sábado, 27 de julho de 2013

Carlos Lúcio Gontijo (Literariamente, a vida!)

Libreria Fogolla Pisa
Ando meio cansado, desgastado pelo tempo que a tudo leva e consome. Incomoda-me a ignorância, sempre atrevida e agressora. Para descansar, desejo uma esteira de vime, feita com fibras de versos do poeta Bueno de Rivera, mineiro de Santo Antônio do Monte.

Neste instante, ser-me-ia exponencial contar com um horizonte banhado na luz da sensualidade dos temas de Vinícius de Moraes. De bom alvitre, consolar-me-ia a aplicação de providencial argamassa nas paredes, pintadas com as cores da rica prosa brejeira de Guimarães Rosa.

As janelas da minha casa podem ser em madeira de lei, ao mesmo tempo rija e suave, como texto de Machado de Assis. A porta descorada deve ser repintada com leves tons de voo, ao sabor de palavras de Clarice Lispector, magicamente misturadas à metafórica tinta pé no chão de Cecília Meireles.

Vir-me-ia a calhar um teto na cor alinhavada no verdor de montanha, ao feitio de versos tecidos por Carlos Drummond de Andrade, para que eu possa rolar morro abaixo as pedras que atravancarem o caminho de liberdade dos meus sonhos, nos quais me cabe mergulhar de corpo inteiro e pessoalmente, sem os heterônimos de Fernando Pessoa.

Para dar-me segurança, ergam muros em formato de ponte – segundo a natureza humana coletada pelo olhar escafandrista de Sigmund Freud, sob cuja lente reveladora nos é permitido assistir ao eclodir tanto de homens de abraço e afago quanto de seres humanos de desabraço e punhal nas mãos –, utilizando a engenharia filosófica de Dostoievsky e Tolstói, com majestosa vista voltada para o som do mestre Cartola, ensinando-nos os moinhos deste mundo, que é povoado de jardins repletos de Vênus de Milo, onde em tudo falta um pedaço, em meio a rostos perdidos nos espinhos de gigantescos cactos, tornando realidade a arte de Tarsila do Amaral, estendida no varal de nossos corpos, à espera de um verso concreto e lapidar de Ferreira Gullar, a descrever o apagar da chama da vida de cada um de nós.

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