quinta-feira, 31 de julho de 2025

Asas da Poesia * 61 *


Trova de
HELVÉCIO BARROS
Macau/RN (1909 – 1995) Bauru/SP

Um grande amor não se esquece!
Nada no mundo o destrói!...
Quanto mais longe, mais cresce!
Quanto mais perto, mais dói!
= = = = = =

Poema de
CAMILO PESSANHA
(Camilo de Almeida Pessanha)
Coimbra/Portugal, 1867 — 1926, Macau/China

Interrogação

Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crê! nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.

Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito
Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.

Se é amar te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno…
Mas sinto me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.

Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro o olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.

Eu não sei se é amor. Será talvez começo…
Eu não sei que mudança a minha alma pressente…
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.
= = = = = = 

Trova de
HAROLDO LYRA
Fortaleza/CE

Com sua vela enfunada
não lhe intimidam navios
e singra, afoita jangada,
os verdes mares bravios.
= = = = = = 

Soneto de
JOÃO BATISTA XAVIER OLIVEIRA
Presidente Alves/SP, 1947 – 2025, Bauru/SP

Velejando

Varanda, vales, verdes, primavera;
o ar envolto em meigas cantilenas...
Imagens tão serenas que eu quisera
perenes, tácitas em mim apenas.

Sonhar é o som sagrado da quimera
num canto enquanto as dores são amenas.
Descanso à rede a lágrima sincera
que luz na luz dos olhos dos mecenas.

A bordo de uma rede a velejar
eu sorvo a paz que a brisa faz ao mar
no vento que acarinha as mãos poetas.

Bendigo a natureza onde os estetas
descrevem a meiguice de um tormento
na voz que se enternece à voz do vento!!
= = = = = = 

Quadra Popular

Meu peito padece dor,
minh’alma sofre agonia
meus olhos vivem chorando;
- terão consolo algum dia?
= = = = = = 

Poema de
PAULO SETÚBAL
São Paulo/SP (1893 – 1937)

De todos que me beijaram
De todos que beijei

De todos que me abraçaram
De todos que abracei

São tantos que me amaram
São tantos que amei

Mas tu (que rude contraste)
Tu que jamais beijastes
Tu que jamais abracei
Só tu nesta alma ficaste
De todos que amei...
= = = = = = 

Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ

Conselhos, desde menino,
muita gente me quis dar,
mas a cruz do meu destino
quem me ajuda a carregar?
= = = = = = 

Poema de
VASKO POPA
Grébenatz/Sérvia (1922 – 1991)

Dente de Leão

Na beira do passeio
No fim do mundo
Olho amarelo da solidão

Cegos pés
Apertam-lhe o pescoço
No abdômen de pedra

Cotovelos subterrâneos
Empurram suas raízes
Para o húmus do céu

Pata canina ereta
Faz-lhe troça
Com o aguaceiro recozido

Contenta-o apenas
O olhar sem dono do passante
Que em sua coroa
Pernoita

E assim
A ponta de cigarro vai queimando
No lábio inferior da impotência
No fim do mundo
= = = = = = = = = 

Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

Antes que a aurora desponte
dando vida à luz do dia,
tenho que cruzar a ponte
nos braços da poesia.
= = = = = = 

Poema de 
RAINER MARIA RILKE
Praga/ Tchecoslováquia (1875 – 1926) Montreux/Suiça

Que farás tu, meu Deus, se eu perecer?

Que farás tu, meu Deus, se eu perecer?
Eu sou o teu vaso - e se me quebro?
Eu sou tua água - e se apodreço?
Sou tua roupa e teu trabalho
Comigo perdes tu o teu sentido.

Depois de mim não terás um lugar
Onde as palavras ardentes te saúdem.
Dos teus pés cansados cairão
As sandálias que sou.
Perderás tua ampla túnica.
Teu olhar que em minhas pálpebras,
Como num travesseiro,
Ardentemente recebo,
Virá me procurar por largo tempo
E se deitará, na hora do crepúsculo,
No duro chão de pedra.

Que farás tu, meu Deus? O medo me domina.
= = = = = = 

Trova de 
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG

Merece subir ao pódio
o glorioso vencedor
que destrói barreiras de ódio
e constrói túneis de amor.
= = = = = = 

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Quem me dera!

Ah! Quem me dera ser metaforista,
para compor meus versos, sem, no entanto,
mostrar o quanto esta alma sofre tanto
cada vez com o que sonha, não conquista!

Eu poderia expor a minha lista
de dores e recalques em meu canto,
sem me ferir e nem causar espanto
aos leigos que não privam com analista!

Seria como o som de qualquer sino
que muitos ouvem, mas somente alguns
conseguem decifrar o seu destino...

Mas não nasci assim! O que fazer,
se faço sempre estâncias tão comuns?
Talvez fosse melhor emudecer!
= = = = = = 

Trova de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

Com passagem só de ida
no meu barco sideral,
sou marinheiro da vida
chegando ao porto final!
= = = = = = 

Hino de 
XAMBIOÁ/TO

Nestes lindos babaçuais
Grandes heróis garimpeiros,
Na procura dos cristais
Foram teus belos pioneiros.

A cachoeira São Miguel
Com grandes encantos faz,
Com que as bênçãos num anel
Tragam do céu toda paz.

Oh! Xambioá
Terra bela e cheia de amor
Teu céu, solo e meigo luar,
Resplandecem com fervor.
O Rio Araguaia ao se agitar
Faz todos sempre te amar,
Te amar, te amar, ah! ah! ah!

Sei que em ti impera o progresso
E a esperança do Brasil.
Tua marcha não há regresso.
Teu povo é varonil.

Como é maravilhoso
Ter nascido neste chão,
Ter sentido o ar tão gostoso
Nas margens do teu poção.

Oh! Xambioá
Terra bela e cheia de amor
Teu céu, solo e meigo luar,
Resplandecem com fervor.
O Rio Araguaia ao se agitar
Faz todos sempre te amar,
Te amar, te amar, ah! ah! ah!
= = = = = = 

Trova de
RITA MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Seria a paz mais presente
e o porvir menos incerto,
se nas mãos do adolescente
sempre houvesse um livro aberto.
= = = = = = 

Recordando Velhas Canções
AS ROSAS NÃO FALAM
(1976)

Bate outra vez
Com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão,
Enfim

Volto ao jardim
Com a certeza que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar
Para mim

Queixo-me às rosas,
Mas que bobagem
As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai

Devias vir
Para ver os meus olhos tristonhos
E, quem sabe, sonhavas meus sonhos
Por fim
= = = = = = = = =  

Trova de
JOSÉ REGINALDO PORTUGAL
Bandeirantes/PR

Estes carecas sofridos,
sem cabelos ... que ironia,
deixam piolhos perdidos
por falta de moradia!
= = = = = = = = =  

Soneto de
PATATIVA DO ASSARÉ
(Antonio Gonçalves da Silva)
Assaré/CE, 1909 – 2002

O Burro

Vai ele a trote, pelo chão da serra,
Com a vista espantada e penetrante,
E ninguém nota em seu marchar volante,
A estupidez que este animal encerra.

Muitas vezes, manhoso, ele se emperra,
Sem dar uma passada para diante,
Outras vezes, pinota, revoltante,
E sacode o seu dono sobre a terra.

Mas contudo! Este bruto sem noção,
Que é capaz de fazer uma traição,
A quem quer que lhe venha na defesa,

É mais manso e tem mais inteligência
Do que o sábio que trata de ciência
E não crê no Senhor da Natureza.
= = = = = = = = =  

Aldravia de 
DALADIER CARLOS
Rio de Janeiro/RJ

metáforas
não
eliminam
liberdades
abrem
alternativas
= = = = = = = = =  

Soneto de 
NARCISA AMÁLIA DE CAMPOS
São João da Barra/RJ, 1852 – 1924, Rio de Janeiro/RJ

Por que Sou Forte
                              (a Ezequiel Freire)

Dirás que é falso. Não. É certo. Desço
Ao fundo d’alma toda vez que hesito...
Cada vez que uma lágrima ou que um grito
Trai-me a angústia - ao sentir que desfaleço...

E toda assombro, toda amor, confesso,
O limiar desse país bendito
Cruzo: - aguardam-me as festas do infinito!
O horror da vida, deslumbrada, esqueço!

É que há dentro vales, céus, alturas,
Que o olhar do mundo não macula, a terna
Lua, flores, queridas criaturas,

E soa em cada moita, em cada gruta,
A sinfonia da paixão eterna!...
- E eis-me de novo forte para a luta.
= = = = = = = = =  

QUADRA POPULAR

Muito vence quem se vence
muito diz quem diz tudo,
porque ao discreto pertence
a tempo fazer-se mudo.
= = = = = = = = =  

Poema de
CÔNEGO BENEDITO VIEIRA TELLES
Bueno Brandão/MG, 1928 – 2022, Maringá/PR

Lembranças da Velha Árvore

A árvore traz-me lembrança
dos verdes anos, agora.
Como foi bom ser criança,
com meu sonhos desde a aurora.

Toda a árvore oxigena o ar,
purifica a natureza.
Escuta os cantos do mar, 
e da brisa co´a sutileza.

O vento farfalha a copa,
da árvore, folhas e flores,
e a ave seu ninho envelopa
para abrigar seus amores.

Às vezes, no entardecer,
prateia a lua as ramagens.
Velha árvore a fenecer!...
Com ela, as frescas aragens!

A árvore dos ancestrais,
plantada com seus carinhos.
Terno abrigo de animais,
dos ninhos dos passarinhos!

Ó árvore frondosa, bendita,
que antepassados plantaram.
Árvore alegre, bonita,
de ti, saudades ficaram!
= = = = = = = = =  

Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Que as estrelas com seu brilho,
   e o sol, com seu loiro raio,
        iluminem cada filho 
 do adorável mês de Maio!
= = = = = = = = =  

Poema de
ANTONIO JOSÉ DA SILVA
Rio de Janeiro/RJ, 1705 – 1739, Lisboa/Portugal

A Mulher e o casamento

Toda mulher que não for
Inclinada ao matrimônio,
Se a não levar o amor:
Trate logo de depor
Seu tirano desdenhar;
Seu rigor, deve escolher
Ou casar, por não morrer,
Ou morrer por não casar.
= = = = = = = = =  

Trova de
SONIA MARIA DITZEL MARTELO
Ponta Grossa/PR, 1943 – 2016

 A Natureza hoje chora
a cruel devastação
que faz o verde ir embora  
e veste de cinza o chão!
= = = = = = = = =  

Glosa de
NEMÉSIO PRATA
Fortaleza/CE

MOTE:
Saudade... espelho quebrado,
com cacos por todo chão
que ao deixar-me angustiado
faz sangrar meu coração!
José Feldman 
Floresta/PR

GLOSA:
Saudade... espelho quebrado,
não mais reflete, uniforme,
as lembranças do passado
na minha memória, informe! 

Quebrado, sem serventia,
com cacos por todo chão
em cada pedaço eu via
reflexos de uma ilusão!

Hoje, ao chão espatifado,
só reflete uma lembrança
que ao deixar-me angustiado
faz-me chorar, feito criança!

Reflexos da uma saudade
que, espalhada pelo chão,
ao lembrá-la, é bem verdade,
faz sangrar meu coração!
= = = = = = = = =  

Trova de
DODORA GALINARI
Belo Horizonte/MG

Na venda, a moça esculacha
pelo engano que se deu:
pediu a maior bolacha,
e o vendedor lhe bateu!
= = = = = = = = = 

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