EDY SOARES
Vila Velha/ES
A desconhecida
De onde ela veio os riscos eram poucos;
cais de sossego e amores comedidos…
porto seguro…, mas de ouvidos moucos
aos seus anseios, sempre preteridos.
Um dia, enfim, nos descobrimos loucos,
incendiando instintos escondidos
e nos amando entre os gemidos roucos
das feras que contêm suas libidos.
Aos poucos pude ver que descobrimos
detalhes tão comuns de um sonho imenso,
motivos pelos quais nós nos unimos…
E agora a vejo triste e dividida
entre as surpresas deste amor intenso
e o porto que acolheu a nau transida!
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Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
Alarme no galinheiro.
- Será que há gambá na granja?...
- Bem mais grave: é o cozinheiro
que avisa: “Hoje vai ter canja!”…
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Poema de
CARLOS LÚCIO GONTIJO
Santo Antônio do Monte/MG
Oração dos casais
Meu bem, sei que Deus protege os casais
Semeia trigais de ternura na pele
Para que o amor sele as marcas da procura
Então, na hora em que a gente for dormir
Façamos jus aos cuidados do Senhor
Por favor, acenda-me quando apagar a luz!
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Aldravia de
HELENA LUNA
Fortaleza/CE
sonho
poeira
que
o
vento
carrega
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Soneto de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal
O teu rosto de sal na praia vã
(José Charles González in "Cem Sonetos Portugueses", p. 148)
O teu rosto de sal na praia vã
Filtrava a luz do sol nesse cristal
E lá do sul, subindo o areal
Vinha a lua dizer que é tua irmã.
Sendo a razão de ser desta manhã
Silhueta esculpida num vitral
Serias Virgem numa catedral
Se não tivesses já coroa de romã.
És sereia que o mar azul trouxesse
Uma rosa de orvalho que amanhece
E, por milagre, a Terra iluminasse.
És aragem lembrando borboleta
Vestida de amarelo, azul, violeta
E que ao bater das asas nos deixasse.
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Trova de
FERNANDO BURLAMAQUI
Recife/PE, 1898 – 1978
A Saudade, com certeza,
tem poderes encantados
que fazem doce a tristeza
dos corações separados.
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Soneto de
AFONSO FREDERICO SCHMIDT
Cubatão/ SP, 1890-1964, São Paulo/SP
Rosas loucas
A rosa louca é a rosa mais singela
de todas as rosas, mas é bela
porque nasce nas cercas, nos caminhos
e conta menos flores do que espinhos.
A rosa louca é a rosa mais plebeia
dentre todas as rosas, traz à ideia
a moçoila do bairro, tão bonita
com vestidos de cor, feitos de chita.
A rosa louca é a rosa que se olha
sem tirar do pé, porque desfolha;
ela pede perdão de não ter graça;
desponta, desabrocha, encanta... e passa.
Estas rosas são breves e são poucas,
como o riso feliz em nossas bocas…
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Trova de
SINCLAIR POZZA CASEMIRO
Campo Mourão/PR
Todas manhãs são seguras,
pois há toques de poesia
que tu, mágico, asseguras
Sir Feldman de cada dia!!!
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Poema de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP
Elogio ao Soneto
No meu viver de agitação, proscrito,
eu busco a paz para escrever um verso
e de alma pura, coração contrito,
procuro a melhor rima do Universo.
O desespero aperta, estou aflito…
Como escrever num mundo tão perverso?
A inspiração me acode com um grito,
e o meu soneto nasce, incontroverso…
Ao verbo de Camões me fiz escravo.
em busca da palavra me fiz bravo,
para dar ao soneto nova aurora…
Que o pavilhão tremule lá na praça,
e brilhando, qual pérola sem jaça,
reine o soneto pelo mundo afora!
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Trova de
DIVENEI BOSELLI
São Paulo/SP
Choro junto à sepultura
De sonhos mortos repleta,
E a razão, mãos na cintura,
Diz: – quem mandou ser poeta.
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Soneto de
MIGUEL RUSSOWSKY
Santa Maria/RS (1923 – 2009) Joaçaba/SC
Oração do poeta
– Que me darás, Senhor, pela jornada
de dores, privações e misereres?
– Eu te darei a noite salpicada
de estrelas e silêncio. Que mais queres?
– E para a solidão da madrugada?
– Já fiz o mundo cheio de mulheres.
procura e encontrarás a tua amada.
Faz os mais lindos versos que puderes.
– Mas como irei, Senhor, reconhecê-la?
– Há no céu, entre todas, uma estrela
que apenas tu verás. Que mais perguntas?
– E este frio e esta angústia que ora sinto?
– Quando ela penetrar em teu recinto
a primavera e a paz hão de vir juntas.
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Trova de
FAGUNDES VARELA
Rio Claro/RJ, 1841 – 1875, Niterói/RJ
A mais tremenda das armas,
bem pior que a durindana,
atentai, meus bons amigos…
se apelida: – a língua humana!
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Cantiga Infantil de Roda
PEZINHO
Ai bota aqui
ai bota ali
o teu pezinho
O teu pezinho
bem juntinho
com o meu
Ai bota aqui ai bota ali
o teu pezinho
O teu pezinho o teu pezinho
ao pé do meu
E depois não vá dizer
que você já me esqueceu
E depois não vá dizer
que você já me esqueceu
E no chegar deste teu corpo,
uma abraço quero eu
E no chegar deste teu corpo,
uma abraço quero eu
Agora que estamos juntinhos,
da cá um abraço e um beijinho
Agora que estamos juntinhos,
da cá um abraço e um beijinho
E depois não vá dizer
que você já me esqueceu
E depois não vá dizer
que você já me esqueceu
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Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO
Teu coração bem amado,
é de tão grande doçura,
que se fosse esquartejado
parecia rapadura.
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR
O portão e o vento
Num piscar de olhos
Distancia-se o pensamento,
Busco encontrar-te
Em cada folha do Plátano
E pétalas de rosa que guardei...
Imagino que esteja próximo a esquina
Vindo em minha direção,
Mas, num piscar de olhos.
Você retorna aos meus sonhos,
E o portão abre-se com o vento...
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Poetrix de
ANGELA TOGEIRO
Belo Horizonte/MG
Falsa borboleta
Ousei ser lagarta e pupa.
Rompi o casulo
numa sociedade de asas tolhidas.
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Pantun de
OLGA MARIA DIAS FERREIRA
Pelotas/RS
Pantun da Cegueira do Amor
TEMA:
Se o amor é cego, entretanto,
por que nos faz tanto bem?
Mesmo cego, é luz no entanto,
nos olhos cegos de alguém!
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN
PANTUN:
Por que nos faz tanto bem
essa pauta de carinho,
nos olhos cegos de alguém,
a enfeitar o nosso ninho.
Essa pauta de carinho,
tanto amor ao entardecer,
a enfeitar o nosso ninho
e nos ajuda a viver.
Tanto amor ao entardecer,
traz grande brilho ao olhar
e nos ajuda a viver,
vibrar, sorrir e sonhar.
Traz grande brilho ao olhar
e traz muita paz… enquanto,
vibrar, sorrir e sonhar
Se o amor é cego, entretanto...
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Aldravia de
ANNA RIBEIRO
Itajaí/SC
nas
entrelinhas
a
busca
de
mim
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Soneto de
FILINTO DE ALMEIDA
Porto/Portugal, 1857 – 1945, Rio de Janeiro/RJ
Zumbidos
Eu quisera ter voz para cantar
A tua glória — portentoso guia
Nas ascensões da minha fantasia —
Voz do Céu, voz da Terra, voz do Mar.
Mas tão potente voz, tão singular
Que concertasse a tríplice harmonia,
A só digna de ti, quem a teria
Neste soturno mundo sublunar?
Eu, abelhão fugaz do ático Himeto,
Dou-te o meu surdo canto, asas abrindo,
Num sussurro de loa triunfal;
Dou-te mais um zumbido num soneto;
Que eu vivi sempre e morrerei zumbindo
Em torno da tua sombra colossal.
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Trova de
J. UDINE VASCONCELOS
Fortaleza/CE
Como filho do Universo,
vejo a vida em poesia,
por isso é que faço verso,
dia e noite, noite e dia…
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Poema de
JOHN DONNE
Londres/Inglaterra, 1572 – 1631
A Isca
Vem viver comigo, sê o meu amor
E alguns novos prazeres provaremos
De areias douradas e regatos de cristal
Com linhas de seda e anzóis de prata.
Aí o rio correrá murmurando, aquecido
Mais por teus olhos do que pelo sol;
E aí os peixes enamorados ficarão
Suplicando a si próprios poder trair.
Quando tu nadares nesse banho de vida
Cada peixe, dos que todos os canais possuem,
Nadará amorosamente para ti,
Mais feliz por te apanhar, que tu a ele.
Se, sendo vista assim, fores censurada
Pelo Sol, ou Lua, a ambos eclipsarás;
E se me for dada licença para olhar
Dispensarei as suas luzes, tendo-te a ti.
Deixa que outros gelem com canas de pesca
E cortem as suas pernas em conchas e algas;
Ou traiçoeiramente cerquem os pobres peixes
Com engodos sufocantes, ou redes de calado.
Deixa que rudes e ousadas mãos, do ninho limoso
Arranquem os cardumes acamados em baixios;
Ou que traidores curiosos, com moscas de seda
Enfeiticem os olhos perdidos dos pobres peixes,
Porque tu não precisas de tais enganos,
Pois que tu própria és a tua própria isca,
E o peixe que não seja por ti apanhado,
Ah!, é muito mais sensato do que eu.
(Tradução de Helena Barbas)
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Trova de
DJALDA WINTER SANTOS
Rio de Janeiro/RJ
Houve muita confusão
quando o morto, no velório,
dando um tapa no caixão,
reclamou do falatório...
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Glosa de
GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS
E é quase dia...
MOTE:
No talvez da quase noite,
quando a espera me angustia,
horas batem feito açoite...
Tu não vens...e é quase dia...
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG
GLOSA:
No talvez da quase noite,
eu me perco em devaneios
e temo que a dor se amoite
e se instale nos meus seios!
O pranto cai devagar
quando a espera me angustia,
sentindo – não vais chegar,
morre em mim toda a alegria!
A tristeza faz pernoite
no meu pobre coração...
horas batem feito açoite...
sem nenhuma compaixão!
Quando a solidão aumenta,
a noite perde a magia
e minha alma não aguenta,
tu não vens...e é quase dia…
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