quinta-feira, 31 de julho de 2025

José Feldman (Folclore Brasileiro em Versos) – 1


1. Saci Pererê

No bosque escuro, um riso a ecoar,
um pé só dança, travesso, à espreita,
Saci, travador de rimas a brincar,
com seu gorro vermelho em meio à colheita.

Nos ventos que sopram seus truques ecoam,
leva com ele o medo, o riso a flutuar.
Atrás da moita seus rastros enevoam,
sua lenda vive sempre a nos provocar.

Mas não é só travessa a sua essência,
guardião das matas, do fogo a grelha,
ensina ao homem a ter paciência,

que no simples ato, a vida é uma bem-querença.
Em cada folguedo, uma nova centelha,
no coração do povo, sua presença.

2. A Iara

Das águas profundas, um canto a seduzir,
Iara, sereia de beleza infinita,
com olhos de lua faz homens sucumbir,
na dança das ondas sua alma é bendita.

Mas cuidado, viajante, ao te aproximar,
pois seu canto é doce, mas pode enganar,
com promessas de amor te fará naufragar,
nos braços da morte não há como escapar.

Ela é a rainha do rio encantado,
com flores de lótus seu corpo adornado.
Enquanto as estrelas a iluminam no céu,

os homens a seguem perdidos ao léu,
e ao som de sua voz, desenfreados,
se entregam ao doce som de seus brados.

3. Curupira

Pequeno guardião de cabelos a arder,
Curupira, a lenda das matas a zelar,
com pés ao contrário, faz o mundo tremer,
todo que se atreve a seu reino entrar.

Por entre as árvores seu rugido ecoa,
desbravador feroz com astúcia a guiar,
protege a floresta, a fauna e a lagoa,
e ao homem ganancioso ensina a respeitar.

Mas não te enganes, ele é brincalhão,
faz do viajante um alvo de ilusão,
e em cada caminho um truque a espreitar,

se o fogo da floresta queres apagar,
cuidado, amigo, o Curupira está à mão,
no riso do vento a natureza a amar.

4. Boto cor de rosa

Em um rio profundo, um encanto a surgir,
é o Boto, o sedutor nas noites de luar,
com seu corpo elegante e brilhante olhar,
transforma-se em homem… com o amor a emergir.

As moças encantadas ao som do seu cantar,
sentem seu perfume, a volúpia despertando,
mas ao amanhecer é um mistério pairando,
o Boto desaparece deixando a saudade a flutuar.

Ele é o amante das águas serenas,
com segredos guardados e histórias amenas.
Na dança das marés, um sonho a vagar,

e enquanto a lua reflete no rio,
os corações pulsando um doce desafio,
na lenda do boto a vida a se propagar.

5. A Mula Sem Cabeça

No campo sombrio um lamento angustiante,
Mula sem cabeça, seu destino a vagar
na floresta escura, no silêncio, errante,
ecos de um amor que não pode voltar.

Noite de sofrimento, de fogo a brilhar,
na escuridão sua forma a percorrer
em cada relâmpago, um grito a ecoar,
lembranças de vida que não podem ceder.

Mas quem a avista deve ter temor,
pois a sombra da noite traz consigo a dor,
em busca de paz com sua alma a clamar,

e entre os mistérios, a história a contar
que amor e desatino podem levar à dor,
e na lenda da mula, um eterno clamor.
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JOSÉ FELDMAN, poeta, trovador, escritor e gestor cultural. Formado em patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais. Morou na capital de São Paulo, em Taboão da Serra/SP, em Curitiba/PR, Ubiratã/PR, Maringá/PR. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, Academia de Letras de Teófilo Otoni, etc, possui os blogs Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria, Voo da Gralha Azul (com trovas do mundo). Assina seus escritos por Floresta/PR. Dezenas de premiações em poesias e trovas no Brasil e exterior.
Publicações de sua autoria “Labirintos da vida” (crônicas e contos); “Peripécias de um Jornalista de Fofocas & outros contos” (humor); “35 trovadores em Preto & Branco” (análises); e “Canteiro de trovas”.. No prelo: “Pérgola de textos” (crônicas e contos) e “Asas da poesia”
Fontes:
José Feldman. Asas da poesia. Floresta/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul. Disponível em Domínio Público. 
Imagem criada por JFeldman com Microsoft Bing 

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