A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
Enquanto a maldade avança,
crescente e em todos os tons,
há somente uma esperança:
a resistência dos bons.
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Soneto de
BASTOS TIGRE
Recife/PE, 1882-1957, Rio de Janeiro/RJ
Saudade
Infeliz de quem vive sem saudade,
Do agridoce pungir alheio às penas,
Sem lembranças de amor e de amizade,
Hoje vivendo o dia de hoje, apenas.
Triste de ti, ancião, que te condenas
A mole insipidez da ancianidade
E não revives na memória as cenas
De prazer e de dor da mocidade!
Ter saudade é viver passadas vidas,
Percorrendo paragens preferidas,
Ouvindo vozes que se têm de cor.
Sonha-se... E em sonho, como por encanto,
A dor que nos doeu já não dói tanto,
Gozo que foi é gozo inda maior.
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Trova de
DILVA MORAES
Nova Friburgo/RJ
Olhares insinuantes
que o cupido registrou,
flecharam os dois amantes
que a vida não separou!
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Poema de
AUGUSTO GIL
Lordelo do Ouro/Portugal (1873 – 1929) Guarda/Portugal
Balada da neve
Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.
É talvez a ventania:
mas há pouco, há pouquinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
- Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...
E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
- e cai no meu coração.
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Trova de
WAGNER MARQUES LOPES
Pedro Leopoldo/MG
A dor parece incontida?...
Lave o rosto e não se abale:
a esperança é sol da vida
vencendo as sombras do vale.
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Soneto de
RAUL DE LEONI
Petrópolis/RJ, 1895– 1926
Decadência
Afinal, é o costume de viver
Que nos faz ir vivendo para a frente;
Nenhuma outra intenção, mas simplesmente
O hábito melancólico de ser...
Vai-se vivendo... é o vício de viver...
E se esse vício dá qualquer prazer à gente,
Como todo prazer vicioso é triste e doente,
Porque o Vício é a doença do Prazer...
Vai-se vivendo... vive-se demais,
E um dia chega em que tudo que somos
É apenas a saudade do que fomos...
Vai-se vivendo... e muitas vezes nem sentimos
Que somos sombras, que já não somos mais nada
Do que os sobreviventes de nós mesmos!...
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Trova de
JORGE MURAD
Guanabara/RJ (1910 – 1998)
Só porque falo sozinho
chamam-me louco, - maldade!
é que eu converso baixinho
quando falo com a saudade...
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Poema de
DYLAN THOMAS
Swansea/País de Gales (1914 - 1953) Nova Iorque/EUA
Vem uma mudança no tempo do coração
Vem uma mudança no tempo do coração
secar a sua seiva, e um brilho que nos fere
vibra no interior glacial do túmulo.
Transforma-se na cidade das veias
a noite em dia, e movem-se ali os vermes
sob o reflexo solar do próprio sangue.
Vem uma mudança ocultar nos olhos
os ossos da cegueira, e então o ventre
mergulha na morte como o aparecimento da vida.
A escuridão no tempo dos olhos
encontra-se com a luz; a profundidade do mar
rompe sobre uma terra sem arestas.
A semente, que gera dos flancos um bosque
vem dividir o seu fruto, e cada metade
derrama-se lentamente no vento adormecido.
O tempo ao percorrer a nossa carne e os ossos
fica úmido e seco; o que desperta e o que morre
junto dos olhos são como dois espíritos.
Vem uma mudança no tempo do mundo
transformar um espírito no outro, e cada criança
na sua mãe amolda-se sob uma dupla sombra.
Assim é arrastada a lua em direção ao sol,
da pele são removidas as andrajosas vestes,
e o coração abandona-se à morte.
(tradução: Fernando Guimarães)
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Trova de
LÓLA PRATA
Bragança Paulista/SP
Entre os dois, o amor é forte,
com risos que exigem palmas;
não é acaso nem sorte,
é identidade de almas!!!
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Poema de
CLEVANE PESSOA
Belo Horizonte/MG
Alegoria das Palavras Soltas
Que as mãos dos poetas
libertem as palavras de conceitos e preconceitos antigos.
Que a voz dos poetas
entoe cantos inusitados -às vezes inaudíveis aos demais.
Mas que sejam sempre palavras oloROSAS
a perfumar os poros dos amados e amigos.
O que vier a mais será benesse, lucro e dividendos:
mais importante que a glória
é a libertação do próprio Menestrel.
Que os versos sejam livres, com "palavras soltas",
a ressignificar todas as im/possíveis metáforas!
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Trova de
ANTONIO CABRAL FILHO
Jacarepaguá/RJ
Eu e você, nossos sonhos,
nos divertindo na praia,
felizes e tão risonhos,
correndo, livres, sem raia.
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Soneto de
VINICIUS DE MORAES
Rio de Janeiro/RJ, 1913 – 1980
Soneto de contrição
Eu te amo, Maria, eu te amo tanto
Que o meu peito me dói como em doença
E quanto mais me seja a dor intensa
Mais cresce na minha alma teu encanto.
Como a criança que vagueia o canto
Ante o mistério da amplidão suspensa
Meu coração é um vago de acalanto
Berçando versos de saudade imensa.
Não é maior o coração que a alma
Nem melhor a presença que a saudade
Só te amar é divino, e sentir calma...
E é uma calma tão feita de humildade
Que tão mais te soubesse pertencida
Menos seria eterno em tua vida.
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Trova de
ARI SANTOS DE CAMPOS
Balneário Camboriú/SC
Com um abraço agradeço
as letras do meu saber;
contudo, não desmereço
as que deixei de aprender.
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França
Os dois amigos e o urso
Um urso acometeu dois passageiros:
Um deles, que os pés tinha mais ligeiros,
Pôs-se em cima duma árvore escondido.
Vendo o outro que tinha mau partido,
Estendendo-se em terra nem bulia
Nem respirava: morto se fazia.
Cheirando-o por orelhas e por cara,
O deixa intacto a fera, e se separa.
Dizem que, se encontrou uma pessoa
Que julga estar já morta, lhe perdoa.
O da árvore já livre do perigo,
Vindo com ar de riso ao seu amigo,
Lhe disse: «Que segredo era o que o horrendo
Urso te estava agora aqui dizendo?
— Disse-me, respondeu ele, que em jornadas
Não leve semelhantes camaradas.»
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Hino de Cidades Brasileiras
NATAL/ RN
I
Natal, Cidade Sol,
Tu representas tanto para mim!
No início, Forte dos Reis Magos,
Cidade Alta, Ribeira e Alecrim.
Daí, sempre a crescer -
Um cajueiro, galhos a estender,
Brotou nas Rocas, Quintas e Tirol,
Em Igapó, Redinha e Mirassol;
Chegou à Zona Norte,
Em Mãe Luíza se enraíza no farol.
O mar, enamorado,
Colar de praias te presenteou;
E o Potengi amado
Em teu regaço com o porvir sonhou.
Natal - provinciana -
A tua história nos contou Cascudo:
A luta com o batavo,
As procissões, o pastoril, o entrudo.
II
Natal, Cidade Sol,
Tu representas tanto para mim!
No início, Forte dos Reis Magos,
Cidade Alta, Ribeira e Alecrim.
Daí, sempre a crescer -
Um cajueiro, galhos a estender,
Brotou em Morro Branco e Bom Pastor,
Em Candelária, Felipe Camarão;
Do Morro do Careca
Em Ponta Negra, vem rolando até o chão.
O mar, enamorado,
Colar de praias te presenteou;
E o Potengi amado
Em teu regaço com o porvir sonhou.
Natal - espacial -
Ao céu foguete vai levar mensagem
De amor e de esperança
A quem fiel evoca a tua imagem.
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Trova de
MANUELLA AJALLA PAZ
Cruz Alta/RS
Verdade da luz de Deus
tão clara aí quanto aqui:
– Quem busca o bem para os seus,
encontra o bem para si!
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Poema de
JOSÉ FELDMAN
Floresta/PR
O Rabugento
No canto da sala, lá está Lelé,
com cara de quem comeu limão.
Reclama da chuva, do sol e até do pé,
e mesmo da sombra que faz confusão.
“Essa cadeira tá torta, não dá pra sentar!”
Grita Lelé, com seu jeito tão atroz.
“A comida é fria, não posso almoçar,
e o gato ainda me olha de modo tão feroz”
Passa a moça e ele logo resmunga:
“Por que você ri? Isso não tem graça!
A vida é dura, a gente se afunda,
e você por aí, como se fosse uma traça!”
O rádio toca uma canção animada:
“Que barulho insuportável, que horror!”
Ele fecha as janelas com a cara amarrada:
“Se eu tivesse condições, eu mudava o receptor!”
E quando a vizinha faz festa à noite,
Lelé se levanta, como um verdadeiro juiz,
“Esses malucos dançando, que coisa sem açoite,
a música alta, não deixa dormir, que vida infeliz!”
Mas um dia, cansado de tanto reclamar,
decidiu que era hora de mudar,
colocou um sorriso no rosto, começou a dançar,
e até o gato, animado, veio a ele se juntar!
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