Trova Humorística de
RENATA PACCOLA
São Paulo/SP
Teve um chilique tão forte
que logo tomou vacina
e se mandou para o norte
temendo a gripe sulina ...
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Soneto de
LEANDRO BERTOLDO SILVA
Padre Paraíso/ MG
Esperança
Quero fazer dos meus olhos mentira
Para acordar igual a um passarinho
Ouvindo ao longe, bem longe do ninho
O que o cansaço fadiga e suspira.
Oh, mar de gente, de sangue e de ira!
Torpe desejo de espúrio caminho.
Faça-me livre de seu escarninho.
Não me embandeire; seu ardil não me inspira.
E nesta febre que (se)invade - há jeito?
Saudades tenho as que me recordo
Quando, feliz, dormíamos no leito.
Há de chegar o dia em que a bordo,
Mesmo a noite sendo em meu peito,
Desta cingida nau outro me acordo.
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Trova de
ADELIR MACHADO
São Gonçalo/RJ (1928 – 2003) Niterói/RJ
A empregada de hoje em dia
quando vai para o fogão,
cozinha em banho-maria
as cantadas do patrão!!!
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Poema de
CRISTINA CAMPO
Bolonha/Itália, 1923 – 1977
Teu Nome…
Amor, hoje teu nome
a meus lábios escapou
como ao pé o último degrau…
Espalhou-se a água da vida
e toda a longa escada
é para recomeçar.
Desbaratei-te, amor, com palavras.
Escuro mel que cheiras
nos diáfanos vasos
sob mil e seiscentos anos de lava
Hei de reconhecer-te pelo imortal
silêncio.
Ficou para trás, quente, a vida,
a marca colorida dos meus olhos, o tempo
em que ardiam no fundo de cada vento
mãos vivas, cercando-me…
Ficou a carícia que não encontro
senão entre dois sonos, a infinita
minha sabedoria em pedaços. E tu, palavra
que transfiguravas o sangue em lágrimas.
Nem sequer um rosto trago
comigo, já traspassado em outro rosto
como esperança no vinho e consumado
em acesos silêncios…
Volto sozinha
entre dois sonos lá ’trás, vejo a oliveira
rósea nas talhas cheias de água e lua
do longo inverno. Torno a ti que gelas
na minha leve túnica de fogo.
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Poetrix de
LUIZ GONDIM DE ARAÚJO LINS
Rio de Janeiro/RJ
Procura
Averiguara portas e janelas,
percorrera todas as telas
do perímetro da solidão
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Soneto de
HILDEMAR CARDOSO MOREIRA
São Mateus do Sul/PR, 1926 – 2021, Contenda/PR
Lagrimas e risos
Você chorou quando aportou na terra,
E nós choramos de alegria imensa,
Por isso cremos que em teu peito encerra
Toda a pureza que o amor condensa.
E foi grande a euforia que sentimos
Naquele lindo vinte e um de julho,
Que então choramos e então sorrimos
Num misto de alegria e de orgulho.
Você é o fruto de um amor bendito.
O pranto e o riso assim se misturaram
Ao contemplar o teu perfil bonito.
E hoje existe com mais intensidade
Aquele amor dos dias que passaram
Porque ele aumenta quanto avança a idade.
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Trova do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/ RN
Esta dor que em mim persiste
e não me deixa dormir!...
é "aquela" lembrança triste
do que deixou de existir!
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Poema de
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Itabira do Mato Dentro (1902 – 1987) Rio de Janeiro/RJ
Poema patético
Que barulho é esse na escada?
É o amor que está acabando,
é o homem que fechou a porta
e se enforcou na cortina.
Que barulho é esse na escada?
É Guiomar que tapou os olhos
e se assoou com estrondo.
É a lua imóvel sobre os pratos
e os metais que brilham na copa.
Que barulho é esse na escada?
É a torneira pingando água,
é o lamento imperceptível
de alguém que perdeu no jogo
enquanto a banda de música
vai baixando, baixando de tom.
Que barulho é esse na escada?
É a virgem com um trombone,
a criança com um tambor,
o bispo com uma campainha
e alguém abafando o rumor
que salta do meu coração.
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Trova de
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN
Da Bebida fiquei farto,
bebendo, perdi quem amo;
hoje bebo no meu quarto
as lágrimas que eu derramo.
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Poema de
MÁRIO A. J. ZAMATARO
Nova Esperança/PR
Lances
Às margens do acaso,
um lance de sorte!
De calar contido:
Aguardado lance
em lúcido olhar
em úmida boca
em túmida carne
em único afeto
em cínico corpo...
A falar revanche,
dado sem sentido:
No acaso das margens,
a sorte de um lance!
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Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/ RS, 1932 – 2013, São Paulo/ SP
Enquanto a guerra inundar
num dilúvio, a Terra inteira,
onde a pomba irá buscar
outro ramo de oliveira?!…
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Hino de
PUXINANÃ/ PB
Enchei de orgulho vossos corações
para o nosso torrão exaltar!
"Cidade dos Lagedos" imponentes,
que ostenta como marco singular.
Outrora, foi a nobre e boa fonte
que a sede de tantos matou;
por isso, ao espelho das águas
gente amiga teu núcleo formou.
Puxinanã, a nossa fé desponta
na tua gente brava e sem temor!
Hás de crescer por nossas mãos,
fiéis que somos, pelo vosso amor!
Ó terra mãe por crença de teus filhos,
rua independência se fez!
Joaquim Limeira e Zoroastro
erguerão o pavilhão, com altivez,
da luta pelo Desenvolvimento
com teu Trabalho e União.
No campo, mostra tua riqueza,
na Cultura, também na Educação.
Já inspiraste a musa do Poeta
com "As flores de Puxinanã",
que evoca o vigor da juventude:
a tua esperança do amanhã..
"Lagoa da Pedras", foste no começo,
amada pelos ancestrais;
agora, mais do que outrora,
os teus filhos te adoram muito mais.
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Trova Premiada de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/ SP
Felicidade, abre a porta
vem logo ressuscitar
minha esperança já morta
cansada de te esperar.
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Soneto de
ALPHONSUS DE GUIMARAENS FILHO
Ouro Preto/MG, 1870 – 1921, Mariana/MG
Quando eu disser adeus...
Quando eu disser adeus, amor, não diga
adeus também, mas sim um "até breve";
para que aquele que se afasta leve
uma esperança ao menos na fadiga
da grande, inconsolável despedida...
Quando eu disser adeus, amor, segrede
um "até mais" que ainda ilumine a vida
que no arquejo final vacila e cede.
Quando eu disser adeus, quando eu disser
adeus, mas um adeus já derradeiro,
que a tua voz me possa convencer
de que apenas eu parti primeiro,
que em breve irás, que nunca outra mulher
amou de amor mais puro e verdadeiro.
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Trova Humorística de
NEWTON MEYER
Pouso Alegre/MG (1936 – 2006)
Verão assim, credo em cruz?
– Foi tanto calor na cuca,
que uma porca deu à luz
três leitões à pururuca!!!
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Soneto premiado em 2024, de
GERALDO TROMBIN
Americana/SP
Colecionamento de insignificâncias
Coleciono pousos de borboletas
e, também, os voos dos passarinhos;
dos insetos, os rasantes, piruetas;
dos pés de vento, os seus redemoinhos;
e, dos jabutis, os seus passos lentos.
Além do doce sabor das amoras,
coleciono, ainda, os uivos dos ventos
e o despertar pacato das auroras.
Coleciono o desabrochar do hibisco;
o gotejar suave do chuvisco;
os brotos que enchem de graça a avenida.
Coleciono essas insignificâncias
– pra muitos, coleções de irrelevâncias –
que, pra mim, dão significado à vida!
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Aldravia de
CECY BARBOSA CAMPOS
Juiz de Fora/MG
a
turba
ruge
o
tiro
ecoa
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Poema premiado em 2024, de
JACIMAR BERTI BOTI
Colatina/ES
Residência do poeta
Moro na esquina da rua
Lá no bloco da esperança
Onde o vento faz a curva
Nos olhos da linda criança
De dia sou amigo do sol
O vento brincando na rua
Versejando nas minhas poesias
De noite, sou namorado da lua
Beijando a boca da noite
No silêncio da madrugada
O amanhecer no meu abraço
Com o canto da passarada
Viajo nas asas do vento
Junto ao olhar da saudade
A lua como companheira
Conduzindo-me a felicidade
Escrevo na boca da noite
Talvez, no romper da aurora
O tempo passa, não perdoa
Aqui, nosso futuro é agora.
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Spina de
ISABEL PERNAMBUCO
Maceió/AL
Lua…
Banhando a noite,
bela lua cheia...
Infinda de beleza
Tão linda lua, traz-me você.
Ela é dos namorados... enamorados.
Basta admirá-la, foge a tristeza.
Suas fases, as tenho também.
Segue sempre brilhando, só boniteza.
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Soneto de
CARMO VASCONCELLOS
(Maria do Carmo Figueiredo de Vasconcellos)
Lisboa/Portugal
Moinhos de vento
Ainda não esqueci em tantos anos
As setas aguçadas de ciúme
Partindo de teus olhos arcos-lume
Feitas dardos ferinos e insanos
Em mim ainda sangram incrustadas
Palavras tuas tão incoerentes
Chagas minhas antigas mas latentes
Que de vez só na tumba são saradas
De culpas inventadas me vesti
Fiz delas a couraça e resisti
Cedendo a quixotescos desalinhos
Minha espada... A palavra de Cervantes
No punho… Vês gigantes? São gigantes
No gume… Vês moinhos? São moinhos
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Quadra popular
AUTOR ANÔNIMO
Quem me dera estar agora
onde está meu coração,
lá no campo da saudade,
onde meus suspiros vão.
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Poema de
DINAIR LEITE
Paranavaí/PR
Encantamento
Minha mãe de branco eu vi,
sentada em belo jardim,
onde havia beija-flores,
araras e um juriti.
Não tinha ar de madona,
nem era fluída, etérea.
Era real e tão bela;
do jardim ela era a dona.
Não valsava, nem cantava,
quedava-se pensativa;
com suas mãos ajeitava
linda guirlanda florida.
Minha mãe era poesia
feita de branco e de flores,
de sons azuis, de tons claros
de luz, de brilhos, de dia.
De raios ensolarados,
iluminando os cabelos;
de corpo esbelto marcado,
pelo vestido vermelho,
seu ar suave, inocente.
Minha mãe tece a coroa
com seus dedinhos gentis,
alinhando as florezinhas
tão leves e tão sutis.
A sua pele é tão alva
que ao vestido se incorpora;
seus gestos são tão suaves
recendendo à malva, aurora.
Os seus cabelos sedosos,
– cascatas de caracóis –
junto dos seios resvalam,
entremeadas de sóis.
Brilhos e luzes agitam
os cachos negros, macios,
que bailam ao som do vento
buscando cor, movimento.
Minha mãe urde a grinalda
pelas mãos e pelo olhar –
indica o seu coração,
de uma beleza, sem par!
Minha mãe é tão bonita...
Pequena, leve e catita!
Parece um sonho encantando,
em seu jardim-paraíso.
Ela tece a uma coroa
e, coroada, ela está,
de luz, de sons tão azuis,
de pássaros e borboletas,
de pingos d`água, garoa.
Minha mãe termina a obra,
feita com tanto primor...
Oferta a mim a coroa,
entrelaçada de amor.
Minha mãe, mamãe, mãezinha,
Sua luz em mim reluz.
Batizada de Tereza,
viveu, por obra do amor,
Terezinha de Jesus.
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Trova de
ELISABETE DO AMARAL
(Elisabete do Amaral Albuquerque Freire Aguiar)
Mangualde/ Portugal
Sobre o fumo mais escuro,
fruto da vil ambição,
quero pintar um futuro
sol ridente, meu irmão!
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