— Bom dia, minha senhora. Como chama a sua filha?
— Essa que vai consultar, aquela ali, de blusa vermelha, sentadinha. Eu chamo como todo mundo, senhor. Pelo nome.
— Que seja. E como a senhora chama?
— Meu nome é Mocanhimbara, sem aquela cobrinha pendurada no “c”, seu moço.
— Senhora, o que eu quero saber é como a senhora a chama?
— Ah, eu a chamo de Ca.
— E o nome da sua outra filha. Só pra constar aqui. Qual é o patronímico dela?
— Como é o quê? Traduza...
— O patronímico de batismo...
— O que é patro... pato... patro o quê?
— Patronímico, senhora. O mesmo que nome, apelido, alcunha essas coisas...
— Ah, agora entendi. “Paitromínico”
O atendente, visivelmente se fecha numa cara irritada. Fala:
— Graças à Deus. Já era tempo. Repassando, pela última vez: Uma é a Ca...
— Isso. Só Ca? A Ca é aquela sentadinha ali, de blusa vermelha...
— Só Ca... muito bem... ainda estou perdido feito cego em tiroteio, minha prezada. Não são duas para passar pelo clínico geral?
— Sim, são duas... uma é uma e a outra é a outra... as duas “forma” uma só. Aliás, a outra está lá fora com o pai. Minha princesinha está de blusa preta.
— Meu Deus, dai me paciência. E como é o nome dessa outra?
— Dessa outra, lá fora, com o meu esposo, a de blusa preta, o nome que eu já lhe falei...
— Pode repetir, por favor?
— Sim.
— Ca e Sandra
— Cassandra?
— Meu senhor. Voltando a fita: Temos duas filhas.
— Isso estou cansado de saber, senhora. Temos duas filhas...
— Não, seu moço. Todas são de meu marido, o Nicanor. Nunca me deitei com ninguém, menos ainda com o senhor... o senhor quer que eu...
— Senhora dona Moça... Mo... pelo amor de Cristo. Eu não quis dizer isso.
— Não é moça, senhor, é Mocanhimbara, sem a cobrinha no “C”. Uma se chama Ca, e essa é a mais nova... aquela ali, de blusa vermelha, sentadinha.
— OK, senhora. E a outra?
— A que está lá fora?
— Sim, minha senhora...
— A outra, a que está lá fora, a mais velha é a Sandra. Juntando as duas, dá a impressão de que é uma só: Ca Sandra. Mas como eu expliquei, meu senhor, e volto a repetir, são duas. Ca e Sandra. Lá em casa, meu marido e eu, quando chamamos as gurias, economizamos. A gente grita: Vem Ca, Sandra. O almoço está pronto. Vem Cá, Sandra, hora de fazer pipi pra dormir...
— Entendi. Fique calma. Elas são gêmeas?
— Como o senhor adivinhou. Elas “geme” muito... nessas horas, “ninguém dormi”.
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
Aparecido Raimundo de Souza, natural de Andirá/PR, 1953. Em Osasco, foi responsável, de 1973 a 1981, pela coluna Social no jornal “Municípios em Marcha” (hoje “Diário de Osasco”). Neste jornal, além de sua coluna social, escrevia também crônicas, embora seu foco fosse viver e trazer à público as efervescências apenas em prol da sociedade local. Aos vinte anos, ingressou na Faculdade de Direito de Itu, formando-se bacharel em direito. Após este curso, matriculou-se na Faculdade da Fundação Cásper Líbero, diplomando-se em jornalismo. Colaborou como cronista, para diversos jornais do Rio de Janeiro e Minas Gerais, como A Gazeta do Rio de Janeiro, A Tribuna de Vitória e Jornal A Gazeta, entre outras. Hoje, é free lancer da Revista ”QUEM” (da Rede Globo de Televisão), onde se dedica a publicar diariamente fofocas. Escreve crônicas sobre os mais diversos temas as quintas-feiras para o jornal “O Dia, no Rio de Janeiro.” Acadêmico da Confraria Brasileira de Letras. Reside atualmente em Vila Velha/ES.
Fontes:
Texto enviado pelo autor.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
Nenhum comentário:
Postar um comentário