quarta-feira, 9 de abril de 2008

Danilo Corci (Como Descobrir um Conto)

Julio Cortazar

Como se dissecar um conto? Como saber que este conto realmente tem algum tipo de valor? Esta é a proposta colocada pelo escritor argentino Julio Cortázar (1914-1984) em seu texto "Alguns Aspectos do Conto", publicado no livro "Valise de Cronópio" da editora Perspectiva.

Em uma palestra para escritores cubanos da Revolução, Cortázar discorre sobre sua maneira de olhar para este estilo literário de grande importância na América de origem latina. Ao partir de sua experiência própria, o escritor se define como contista fantástico, não por simples retórica, mas por falta de definição melhor. Ou seja, seus escritos partem de uma contraposição ao que ele chama de realismo falso que usa e abusa da premissa que todas as coisas podem ser descritas e explicadas pelo otimismo filosófico e científico do Século XVIII.

Em seu texto, Julio Cortázar defende a íntima ligação entre o bom conto e a poesia, já que ambas estão voltadas para si mesma, se definem em si próprias. Vai além. Afirma que o estilo é uma espécie de síntese viva que pode ser criada mesmo que não se saiba suas regras básicas. E quais seriam estas regras? Segundo o argentino, um bom conto depende necessariamente de sua universalidade. Cita os contos regionais gaúchos argentinos, onde a representação pura e simples do modo de viver do habitante da região não produz um resultado final de impacto, pois a concentração interna do assunto baseada em apenas um foco acaba por romper a linearidade do objetivo final.

Ou seja, a função de um conto é quebrar seus próprios limites para ir muito além da pequena história que narra. E neste quesito, a escolha do tema se torna imprescindível como ato de criação. Cortázar defende que o tema deve ser uma condição primordial para o contista esmiuçar sua história de maneira aglutinante e mais vasta que um mero argumento. Nisto resulta uma total dedicação e motivação com o assunto a ser retratado, caso contrário, o conto já nasce completamente comprometido. Como resultado disso, o escritor encontra sua brevidade e o seu vigor na composição final.

Assim sendo, se forma uma espécie de ofício de escritor, que deve aprender a manipular a intensidade da ação e a tensão interna da narrativa. Para Cortázar, sem isto o estilo narrativo do conto pode ser seriamente comprometido e ficar apenas como uma imagem de uma literatura mal produzida. Se em alguns momentos o escritor pende para algo próximo do misticismo do ato de escrever, isto se deve mais por sua retórica do que necessariamente uma condição.

Sua eloqüência cabal remete a grandes nomes dos contos, como Edgar Allan Poe e Tchekhov, que trabalham de maneira universal apesar de centrarem foco em situações localizadas e definidas geograficamente. Em resumo, "Alguns Aspectos do Conto" faz uma séria proposta de validar e avaliar um texto produzido neste estilo, como um pequeno guia que norteia as referências diretas à teoria literária.

Fonte:
24/06/2003
http://www.speculum.art.br/

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