terça-feira, 14 de junho de 2016

Olivaldo Júnior (Devaneios Poéticos)

Fonte: Espaço Das

POEMA LIVRE 

Mastigo um pedaço de lua 
e como um segredo de Deus, 
que é dia de festa: 
no céu, 
no mar, 
no lar. 

Rumino um bocado de sol 
e tomo um refresco de azul, 
que é dia o que resta: 
do bem, 
do mal, 
do caos. 

No céu que a gente faz dentro, 
concentro todo o mar 
que não vi, 
o lar 
que eu vivi, 
o céu 
que eu cri. 

Do bem que a gente concentra, 
contemplo todo o mal 
que não cri, 
o caos 
que eu vivi, 
o bem 
que eu vi. 

Lua, Deus, sol e azul, livres, são 
de mim o mais humano 
que experimento, 
o mais de mim que eu reinvento, 
e os tento, 
não como sendo um herege, 
mas como sendo um discípulo, 
alguém.

CORAÇÃO PEQUENINO

No pequenino coração que Deus me dera, couberam, cabem e caberão todas as coisas. Todas as coisas?! Não!... Todas as formas, cores, cheiros, sabores e ruídos de todas as coisas... 

De barbante e papel,
em perfeito destino,
levo em mim o troféu:
coração pequenino.

Não me deixam o céu,
as nuances do sino,
mas escuto o escarcéu:
coração pequenino.

Fosse grande o bastante
para honrar seu intento,
eu, menino e gigante,

dava a si este alento,
de bater com quem cante
seu pequeno lamento.

TODO ADEUS

Num adeus que nunca digo,
digo mais do que já disse,
calo mais do que eu queria,
só me resta, então, poesia.

Num adeus que nunca sigo,
sigo mais do que seguiste,
paro mais do que a poesia,
que me move o dia a dia.

Sob os pés, já sinto os egos
que me espetam; sem alarde,
piso em ovos: tantos eus!...

Lenços brancos, elos cegos,
e uma cor me diz que é tarde,
mudo e cinza todo adeus.

UM PEQUENO AMOR

Num canteiro assim,
entre a pedra e a flor,
foi que eu fiz pra mim
um pequeno amor.

Num cantinho assim,
entre a terra e o andor,
foi que eu quis sem fim
um pequeno amor.

Sob as asas mágicas
de um perfeito anjinho,
enxuguei as lágrimas

de uma flor sem ninho,
pequeninas páginas,
grande amor mindinho.

DE CINZAS 

de sonhos, a quinta 
de chopes, a sexta 
de churros, o sábado 
de reza, o domingo 
de trampo, a segunda 
de sambas, a terça 
de cinzas, a quarta

UM AMIGO VAI-SE EMBORA...

Numa noite sem estrelas,
um amigo vai-se embora,
e eu me privo de retê-las
neste colo, feito a aurora.

Numa noite sem estradas,
um amigo vai-se embora,
e eu me privo das amadas
que me olham toda hora.

Numa noite sem ninguém,
um amigo vai-se embora,
e eu embarco nesse trem

que só parte e até decora
meu trajeto para o além:
longe, muito longe, agora...

O PEQUENO PEREGRINO 

O pequeno peregrino 
pede pão em cada esquina; 
molecote, tão menino, 
e já sofre, e cumpre a sina! 

O pequeno peregrino 
nem seu nome não assina; 
o corpinho, pequenino, 
n'alma, grande, peregrina. 

Já faz tempo, velho amigo, 
que esse pobre perambula, 
mas não pede mais abrigo... 

Quando pede, se encabula, 
volta os olhos, vem comigo; 
sem remédio, a vida é bula.

UMA CAIXA DE SAPATO

Entre lobos sem estepe,
surge a caixa de sapato;
numa esquina, puro rap,
pressa, caixa, desacato.

Um pedestre, um "serelepe",
cheira a caixa de sapato;
não importa que se estrepe,
deixa a caixa: triste fato.

Entre lobos de gravata,
chapeuzinhos de Ray-Ban,
"patricinhas" de regata,

dorme a caixa, serenata;
nela, um baby sem mamã
morde a caixa, se desata.

Fonte:
Poemas enviados pelo poeta

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