sexta-feira, 12 de julho de 2013

Izo Goldman (Trovas de Quem Era Apaixonado Pela Trova)

A casa toda quebrada,
e o casal diz numa "boa":
- "Mas que furacão, que nada,
foi só uma briguinha à - toa!...

A Coroa... A Cruz... Os Cravos...
Por que deixaste, Senhor,
pagarmos com tais agravos
tanta fé e tanto AMOR?!...

A cozinha da maloca
é tão baixinha e apertada,
que, na panela, a pipoca,
não pula... fica sentada!!!

A esperança é uma resposta
com malícia de mulher:
-- Sabendo o que a gente gosta,
promete o que a gente quer...

A galinha está... chocada...
e o galo velho, uma bala,
porque existe na ninhada
um pinto verde... que fala!!!

A grandeza imaginária
que todo vaidoso tem,
é uma estrela solitária
brilhando sobre... ninguém...

A Independência eu relembro,
meu Brasil, com muito orgulho:
sonho em Sete de Setembro,
realidade em Dois de Julho!

A mais grave das ofensas
quase sempre tem raízes
quando dizes o que pensas
ou não pensas no que dizes.

A mini saia amarela
da professora, eu bendigo...
pois, em frente à mesa dela
é que eu fiquei de castigo!...

A mulher do carvoeiro
diz que o marido é uma... "graça".
pois faz fogo o dia inteiro
mas, de noite, é só fumaça...

A noiva esconde a... "cintura"...
com as dobras do vestido;
e, na igreja, alguém murmura:
-- Casório... pré concebido…

A noiva, por ironia,
na mala só vai levar
a camisola-do-dia,
que à noite... nem vai usar...

Ao galo meio inibido,
diz a pata sem recato:
-- Não tenha medo, querido,
meu marido é mesmo um... pato!

Ao ouvido do negrinho,
diz a negrinha "espoleta":
-- Se formos para o escurinho,
a coisa vai ficar... preta...

Ao ser preso, o vigarista,
explica, muito matreiro:
- "Sou apenas cientista,
faço "clones" de... dinheiro!

Ao ver um vulto suspeito,
o ciumento não poupa:
dá dois tiros bem no peito
do espelho do guarda-roupa...

A queimada é um jogo insano...
A floresta pega fogo...
E, no fim, o ser humano
é o perdedor deste jogo!

A saudade me consome
e as angústias são pesadas,
quando eu murmuro teu nome
e o vento... dá gargalhadas...

A saudade não me poupa,
desenhando, fio a fio,
o perfil da tua roupa
no guarda-roupa vazio...

A sorte, esquiva e malvada,
não dá “chance”, só trabalho...
Eu a sigo pela estrada,
e ela foge pelo atalho!...

A vida pôs, por maldade,
tanta distância entre nós,
que, quando eu canto, é a saudade
que faz a segunda voz…

A violência eu detesto,
porque é pelo amor que eu luto,
sem amor o mundo é um “resto”
eternamente de luto!

Bate o sino em tom profundo,
lembrando a mulher que um dia
entregou seu Filho ao mundo,
sabendo que O perderia!

Cara cheia...Perna bamba,
ele mesmo se conforta,
olha a rua e diz: - "Caramba!"
Nunca vi rua mais torta!...

“Cara-metade”, em verdade,
é uma expressão... trapaceira...
- a gente quer a metade
mas tem que “engolir”... inteira…

"Casamento... - alguém já disse -
é chegar à encruzilhada
onde acaba a criancice
e começa...a criançada..."

Castro Alves, teu valor
está na contradição
do eterno escravo do amor
lutar contra a escravidão.

"Causa mortis" de um otário:
alergia ou resfriado.
Espirrou dentro do armário,
e o marido estava armado!

Chegando além do horizonte,
a vida é estrada comprida;
no fim da vida, uma ponte:
no fim da ponte, outra vida…

Chuva e sol, tela encantada,
onde o maior dos pintores
pinta a curva caprichada
de um arco de sete cores!

Coitado do Zé Maria:
a mulher quase o esfola,
pois voltou da... pescaria...
co'um biquíni na sacola...

Com seu valor aumentado,
saudade é a restituição
do que já nos foi cobrado
pelos sonhos e a ilusão...

Contradição bem marcada,
que teima em nos separar:
- Meu amor toca a alvorada,
e o teu não quer acordar..

Coração não tem idade
quando vive de lembrança;
se a lembrança tem saudade,
faz, da saudade, "esperança''!

Depois que tu foste embora,
no meu peito, o desencanto
não desabafa nem chora,
não tem voz e não tem pranto...

Dois sentimentos moldados
no mesmo barro sem cor:
- é o ódio, pelos pecados,
pelas virtudes, o amor!…

É "Carcará" o apelido
do Zé, porque... come... e cisca...
Mas a mulher diz: "Duvido!
Aqui em casa nem... belisca..."

Ele trouxe ao seu rebanho
muito amor e muita luz.
Barqueiro de um barco estranho,
talhado em forma de cruz!

É no rosto da criança
que o sorriso é mais bonito:
- tem a força da Esperança
e o tamanho do Infinito!

É nos momentos tristonhos
que eu peço à minha lembrança
que traga de volta os sonhos,
no aconchego da esperança…

Enquanto a guerra inundar
num dilúvio, a Terra inteira,
onde a pomba irá buscar
outro ramo de oliveira?!…

Enquanto eu tirava espinhos
das rosas que te ofertava,
deixavas nos meus caminhos
os espinhos que eu tirava...

"Esta peixada está quente!"
reclamava o Zé Maria;
e o dono do bar: "Ó xente,
'se qué',  tem pexera fria!”

Estás só...Mas, mesmo assim,
como se fora um castigo,
sinto um ciúme sem fim
do "ninguém" que está contigo!

És um arbusto florido...
Eu sou o vento que passa,
e, num delírio atrevido,
te despe e depois... te abraça..

Esta vida é uma contenda,
é um eterno desafio.
Vem o sonho – faz a renda;
vem a vida – puxa o fio.

Eu, na vida, sou barqueiro
dos meus sonhos sem destino:
sonho bom é o passageiro,
sonho mau é o clandestino.

Eu sou príncipe tristonho
porque, na história real,
não há, na escada do sonho,
sapatinhos de cristal!...

Ficou rico o Zé Maria
na seca do Juazeiro,
vendendo "fotografia
de chuva"...por "dois cruzeiro"...

Foi no Grito do Ipiranga
que o povo outrora servil
sacudiu do jugo a canga
e fez gigante o Brasil!

Fui pirata, aventureiro,
no Mar da Felicidade;
hoje, a ferros, sou remeiro
na galera da saudade.

Jogam “xadrez” as nações,
e, no “jogo” em que se empenham,
sacrificam os “peões”,
para que os reis se mantenham.

Lá na casa da Maria
é muito estranha a porteira ...
Não faz barulho de dia,
bate e range a noite inteira …

Marcando suas fronteiras
as bandeiras eram trapos,
e, os trapos eram bandeiras,
na Querência dos Farrapos!

Meu conflito e meu fracasso
é que as trovas que componho
têm sempre os versos que eu faço,
e nunca os versos que eu sonho…

Na Barra o que mais encanta
é o contraste bem marcado: -
o Rio, passando, canta,
e o sertão canta parado...

Na briga que o meu cabelo,
e a careca estão travando
lamento ter que dizê-lo,
a careca está ganhando...

Na cidadania existem
os deveres e os direitos,
e os "direitos" só persistem
se os "deveres" forem feitos!

Na imensa feira da vida,
as barracas da ironia:
a das culpas - concorrida!...
a dos remorsos - vazia...

Na jangada a vela panda
parece um ouvido atento,
à espera de prece branda
que há no murmúrio do vento.

Na velhice, as incertezas,
para ocupar os espaços,
vão empilhando tristezas
e acumulando cansaços..

Nem o Sol pode entender
a estrela que ele namora:
- É “Vésper” no anoitecer,
mas é “D’Alva” à luz da aurora…

Nesta "corrida" da vida,
quando o Destino nos solta,
só sabemos na "saída",
que a "corrida"... não tem volta!

Neste sesquicentenário,
meu Brasil, sinto presente
teu passado legendário
e o teu futuro ascendente!

No seu biquini apertado,
Maria me deixa mudo,
pois nunca vi "tanto nada"
cobrindo, tão pouco ..."tudo"...

No viver o que mais cansa
são estas andanças vãs,
correndo atrás da esperança
e perseguindo amanhãs.

O pai da moça, que é mau,
Chega em casa e acaba o "baile"...
É que o Zé, "cara de pau",
tava namorando em..."braile"!!!

O teu gesto de ternura,
na minha vida sofrida,
foi um copo de água pura
matando a sede da vida! ...

- " O trabalho é que enobrece!"
Dizem todos ao Raul.
E ele responde: - "Acontece,
que eu detesto sangue azul!"

Partir é quase morrer...
É deixar na despedida
um pouco do próprio ser
e muito da própria vida…

Partiste, e eu fiz o que pude,
num brinde à felicidade,
mas, quando eu disse -"saúde!"
ela respondeu...-"Saudade..."

Peixinho mais mascarado
do que aquele eu nunca vi:
só belisca anzol marcado,
"minhoca com... pedigre"…

Perdoa, amor, o meu jeito
de te olhar quando te vejo,
teu olhar me diz... “Respeito!”,
meu olhar te diz... “Desejo!”...

Pergunta o padre ao noivinho:
-"É de espontânea vontade?"
e ele respondeu baixinho:
-"Não senhor...necessidade!...”

Poeta do cativeiro,
nos teus versos triunfantes,
eu vejo um "Navio Negreiro",
sobre "Espumas Flutuantes"!

Por artes do coração
Castro Alves foi vencido;
lutou contra a escravidão,
sendo escravo de Cupido!

Pulando do nono andar,
o otimista diz a alguém
que, no quarto, o vê passar:
- Até agora... tudo bem!!!

Quando o silêncio é uma prece,
sob a lua, em noite calma,
no meu bairro até parece
que as velhas ruas, têm alma...

Quando os "Dezoito do Forte"
marcharam, cabeça erguida,
não foi por desprezo à morte
e sim por respeito à vida!

Quando pergunta o burrinho,
diz a mula envergonhada:
- "Tu nasceste, meu filhinho,
por causa de uma...burrada!..."

Queimadas... Devastação...
Natureza poluída...
e os homens, por ambição,
destroem a própria vida!

Quem morreu naquela Cruz,
foi o Corpo e nada mais:
ninguém apaga uma Luz
crucificando ideais!

Quem pela força conquista,
não conquista de verdade;
não há força que resista
à força da liberdade!!!

Sai do museu, braço dado
com sua sogra, o Sinfrônio:
e o guarda grita, alarmado:
- "Tão roubando o patrimônio!"

Se a gente fosse dar crédito
ao que diz a maioria,
só de "autor de livro inédito"
tinha uns mil na Academia!...

Se a saudade embala a rede,
meu amor, de olhar frustrado,
vê, no branco da parede,
teu semblante desenhado…

Se a tua ausência magoa,
magoa mais a saudade...
Muitas vezes a garoa
molha mais que a tempestade…

Se disseres que, hoje em dia,
vivo no "mundo da lua",
depois de um beijo, eu diria:
-"Vivo sim! E a culpa é tua!...”

Se eu me rendo ao teu agrado,
meu coração, quase louco,
bate no peito e, zangado,
desabafa: - É muito pouco!…

Sem esquinas ... sem saídas ...
muitas vidas são assim ...
Ruas retas e compridas,
e um grande portão no fim …

Sempre que aquela viúva
atravessa o meu caminho
lembro que ela é uma uva
e eu sou tarado por vinho.

Se tu queres divulgar
uma notícia qualquer,
basta o fato confiar,
em segredo... a uma mulher…

Tem mais nobreza e valor
o triunfo conseguido,
quando, humilde, o vencedor
aperta a mão do vencido!

Têm uma força tamanha
as nossas trovas singelas,
que acendem, "Flor da Montanha",
mais cento e cinquenta velas!

Teu "Adeus" eu não censuro,
censuro é um erro fatal:
meu amor não fez "Seguro"
que pague a "perda total"…

Todo "barbeiro" sustenta
que a "batida" foi assim:
-"Veio um poste a mais de oitenta,
na contra-mão, contra mim!..."

Última fonte de luz
entre as trevas da saudade,
a esperança ainda produz
um pouco de claridade...

Uma devota a rezar
é o que a rendeira parece,
faz da almofada um altar,
de cada renda, uma prece!

Velho Chico, eu te saúdo,
pois vencendo o rude agreste,
fazes, acima de tudo,
a redenção do Nordeste!

-"Vem aí um furacão!!!",
avisa a rádio, - "Cuidado!!!"
e o genro por ...precaução...
põe a sogra...no telhado!!!

Vencendo medos e mágoas
foi que o sublime barqueiro
que andava por sobre as águas
trouxe luz ao mundo inteiro.

Vendo alguém varrer o chão,
ele deita de comprido,
e, dá logo a explicação:
- "Quero ser...doido varrido..."

Virtude é fazer o bem
pelo prazer de fazê-lo,
mesmo sendo para alguém
que não fez por merecê-lo.

Zé Pescador não sossega,
mente tanto que dá gosto,
só que os peixes que ele... "pega"
têm carimbo do entreposto.


Fontes Principais:
http://www.ubtnacional.com.br/
http://singrandohorizontes.blogspot.com.br/
http://ubtrova.com.br/
Boletins da UBT – Nacional
Revistas Trovamar (Portal CEN)
Antologia Literária 2, da Academia Bauruense de Letras. Bauru: EDUSC, 2003.
Boletins de vários Concursos.
Izo Goldman. Trovas de quem ama a trova.

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