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segunda-feira, 21 de julho de 2025
Asas da Poesia * 55 *
domingo, 18 de agosto de 2024
Dissecando a Magia dos Textos (“Maria e Maria”, de Sinclair Pozza Casemiro)
A Vida na Estrada
domingo, 8 de janeiro de 2023
José Feldman (As aparências enganam)
Apesar
de ser uma pessoa pacata, infelizmente o seu nome provocava alguns
desentendimentos para quem não tinha conhecimento do riscado. No
consultório médico:
– Dona Rosinha, cadê seu Epitáfio?
E dona Rosinha, uma senhora de idade razoavelmente avançada, apavorada:
– Doutor? Eu estou tão ruim assim? Meu Deus!!!!
– Calma, dona Rosinha. Por que esse apavoramento todo?
– O se…se…senhor está já pedindo meu epitáfio!
–
Calma, dona Rosinha. Não é o seu epitáfio, é este senhor que está aí no
consultório, ele se chama Epitáfio Epaminondas. Por favor, quando se
recobrar, peça para ele entrar.
E, por aí se vai... imagine, meu
caro leitor, no escritório de advocacia, nos velórios e enterros, sempre
que confusão era formada! Epitáfio… Epitáfio… quem seria o infeliz que
foi dar um nome desses a alguém? No mínimo, devia trabalhar como coveiro
em algum cemitério!
Mas estou me desviando do verdadeiro
objetivo destas “mal-traçadas linhas”. Epitáfio ficava parte do tempo,
quando estava em casa, olhando pela janela. E quando alguém chegava para
visitá-lo, geralmente com os bofes de fora, quase fazendo mesmo seu
epitáfio, após subir oito lances de escada de uns quinze degraus cada (o
elevador já havia ido pro beleléu fazia tempo e, do jeito que os preços
iam pela morte, não tinham como pagar o conserto) pois bem, sempre que
lá chegavam os amigos, encontravam-no à janela e murmurando: “Aquele é
meu carrinho. Aquele é meu carrinho.” E soltava um longo suspiro.
No outro lado da rua, meio encoberto por algumas árvores, viam um carro vermelho, uma Ferrari. E Epitáfio apontava para ela.
Era
assim, toda vez que alguém aparecia para vê-lo. Epitáfio era viúvo, sem
filhos. E a paixão dele era aquele carrinho. Para os que o conheciam,
era difícil concatenar: como um “office-velho”, que ganhava um salário
mínimo - se muito - e mais um salário da aposentadoria, morando num
apartamento “de cobertura” podia ter uma Ferrari, que custava quase 1
milhão de dólares? Então, claro, tudo isso levava a aventarem as mais
loucas elocubrações sobre seu poder aquisitivo: desde heranças, assalto
já prescrito em que ele ficara com o dinheiro, até recolher os valores
dos mortos no cemitério.
Enfim, era algo que deixava o povo com a
“pulga atrás da orelha”. Devia ter dinheiro embaixo do colchão, ou
conta nas Ilhas Cayman.
Passavam-se os dias, meses e seu Epitáfio dizia: “Aquele é meu carrinho. Aquele é meu carrinho”.
Um
dia, uma fatalidade ocorreu: uma tempestade violenta se deu naquele
vilarejo, as árvores velhas vergavam diante da força dos ventos que
assolavam implacavelmente a terra. Uma árvore inteira se partiu e caiu
sobre a Ferrari, destroçando-a.
A paixão de Epitáfio estava
destruída. Simplesmente ele deveria estar arrasado. Os amigos resolveram
se reunir para visitá-lo, para tentar animá-lo. E lá se foi um bando de
gente, parecia até um arrastão, subindo a escadaria. Alguns pararam no
meio do caminho para recuperar o fôlego e sentir novamente as pernas,
que já estavam falhando; outros chegaram ao apartamento de Epitáfio mais
mortos que vivos. Mas todos finalmente conseguiram adentrar o
apartamento.
Epitáfio brincava com seus cachorros, jogando uma
bolinha: – “Bolinha! Bolinha!”- e jogava para os cachorros que,
preguiçosos, só olhavam a bolinha rolar pela sala.
Ao ver aquele
“mundaréu” de gente entrando em sua casa, preparou-se para alguma
notícia ruim. Alguém do seu rol de amizades deveria ter morrido. Afinal,
muitos estavam apenas esperando a laçada, pois conforme ele, Jesus já
os estava chamando, mas já estavam surdos, por isso não iam. Só laçando,
mesmo.
Epitáfio logo interpelou:
– Que aconteceu? Quem morreu?
Um dos amigos se prontificou em lhe dar os detalhes:
– Meu amigo, sinto muito pelo ocorrido.
– Pelo o quê? Não estou sabendo de nada. Desembucha logo, homem de Deus!
– Seja forte. É melhor se sentar. Estamos aqui para lhe dar a maior força.
– Já está me assustando. O que foi??????
– Sentimos muito pela sua paixão.
– A Valéria? Meu Deus! A Valéria não! Que aconteceu?
– Quem é Valéria?
Nesta
altura do campeonato, antes que levasse um cartão vermelho, Epitáfio se
tocou que eles não sabiam de sua paixão secreta pela antiga colega de
escola. E, rapidinho, tentou desconversar:
– Valéria é uma conhecida da internet.
– Pois é, caiu uma árvore sobre ela…
– A Valéria? – se assustou Epitáfio.
– Afinal, quem é Valéria?
A
coisa estava ficando cada vez mais enrolada e não se chegava à parte
alguma. Daí Epitáfio tomou fôlego e perguntou, apreensivo:
– A árvore caiu em quem?
– Ora, homem! Sobre seu carro.
– Que carro? Não tenho carro!
– Aquela Ferrari vermelha que ficava estacionada aí embaixo.
– Não é minha!
Daí que a multidão de amigos começou a “pirar no parafuso”. A conversa já estava “degringolando” e precisava ter um epílogo.
–
Como... não é sua!? Você vivia suspirando sobre ela, toda vez que
vínhamos te visitar! “Aquele é meu carrinho! Aquele é meu carrinho!”
– Vocês alguma vez me viram dirigindo a Ferrari? Ou mesmo dentro dela?
Os amigos olharam uns para os outros.
– Na verdade, não!
– Pois é! Tem uma importadora de carros do outro lado da rua.
E, para dar um ponto final, Epitáfio fez o epitáfio:
– Afinal, sonhar não é crime! Ou é?
________________________________________
sexta-feira, 6 de janeiro de 2023
Sinclair Pozza Casemiro (Dia Universal da Paz)
Era uma vez... uma espécie de concurso no mundo. Era preciso escolher o símbolo da paz. E era bem no início dos tempos, o mundo ainda não tinha tanta gente, tanto bicho, não. Um tempo em que os bichos também falavam.
Já se tinha certo de que seria uma pomba. Então, entre as pombas, teria que se escolher uma delas para simbolizar a paz.
E a notícia correu.
Bem...chegou o dia da escolha, muitas espécies de pomba compareceram. E todas estavam alvoroçadas, desejavam ser escolhidas como símbolo da paz.
O mundo parou para acompanhar o importante evento. Todo tipo de bicho. Da mata, do céu, das águas e do ar, homens, mulheres, crianças, jovens, velhinhos e velhinhas, pararam tudo o que estavam fazendo para acompanhar o espetáculo. O maior de todos os sábios, o mais generoso, o mais amoroso e o mais justo de todo o mundo era quem daria o veredito da “pomba da paz”.
Juntaram-se muitas pombas e de todas as espécies. Com calma, o sábio as identificou, tinha que saber quais estariam participando dessa largada. Fez questão de memorizar cada uma para não prejudicar nenhuma delas.
Chegou finalmente a hora. Todas elas a postos, o grande sábio pediu-lhes que, dada a largada, voassem, escolhessem um ramo e ali retornassem com o tal ramo. Nada mais disse. Só que prestassem atenção ao sinal que ele daria com um gesto de largada. E com o corpo e a alma, gritou: “Já!”
Foi um alvoroço, algumas já ali mesmo se precipitaram, se atropelaram, mas se repuseram rapidinho. Nenhuma se entregou aos embaraços da partida. Houve uma delas que escolheu um ramo que estava mais próximo, fez um rápido caminho de voo e imediatamente lhe entregou.
-Venci?
O sábio lhe fez um gesto de espera e ela, folgadamente se acomodou, iria aguardar. Afinal, seu ramo era perfeito, foi a primeira a chegar, era, sim, a vitoriosa.
E foram chegando, cada uma com um ramo mais lindo que o outro, assim imaginavam. Algumas se demoraram mais, caprichosas, detalhadamente escolheram seu ramo. Outras demoraram mais, também, porque foram se banhar, ajeitar as penas, apresentar-se bem. Por muitos cuidados, enfim, se envolveram. Cada qual escolheu uma razão para ser escolhida: voo caprichoso, velocidade, aparência perfeita, enfim, cada uma fez, a seu modo, sua investidura.
Todas chegaram. Todas?
- Não, falta uma. – disse o sábio.
- Será?
-Sim, vamos aguardá-la.
Mas ela não chegava. O público ficou cansado de esperar; porém, não cedeu. Ficou por ali. As pombas, algumas delas, dormiram, outras conversavam. Outras reclamavam...que falta de respeito! Que fazer? O jeito, pensavam elas, era mesmo esperar. O sábio aguardava.
Quando se passaram muitas horas, passado o dia, a dúvida de que a pomba pudesse ter-se machucado incomodou algumas. Mas...que fazer?
A noite veio, chegou a manhã, muitas dormiam, eis que, lá longe, avistaram uma ave chegando,
seria ela?
O sábio postou-se para a receber. Era mesmo ela.
A pomba, estropiada, suja, aparência de desleixo, já foi logo se desculpando:
– Me perdoem, Mestre, companheiras. Só vim, mesmo, para não desonrar o compromisso.
- Por que se demorou? Perguntou o sábio.
- Ah... Escolhi meu caminho, voava feliz, com velocidade, beleza, peguei meu ramo, muito bonito. Encontrei um pássaro em queda. Segurei-o, levei-o até o chão, vi que era velho, estava cansado. Dei-lhe água, esperei que se recuperasse, se alimentasse e o conduzi até seu ninho, mas...não era perto! Pra ajudar, na volta, me deparei com um filhote no ninho, piava muito, esperei por seus pais, que não vieram! Por certo algum caçador os abatera. Nada fácil, consegui encontrar outro ninho para o filhote, que ficou bem, ficou seguro. Não longe, uma lebre estava ferida por um predador. Consegui conduzi-la a uma fonte, mas estava com muita sede, bebeu muita água, demorou-se, a infeliz. Deitou-se, mas logo que pude a deixei em casa. E assim, Mestre, foram acontecendo coisas inesperadas, umas atrás das outras! Também, de repente... me desculpe, percebi que não era tão importante assim ser um símbolo da paz. Porém lhe dou minha palavra, o mais rápido que pude, aqui estou. Acho que maldosos souberam desse evento, Mestre, e quiseram prejudicar nossa disputa, dificultando nossos trajetos. Até chegar aqui, foram muitas as desgraças espalhadas por aí! E creio que ainda haja muitos concorrentes por aí, há muito sofrimento, podem estar ainda a caminho, se atrasando, também... Faltam muitos para chegar, ainda? Perguntou e se amontoou, exausta.
O Mestre respondeu-lhe:
-Ninguém quer prejudicar nosso evento, não, distinta pomba! O que você viu, acontece sempre. Nos caminhos, são mesmo muitas as dores e sofrimento. Não pedi a ninguém velocidade, que estivesse com a melhor aparência, que chegasse com o ramo impecável. Pedi que fizessem um caminho e que retornassem me trazendo um ramo. Chegaram bem, com excelente aparência, aqui estamos todos. Só você demorou tanto... Ora, veja...você fez o caminho da forma mais certa, mais bela! Pensou nos que encontrou em sofrimento e deu-lhes sua atenção, seus cuidados. Sem se preocupar em ser honorável, sem desejar a glória para si, você distribuiu paz. Portanto, digníssima pomba, você é a vitoriosa! Você, sim, é símbolo da paz!
= = = = = = = = = = = = = = = = = =
Devem existir muitas versões dessa história, era criança quando a ouvi. Como contar exatamente do jeito que a ouvi? Mas jamais esquecerei o que foi realmente que fez aquela pomba se tornar o símbolo da paz!
Texto enviado pela autora.
segunda-feira, 5 de dezembro de 2022
Sinclair Pozza Casemiro (Crônica de natal)
As luzes coloriam as casas de amarelo, vermelho, azul, verde, lilás, em forma de bolas e incandescentes cordões, brilhos que se espalhavam também pelas ruas e refletiam até o céu imenso, lá bem alto, pontilhado de estrelinhas. Não só. Os corações também brilhavam iluminando os seus corpinhos, pequeninos. E de gentes grandes e muito grandes também. Eram risos, gritos, cantos, uma algazarra que começava no lusco-fusco sem pressa de acabar. Até as mães se desleixavam um pouco e o tempo, as rezas, as brincadeiras se espichavam. As gentes miúdas se perdiam e se achavam, voltava tudo outra vez no lugar.
Ali, em cada casa, a comida vestia-se de novidade nos sabores e formas entre doces encantados pelas figuras de estrelinhas, luas, cordeirinhos, vaquinhas, burrinhos e de Papai Noel, de trenós e de renas. A correria ali também era maior que a de sempre. Entre irmãos, os primos e vizinhos se trombavam, ora correndo, ora caindo e logo se levantando para não se perder tempo. Cada docinho, bala, cada bolacha ou pedaço de bolo se oferecia alegre, participando do enlevo natalino. Os adultos se misturavam na rotina de preparar, cozinhar, assar, embelezar, sempre aqui e ali empurrando um, empurrando outro, nem tempo de zanga havia. Tia e a mãe confabulavam, primos atazanavam as primas, que cantavam e contavam estórias a não se acabar. Os homens no violão, sanfona ou afazeres, também trocavam assuntos o tempo todo. Sempre uma cantoria no vento que levava e trazia também os mais diferentes e saborosos cheiros e causos. O rádio se desligava? Para que dormissem, já muito tarde, e se alguém se lembrasse disso! Um barulho a mais, a menos, nada incomodava os momentos da alegre e temperada festança de véspera.
Véspera que durava semanas. À noite, a novena era sagrada, como eram sagradas as imagens de Nossa Senhora, São José, do Menino Jesus, dos reis magos, dos pastores, dos animaizinhos no curral que abrigava a história linda daquele nascimento. E dos anjos, estrelas, brilho e mistério enfeitando as noites de dezembro. O presépio era magia e promessa.
Papai Noel se misturava nesse tempo e nesse espaço, havia um encontro inusitado que no começo os pequenos não entendiam...mas nem precisavam entender. Naquela mistura de luz, gente chegando, gente indo, roupas novas, fogos e presépio, o que contava era ser feliz.
A Igreja, onde chegava a novena que saía de cada uma daquelas casas, ganhava outro sentido, o sentido da infância, da alegria, da beleza resplandecente, cheia de festa. Das tantas brincadeiras de meninas e meninos, dos namoricos e fuxicos de moças e moços. Ninguém distinguia ninguém de ninguém... a paz dava o tom da amizade e dos corações. Livres pelo laço da fraternidade cristã.
Cantos de igreja, do alto-falante e do coral, cantos de rádio, do alto-falante do cinema, de Papai Noel, de propagandas... cantarolados todos, repetidos, tim-tim por tim-tim, mesmo que nem sempre compreendidos.
Não se podia esquecer da cartinha ao Papai Noel. E tinha aquelas que o correio levava para crianças que podiam ser esquecidas, que não se conhecia...mas Papai Noel, sim. Era infalível, o velhinho. E se alegrava pensar que outros amigos se faziam, assim, muitos chegavam a se conhecer de perto.
Ah...e a escolha do presente era outro capítulo dessa história. Tinha que se encaixar numa porção de coisas, mas vinha sempre um presente que era para cada criança, o presente mais lindo do mundo! Muitas balas, muita alegria, muita música!!! Fascínio.
A espera por Papai Noel se fazendo num agradável ritual. E, claro... não ser desobediente! Era um tempo de muito cuidado, não se podia resvalar numa palavra feia, numa briguinha boba, nem nada. Cautela. Qualquer deslize e...pronto! Papai Noel não apareceria!
E a sua chegada? Outro mistério! Nunca se conseguia vê-lo. Mas ele sempre deixava um recadinho, pelo menos...bastava. Ano que vem não se dorme, se aguenta firme.
Até que chega o ano que...os irmãos ficam estranhos, amigos confabulam...não é verdade? Como? Não existe? O que aconteceu? Chateação... desilusão... sentia-se, por outro lado, que se estava mais importante, já não se era mais criança bobinha. Deixar as histórias de Papai Noel para as criancinhas ingênuas. Já não se era mais, afinal, qualquer criança. Triste. Triste? Que era aquilo? Vergonha? Orgulho de ter crescido? Que mistura doida de sentimentos...
Vai-se ficando para trás mais uma história mal explicada, mal resolvida que o tempo cuida de ajeitar. Pelo menos Menino Jesus era de verdade, o presépio continuava, com os mesmos encantos, os cânticos do Coral, as músicas de rádio... a casa e a cidade enfeitadas e ainda a magia se via no ar pelo bom menino.
O tempo passou, passou. E veio o agora. E o agora é o tempo da verdade de tudo. Tempo que não para... verdade que se vai maturando... Passados já muitos anos, finalmente, alguma coisa se aprende. Finalmente. Idade da razão... Mais-que-razão. Transformam-se, nascem, morrem formas, meios, crenças... E... Viva!!!
Vai nascer o Salvador! Papai Noel vai chegar, trazer presentes, espalham-se luzes em cada casa, no quintal, entre família e amigos que se tem em todo lugar por onde se possa! Passeios pelas ruas, cidades, gente bonita, quanta luz! Enche-se de música, de presentes e de vida por onde mais se vá! Brincar, cantar, comportar-se bonitinho, é tempo de Natal! Muito brilho, muita fé, muita alegria...nasceu o Menino Jesus! Papai Noel chegou! Escondido...mas deixou recadinho...
Nada mudou! Nem ninguém.
Fonte:
Texto enviado pela autora




