Joana é de Nova Friburgo/RJ
(3o. Lugar no VI Concurso Literário “Cidade de Maringá” 2013, modalidade Cronica, Troféu Lucilla Maria Simas de Assis)============
“Felicidade se acha é em horinhas de descuido”
Atarefado leitor, que em sua horinha de descuido lê o meu texto: o labor é semelhante ao açúcar que tem de ser usado na medida; trabalhar demais, por uma ansiedade descabida, torna a vida enjoada, pois sufoca o gosto da alegria; entretanto, trabalhar de menos deixa a vida sem energia, o que pode provocar desgosto.
Devo dizer-lhe que este pequeno, mas importante ensinamento entrou em mim através de uma conversa que ouvi, sem ser notada, entre dois refinados colaboradores que moram em nossa casa. Vou contar-lhe o diálogo na íntegra, mas não tome isto como fofoca, é apenas a ilustração da afirmativa inicial.
- Hoje você parece mais frio e sem vontade para o trabalho, meu amigo pano!
- Desculpe-me, vassoura, você sabe que não estou no comando, sou jogado na liquidez “baldeante” e forçado ao labor por mãos alheias; gostaria eu, neste momento, de estar ao relento, desdobrado de sentidos, com o sol a percorrer em raios, a trama do meu tecido e, então, adormecido, esticar-me em vida.
- Entendo bem você e digo que gostaria, meu amigo, de espreguiçar-me no canto de um armário, ao sabor do descuido da patroa, plantar-me em bananeira tal qual uma criança em tempos de brincadeira. Seria isso felicidade, meu amigo pano?
- Sim. E, ainda, enxugo o dito de João Guimarães Rosa: “A felicidade se acha é em horinhas de descuido”. E é verdade, pois nelas sinto melhor o meu trançado e, na falta delas, o cansaço encharcado da vida.
- Com excessos de cuidados, continuou a vassoura, a vida nos impõe esta rotina de quase inutilidade, nos grãos de superfície, em farelos de vida, nas sobras de nada acumuladas no chão das coisas. Entretanto, meu amigo pano, eu poderia aos poucos juntar os grãos, recolher o pó sem desgastar-me demais.
- Concordo, pois, embora retorcido, eu retiro gotas, elimino os líquidos que impedem o circular da vida e, então, penso ser o labor, neste momento, açucarado.
Nesta altura da conversa, a minha esposa chegou, pegou a vassoura envolveu-a no pano, expulsou-me do meu canto, afastou de mim a horinha de descuido e interrompeu, num afã, a maravilhosa conversa daqueles que sabem adocicar o labor com colherinhas de descanso.
Fonte:
Livro dos Concursos
(3o. Lugar no VI Concurso Literário “Cidade de Maringá” 2013, modalidade Cronica, Troféu Lucilla Maria Simas de Assis)============
“Felicidade se acha é em horinhas de descuido”
Atarefado leitor, que em sua horinha de descuido lê o meu texto: o labor é semelhante ao açúcar que tem de ser usado na medida; trabalhar demais, por uma ansiedade descabida, torna a vida enjoada, pois sufoca o gosto da alegria; entretanto, trabalhar de menos deixa a vida sem energia, o que pode provocar desgosto.
Devo dizer-lhe que este pequeno, mas importante ensinamento entrou em mim através de uma conversa que ouvi, sem ser notada, entre dois refinados colaboradores que moram em nossa casa. Vou contar-lhe o diálogo na íntegra, mas não tome isto como fofoca, é apenas a ilustração da afirmativa inicial.
- Hoje você parece mais frio e sem vontade para o trabalho, meu amigo pano!
- Desculpe-me, vassoura, você sabe que não estou no comando, sou jogado na liquidez “baldeante” e forçado ao labor por mãos alheias; gostaria eu, neste momento, de estar ao relento, desdobrado de sentidos, com o sol a percorrer em raios, a trama do meu tecido e, então, adormecido, esticar-me em vida.
- Entendo bem você e digo que gostaria, meu amigo, de espreguiçar-me no canto de um armário, ao sabor do descuido da patroa, plantar-me em bananeira tal qual uma criança em tempos de brincadeira. Seria isso felicidade, meu amigo pano?
- Sim. E, ainda, enxugo o dito de João Guimarães Rosa: “A felicidade se acha é em horinhas de descuido”. E é verdade, pois nelas sinto melhor o meu trançado e, na falta delas, o cansaço encharcado da vida.
- Com excessos de cuidados, continuou a vassoura, a vida nos impõe esta rotina de quase inutilidade, nos grãos de superfície, em farelos de vida, nas sobras de nada acumuladas no chão das coisas. Entretanto, meu amigo pano, eu poderia aos poucos juntar os grãos, recolher o pó sem desgastar-me demais.
- Concordo, pois, embora retorcido, eu retiro gotas, elimino os líquidos que impedem o circular da vida e, então, penso ser o labor, neste momento, açucarado.
Nesta altura da conversa, a minha esposa chegou, pegou a vassoura envolveu-a no pano, expulsou-me do meu canto, afastou de mim a horinha de descuido e interrompeu, num afã, a maravilhosa conversa daqueles que sabem adocicar o labor com colherinhas de descanso.
Fonte:
Livro dos Concursos
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