sábado, 19 de janeiro de 2008

Conto de Ficão Cientifica: Lucy in the Sky with Diamonds

O que havia era um calmo "mar" escuro, que foi perturbado por um pequenino fio luminoso amarelado com bordas vermelhas. Depois foi ficando cada vez mais intenso; ofuscando a vista. Um arco incandescente começou a se formar com uma beleza indescritível; agora um pequeno ponto se destacava no centro da semi-esfera como um ponto mais luminoso. Logo a cabine ficou completamente iluminada, os raios amarelados entravam pela pequena janela e a cabine começava a ficar aquecida. A íris de Michelle se contraiu involuntariamente para se acostumar com a luz. Já estava em órbita há três meses, mas ainda se deslumbrava com o amanhecer visto a mil quilômetros da superfície terrestre. "Here comes the Sun", pensou Michelle.

Michelle teria que se preparar para mais um dia de trabalho; além de ocupar o cargo de Comandante da Estação Espacial LUCY, suas culturas de morangos estavam em um estado adiantado de desenvolvimento. Era impressionante como os morangos (e outros vegetais) se desenvolviam quando estavam "sem peso". Principalmente com um ambiente sob medida (luz, umidade e temperatura) e uma espécie de cortiça porosa que continha tudo aquilo que o melhor solo terrestre podia oferecer. Assim que a tecnologia fosse mais desenvolvida, a Terra teria "Campos de Morangos para sempre!!!" Pensava Michelle.

Para variar, outra cena cômica se deu durante suas abluções matinais. Hoje foi o sabonete que escapou para o teto. Resolvido o pequeno incidente, Michelle se dirigiu ao módulo cilíndrico "Miss Eleanor Rigby", que dava acesso à sala de exercícios. Ao passar pela cabine do Sargento Peppers, observou que ele, novamente, não havia prendido bem as amarras ao dormir, e estava no teto batendo levemente com a cabeça no duto de ventilação que o havia "sugado" lentamente durante a noite. Havia uma grande vantagem em uma Estação Espacial: se você perdesse alguma coisa, essa coisa iria invariavelmente se dirigir ao duto de ventilação.

Depois de uma hora na bicicleta ergométrica, Michelle se sentia melhor, já que ativara a circulação em seu corpo e exercitara suas pernas. A imponderabilidade, causava várias mudanças no corpo humano. Como o corpo está em queda livre, o sangue se dirige para a cabeça, deixando-a inchada, com os olhos vermelhos e o nariz entupido (por isso dizem que a comida de astronauta não tem gosto, o sentido do olfato fica muito debilitado em órbita); as pernas ficam finas, com o os músculos gelatinosos. A pessoa fica alguns centímetros mais alta, pois sua coluna vertebral não precisa sustentar o peso do corpo; o famoso "frio na barriga" é constante, já que o aparelho digestivo fica "flutuando". Outro problema é que o cálcio dos ossos escapa pela urina, deixando os ossos frágeis. Com a diminuição dos movimentos, consome-se menos oxigênio, diminuindo em até 20% o número de glóbulos vermelhos no sangue. Por essas e outras, é necessário uma dieta ricam em todos os tipos de alimentos e uma boa dose de exercícios.


Michelle estava pronta para mais um dia de trabalho. Encontrou com o Doutor Robert no caminho da sala de comunicações. Ele era o responsável pela saúde da tripulação. Michelle entrou no pequeno cilindro. Tinha que dizer a senha diária ao computador:

_"Yellow Submarine". Disse Michelle.

_Bom dia Cap. Michelle. Respondeu a Unidade de Inteligência Artificial (UIA).

_Bom dia Walrus. Respondeu Michelle.

_Cap. Michelle, acabo de receber uma mensagem.

_Não vá me dizer que você não tem a menor idéia de onde ela vem! Não vejo nenhum monolito por aqui! Disse Michelle em tom jocoso.

_Entendi sua observação Cap. Michelle... Meus bancos de dados possuem várias referências... Ficção Científica do século XX. Interessante, mas completamente absurda. Uma UIA é incapaz de fazer o que aquele HAL-9000 cometeu. Ironia, uma coisa curiosa exclusiva aos humanos. A mensagem é da Terra, é urgente.

_Me desculpe Walrus. Reproduza a mensagem, por favor. Disse Michelle com arrependimento. Mas logo se sentiu uma idiota, computadores não tem sentimentos. Pelos menos não deveriam ter...

A voz que saiu do auto-falante era impessoal e sem personalidade.

_Estação LUCY, atenção! Um acidente ocorreu com o Módulo de Transporte "Penny Lane". Um destroço de menos de 5cm de um antigo satélite se chocou com o giroscópio do Módulo. Eles perderam o alinhamento e passarão por uma órbita ao lado de vocês. O comunicador deles está avariado e o piloto automático se foi. O controle está manual.

_Que coisa! Ser atingido por um destroço no espaço é o mesmo que ser atingido por um meteorito na superfície da Terra! É impossível! Exclamou Michelle.

_Existem três casos registrados em meus bancos de dados com pessoas que foram atingi...

_Silêncio Walrus! Estabeleça contato com a Terra agora! Disse Michelle.
Alguns segundos depois, a Superintendente da Agência Espacial Mundial estava no visor da LUCY. Todas as atividades da Estação estavam suspensas. Foi instalado o regime de alerta total. Uma tripulação de 4 homens estava quase a deriva em órbita, e a única esperança era que o piloto encontrasse a Estação Espacial LUCY visualmente e atracasse com ela.

_Doutora Yoko. Como o Piloto irá ver a estação? Estamos na sombra da Terra; o Sol ainda está atrás de nós. Eles não recebem o rádio-farol; na certa está avariado também! Assim que o piloto ver nossas luzes, será tarde demais para ele manobrar em nossa direção e passará direto! A próxima vez que nos encontrarmos poderá ser tarde demais!! Disse Michelle com o rosto completamente molhado de suor (apesar da temperatura da cabine permancer em 22º Celsius) Apenas o Doutor Robert e o Sargento Peppers estava com ela na cabine.

_Ainda não sabemos!! A nave de resgate "Mystery Tour" só sairá em seis horas, e levará outras três para se encontrar com a "Penny Lane". Pelo radar, ela passará por vocês em trinta minutos, temos que pensar em alguma coisa. Recebemos uma leitura de que há vazamento de oxingênio na "Penny Lane". Disse a Doutora Yoko que ainda aparentava um rosto sonolento.

_Entre em contato conosco o mais rápido possível.

_Nossos melhores homens em Terra estão trabalhando numa solução. Entraremos em contato assim que tivermos uma idéia!

O monitor ficou escuro, refletindo apenas o reflexo perplexo da Cap. Michelle.

_Que ótimo! A batata quente está em nossas mãos! Disse Michelle fazendo um gesto de concha com as mãos.

Os dois homens se olharam e deram de ombros. Eles não tinham a menor idéia de como resolver esse sério problema. Michelle flutuava de um lado para o outro dentro da cabine. Perguntou ao Sargento Peppers se adiantaria ir até lá fora e fazer sinal com alguma lanterna. A resposta foi negativa. O Módulo de Fuga "Help" que ficava preso ao casco da estacão não possuía sistema de navegação. As comunicações por rádio estavam cortadas. Apenas as visuais, mas as luzes que possuíam não eram suficiente para avisar ao "Penny Lane" onde eles estariam. Michelle supirou.

_Cap. Michelle, a senhora deve se acalmar, tome um pouco de água fresca. Disse o Doutor Robert. Era estranho um senhor inglês de quarenta e setes anos se dirigir para uma bela jovem francesa de vinte quatro anos por senhora. Ne certa seria pelo cargo.

_Não me chame de senhora Doutor! E eu não estou com sede, estou com...Espere aí!

_O que foi? Perguntou Peppers.

_Água! É isso!!! Walrus, onde está o Sol? Quando os raios nos alcançarão? Disse Michelle com um expressão de quem havia visto um fantasma.

_O Sol está a 20º acima do horizonte terrestre. Os raios solares ainda não atingiram nossa órbita por estarmos indo a favor da rotação terrestre com uma defasagem de 35%. Quando os raios atingirem a Estação LUCY, o Módulo "Penny Lane" já terá passado da órbita em 2 minutos e 13 segundos. Respondeu o computador.

_Ótimo!! Walrus, abra as válvulas dos tanques de água 2 e 3. Disse Michelle.

_Com todo o respeito Cap. Michelle, mas a senhora tem certeza dessa ordem? Qual o motivo dela? Perguntou o Sargento Peppers.

_Não me chame de senhora! Depois eu explico! Walrus, execute a ordem!

_Sim Cap. Michelle. Respondeu o computador enquanto abria as válvulas. A água saía dos tanques que mantinham toneladas de pressão em suas paredes com uma fúria enorme.

A pressão externa era praticamete zero, fazendo com que o conteúdo dos tanques fossem "sugados" pelo vácuo do espaço numa avalanche.

_Paul!! Veja isso!! Quê diabos é aquilo?? Apontou o piloto Starr para a pequena janela da cabine de controle da "Penny Lane".

_Parece uma nuvem!! Uma nuvem aqui no espaço??? Ela brilha, como se fosse feita de milhares de pequenas luzes!!

_O que foi? Perguntou o Engenheiro Lennon que entrava naquele momento na cabine.

_Veja!! É a coisa mais linda que já vi!! Parece uma nuvem de pequenos "diamantes", milhares deles!! Um pequeno arco-íris está sendo formado!! Disse o pequenino piloto.

Os três homens ficaram em silêncio por alguns segundos paralizados pela visão que tinham através da pequena janela da cabine. O Capitão Paul colocou as mãos à cabeça e gritou:

_Mande George parar como os reparos!! Já sei o que é aquilo!! Starr, vá em direção da nuvem!!

_Em direção na nuvem? Mas...

_Faça o que mandei!!

Alguns minutos, no meio da manta brilhante que se formara no espaço, o piloto pôde ver as luzes da Estação LUCY.

_Lá está!! Conseguimos!! Agora é só levar a "Penny Lane" com cuidado. Mas o que é essa coisa brilhante? Perguntou Starr.

_Você ainda não descobriu? Disse Lennon.

_Acho que não. Me diga logo!!

_Bem só pode ser uma coisa!! Paul teve um palpite de que aquilo fosse alguma coisa vinda da Estação Espacial LUCY. A Estação sabia que estávamos por perto, mas não sabiam onde exatamente.

_Você ainda não disse o que é essa Nebulosa Brilhante!!! Disse o pequeno piloto com cara de raiva.

_Calma!!! Como eu disse, sabíamos que a Estação LUCY estava por perto. De repente uma nuven de pequenos "diamantes" começa a brilhar numa órbita próxima a nossa. Note que o Sol está atrás da nuvem. Essa nuvem só pode ter vindo de LUCY. Ao vermos os "diamantes", saberíamos de onde eles viriam. É só pensar!! Os "diamantes" são feitos de cristais de ÁGUA!! Na certa o capitão da Estação mandou abrir as válvulas dos tanques, que possuem milhares de litros. Assim que a água escapa para o espaço, acontecem duas coisas: a água evapora e congela ao mesmo tempo!! Como a pressão no vácuo tende a zero, o ponto de ebulição da água é baixíssimo, fazendo-a evaporar instantaneamente; mas como a temperatura no espaço é de 3 Kelvins (-270º Celsius), quase zero absoluto, a água congela!! Mas como eu disse, ela evapora milésimos de segundo antes e, congelando, se transforma em cristais de gelo, que, iluminados pelos raios do Sol que estão logo atrás, brilham e decompõem a luz, como pequenos prismas, fazendo aquele espetáculo maravilhoso que vimos a pouco.

_Puxa!! Como sou burro!! Disse o piloto Starr.

_Não se preocupe com isso, você ainda tem que se preocupar em fazer a junção com LUCY. Disse o Engenheiro Lennon.

Depois, tudo ocorreu perfeitamente bem. O Módulo de Transporte "Penny Lane" se conectou perfeitamente com a Estação LUCY graças a perícia de Starr. As duas tripulações se abraçavam e comemoravam com muita água e música de um antigo grupo de rock inglês do século XX. Afinal quatro astronautas escaparam por pouco da morte iminente graças a genial idéia da Cap. Michelle em transformar a região ao redor da Estação Espacial numa espécie de prisma gigante, espalhando luzes coloridas pelo espaço. No meio da escuridão quase completa, era óbvio que a tripulação da "Penny Lane" avistaria "LUCY no Céu com Diamantes!!!"

Fonte:
http://galaxiabr.vilabol.uol.com.br/lucyintheskywithdiamonds.htm

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