pedaços de prata pelas estradas...

Os meus lábios são brancos como lagos...
os meus braços são leves como afagos,
vestiu-os o luar de sedas puras...

Sou chama e neve branca misteriosa...
e sou talvez na noite voluptuosa
ó meu poeta, o beijo que procuras.
= = = = = = 

Trova Funerária Cigana

Sou triste como a caveira
no cemitério rolando,
que vai com o correr do tempo
em negro pó se tornando.
= = = = = = 

Spina de 
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP

Olhares que Sorriem 

Ainda que cubram
os belos sorrisos, 
sejamos em brilho 

as janelas do novo estribilho.
Ainda que tirem nossas asas
sejamos o som do andarilho. 
Mesmo que os dias anuviem,
brindemos à paz nesse trilho.
= = = = = = 

Trova de 
SINCLAIR POZZA CASEMIRO
Campo Mourão/PR

O instante existe e convém
a quem procura harmonia,
ter consciência e, por bem,
renovar-se a cada dia!
= = = = = = 

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Catorze versos

Ah, se compor sonetos não tivesse
tão complicadas regras a seguir,
não sairia agora dessa messe,
deixando outras missões para o porvir!

Porém, comigo, às vezes acontece
de me insurgir demais contra o exigir...
Não vou correr atrás de uma benesse,
dar meu suor sem nada conseguir...

Já que não posso, assim, bem sonetear,
eu me distraio com catorze versos,
mas sem, sequer, seu nome mencionar.

Meu coração não mais fica tristonho,
nem aborreço ilustres controversos;
e posso acalentar, enfim, meu sonho!
= = = = = = 

Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Como se diz lá na roça, 
o amor é um bichim-de-pé: 
quanto mais a gente coça, 
mais boa a coceira é...
= = = = = = 

Poema de
FILEMON MARTINS
São Paulo/SP

Meu verso

Meu verso vem do Nordeste,
vem do roçado, vem do Sertão,
vem das veredas lá do agreste,
vem das cacimbas e dos grotões.

Meu verso vem dos garimpos,
das catras dos garimpeiros,
da coragem dos vaqueiros
vestidos no seu gibão,
vem do sereno da noite
do perfume do Sertão.

Meu verso simples, sem medo,
vem do sítio, do rochedo,
vem do povo do Sertão,
que com a luz do arrebol
trabalha de sol a sol
para ganhar o seu pão.

Vem da Serra do Carranca
onde a beleza não manca,
e a onça faz sentinela.
Da Serra da Mangabeira
onde a Lua vem brejeira
tecer a renda mais bela.

Meu verso vem da goiaba,
do puçá e da mangaba,
da seriguela e do mamão.
Da pinha e da acerola,
da atemóia e graviola
plantadas no roçadão.

Nasceu na bela Umbaúba,
Boa Vista, Bela Sombra,
na Lagoa de Prudente,
na Chiquita e no Vanique,
onde há muito xique-xique
e o sol parece mais quente.

Brejões, Lagoa do Barro,
Santo Antonio, Traçadal,
Olho D´Água, Rio Verde,
Baixa dos Marques, Coxim,
Ibipetum, depois Pintada,
onde passa a velha estrada,
Zequinha e Lamarca morreram.

Sodrelândia, Deus me Livre,
Pé de Serra, Poço da Areia,
Riacho das Telhas também.
Poço do Cavalo, Matinha,
Mata do Evaristo e Veríssimo,
Olhodaguinha e Ipupiara.

Meu verso nasceu no mato,
não tem brilho, nem ornato,
vem do Morro do Mocó,
da Serra do Sincorá,
vem do morro do Araçá,
nasceu pobre e vive só…
= = = = = = 

Poetrix de
ELIANA MORA
Rio de Janeiro/RJ

sentimento clandestino

Tu, em viagens ao mundo,
Eu, ali, sempre escondida,
nos porões do teu navio.
= = = = = = 

Soneto de
JOSÉ XAVIER BORGES JUNIOR
São Paulo/SP

Esquecimento
 
Tu te esqueceste que esqueci de te esquecer
Mas me lembrei de relembrar tua partida
E o esquecimento na lembrança tem poder
De relembrar que possuíste minha vida.
 
E por lembrar-te não consigo compreender
Por que não posso me esquecer desta ferida
Que o esquecimento da lembrança vem trazer
Me relembrando que jazias esquecida.
 
E vou lembrando e te esquecendo enquanto sigo
Revigorando o esquecimento da lembrança
Enquanto lembro como era estar contigo.
 
Até que um dia eu me lembrei de ter-te aqui
E fui eu mesmo me esquecendo nesta dança
E me lembrando de esquecer que te esqueci…
= = = = = = 

Trova Humorística de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/ SP

Pra cantá, estudamo um meis
e num é que nóis se gabe:
nóis quebra um galho em ingleis
e portugueis... nóis já sabe!
= = = = = = 

Poema de 
ANTONIO BATICÃ FERREIRA
Canchungo/Guiné-Bissau

Infância

Eu corria através dos bosques e das florestas
Eu ouvia o ruído vibrante de um bosque desvendado,
Eu via belos pássaros voando pelos campos
E parecia ser levado por seus cantos.

Subitamente, desviei os meus olhos
Para o alto mar e para os grandes celeiros
Cheios da colheita dos bravos camponeses
Que, terminando o dia, regressavam à noite entoando

Canções tradicionais das selvas africanas
Que lhes lembravam os ódios ardentes
Dos velhos. Subitamente, uma corça gritou
Fugindo na frente dos leões esfomeados.

Aos saltos, os leões perseguiram a corça
Derrubando as lianas e afugentando os pássaros.
A desgraçada atingiu a planície
E os dois reis breve a alcançaram
= = = = = = 

Trova Humorística de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

O nosso amor vem de quando
Deus criou o amanhecer...
E ainda estarei te amando,
quando Deus envelhecer...
= = = = = = 

Hino de 
Cruzeiro do Sul/AC

No regaço da Selva assombrosa
onde outrora espumava o Tapi
Uma Bela Cidade Ruidosa
Vimos hoje fagueira surgir.

Para o seio da Mata orvalhada
as aragens correndo lá vão
E no cimo da Selva ondulada
Thaumaturgo Azevedo dirão.

Pasma o índio bravio confundido
Empolgando uma flecha nos ares
Ao ouvir que é tão repetido
Vosso nome nos nossos palmares.

O lampejo do sol do progresso
D’ouro ufano este alcantil
Contemplado será no universo
Novo estado no chão do Brasil.

E do trono dos seus esplendores
Sobre nuvens bordados de azul
Deus semeia cascata de flores
E abençoa o Cruzeiro do Sul.
= = = = = = 

Trova de
DOMITILLA BORGES BELTRAME
São Paulo/SP

A mamãe cura o dodói,
afaga, põe atadura…
e o rosto do seu herói
se lambuza de ternura!
= = = = = = 

Soneto de 
FRANCISCA JÚLIA
(Francisca Júlia da Silva Munster)
Eldorado/SP (antiga Xiririca) 1874 –  1920, São Paulo/SP

Musa impassível

Musa! um gesto sequer de dor ou de sincero
Luto jamais te afeie o cândido semblante!
Diante de um Jó conserva o mesmo orgulho e diante
De um morto o mesmo olhar e sobrecenho austero.

Em teus olhos não quero a lágrima; não quero
Em tua boca o suave e idílico descante.
Celebra ora um fantasma anguiforme de Dante,
Ora o vulto marcial de um guerreiro de Homero.

Dá-me o hemistíquio d'ouro, a imagem atrativa;
A rima cujo som, de uma harmonia crebra*,
Cante aos ouvidos d'alma; a estrofe limpa e viva;

Versos que lembrem, com seus bárbaros ruídos,
Ora o áspero rumor de um calhau que se quebra,
Ora o surdo rumor de mármores partidos!
= = = = = = 
* crebra = frequente
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Num jogo da fantasia
entre a loucura e a razão,
vislumbro na cama fria
teu corpo que busco, em vão.
= = = = = = 

Recordando Velhas Canções
Meu mundo caiu 
(samba-canção, 1958) 

Meu mundo caiu
E me fez ficar assim
Você conseguiu e agora
Diz que tem pena de mim
Não sei se me explico bem
Eu nada pedi
Nem a você, nem a ninguém
Não fui eu que caí

Não sei se você me entendeu
Sei também que não vai se importar
Se meu mundo caiu
Eu que aprenda a levantar
= = = = = = = = = = = = =