sábado, 29 de março de 2008

Trilussa (Coisas da Alta Sociedade)

Uma das fábulas mais traduzidas, de Trilussa, é a que se refere ao porco desejoso de abandonar a vida do chiqueiro e que tentou adaptar-se ao luxo nos salões da alta sociedade. A melhor dessas traduções é a da lavra de Paulo Duarte:

O PORCO

Um velho porco disse, um dia, à vaca:
– À minha vida suja vou dar fim.
Para isso, é só meter-me na casaca,
E a cartola, a luneta e o borzeguim

farão o resto. Vou para a cidade,
onde me insinuarei no alto escol,
em meio à nata e a flor da sociedade,
que isto aqui não vale um caracol.

Com tal coisa metida na cabeça,
se bem disse, melhor o porco fez.
Ao chá dançante foi, de uma condessa,
onde bebeu, dançou, falou francês.

Metendo-se no meio da alta roda,
e com ela gozando o vinho e o amor,
vários dias o porco andou na moda,
parecendo um autêntico senhor.

Mas…não se sabe que reviravolta
Houve, que regressou dias depois.
– Como? – pergunta a vaca – já de volta?
Outra vez entre porcos e entre bois?

Não se deu bem com a aristocracia?
O que vi, ninguém pode calcular,
respondeu, – pois vi tanta porcaria
que não pude por lá me acostumar.

====================================================
Trilussa (pseudônimo do fabulista romano Carlos Alberto Salustri) (Roma, 26 de outubro de 1871 — 21 de dezembro de 1950) foi muito conhecido e aplaudido em todo o mundo, principalmente no Brasil, na década de 30 do século passado. Sua ironia mordaz não poupava as vaidades e as pretensões humanas do seu tempo, evidentes e reconhecíveis sob a máscara de bichos humanos e selváticos. Advogados, magistrados, diplomatas, religiosos, políticos, governantes e governados – eram o alvo certeiro de suas sátiras bem imaginosas, escritas em dialeto romanesco, uma espécie de gíria da capital italiana.
=====================================================
Fonte:
SOUSA, Sávio Soares de. Novas fábulas de Trilussa. Seção Nozes & Vozes. in Revista Bali – ano XIX – nr 201 – novembro de 2007 – Itaocara, RJ – p.3 e 5

Nenhum comentário: