quinta-feira, 7 de março de 2019

Jorge Amado (Mar Morto) Primeira Parte

Resumo comentado por Jayrus Luna

Mar Morto pertence a primeira fase do autor: depoimentos líricos, com predominância do elemento sentimental, sobre rixas, e amores de marinheiros.

A história se passa no Cais da Bahia, onde viviam os marinheiros, e um dos mais antigos era Seu Francisco que criava o sobrinho Guma, ensinando-lhe as leis do mar. Guma, com o tempo, tomou conta do saveiro chamado Valente. A fama de Guma no cais ocorreu em uma noite de tempestade, onde Guma, com o seu Valente, salvou um navio (Canavieiras) que iria naufragar. Depois disso, Guma conheceu Lívia, uma das moças mais bonitas do cais, casou-se com ela e foram morar com Seu Francisco, onde ao lado deles foram morar Rufino (um grande amigo de Guma) e Esmeralda.

Viviam muito bem, até que Guma envolveu-se com Esmeralda que o perseguia, Rufino descobriu, matou Esmeralda e depois matou-se de desgosto. Logo depois, Lívia descobriu que estava grávida. Guma, com remorso de ter traído Rufino e Lívia, pegou o Valente e foi para o mar e bateu nas pedras. Não morreu, mas o Valente ficou totalmente destruído. Lívia teve o filho que se chamava Frederico e Guma estava feliz com o filho, mas ao mesmo tempo arruinado por ter perdido seu saveiro. Sem escolha, começou a contrabandear seda (já tinha comprado outro saveiro) para os árabes. Numa dessas viagens, o filho de um dos árabes tinha ido junto para Porto de Santo Antônio, mas caiu no mar. Guma pulou no mar e conseguiu salvá-lo, mas morreu com seu ato de coragem. Lívia ficou com Frederico e o Seu Francisco, e tomaram conta do saveiro (de nome Paquete Voador) apenas com a lembrança de Guma que ficará na memória do cais, principalmente porque após sua morte as águas do mar se tornaram calmas e mortas, mas também por ele ter sido um homem de coragem e bom coração.

1ª parte

A primeira parte da obra denomina-se IEMANJÁ, Dona dos Mares e dos Saveiros, e possui doze capítulos:

Primeiro capítulo - Tempestade

Jorge Amado destaca a chegada da noite com tempestade, carregada de nuvens, lavando o cais, amassando a areia, balançando os navios atracados e maltratando, sem piedade, os negros da estiva. Todos abandonaram o cais. O preto Rufino, diante do copo de cachaça, sabia que, com a tempestade, Esmeralda não viria ao encontro dele. Mestre Manuel resolveu não sair com seu saveiro, preferiu ficar amando Maria Clara. Lívia ficou, aflita, à beira do cais, sob a chuva e o vento, esperando Guma que vinha no "Valente", desafiando a fúria dos ventos. Um saveiro virou no mar e dois homens (Raimundo e Jacques) caíram na água e morreram.

Segundo capítulo - Cancioneiro do Cais

Cessada a tempestade, Lívia continua esperando Guma e ouve os gemidos de Maria Clara dentro do saveiro com mestre Manuel. Breve ela também estaria nos braços de Guma, pois há oito dias não o via. Rufino conta a Lívia que Raimundo e Jacques morreram afogados, tendo sido seus corpos encontrados por Guma. Todos passam a compartilhar do sofrimento de Judith, mulher de Jacques, uma mulata que ficou com um filho na barriga. Maria Clara ainda soluça de amor. Judith não terá amor esta noite nem nunca mais, pois seu homem morreu no mar. Do forte abandonado, vem a música cantada pelo velho soldado Jeremias, voz possante de preto:

"A noite é para o amor...

"Vem amar nas águas, que a lua brilha...

"É doce morrer no mar...

Terceiro capítulo - Terras do sem fim

Agora, o velho soldado Jeremias entoa uma canção que diz "desgraça é a mulher que casa com um homem do mar, seu destino será infeliz". O velho Francisco conhece essa canção, pois foram quarenta anos num saveiro, e era amigo de todos daquela região. Uma vez, ao salvar uma tripulação, viu o vulto de Iemanjá. Já teve três saveiros, mas agora vivia de remendar velas e do que lhe dava Guma. Frederico, seu irmão e pai de Guma, morreu na tempestade para salvá-lo. Sua mulher Rita morreu do coração quando soube do acidente com o marido.

A mãe de Guma, que o entregou ao pai logo que ele nasceu, chega de Recife para levar o menino. Frederico, mulherengo que nem macaco, passando um mês em Aracaju e prometendo-lhe mundos e fundos, deixou-a naquele estado. Havia morrido, Guma era um filho sem pai e seria criado por ela. O velho Francisco não entregaria o seu sobrinho para uma mulher da vida. Quando foi apresentá-la ao filho, Guma pensou que aquela fosse a mulher que seu tio lhe prometera, que deitaria com ele numa cama, mesmo tendo apenas onze anos. Guma assusta-se ao saber que aquela mulher tão esperada por ele era sua mãe, pois nunca lhe tinham falado dela. Ela o chama de filho e só então Guma sente um pouco de ternura por aquela mulher. Despediu-se e nunca mais voltou. Não iria jamais com ela. Seu destino era o mar. Uma noite, Velho Francisco deixou uma mulata para Guma no saveiro. Depois, vieram outras. Somente quando Guma tinha dezoito anos, o tio contou ao sobrinho as peripécias do irmão, que vivia pelo mundo e uma vez voltou trazendo a vida de um homem na ponta da faca. Guma já era homem, pois manobrava muito bem um saveiro.

Quarto capítulo - Acalanto de Rosa Palmeirão

Neste capítulo, Jorge Amado dá ênfase à história dessa mulata que possuía um ABC com as suas aventuras, contadas por todos, principalmente pelo velho Francisco. Sua fama corria o mundo, e todo marinheiro a conhecia: navalha na saia, punhal no peito, deu em seis soldados, comeu vinte prisões, bateu em muito homem. Andava pelo Recôncavo, sul do Estado e Rio de Janeiro. Uma flor (uma rosa palmeirão) que trazia sempre no vestido herdou-lhe o nome. Não aparecia há anos.

Certa vez, na terceira classe de um navio, chegou do Rio de Janeiro e foi o centro das atenções, reviu a todos e conheceu Guma (tinha-o visto ainda menino) a quem confessou que queria ter um filho e com quem viveu uns tempos. Dessa vez, contou que, vivendo com um tal de Juca, um cabra frouxo que havia apanhando dela invadiu a casa com mais seis homens querendo bater no Juca e abrir a vela. Todos apanharam. Na delegacia, o delegado, que era baiano, já conhecia sua a fama de Rosa Palmeirão. Juca foi-se embora de medo.

Quinto capítulo - Lei

Uma nova tempestade assustou os homens do cais, proibindo viagens e dando prejuízos. Num dia igual a esse, morreu João Pequeno, o mestre de saveiro que mais conhecia a profissão naquele cais. O governo deu uma pensão à mulher dele, cortada por economia. Aparecia nas noites de tempestade.

Xavier, mulato troncudo, chegou no seu saveiro Caboré. Quando lhe perguntam o porquê daquele nome, ele explica, meio alterado: "Foi por causa de uma mulher". Ela o chamava de Caboré, mas ele não sabia por quê. Um dia, sem nenhum motivo, foi embora.

Godofredo, comandante da Companhia, odiado no cais por perseguir a todos, ofereceu duzentos mil réis, mais cem mil réis do seu bolso, para um prático que trouxesse o "Canavieiras", que estava fora, sem poder entrar e pedindo socorro. Seus dois filhos estavam dentro. Guma aceitou o desafio, resgatou o saveiro e salvou a tripulação. A partir desse episódio, ganhou fama no cais da Bahia.

Sexto capítulo - Iemanjá dos cinco nomes

Ninguém no cais tinha um só nome, inclusive Iemanjá, que tinha cinco nomes doces, conhecidos por todos:

IEMANJÁ, seu verdadeiro nome, dona das águas, senhora dos oceanos.

DONA JANAÍNA, para os canoeiros.

INAÊ, para os pretos, seus filhos mais diletos.

PRINCESA DE AIOCÁ, para quem os pretos também faziam suas súplicas.

DONA MARIA, para as mulheres do cais, as mulheres da vida, as mulheres casadas, as moças que esperam noivos.

O pai de santo Anselmo era quem organizava as festas de Iemanjá, presidia as macumbas e, com ordem dela, curava as doenças. No Dique, nas Cabeceiras, em mar Grande, em Gameleira, em Dom Despacho e na Amoeira, seu dia é 2 de fevereiro. Já em Monte Serrat, onde a festa é a maior, seu dia é 20 de outubro. Porém todos se uniam para festejar Iemanjá.

Sétimo capítulo - Um navio ancorou no cais

"Um navio ancorou no cais e nele Rosa Palmeirão foi embora." Alguém a chama de bicha doida, pois só vivia correndo o mundo. Num grupo de conhecidos, Guma, cabisbaixo, é zombado por Maneca e Severiano que, ao ser socado por Guma, puxou de uma faca.

"Severiano encostou-se na parede do mercado, faca na mão, e gritou para Guma:

- Manda Rosa brigar comigo que tu não é homem."

Apesar de Guma pular, o pé de Severiano alcançou-o na boca do estômago. Rodolfo interveio e salvou Guma da morte. Rodolfo, malvisto no cais, chamado por muitos de ladrão, conta a Guma as aventuras do velho Concórdia, seu pai, que tinha uma filha, agora sua irmã, que ele não conhecia. Ela queria ver Guma para agradecer-lhe, pois alguns da tripulação do "Canavieiras" (navio salvo por Guma) eram seus parentes. Na saída, Guma pergunta:

"- Como é o nome dela?

- Lívia!" - respondeu Rodolfo.

Traíra morreu, vítima de um tiro, numa confusão, em um prostíbulo, em uma das cidadezinhas do Recôncavo (Cachoeira), após ter sido socorrido por Guma, que o conheceu na ocasião. No momento da morte, lembrou-se das filhas: Marta, Margarida e Rachel.

Oitavo capítulo - Marta, Margarida e Rachel

Aqui, o autor destaca dr. Rodrigo, que era de família de marinheiros. Seus pais e avós cruzaram os mares como meio de vida. Era magro e fraco, incapaz de levar um saveiro pelas águas; por isso, tratava da moléstia dos marinheiros e tirava até gente da cadeira. Era estimado no cais. Era também poeta, mas somente a professora Dulce sabia que ele fazia poemas sobre o mar. Todos esperavam que os dois se casassem; até saíam e conversavam.

Jorge Amado destaca também as filhas de Traíra (o que morreu com um tiro, em Cachoeira). Marta tinha dezoito anos, cosia peças, estava preparando um enxoval à espera de um noivo. Margarida nadava na beira do rio; Rachel era a menor, de quatro anos, brincava com uma boneca e não sabia pronunciar direito as palavras.

Nono capítulo - Viscondes, Condes, Marqueses e Besouro

Coloca-se em evidência a cidade de Santo Amaro, pátria de muito barão do Império, viscondes, condes e marqueses. Pátria também de gente humilde do cais, pátria de Besouro, o mais valente dos negros do cais, que derramou sangue, esfaqueou, atirou, lutou capoeira e foi morto perto dali, à traição, em Maracangalha, cortado todinho de facão. Virou uma estrela.

No dia em que Traíra morreu, Guma estava para ir ver Lívia, que foi à festa de Iemanjá somente para vê-lo. Lívia nasceu na capital, a cidade das sete portas, onde nascem as mulheres mais lindas do cais. Guma assumiu um compromisso com Rosa Palmeirão: ter um filho com Lívia para Rosa ajudar a criar.

Décimo capítulo - Melodia

Guma fez boa viagem em busca de Lívia, a mais bela mulher que seria oferecida ao mar. O "Valente" correu, e já brilham as luzes da Bahia, Guma já ouve o baticum dos candomblés, parecia ouvir a risada clara de Lívia.

Décimo primeiro capítulo - Rapto de Lívia

Guma alimentava seis meses de um desejo intenso. Chegando de Santo Amaro, Rodolfo levou-o para ver Lívia, que estava bela e tímida. Os tios dela, que tinham uma pequena quitanda e que foram salvos por Guma no acidente com o "Canavieiras", não aceitavam o relacionamento, queriam que ele fosse embora, pois Lívia não podia esperar nada de um marinheiro mais pobre que eles.

Guma entregou a ela uma carta; na verdade, foi escrita pelo doutor Filadélfio, conhecido por todos como doutor, escrevia histórias em versos, ABCs do cais, cantigas. A resposta de Lívia veio quando ele voltava: "- Estou preparando o enxoval."

Os tios proibiram Guma de visitá-la, e Rodolfo sugeriu que ele a raptasse, que a levasse para Cachoeira e casasse na volta. Combinaram tudo para uma semana. E assim se fez. Na ida, preso ao leme do "Valente", sente as carícias dos cabelos dela.

Décimo segundo capítulo - Marcha nupcial

Rodolfo acalma os tios de Lívia, que estavam revoltados, e pede a Guma que faça sua irmã feliz. O casamento seria daí a sete dias, na igreja de Monte Serrat e no fórum.

O velho Francisco ficou danado, pois sabia que um marinheiro não se devia casar. Iria embora. A mulher de Guma poderia não gostar de que ele continuasse morando ali. Mas não foi. Ali mandava Guma. Doutor Filadélfio bebeu no Farol das Estrelas à saúde de Guma e de sua futura.

No dia do casório, o cortejo entrou na casa de Guma. Jeremias trouxera o violão, e o negro Rufino, sua viola. Cantaram as canções do mar; desde aquele dia, que a noite é para o mar. Lívia jurou que seu filho não seria marinheiro.
_______________________
Continua… Segunda Parte: O Paquete Voador

Fonte:

Leon Eliachar (Dicionário de Bolso) Letras E até M


E

Elevador — é esse compartimento tão pequeno onde as pessoas são obrigadas a entender-se por meio de números.

Empresário — sujeito que vive à custa do talento alheio.

Esquecimento — desculpa que nos dão e que nunca mais esquecemos.

F

Fatalidade — tudo aquilo que a gente só prevê depois que acontece.

Fechadura — buraco mais frequentado por um olho do que por uma chave.

Filante — sujeito que só traz cigarro no bolso dos outros.

G

Gorjeta — vergonha que a gente deixa em cima da mesa em forma de dinheiro.

Gráfico — é esse risco que corre para cima e para baixo dentro de uma firma, até acabar o risco ou até acabar a firma.

Gravata — forca da elegância.

Guarda de trânsito — sujeito que só começa a trabalhar quando é posto na rua.

H

Herói — é esse sujeito que teve a sorte de escapar vivo.

Hipócrita — indivíduo que faz tudo para parecer que é aquilo que ele pensa que nós pensamos que ele é.

Horóscopo — é isso que a gente consulta sempre pra ver o que vai acontecer amanhã, mas amanhã a gente só se preocupa novamente com o que vai acontecer amanhã.

I

Imbecil — sujeito que nunca concorda conosco ou então concorda sempre.

Improviso — capacidade de decorar mentalmente.

Indecisão — espaço de tempo que o nosso pé leva do acelerador ao freio diante do sinal amarelo.

Indiferença — é isso que as mulheres começam a aparentar quando já não estão indiferentes.

Intermediário — é esse sujeito que faz a ligação entre dois interesses, visando exclusivamente ao seu.

Irritação — curto-circuito no sistema nervoso.

J

Jingle — musiquinha que repete três vezes as mesmas palavras, as mesmas palavras, as mesmas palavras.

Jogador — sujeito que de tanto jogar acaba mais marcado do que o baralho.

K

Kilograma — medida que depois que passou a ser escrita com QU não conseguiu pesar mais de 900 gramas.

L

Lenço — pecinha que o homem traz sempre duas no bolso: uma para oferecer à mulher, quando ele sai, e outra para apresentar à mulher, quando ele volta.

Louco — sujeito que cisma que é Napoleão, desde os tempos de Napoleão, que foi o único verdadeiro, vai dizer que não fui.

Luva — peça que a mulher experimenta diversas vezes até encontrar uma que se ajuste bem nos seus dedos, depois passa a usá-la fora da mão.

M

Manchete — é isso que sai em cima com letra grande para vender o jornal; assim o jornal pode vender a outra manchete que sai com letra menor.

Manicure — é essa pequena a quem a gente tem sempre de dar uma mãozinha para ela trabalhar.

Mata-borrão — isso que absorve melhor do que ninguém as nossas palavras.

Mecânico — sujeito que nos toma a diferença que conseguimos quando compramos um carro mais barato.

Menu — isso que a gente lê várias vezes pra ver o que tem e pedir o que não tem.

Mesa-redonda — discussão de vários problemas pessoais para resolver um comum.

Intruso — justamente isso: uma palavra que começa com "i" sair na letra "m".

Miss — pequena que divide o seu tempo entre o maio e a fita métrica.

Modéstia — vergonha que temos de reconhecer que somos realmente os maiores.

Modesto — sujeito que se aborrece conosco se concordarmos com ele em achá-lo uma besta.

terça-feira, 5 de março de 2019

Teixeira de Pascoaes (Livro D'Ouro da Poesia Portuguesa vol. 9) IV

IDÍLIO

Sinto que, ás vezes, choras, minha Irmã,
No teu sombrio quarto recolhida...
É que ele vem rompendo a sombra vã
Da Morte, e lhe aparece á luz da vida!

E aflita, como choras, minha Irmã...
Teu choro é tua voz emudecida,
Ante a imagem do Filho, essa Manhã
Em profunda saudade amanhecida.

Silencio! Não palpites, coração;
Nem canto de ave ou mística oração
Um tal idílio venham perturbar!

Deixai o Filho amado e a Mãe saudosa:
O Filho a rir, de face carinhosa,
E a Mãe, tão triste e pálida, a chorar...

DE NOITE

Quando me deito ao pé da minha dor,
Minha Noiva-fantasma; e em derredor
Do meu leito, a penumbra se condensa,
E já não vejo mais que a noite imensa,
Ante os meus olhos íntimos, acesos,
Estáticos, surpresos,
Aparece-me o Reino Espiritual...
E ali, despido o hábito carnal,
Tu brincas e passeias; não comigo,
Mas com a minha dor... o amor antigo.

A minha dor está contigo ali,
Como, outrora, eu estava ao pé de ti...
Se fosse a minha dor, com que alegria,
De novo, a tua face beijaria!

Mas eu não sou a dor, a dor etérea...
Sou a Carne que sofre; esta miséria
Que no silêncio clama!
A Sombra, o Corpo doloroso, o Drama...

NOITES EM CLARO

Passas em claro as noites a chorar;
Dia a dia, teu rosto empalidece...
Faze tu, pobre Mãe, por serenar,
Santa Resignação sobre ela desce!

Rochedo que a penumbra desvanece,
Tu, por acaso, não lhe podes dar
Um pouco desse frio que entorpece
O coração e o deixa descansar?...

Jamais! Não há remédio! Nem as horas
Que passam! Toda a fria noite choras;
Tua sombra, no chão, é mais escura.

Sofres! E sinto bem que a tua dor,
Como se fora um beijo, aceso amor,
Vai-lhe aquecer, ao longe, a sepultura.

DUAS SOMBRAS

Pelas tardes divinas,
Quando a cor se dissolve em lágrimas douradas,
Eu vejo duas Sombras pequeninas,
Andando de mãos dadas.

Como duas crianças que elas são,
Percorrem, a brincar,
Esta minha infinita solidão;
E estático e suspenso, eu fico a olhar, a olhar...

Bate-me o coração; caminho... Na distância,
Através do crepúsculo divino,
Vejo a Sombra infantil da minha infância
E a Sombra do Menino!

E delas me aproximo; e paro; tenho medo
De as ver fugir, assim...
Seus Vultos de quimera e de segredo
Tremem diante de mim...
E como se parecem!
O mesmo adeus no olhar, o mesmo rosto e altura...
E ao pé delas as coisas se enternecem,
E este meu coração aberto em sepultura.

Durante a tua vida, meu Amor,
Quantas vezes, ao ver-te, imaginava
Olhar de perto, a minha infância toda em flor!
E ainda mais: pensava
Que eras a minha própria Infância novamente,
Mesmo diante de mim, ressuscitada
E brincando comigo alegremente,
Nesta velha Paisagem bem amada,
Terra da meia noite, alma do outono...
Nesta casa velhinha, evocadora,
Tocada de luar, de sombra e de abandono,
Da alegria de outrora...
E por isso, no dia em que morreste,
Quando tudo era lágrima, a distância,
Coração, duas cruzes padeceste;
Duas mortes sofreu a minha infância.

LÁGRIMA

Bate-me o luar na face, e o meu olhar
Em lágrima saudosa se condensa...
Vejo-a diante de mim, como suspensa
Na sombra do ar.

E em seu líquido seio de esplendor,
Tua Imagem começa a alvorecer,
Pois toma corpo e vida no meu ser,
Quando a beija, sorrindo, a minha dor...

Ébria do teu espirito sagrado,
A radiosa lágrima estremece,
Enquanto a minha face empalidece
E o luar e a noite cismam ao meu lado...

E a comovida lágrima crepita...
Relâmpago de dor... E nada vejo;
Pois nela está presente o meu desejo
E a minha vida frágil e infinita.

E a lágrima cintila, num adeus...
E, desprendida de meus olhos, ei-la
Já distante, no espaço: é nova estrela
Subindo aos céus...

Fonte:
Teixeira de Pascoaes. Elegias. 1912.

Contos e Lendas do Mundo (China: Os Três Tigres)

por Xu Fang

Nos últimos anos, nossa aldeia foi infestada por tigres, que devoraram muitas pessoas, mais do que se conseguiria contar. Viajantes que passavam por aqui diziam que isso acontecia também no resto da China.

Segundo muitos, os tigres errantes seriam enviados do céu, encarregados de procurar aqueles que tinham conseguido escapar do seu encontro com uma morte violenta. Outros afirmavam que debaixo da pele do tigre se escondem demônios ferozes, espíritos vingadores no estado de furor extremo. A verdade pode existir nessas duas explicações, mas nenhuma  é tão estranha como a do velho Huang.

O velho Huang morava em Mixi, a alguns quilômetros do distrito de Qiao. Ele tinha três filhos grandes na força da idade. Na primavera daquele ano, ele ordenou que eles fossem lavrar o campo nas colinas e durante muitos dias eles saíam bem cedo e voltavam no fim da tarde.

Um dia um vizinho disse ao Huang:

— Teu roçado está cheio de mato.

— Como pode ser? - respondeu o velho Huang. Meus filhos passam lá, trabalhando o dia inteiro.

— Parece que não! -  respondeu o vizinho.

Intrigado, Huang decidiu seguir seus filhos. Na manhã seguinte, foi atrás deles. Logo que chegaram no bosque, no pé da colina, eles tiraram a roupa e a penduraram em galhos de árvore. Depois se transformaram em tigres, pulando e dando terríveis rugidos.

Aterrorizado, o velho Huang voltou depressa para a aldeia. Ele contou ao seu vizinho o que tinha visto e depois se trancou dentro de casa.

De noite, seus filhos voltaram. Esperaram muito, diante da porta fechada, mas ninguém respondia quando chamavam. No fim, o vizinho saiu e explicou que seu pai os renegava, depois do que tinha visto no bosque.

— O que ele viu foi verdade! -  reconheceram os rapazes. - Mas não fazemos assim por nossa vontade. É o mestre dos Céus que nos obriga.

Em seguida, o mais velho chamou seu pai.

— Pai, como poderíamos ser ingratos com o senhor? Sua bondade para conosco é sem limites. Ficamos desesperados por termos sido escolhidos já há tanto tempo para esse papel funesto. Nos últimos dias corremos por montes e vales, na esperança de encontrar alguém para pegar nosso lugar, porque não aceitamos a sorte que nos foi reservada. Não deu certo. Agora, mesmo com o senhor sabendo o que está acontecendo, não podemos desobedecer as ordens. No bolso de cima do meu casaco, pai, tem uma caderneta. Pega essa caderneta, pai, senão o senhor está perdido, e teremos nós três aqui assinado sua sentença de morte.

O velho Huang pegou a lamparina e procurou no bolso de cima do casaco, de onde tirou a caderneta. Ele leu os nomes de todos aqueles que, no distrito, deviam ser mortos pelos tigres. Seu nome vinha em segundo lugar na lista.

— O que podemos fazer? — gritou, desesperado.

— Abre a porta, respondeu o mais velho. Acho que tem uma saída.

O velho Huang abriu a porta. O filho mais velho pegou a caderneta, e os três filhos, retendo os soluços, inclinaram-se diante do pai. Depois disseram:

— Que seja o destino do Mestre dos Céus. Agora, pai, veste quatro ou cinco calças e camisas, uma por cima da outra, mas não afivela o cinto. E agora, reza ajoelhado. Temos um jeito de salvá-lo.

O velho Huang obedeceu. Nem bem tinha se ajoelhado, seus três filhos já tinham virado tigres e caíram sobre ele com as garras afiadas. Com patadas e dentadas, cada um arrancou uma camada das roupas e foram embora rugindo, com farrapos de roupa na garganta.

Nunca mais eles foram vistos na aldeia, e o velho ainda hoje mora no mesmo lugar.

Fonte:
http://www.capparelli.com.br/contos.php

Andréa Motta (Lançamento de Livro dia 26 de março)

Andréa Motta e Nogue Editora, convidam para o lançamento do livro de poesias Natureza Íntima, no dia 26 de março de 2019, à 17h, no Centro de Letras do Paraná (Rua Fernando Moreira, 370 - Centro. Curitiba-Paraná).

É um livro com poemas curtos, mas profundos.

Será uma imensa alegria, contar com sua honrosa presença.


domingo, 3 de março de 2019

Arthur de Azevedo (A Marcelina)



I
Naquele tempo (não há necessidade de precisar a época) era o Doutor Pires de Aguiar o melhor freguês da alfaiataria Raunier e uma das figuras obrigadas da Rua do Ouvidor. Como advogado diziam-no de uma competência um pouco duvidosa, o que aliás não obstava que ele ganhasse muito dinheiro, – mas como janota – força é confessá-lo – não havia rapaz tão elegante no Rio de Janeiro.

Quando lhe perguntavam a idade, respondia invariavelmente:

– Orço pelos quarenta, – e durante muito tempo não deu outra resposta. Os seus contemporâneos de Academia atribuíam-lhe cinquenta, bem puxados. As senhoras, essas não lhe davam mais que trinta e cinco.

Ele tinha um fraco pelas mulheres de teatro. Consistia o seu grande luxo em ser publicamente o amante oficial de alguma atriz. Não fazia questão de espírito nem beleza; o indispensável é que ela ocupasse lugar saliente no palco, e fosse aplaudida e festejada pelo público.Não era o amor, era a vaidade que o conduzia à nauseabunda Citera dos bastidores.

Essas ligações depressa se desfaziam; duravam enquanto durava o brilho da estrela; desde que esta começava a ofuscar–se, ele achava um pretexto para afastar-se dela e procurar imediatamente outra. Como era inteligente e generoso – muito mais generoso que inteligente, – nunca ficava mal com o astro caído.

Algumas vezes o rompimento era provocado por elas – pelas de mais espírito, – que facilmente se enjoavam de um indivíduo tão preocupado com a própria pessoa, e tão vaidoso suas roupas.

II

No tempo em que se passou a ação deste ligeiro conto, a conquista do Doutor Pires de Aguiar era uma atriz portuguesa, a Clorinda, que viera de Lisboa apregoada pelas cem trombetas do reclame, e cuja estreia,num dos nossos teatrinhos de opereta, o público esperava ansiosamente.

Uma hora antes de começar o espetáculo de estreia, entrou advogado triunfantemente na caixa do teatro, levando pelo braço a sua nova amiga, elegantemente envolvida numa soberba de pelúcia. Ia fazer-lhe entrega do camarim, cujo arranjo confiara liberalmente ao bom gosto e à perícia dos mais hábeis tapeceiros e estofadores.

Ela ficou encantadíssima, a agradeceu com beijos quentes sonoros a dedicada solicitude do amante.

Que belo tapete felpudo! que bonitos quadros! Que papel escolhido! Que delicioso divã! Que magnífico espelho de faces, onde o seu vulto airoso se refletia três vezes por inteiro! E que profusão de perfumarias! E que precioso serviço de toilette!.

Nada faltava também sobre a mesinha da maquilagem, ricamente iluminada por dois bicos de gás.

O Doutor Pires de Aguiar tinha longa prática desses arranjos; não podia esquecer-se de nenhum dos ingredientes necessários camarim de uma atriz que se respeita; o arsenal estava completo.

Dali a nada ouviu-se um – Dá licença?, – e o diretor de cena entrou no camarim, acompanhado por uma mulher já idosa, muito pálida, de aspecto doentio, pobremente trajada.

– Dona Clorinda, aqui tem a sua costureira.

A estrela não conteve um gesto de despeito. O diretor de cena compreendeu-o, e saiu imediatamente, para não entrar em explicações.

– É doente? perguntou Clorinda à costureira.

– Não. senhora. Tive uma doença grave, mas agora estou boa. Saí há dois dias da Santa Casa.

Clorinda trocou um olhar com o advogado, e este disse-lhe, refastelando-se no divã:

– Ma chêre, il faut se contender de cette habilleuse; noos ne sommes pos en Europe.

Ele impingiu a frase em francês, para que não a entendesse a costureira, mas a verdade é que Clorinda também não percebeu, o que aliás não a impediu de responder: – Oui.

Despojada da mantilha e da bela capa de pelúcia, Clorinda sentou-se entre os dois bicos de gás, e começou a pintar-se, dizendo:

– Vamos a isto!

E dirigindo-se à costureira:

– Sente-se. Por que está de pé?

A pobre mulher sentou-se a medo, como receosa de macular a palhinha dourada da cadeira com o seu miserável vestido de chita.

– Sabe que me disseram bonitas coisas a seu respeito? perguntou a atriz ao advogado, olhando-o pelo espelho.

– Deveras?

– Ao que me parece, você tem sido um gajo!

O Doutor Pires de Aguiar teve um sorriso inexprimível. Aquele gajo entrou-lhe pela vaidade adentro como uma grã-cruz.

– Com que então, a sua especialidade são as atrizes?

– Sou doido pelo teatro.

– E há quanto tempo dura essa doidice?

– Há muito tempo. Estou velho, bem vê. Orço pelos quarenta.

– Ninguém lhe dará mais de trinta e cinco.

– São os seus olhos.

– Qual foi a sua primeira paixão no teatro?

– Ah! isso…

O advogado levantou o braço e estalou os dedos.

– … isso é pré-histórico; perde-se na noite dos tempos.

– Como se chamava essa colega?

– Chamava-se Marcelina.

– Que fim levou?

Ele encolheu os ombros.

– Sei lá! provavelmente morreu. Nunca mais ouvi falar dela. Há mulheres que desaparecem como os passarinhos que não foram mortos a tiro nem engaiolados: ninguém lhes vê os cadáveres.

– Gostou dela?

– Foi talvez a paixão mais séria da minha vida.

– Nunca mais a procurou?

– Para quê?

– Tinha talento?

– Talento? Não. Tinha habilidade.

E depois de uma pausa:

– Tinha habilidade e era muito boa rapariga.

– Brasileira?

– Sim. Representava ingênuas em dramalhões de capa e espada, ali, no São Pedro de Alcântara. Um dia – eu já a tinha deixado – um dia patearam-na por motivos que nada tinham que ver com a arte dramática; ela desgostou-se; andou mourejando pelas províncias, e afinal desapareceu. Requiescat in pace!

Entrou o cabeleireiro. Enquanto Clorinda lhe confiou a cabeça, o Doutor
Pires de Aguiar divagou longamente sobre os méritos da Marcelina; depois falou de outras atrizes, desfiando o interminável rosário das suas mancebias.

Clorinda, a costureira e o cabeleireiro ouviam sem dizer palavra .

Terminado o serviço do cabeleireiro, que logo se retirou, Clorinda ergueu-se:

– Agora, meu doutor, há de me dar licença, sim? Vou vestir-me.

– Até logo, disse o advogado. O seu penteado ficou esplendido! Vou aplaudi-la. Bonne chonce!

Deu-lhe um beijo – na testa para não desmanchar a pintura, – e saiu do camarim, cuja porta a costureira discretamente fechou.

III

Minutos depois, Clorinda estava completamente nua.

– A senhora é muito bem feita de corpo, disse-lhe, num tom adulatório, a costureira, enfiando-lhe pela cabeça uma camisa de seda.

– Acha? perguntou desdenhosamente a atriz.

– Ah! eu também já fui bem feita de corpo, mas.. – não tive juízo: fiei-me demais nos homens. Se quer aceitar um conselho, filha, preste mais atenção à sua arte do que a todos esses… gajos, que fazem das mulheres um objeto de luxo e nada mais. Só assim a senhora evitará o hospital e a miséria.

– Ora esta! exclamou Clorinda. Quem é você, mulher, para me falar assim?

– Eu sou… a Marcelina.

Fonte:

sábado, 2 de março de 2019

J. G. de Araújo Jorge (Trovas Sobre Saudades)


1
A saudade é este vazio
que a vida, ao partir, deixou;
rio seco, que foi rio,
porque a água já secou...

2
A saudade, intimamente,
devagarzinho nos rói;
é uma emoção diferente,
como uma dor que não dói.

3
A saudade me atormenta
e pesa como uma cruz,
- é como a sombra que aumenta
quanto mais se afasta da luz...

4
A vida passa e a saudade
passa a ser a vida ausente,
- é uma vaga claridade
de um clarão de antigamente...

5
Ah, saudade se te pego
me vingo sem compaixão:
dou-te esta cruz que carrego
sozinho, no coração!

6
Definir a eternidade
é fácil, já a defini:
é o instante de saudade
e eu vivo longe de ti.

7
Entre as folhas da lembrança
encontrei, de uma outra idade,
a verde flor da esperança
amarela... de saudade...

8
Fere aos poucos: mansa fera...
Maltrata... mas não destrói.
Saudade é dor que ainda espera,
é uma esperança que dói...

9
Já não há chamas... A vida
é invisível combustão...
Saudade: brasa escondida
queimando no coração...
10
Longe o amor, quem pode amar?
Tudo é inquietude, aflição...
A saudade é falta de ar
asfixiando o coração...

11
Louco, aumento esta saudade
aqui sozinho, a sofrer,
só pra poder ter vontade
de voltar para te ver.

12
Misto de pranto e alegria,
sol e chuva, sonho e dor,
a saudade é o sol num dia
de chuva, no nosso amor...

13
Nesse jardim de surpresas,
que foi o amor que me deste,
as violetas são tristezas,
minha saudade, um cipreste.

14
No peito dos marinheiros
nasceu , cresceu, emigrou...
Mas nos porões dos "negreiros"
foi que a saudade... chorou!

15
O tempo tudo desbasta
mas nem a tudo desfaz:
a saudade não se gasta
com o tempo aumenta mais!

16
Ontem, de amor tu morrias...
Hoje, já te sentes farta...
A saudades que sentias
só mata... no fim de carta...

17
Partiu com sonhos de glória!
Ficou com a dor e a tristeza!
Eis afinal toda a história
da saudade portuguesa!

18
Persistente e fina dor,
sombra da felicidade,
ânsia e gemido de amor,
lembrança e espera... Saudade.

19
Por meu coração já frio
uma saudade ainda passa:
- lembra apagado pavio
onde a restos de fumaça...

20
Quando estas longe, querida,
na minha angústia sem fim,
saudade é o nome da vida
que morre dentro de mim...

21
Saudade boa é a que existe
na espera... que há de chegar...
Mas há uma saudade triste
que fica sempre a esperar...

22
Saudade é amor que se sente
no coração inseguro:
é amor passado, presente,
que ainda espera ter futuro...

23
Saudade é fidelidade !
e eis como a imagem se explica:
partem o amor, a amizade,
todos partem... ela fica.

24
Saudade é permanência,
algo de amor que ficou,
que, mesmo longe, na ausência,
só partiu... não se ausentou...

25
Saudade, - estranha ilusão,
que a solidão recompensa,
presença no coração
maior que a própria presença...

26
Saudade: enigma cruciante
que talvez se explique assim:
_ quanto mais te sei distante
mais te sinto junto a mim...

27
Saudade: amor, na lembrança
de quem ficou a esperar.
É uma dor difusa e mansa
que faz sofrer... e sonhar...


28
Saudade: fruto acre-doce,
vem da flor do amor que cai...
Se calor: acidulou-se...
- só dá quando o sol se vai...

29
Sem amor quem pode amar ?
Tudo é inquietude, aflição...
A saudade é falta de ar
asfixiando o coração.

30
Sempre fiel e verdadeira
vigia de nossa dor,
ó saudade, companheira
dos solitários do amor...

31
Sentir saudade, não é
ser infeliz, - pensa bem,
- mais infeliz é quem nunca
sentiu saudades de alguém

32
Vaga do mar sem espuma
ramo verde, sem botão;
noite sem lua, de bruma;
saudade no coração.

33
Vaga em vai-vem, dolorida
a rolar dentro de nós:
Saudade: vida sem vida,
canto ou soluça, sem voz...

34
Vi teu retrato, - revivo
um velho amor que foi meu...
A saudade é um negativo
de foto que se perdeu...

Fonte:
J. G. de Araújo Jorge. Os Mais Belos Poemas Que O Amor Inspirou. vol. IV. 1a. Edição, 1965.