Em 1984 a Universidade de Harvard (USA), solicitou ao escritor e crítico Italo Calvino que elaborasse uma série de palestras a respeito das qualidades da escritura. Ao todo seriam seis palestras. Contudo, em 1985, este escritor nascido em Cuba, mas radicado na Itália, viria a falecer, deixando prontas apenas cinco palestras. Estas palestras foram reunidas em um livro publicado no Brasil pela Companhia das Letras, sob o título “Seis Propostas Para o Próximo Milênio”.
Com sua vasta cultura, Calvino discorre com bastante elegância e propriedade acerca destas “qualidades” - Leveza, Rapidez, Exatidão, Visibilidade e Multiplicidade - fazendo um rico passeio pela literatura universal, desde os clássicos até os escritores contemporâneos.
Quinze anos depois, em 1999, durante a Feira Internacional do Livro da Bahia, eu viria a publicar o Manifesto Poetrix, que serve como introdução ao meu livro TRIX – POEMETOS TROPI-KAIS, premiado em 2000 pela União Brasileira de Escritores (RJ) e Academia Carioca de Letras. Naquele manifesto estão propostas as bases de uma nova linguagem poética, o POETRIX, que neste ano foi definido por um grupo de poetrixtas, reunidos na internet, como “terceto contemporâneo de temática livre, com título, ritmo e um máximo de trinta sílabas, possuindo figuras de linguagem, de pensamento, tropos ou teor satírico”.
Não pretendemos, neste texto, equiparar o poetrix aos demais subgêneros literários seculares existentes – a poesia, o romance, o conto etc – tão bem apresentados através da vasta erudição de Calvino em sua obra magistral, mas apenas demonstrar como as qualidades destacadas por ele também são pertinentes a este “caçula” do universo literário.
Logo na sua primeira palestra fui surpreendido com a seguinte afirmação de Calvino:
“No universo da literatura sempre se abrem outros caminhos a explorar, novíssimos ou bem antigos, estilos e formas que podem mudar nossa imagem do mundo...”
O poetrix surgiu justamente desta necessidade de renovação literária. Ele resgata e renova a poesia em tercetos, agregando-lhe uma profundidade e uma beleza metafórica sem precedentes.
GRAVIDEZ
(Goulart Gomes)
pingos pousam no brilho
a mulher cresce
nasce o filho
HEROESIA
(Sara Fazib)
de joelhos, reverente
provo a Tua presença
sarça ardente
Novas propostas requerem novos nomes. Poetrix (de Poe=poesia e trix=três), nascido nos estertores do milênio passado, propagado e multiplicado pelo “efeito internet”, representa muito bem esta união entre o clássico e o moderno, abrindo uma infinidade de caminhos e atalhos que podem ser trilhados pela nossa criatividade.
Mas, vamos aos conceitos desenvolvidos nas palestras. Na primeira delas, intitulada LEVEZA, ele nos diz:
“Se quisesse escolher um símbolo votivo para saudar o novo milênio, escolheria este: o salto ágil e imprevisto do poeta-filósofo que sobreleva o peso do mundo, demonstrando que sua gravidade detém o segredo da leveza”.
FLOR SECA
(Enrique Anderson - Argentina)
flor seca
entre páginas de poesias
ya es también poema
Curiosamente, a poetrixta Sara Fazib (SP) em carta aberta intitulada “Como Fazer Poetrix” à também poetrixta Andréa Abdala, em 23/05/2001, comenta:
“...penso no poetrix perfeito como um pequeno projétil que nos atinge direto
num órgão vital; um detonador de emoções; algo que nos dispara o coração,
o tesão; que atinge como um raio a nossa cabeça... o inesperado, a surpresa, caem muito bem no poetrix... O poetrix parece coisa fácil. Três versinhos. Mas vejo assim, não. Antes eu o considero um desafio de síntese, sensibilidade e criatividade. E concordo com o poeta Antonio Augusto de Assis, quando diz "que o micropoema será a poesia do novo milênio: diz o máximo no mínimo de tempo e espaço".
PESSOIX
(Goulart Gomes)
um terço de mim delira
um terço de mim pondera
outro terço, ah!, quem dera!
É justamente esta “surpresa” do poetrix que torna a mais densa, mais vasta, mais profunda mensagem em um texto leve, breve, na exigüidade das suas três linhas. O poder de síntese do poetrix faz levitar as idéias, sem retirar-lhes a profundidade.
Já em sua palestra sobre o tema RAPIDEZ, Calvino afirma:
“Nos tempos cada vez mais congestionados que nos esperam, a necessidade de literatura deverá focalizar-se na máxima concentração da poesia e do pensamento... A rapidez de estilo e de pensamento quer dizer antes de mais nada agilidade, mobilidade, desenvoltura”
E noutro parágrafo conclui:
“O êxito do escritor, tanto em prosa quanto em verso, está na felicidade da expressão verbal, que em alguns casos pode realizar-se por meio de uma fulguração repentina, mas que em regra geral implica uma paciente procura do mot juste, da frase em que todos os elementos são insubstituíveis, do encontro de sons e conceitos que sejam os mais eficazes e densos de significado.”
Os tempos “congestionados” preconizados por Calvino chegaram. São milhares as informações que nos chegam diariamente, desde o banner automático que se abre na tela do computador até o panfleto distribuído nos semáforos. É fácil constatar que o tempo fica cada vez mais escasso, principalmente tempo para ler, sempre preterido. Agilidade, mobilidade e desenvoltura são, assim, características naturais do poetrix.
DEMASIADUMANO
(Murillo Falangola)
eu genomo
tu genomas
nós tememos
NOVA EDIÇÃO
(Andréa Abdala)
Conto da carochinha,
mulher de verdade
não goza de mentirinha.
A fulguração repentina, a frase perfeita é a busca incessante do poetrixta, levado a representar o universo na brevidade das três linhas. Certamente aí está o segredo do seu sucesso no mundo virtual, onde tudo se move à velocidade do pensamento... ou dos modens.
APAGÃO, GÊNERO FEMININO
(Andréa Abdala)
Na rua escura
enxergo-me
light.
POETRIX MARINHO
(Fred Matos)
o mar o olhar abarca
o olhar o barco arca
o barco marca o mar
A terceira palestra de Calvino versa sobre EXATIDÃO. Em um determinado ponto ele nos diz que requer:
“... uma linguagem que seja a mais precisa possível como léxico e em sua capacidade de traduzir as nuanças do pensamento e da imaginação... O poeta do vago só pode ser o poeta da precisão, que sabe colher a sensação mais sutil com olhos, ouvidos e mãos prontos e seguros”
ALCÓOLATRA
(Pedro Cardoso)
desaba
aos bafos
o bêbado
Quando o poetrixta dá um título – elemento fundamental - ao seu poetrix ele transforma o seu texto na sua tradução pessoal daquele conceito a partir do seu universo. A precisão com que ele tratará a sua abordagem fará toda a diferença, pois são o seu pensamento e a sua imaginação, únicos no mundo, que estarão ali representados. Tanto melhor o poetrix quanto com maior exatidão ele trate o seu tema:
BRAILE
(Gilson Luiz Siqueira)
cego de amor
leio-te
com a ponta dos dedos
FEROHORMÔNIO
(Sávio Drummond)
Pressinto-te no ar,
Farejo-te no vento.
Qual bicho ao relento.
Quando, na palestra seguinte, Calvino trata da VISIBILIDADE, ele nos traz uma série de correlações ente palavra e imagem. É como se além da palavra falada, escrita e cantada, ele quisesse nos falar da “palavra em movimento”:
“... a capacidade de pôr em foco visões de olhos fechados, de fazer brotar cores e formas de um alinhamento de caracteres alfabéticos negros sobre uma página branca, de pensar por imagens”
“O escritor – falo do escritor de ambições infinitas, como Balzac – realiza operações que envolvem o infinito de sua imaginação ou o infinito da contingência experimentável, ou de ambos, com o infinito das possibilidades lingüísticas da escrita... Seja como for, todas as “realidades” e as “fantasias” só podem tomar forma através da escrita”
É esta necessidade de traduzir, transcrever ou recriar o mundo através das palavras, tão típica do escritor, que ganha nova vida com o poetrix. O poetrix já nasceu imagético. No já citado livro que publiquei em 1999, há em anexo um disquete com apresentações animadas de alguns poetrix. Neste ano de 2001 nasceu o grafitrix, uma proposta do poetrixta Murillo Falangola (BA), que une o poetrix a imagens ou desenhos, permitindo uma maior diversidade na sua leitura.
Na última das palestras escritas, Calvino fala sobre MULTIPLICIDADE:
“Só se poetas e escritores se lançarem a empresas que ninguém mais ousaria imaginar é que a literatura continuará a ter uma função.”
E mais adiante:
“Entre os valores que gostaria fossem transferidos para o próximo milênio está principalmente este: o de uma literatura que tome para si o gosto da ordem intelectual e da exatidão”.
Em uma determinada data dois poetrixtas de Brasília, Tê Soares e Pedro Cardoso, tiveram a feliz idéia de juntar dois de seus poetrix formando um novo texto: estava criado o duplix. Esta idéia cresceu e surgiram o triplix e o multiplix, criações coletivas, permitindo uma série de possibilidades de (re)leituras do poetrix. Ousadia, coragem de navegar por novos mares. irrompendo fronteiras, derrubando barreiras, renovando a literatura.
JANTAR A DOIS // OLHOS NOS OLHOS
(Judith de Souza // Martinho Branco - Portugal)
O lume da vela//Na mesa da sala
o amor revela//o olhar embala
e vela//e fala
MARIPOSAS // BORBOLETAS
(Judith de Souza // Rodrigo M. de Avellar)
Em volta da lâmpada, // Aguardando a alvorada
a dança mortal e pagã // Falecendo a lagarta
ignora o amanhã. // Ressuscitará alada.
Para finalizar este trabalho, gostaria de transcrever uma outra citação de Calvino, que nos faz refletir sobre o poder que possuímos de modificar o mundo à nossa volta, de fazer com que concretizemos nossos sonhos, a partir da riqueza que todos nós possuímos em nosso universo de imagens e conhecimentos:
“Ao contrário, respondo, quem somos nós, quem é cada um de nós senão uma combinatória de experiências, de informações, de leituras, de imaginações? Cada vida é uma enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma amostragem de estilos, onde tudo pode ser continuamente remexido e reordenado de todas as maneiras possíveis”.
LA LUNA
(Everardo Torres - México)
Moría la luna
en el obscuro cielo
de unos ojos entrecerrados.
ÁGUA
(Goulart Gomes)
a água furou a pedra
moinhos de amsterdã
a manhã será mais bela...
Fonte: http://www.movimentopoetrix.com/
Com sua vasta cultura, Calvino discorre com bastante elegância e propriedade acerca destas “qualidades” - Leveza, Rapidez, Exatidão, Visibilidade e Multiplicidade - fazendo um rico passeio pela literatura universal, desde os clássicos até os escritores contemporâneos.
Quinze anos depois, em 1999, durante a Feira Internacional do Livro da Bahia, eu viria a publicar o Manifesto Poetrix, que serve como introdução ao meu livro TRIX – POEMETOS TROPI-KAIS, premiado em 2000 pela União Brasileira de Escritores (RJ) e Academia Carioca de Letras. Naquele manifesto estão propostas as bases de uma nova linguagem poética, o POETRIX, que neste ano foi definido por um grupo de poetrixtas, reunidos na internet, como “terceto contemporâneo de temática livre, com título, ritmo e um máximo de trinta sílabas, possuindo figuras de linguagem, de pensamento, tropos ou teor satírico”.
Não pretendemos, neste texto, equiparar o poetrix aos demais subgêneros literários seculares existentes – a poesia, o romance, o conto etc – tão bem apresentados através da vasta erudição de Calvino em sua obra magistral, mas apenas demonstrar como as qualidades destacadas por ele também são pertinentes a este “caçula” do universo literário.
Logo na sua primeira palestra fui surpreendido com a seguinte afirmação de Calvino:
“No universo da literatura sempre se abrem outros caminhos a explorar, novíssimos ou bem antigos, estilos e formas que podem mudar nossa imagem do mundo...”
O poetrix surgiu justamente desta necessidade de renovação literária. Ele resgata e renova a poesia em tercetos, agregando-lhe uma profundidade e uma beleza metafórica sem precedentes.
GRAVIDEZ
(Goulart Gomes)
pingos pousam no brilho
a mulher cresce
nasce o filho
HEROESIA
(Sara Fazib)
de joelhos, reverente
provo a Tua presença
sarça ardente
Novas propostas requerem novos nomes. Poetrix (de Poe=poesia e trix=três), nascido nos estertores do milênio passado, propagado e multiplicado pelo “efeito internet”, representa muito bem esta união entre o clássico e o moderno, abrindo uma infinidade de caminhos e atalhos que podem ser trilhados pela nossa criatividade.
Mas, vamos aos conceitos desenvolvidos nas palestras. Na primeira delas, intitulada LEVEZA, ele nos diz:
“Se quisesse escolher um símbolo votivo para saudar o novo milênio, escolheria este: o salto ágil e imprevisto do poeta-filósofo que sobreleva o peso do mundo, demonstrando que sua gravidade detém o segredo da leveza”.
FLOR SECA
(Enrique Anderson - Argentina)
flor seca
entre páginas de poesias
ya es también poema
Curiosamente, a poetrixta Sara Fazib (SP) em carta aberta intitulada “Como Fazer Poetrix” à também poetrixta Andréa Abdala, em 23/05/2001, comenta:
“...penso no poetrix perfeito como um pequeno projétil que nos atinge direto
num órgão vital; um detonador de emoções; algo que nos dispara o coração,
o tesão; que atinge como um raio a nossa cabeça... o inesperado, a surpresa, caem muito bem no poetrix... O poetrix parece coisa fácil. Três versinhos. Mas vejo assim, não. Antes eu o considero um desafio de síntese, sensibilidade e criatividade. E concordo com o poeta Antonio Augusto de Assis, quando diz "que o micropoema será a poesia do novo milênio: diz o máximo no mínimo de tempo e espaço".
PESSOIX
(Goulart Gomes)
um terço de mim delira
um terço de mim pondera
outro terço, ah!, quem dera!
É justamente esta “surpresa” do poetrix que torna a mais densa, mais vasta, mais profunda mensagem em um texto leve, breve, na exigüidade das suas três linhas. O poder de síntese do poetrix faz levitar as idéias, sem retirar-lhes a profundidade.
Já em sua palestra sobre o tema RAPIDEZ, Calvino afirma:
“Nos tempos cada vez mais congestionados que nos esperam, a necessidade de literatura deverá focalizar-se na máxima concentração da poesia e do pensamento... A rapidez de estilo e de pensamento quer dizer antes de mais nada agilidade, mobilidade, desenvoltura”
E noutro parágrafo conclui:
“O êxito do escritor, tanto em prosa quanto em verso, está na felicidade da expressão verbal, que em alguns casos pode realizar-se por meio de uma fulguração repentina, mas que em regra geral implica uma paciente procura do mot juste, da frase em que todos os elementos são insubstituíveis, do encontro de sons e conceitos que sejam os mais eficazes e densos de significado.”
Os tempos “congestionados” preconizados por Calvino chegaram. São milhares as informações que nos chegam diariamente, desde o banner automático que se abre na tela do computador até o panfleto distribuído nos semáforos. É fácil constatar que o tempo fica cada vez mais escasso, principalmente tempo para ler, sempre preterido. Agilidade, mobilidade e desenvoltura são, assim, características naturais do poetrix.
DEMASIADUMANO
(Murillo Falangola)
eu genomo
tu genomas
nós tememos
NOVA EDIÇÃO
(Andréa Abdala)
Conto da carochinha,
mulher de verdade
não goza de mentirinha.
A fulguração repentina, a frase perfeita é a busca incessante do poetrixta, levado a representar o universo na brevidade das três linhas. Certamente aí está o segredo do seu sucesso no mundo virtual, onde tudo se move à velocidade do pensamento... ou dos modens.
APAGÃO, GÊNERO FEMININO
(Andréa Abdala)
Na rua escura
enxergo-me
light.
POETRIX MARINHO
(Fred Matos)
o mar o olhar abarca
o olhar o barco arca
o barco marca o mar
A terceira palestra de Calvino versa sobre EXATIDÃO. Em um determinado ponto ele nos diz que requer:
“... uma linguagem que seja a mais precisa possível como léxico e em sua capacidade de traduzir as nuanças do pensamento e da imaginação... O poeta do vago só pode ser o poeta da precisão, que sabe colher a sensação mais sutil com olhos, ouvidos e mãos prontos e seguros”
ALCÓOLATRA
(Pedro Cardoso)
desaba
aos bafos
o bêbado
Quando o poetrixta dá um título – elemento fundamental - ao seu poetrix ele transforma o seu texto na sua tradução pessoal daquele conceito a partir do seu universo. A precisão com que ele tratará a sua abordagem fará toda a diferença, pois são o seu pensamento e a sua imaginação, únicos no mundo, que estarão ali representados. Tanto melhor o poetrix quanto com maior exatidão ele trate o seu tema:
BRAILE
(Gilson Luiz Siqueira)
cego de amor
leio-te
com a ponta dos dedos
FEROHORMÔNIO
(Sávio Drummond)
Pressinto-te no ar,
Farejo-te no vento.
Qual bicho ao relento.
Quando, na palestra seguinte, Calvino trata da VISIBILIDADE, ele nos traz uma série de correlações ente palavra e imagem. É como se além da palavra falada, escrita e cantada, ele quisesse nos falar da “palavra em movimento”:
“... a capacidade de pôr em foco visões de olhos fechados, de fazer brotar cores e formas de um alinhamento de caracteres alfabéticos negros sobre uma página branca, de pensar por imagens”
“O escritor – falo do escritor de ambições infinitas, como Balzac – realiza operações que envolvem o infinito de sua imaginação ou o infinito da contingência experimentável, ou de ambos, com o infinito das possibilidades lingüísticas da escrita... Seja como for, todas as “realidades” e as “fantasias” só podem tomar forma através da escrita”
É esta necessidade de traduzir, transcrever ou recriar o mundo através das palavras, tão típica do escritor, que ganha nova vida com o poetrix. O poetrix já nasceu imagético. No já citado livro que publiquei em 1999, há em anexo um disquete com apresentações animadas de alguns poetrix. Neste ano de 2001 nasceu o grafitrix, uma proposta do poetrixta Murillo Falangola (BA), que une o poetrix a imagens ou desenhos, permitindo uma maior diversidade na sua leitura.
Na última das palestras escritas, Calvino fala sobre MULTIPLICIDADE:
“Só se poetas e escritores se lançarem a empresas que ninguém mais ousaria imaginar é que a literatura continuará a ter uma função.”
E mais adiante:
“Entre os valores que gostaria fossem transferidos para o próximo milênio está principalmente este: o de uma literatura que tome para si o gosto da ordem intelectual e da exatidão”.
Em uma determinada data dois poetrixtas de Brasília, Tê Soares e Pedro Cardoso, tiveram a feliz idéia de juntar dois de seus poetrix formando um novo texto: estava criado o duplix. Esta idéia cresceu e surgiram o triplix e o multiplix, criações coletivas, permitindo uma série de possibilidades de (re)leituras do poetrix. Ousadia, coragem de navegar por novos mares. irrompendo fronteiras, derrubando barreiras, renovando a literatura.
JANTAR A DOIS // OLHOS NOS OLHOS
(Judith de Souza // Martinho Branco - Portugal)
O lume da vela//Na mesa da sala
o amor revela//o olhar embala
e vela//e fala
MARIPOSAS // BORBOLETAS
(Judith de Souza // Rodrigo M. de Avellar)
Em volta da lâmpada, // Aguardando a alvorada
a dança mortal e pagã // Falecendo a lagarta
ignora o amanhã. // Ressuscitará alada.
Para finalizar este trabalho, gostaria de transcrever uma outra citação de Calvino, que nos faz refletir sobre o poder que possuímos de modificar o mundo à nossa volta, de fazer com que concretizemos nossos sonhos, a partir da riqueza que todos nós possuímos em nosso universo de imagens e conhecimentos:
“Ao contrário, respondo, quem somos nós, quem é cada um de nós senão uma combinatória de experiências, de informações, de leituras, de imaginações? Cada vida é uma enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma amostragem de estilos, onde tudo pode ser continuamente remexido e reordenado de todas as maneiras possíveis”.
LA LUNA
(Everardo Torres - México)
Moría la luna
en el obscuro cielo
de unos ojos entrecerrados.
ÁGUA
(Goulart Gomes)
a água furou a pedra
moinhos de amsterdã
a manhã será mais bela...
Fonte: http://www.movimentopoetrix.com/
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