Pintura de Anita Malfatti |
André é de Caraguatatuba – SP
(Cronica Vencedora do VI Concurso Literário “Cidade de Maringá” 2013)
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Como muitos descendentes de japoneses de minha geração, refiz o caminho inverso àquele trilhado pela geração anterior. Se meus pais haviam emigrado do Japão ao Brasil, para aqui trabalhar, eu buscava o Sol Nascente para iluminar o meu labor. Só que raramente via o sol nascer ou se pôr. Saía para o trabalho antes que o sol semeasse a luz nas planícies e chegava em casa muito tempo após ele ter sido colhido pelas montanhas.
Nas poucas folgas que tinha, gostava de pedalar por entre as plantações, sentindo o sol na pele. Morava em uma pequena localidade, um pouco afastada da fábrica em que trabalhava e, principalmente, do frenético pulsar dos apressados trabalhadores das grandes cidades. Porém, mesmo naquele ambiente bucólico, o labor se fazia presente.
Não pude deixar de reparar em algumas velhinhas trabalhando na lavoura. Suas costas arqueadas mostravam o peso do trabalho que carregavam por toda a vida. A primeira vez que vi aquilo, senti uma ponta de tristeza. Pobres senhoras, tendo que trabalhar em idade tão avançada...
Vi as velhinhas preparando e semeando a terra. Vi a paisagem se transformar, como se o verde brotasse das mãos daquelas senhoras. Vi a plantação crescendo, ficando cada vez mais bonita. Mas nada aliviava a visão daquelas corcundas tão curvadas. Sentia pena daquelas senhoras, ao mesmo tempo em que me questionava se teria que trabalhar pelo resto da vida, até que a idade me curvasse também.
Após um longo tempo pedalando por entre as plantações, chegou o dia da colheita... Por todos os cantos, as velhinhas se curvavam ainda mais para buscar na terra o fruto de seus labores. Quando elas se levantaram, mesmo com as costas ainda encurvadas, é que eu finalmente enxerguei a beleza das curvas.
Não eram mais as curvas das costas que eu via, mas as curvas em suas faces. A curva do sorriso do trabalho bem feito, o sorriso de satisfação de poder colher os frutos do labor. Então, eu sorri também. Senti alegria por aquelas idosas trabalhadoras. E desejei ter a saúde necessária, para que mesmo que o tempo me curve as costas, eu ainda possa trabalhar também. E, claro, que esse labor me curve o rosto, em um sorriso como aqueles que colhi, na terra de meus trabalhadores avós.
Fonte:
Livro do VI Concurso Literário “Cidade de Maringá” 2013
(Cronica Vencedora do VI Concurso Literário “Cidade de Maringá” 2013)
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Como muitos descendentes de japoneses de minha geração, refiz o caminho inverso àquele trilhado pela geração anterior. Se meus pais haviam emigrado do Japão ao Brasil, para aqui trabalhar, eu buscava o Sol Nascente para iluminar o meu labor. Só que raramente via o sol nascer ou se pôr. Saía para o trabalho antes que o sol semeasse a luz nas planícies e chegava em casa muito tempo após ele ter sido colhido pelas montanhas.
Nas poucas folgas que tinha, gostava de pedalar por entre as plantações, sentindo o sol na pele. Morava em uma pequena localidade, um pouco afastada da fábrica em que trabalhava e, principalmente, do frenético pulsar dos apressados trabalhadores das grandes cidades. Porém, mesmo naquele ambiente bucólico, o labor se fazia presente.
Não pude deixar de reparar em algumas velhinhas trabalhando na lavoura. Suas costas arqueadas mostravam o peso do trabalho que carregavam por toda a vida. A primeira vez que vi aquilo, senti uma ponta de tristeza. Pobres senhoras, tendo que trabalhar em idade tão avançada...
Vi as velhinhas preparando e semeando a terra. Vi a paisagem se transformar, como se o verde brotasse das mãos daquelas senhoras. Vi a plantação crescendo, ficando cada vez mais bonita. Mas nada aliviava a visão daquelas corcundas tão curvadas. Sentia pena daquelas senhoras, ao mesmo tempo em que me questionava se teria que trabalhar pelo resto da vida, até que a idade me curvasse também.
Após um longo tempo pedalando por entre as plantações, chegou o dia da colheita... Por todos os cantos, as velhinhas se curvavam ainda mais para buscar na terra o fruto de seus labores. Quando elas se levantaram, mesmo com as costas ainda encurvadas, é que eu finalmente enxerguei a beleza das curvas.
Não eram mais as curvas das costas que eu via, mas as curvas em suas faces. A curva do sorriso do trabalho bem feito, o sorriso de satisfação de poder colher os frutos do labor. Então, eu sorri também. Senti alegria por aquelas idosas trabalhadoras. E desejei ter a saúde necessária, para que mesmo que o tempo me curve as costas, eu ainda possa trabalhar também. E, claro, que esse labor me curve o rosto, em um sorriso como aqueles que colhi, na terra de meus trabalhadores avós.
Fonte:
Livro do VI Concurso Literário “Cidade de Maringá” 2013
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