segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Hélio Pedro Souza (Ramalhete de Trovas)


Água que chora na fonte,
sentindo ausência de afago,
se encoraja, desce o monte,
busca o carinho do lago.

Ainda lembro a estação,
lindas flores... Primavera...
O trem levando a paixão
e alguém sofrendo na espera.

Alvorada no horizonte,
surge Sol abrasador,
eterna e perene fonte
de vida, luz e calor.

A mãe terra está ferida,
são tantas chagas expostas,
a natureza agredida
se vinga dando respostas.

A nossa cara-metade
em adeus, na despedida,
deixa um rastro de saudade
que dura por toda vida.

Ao invés das discussões
por queixas de nossas lavras,
silêncio... Meditações...
Valem mais que mil palavras.

Aos pedacinhos de afeto
juntei plumas de carinho;
daí nascendo o projeto
eu e você, um só ninho.

A propaganda é no grito:
“Meu produto é de primeira!”
Galinha, porco, cabrito...
de tudo se vê na feira.

Das lembranças do passado,
em velho baú achei
o retrato desbotado
daquela que sempre amei.

Defronte o silente monte,
só se escuta a melodia
do rumorejar da fonte
na mais completa harmonia.

Em tempos tão conturbados
onde o crime faz costume,
valores mais ajustados
somente a família assume.

É perfeita a melodia
que a nada mais se assemelha,
ouvirmos em noite fria
o som da chuva na telha.

É seca e o sol no horizonte
torna a terra ressequida,
mas a pequenina fonte
insiste em manter a vida.

Essas mãos que me afagaram,
dando carinho e guarida,
são as mesmas que acenaram
no instante final da vida.

Família desajustada
aponta o endereço certo:
onde droga faz morada
e o crime ronda por perto.

Há velho que a mocidade
ainda nele perdura,
e jovem que em tenra idade
é velho em sua postura.

Lembro a infância, nos sertões...
Um chão forrado de esteira,
onde ouvi recitações
de cordéis à noite inteira…

Meu pensamento vagueia
e esbarra em enigma inverso:
ser a terra um grão de areia
ante o esplendor do universo.

Na família, os dissabores,
que causam tantos queixumes,
vêm da inversão de valores
e perdas dos bons costumes.

No picadeiro da vida
às vezes somos palhaços:
com atitude fingida
maquiamos os fracassos.

Nos olhos da mãe o brilho,
no rosto um sorriso farto;
como prêmio, vê seu filho,
que chora depois do parto.

Numa singela palhoça,
uma família roceira
senta, reza e até almoça
sobre as palhas de uma esteira.

O pôr-do-sol no horizonte,
com seus raios, me seduz
e eu vejo por trás do monte
uma cascata de luz.

Quando em suas águas me vi,
dei-me conta, estava vivo;
em seu lago descobri
a paz como lenitivo.

Quem no início de carreira
quer resposta imediata;
lembre-se que a corredeira
nem sempre chega à cascata.

Sofre do velho à criança,
morre o gado e a plantação;
só não fenece a esperança,
quando há seca no sertão.

Sua estada foi tão breve,
vendo-a, meu peito doía;
não matando, nem de leve,
a saudade que eu sentia.

Todo amor que a ti proponho,
com ternura e com carinho,
faz parte de um grande sonho,
construção de nosso ninho.

Uma brisa que alivia
suavemente o calor,
é um sopro que Deus envia,
num simples gesto de amor.

Um alçapão que alguém deixa,
ao prender um passarinho,
sequer o dono ouve a queixa
dos órfãos que estão no ninho.

Um triste adeus e a partida...
Teu lenço acenando ao cais
são sombras da despedida
que hoje alimentam meus ais.

Vou vencer a timidez,
amar-te eu irei sem medo;
te conquisto e, desta vez,
desvendarei teu segredo.

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