sábado, 24 de agosto de 2024

Recordando Velhas Canções (Planeta Água)


(1981) 

Compositor: Guilherme Arantes

Água que nasce na fonte serena do mundo
E que abre um profundo grotão
Água que faz inocente riacho e deságua
Na corrente do ribeirão

Águas escuras dos rios
Que levam a fertilidade ao sertão
Águas que banham aldeias
E matam a sede da população

Águas que caem das pedras
No véu das cascatas, ronco de trovão
E depois dormem tranquilas
No leito dos lagos (no leito dos lagos)
No leito dos lagos (uh)

Água dos igarapés
Onde Iara, mãe d'água, é misteriosa canção
Água que o Sol evapora
Pro céu vai embora virar nuvens de algodão

Gotas de água da chuva
Alegre arco-íris sobre a plantação
Gotas de água da chuva
Tão tristes, são lágrimas na inundação

Águas que movem moinhos
São as mesmas águas que encharcam o chão
E sempre voltam humildes
Pro fundo da terra
Pro fundo da terra

Terra
Planeta água
Terra
Planeta água
Terra
Planeta água

Água que nasce na fonte serena do mundo
E que abre um profundo grotão
Água que faz inocente riacho e deságua
Na corrente do ribeirão

Águas escuras dos rios
Que levam a fertilidade ao sertão
Águas que banham aldeias
E matam a sede da população

Águas que movem moinhos
São as mesmas águas que encharcam o chão
E sempre voltam humildes
Pro fundo da terra
Pro fundo da terra

Terra
Planeta água
Terra
Planeta água
Terra
Planeta água

Terra
Planeta água
Terra
Planeta água
Terra
Planeta água
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = = = = = = = = = = 

A Ode à Vida no 'Planeta Água' de Guilherme Arantes
A música 'Planeta Água', composta e interpretada por Guilherme Arantes, é uma verdadeira homenagem à água como elemento essencial à vida e à manutenção do equilíbrio ecológico do planeta Terra. Através de uma poesia lírica e imagética, Arantes descreve o ciclo da água e sua importância em diferentes contextos, desde o mais simples riacho até sua presença vital para as populações.

A letra da música destaca a água como fonte de vida, enfatizando seu papel na natureza e na sociedade. A água é retratada em suas diversas formas e funções: nasce serena, transforma-se em riacho, deságua em rios, banha aldeias, forma cascatas e retorna humildemente ao solo. Essa descrição poética ressalta a beleza e a força da água, mas também sua capacidade de renovação e seu ciclo constante de transformação.

Além disso, 'Planeta Água' traz uma reflexão sobre a interdependência entre os elementos da natureza e a humanidade. A música menciona a lenda da Iara, figura do folclore brasileiro, e o fenômeno da evaporação, exemplificando a conexão entre a cultura e os processos naturais. A repetição do verso 'Terra! Planeta Água' serve como um lembrete de que, apesar de sermos terrestres, vivemos em um mundo onde a água é predominante e essencial para a nossa existência.

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Edy Soares (Fragata da Poesia) 55: Probidade

 

Domitilla Borges Beltrame (Trovas em preto e branco)

                          

1
A exemplo de um bom peão,
eu já não tenho altivez;
se um amor me joga ao chão
tiro o pó...tento outra vez!
2
A nossa fé é a virtude
que nos dá tanto otimismo,
que deixa ver, da altitude,
a flor nas trevas do abismo!
3
Brigamos, mas a tormenta
em instantes se desfaz...
um grande amor sempre inventa
um arco-íris de paz!
4
Com altivez, disse um dia:
- “Ir procurar-te? Jamais!”
Mas a saudade vadia
não respeita o “nunca mais”…
5
Das ofensas de um irmão
não guardes nenhum rancor,
que um minuto de perdão
vale uma vida de amor!
6
Em minha varanda, a sós,
vendo os ganchos na parede,
eu choro a falta dos nós
que amarravam nossa rede!
7
Lembro a garoa...a seresta...
minha feliz mocidade
e o que restou desta festa
embala minha saudade!
8
Na calmaria aparente,
num silêncio enganador,
saudade dentro da gente,
grita mais alto que a dor…
9
"Olvidarei !"...E, orgulhosa,
nem chorei na despedida,
mas, a saudade, teimosa,
foi no meu lenço, escondida!
10
Perco todos os cansaços
e minha angústia tem fim,
ao doce som dos teus passos
no cascalho do jardim…
11
Quando a vida, num desmando,
fecha a porta da esperança,
vem a saudade, arrombando,
as janelas da lembrança !…
12
Revejo o passado e penso,
sem surpresa e sem espanto,
que o tempo, às vezes, é o lenço
com que Deus me enxuga o pranto…
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SOBRE AS TROVAS DE DOMITILLA
por José Feldman

As trovas de Domitilla Borges Beltrame refletem uma profunda sensibilidade e emoção. Cada uma delas aborda temas como amor, saudade, perdão e memória, utilizando uma linguagem simples e poética que toca o coração.

REFLEXÕES TROVA A TROVA

1 – Resiliência no Amor: destaca a força de recomeçar após desilusões amorosas, mostrando a capacidade humana de se levantar e tentar novamente.

2 – Fé e Otimismo: fala sobre a fé como uma virtude que ilumina momentos difíceis, revelando beleza mesmo nas situações mais sombrias.

3 – Conciliação nas Relações: enfatiza a importância do amor na superação de conflitos, simbolizando a paz que pode surgir após a tempestade.

4 – Saudade e Promessas: toca na inevitabilidade da saudade, mesmo diante de promessas de distanciamento.

5 – Perdão e Amor: ressalta o poder do perdão e como ele pode transformar relacionamentos e vivências.

6 – Memórias e Solidão: revela a solidão e a dor da falta, utilizando a imagem da varanda e dos ganchos para simbolizar a ausência.

7 – Saudade da Juventude: remete à nostalgia, mostrando como as lembranças de tempos felizes marcam profundamente.

8 – Silêncio e Saudade: destaca a intensidade da saudade, que pode ser mais forte que a dor física, mesmo em momentos de aparente tranquilidade.

9 – Despedidas e Lembranças: aborda a dificuldade de deixar ir, simbolizando a saudade que persiste mesmo após tentativas de esquecer.

10 – Alegria nas Pequenas Coisas: ressalta como a presença do outro pode dissipar a tristeza e trazer alegria.

11 – Saudade e Lembrança: mostra a saudade como uma força que invade a mente e o coração, trazendo à tona memórias.

12 – Reflexão sobre o Tempo: A última trova reflete sobre a relação entre o tempo e a dor, sugerindo que ele pode ser um conforto em momentos de tristeza.

TEMÁTICAS PRINCIPAIS

Amor e Desilusão: Muitas trovas falam sobre a jornada emocional de amar e enfrentar desilusões. A capacidade de recomeçar é uma constante, refletindo a resiliência humana.

Saudade: A saudade é um tema central, retratada como uma força poderosa que pode trazer tanto dor quanto beleza. É uma expressão de amor que persiste mesmo na ausência.

Perdão: O perdão aparece como um ato transformador. A autora sugere que perdoar é um caminho para a paz e a reconciliação, mostrando a importância das relações saudáveis.

Memória e Tempo: O tempo é visto de maneira ambivalente; ele pode curar, mas também intensificar a saudade. As lembranças são retratadas como uma parte intrínseca da experiência emocional.

ESTILO POÉTICO

Simplicidade e Profundidade: A linguagem utilizada é acessível, mas carrega profundidade emocional. A simplicidade das palavras contrasta com a complexidade dos sentimentos.

Imagens Visuais: Domitilla usa imagens cotidianas (como a varanda e os ganchos) para evocar emoções, tornando as trovas mais relacionáveis e vívidas.

Ritmo e Musicalidade: O formato em trova confere um ritmo musical, tornando a leitura quase cantada e aumentando seu impacto emocional.

CONCLUSÃO

As trovas de Domitilla Borges Beltrame servem como um espelho das vivências de muitas pessoas. Elas capturam a essência da vida, abordando a beleza e a dor de forma equilibrada. O convite à reflexão sobre o amor, a perda e a reconciliação torna suas obras atemporais e universais, ressoando com leitores de diversas épocas e contextos. 

Fonte: José Feldman. 50 Trovadores e suas Trovas em preto e branco. vol.1. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

Humberto de Campos (O prêmio)

A palestra, naquela mesa tão seleta, versava um assunto delicadíssimo: o direito, que tem o esposo, de exigir da mulher a mais acentuada obediência, e a prerrogativa, que esta pode ter, de usar, ou de abusar, da liberdade que lhe seja concedida.

- Ninguém - afirmava D. Consuelo Mendes, com o sangue no rosto, - ninguém, no Rio, é mais exigente consigo mesma, do que eu. Ninguém me vê em bailes, em festas, em piqueniques, em divertimentos mais ou menos comprometedores. Vivo para minha casa, para meu marido, para os meus filhos. Acho, porém, que a mulher que assim procede, tem o direito de, uma vez por outra, desforrar-se, lançando mão da sua liberdade, distraindo-se, divertindo-se, procurando, por suas mãos, o prêmio do seu cativeiro.

E como percebesse a estranheza causada pelas suas palavras, retificou, esclarecendo:

- Eu, por exemplo. Eu vivo para o meu lar. Não saio, não faço visitas, não veraneio em Petrópolis, não faço estação em Poços de Caldas. No Carnaval, porém, pago-me de tudo isso: danço, folgo, divirto-me a valer!

Foi por essa altura, mais ou menos, que o desembargador Abelardo de Barros interveio, abrindo, com elegância, a sua cigarreira de ouro, polvilhada de brilhantes:

- Vossa Excelência faz, então, D. Consuelo, como aquele honesto beberrão, de que me falava, ontem, o Alfredo Pinto, na casa de Saúde do Poggi.

A moça franziu a testa, desconfiada, e o magistrado contou:

- Certo boêmio, habituado a entrar em casa depois de uma peregrinação sistemática por todas as casas de bebidas, resolveu, um dia, corrigir-se. Era preciso energia para não regressar aos tombos, e ele havia de tê-la, dali em diante. Tomada essa resolução, saiu para a rua, e passou, sem entrar, pela frente do primeiro botequim. Satisfeito com a vitória, passou pelo segundo, pelo terceiro, pelo quarto, pelo quinto, e, assim por vários outros, resistindo à tentação. À noite, à hora de recolher, tomou o caminho do lar, quando se pôs a pensar, de si para si: "Sim, senhor! Nunca pensei, seu Fernandes, nunca pensei que você tivesse tamanha força de vontade!" Deu mais alguns passos, e insistiu: "Você merece um prêmio. Vou lhe pagar um whisky!" E entrou no botequim, chegando em casa, nessa noite, tão bêbado como na véspera!

As senhoras entreolharam-se e Dona Consuelo interpelou-o, vermelha.

- Isso não tem nada com o meu caso; tem?

- Absolutamente, nada, D. Consuelo! acudiu o desembargador, vascolejando a cabeça: - absolutamente nada.

E mergulhou o nariz no chá.

Fonte: Humberto de Campos. A Serpente de Bronze. Publicado originalmente em 1925. Disponível em Domínio Público.  

Sammis Reachers (Sísifo e Afrodite)

Na fábula, dez anos após Zeus ter punido Sísifo com a missão de rolar eternamente a enorme rocha montanha acima, apenas para vê-la despencar do alto e ter que recomeçar a movê-la, Afrodite, entre curiosa e apaixonada (e não é a paixão uma curiosidade exacerbada e mórbida?) disfarçou-se de humana e, escondida de seu pai Zeus, veio ter com o herói ou derrotado ladrão dos falsos deuses. 

– Homem de grande força, gostaria de ter alguém para lhe acariciar nesta noite, revigorando sua masculinidade enquanto você rola esta enorme pedra? – perguntou, lânguida, a deusa vestida em tênues trajes.

– ...Não, minha bela jovem. Posso empurrar esta pedra por toda a eternidade, se assim for necessário. Mas confesso que gostaria de ter alguém, alguém que permanecesse para além de uma noite, e se assentasse sob aquele pé de zimbro e dissesse, de quando em vez, com um sorriso terno: "Você está indo bem, e eu estou aqui contigo. Continue."

Conta Homero ou Plutarco ou Borges ou mesmo Bolaño (pois a lenda perdeu-se como a memória dos deuses quedos), que a deusa dúbia, sonsa e fulminante, incapaz de constância, ou de oferecer TÃO POUCO, transmutou-se à sua forma célica e, contrafeita e incendiada, tornou ao Olimpo, o Olimpo dos frios vencedores.

Fonte: https://linktr.ee/sreachers

Recordando Velhas Canções (Prelúdio para ninar gente grande)


(balada, 1962) 

Compositor: Luís Vieira

Quando estou nos braços teus
Sinto o mundo bocejar
Quando estás nos braços meus
Sinto a vida descansar

No calor do teu carinho
Sou menino-passarinho
Com vontade de voar
Sou menino-passarinho
Com vontade de voar
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A Delicadeza do Amor em 'Preludio Pra Ninar Gente Grande (Menino Passarinho)'
A música 'Preludio Pra Ninar Gente Grande (Menino Passarinho)', de Luiz Vieira, é uma canção que exala ternura e intimidade. A letra descreve a sensação de paz e tranquilidade que o eu lírico sente quando está nos braços da pessoa amada. A expressão 'sinto o mundo bocejar' sugere que, nesse momento de aconchego, o mundo parece desacelerar, como se estivesse prestes a adormecer. Essa imagem transmite uma sensação de segurança e conforto, onde o tempo parece parar e a vida se torna mais leve.

Quando o eu lírico diz 'sinto a vida descansar', ele reforça a ideia de que estar com a pessoa amada proporciona um alívio das tensões e preocupações do cotidiano. É um momento de refúgio e serenidade, onde a presença do outro tem o poder de acalmar e renovar as energias. A repetição dessa sensação nos braços do outro cria uma atmosfera de cumplicidade e harmonia, onde ambos encontram um porto seguro.

A metáfora do 'menino-passarinho' é particularmente tocante. Ela evoca a imagem de um ser pequeno e frágil, mas ao mesmo tempo cheio de sonhos e aspirações. O desejo de voar simboliza a liberdade e a vontade de explorar novos horizontes, impulsionado pelo amor e pelo carinho recebido. Essa metáfora sugere que o amor tem o poder de transformar e libertar, permitindo que o eu lírico se sinta leve e capaz de alcançar grandes alturas. A simplicidade e a beleza da letra de Luiz Vieira capturam a essência do amor puro e genuíno, fazendo desta canção uma verdadeira ninar para gente grande.

Tal como “o Menino de Braçanã” outro êxito de Vieira, “Menino Passarinho” é uma canção sentimental, de letra meio pitoresca (“Quando estou nos braços teus / sinto o mundo bocejar”), mas que também sugere um clima místico-romântico acentuado pela interpretação contrita do autor, a melhor entre as várias versões gravadas 

Fontes: A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34.
https://www.letras.mus.br/luis-vieira/715923/

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Varal de Trovas n. 609

 

Silmar Bohrer (Croniquinha) 119

Quando Guttemberg inventou a imprensa talvez não imaginava a revolução que provocaria nas ideias e na cultura. E não só regional ou europeia, mas o rastilho de conhecimentos não respeitou fronteiras. 

A invenção da máquina de imprensa provocou mudanças substanciais na forma de contato, de leitura e divulgação de revistas, panfletos, livros e jornais. As escolas foram ajudadas com o uso dos livros de alfabetização. 

Surgiram as bibliotecas, os leitores e as comunidades de leitores. Cresceu o número de pensadores, insuflados pela leitura. O conhecimento foi disseminado. 

O livro segue vivo, vívido, vivenciando verdades. 

Fonte: Texto enviado pelo autor 

A. A. de Assis (Amorologia)

Deduz-se  que o ser humano, para ser feliz, precisa antes ser salvo, ou seja: recuperar a boa saúde espiritual.

São João vai direto à essência: “Deus é Amor”, de onde chegamos a um silogismo fundamental para a fé cristã: Deus é Amor; Jesus é Deus; logo, Jesus é Amor. Dizer, pois, que só Jesus salva é o mesmo que dizer que sem Amor ninguém se salva.

Tudo bem. Mas o que significa exatamente salvar? A etimologia ajuda a entender: salvar é curar, sarar, sanificar (cf. latim “sanus” / “salus” / “salvus”), daí vindo também saúde (“salud” em espanhol, “santé” em francês), tal como sanar, sanear, salutar, sanidade, santidade.

Mas salvar quem? Salvar a humanidade, visto que, embora tendo sido criados para ser plenamente felizes, até hoje continuamos distantes desse ideal. Há bloqueios vários dificultando o acesso à bem-aventurança: uma série de distúrbios, entre os quais o egoísmo, a ambição, a arrogância, a inveja, o ódio – enfermidades geradoras de toda espécie de sofrimento.

Ante tal diagnóstico, deduz-se  que o ser humano, para ser feliz, precisa antes ser salvo, ou seja: recuperar a boa saúde espiritual. Foi para isso que Jesus (o Amor em sua manifestação visível) esteve alguns anos entre nós. Veio ensinar a gente a ser feliz, começando por formar equipe com um grupo de amigos chamados apóstolos. Treinou-os e os enviou mundo afora com a missão de convidar toda gente a com ele recolocar na trilha do céu a história da terra.

Era o início de um longo processo de salvação, a ser desenvolvido passo a passo: acolhimento > eclesialização > purificação da mente e da alma > evangelização > amorização.

Com a mente limpa e a alma encharcada de ternura, bondade e paz, estaremos prontos para iniciar uma nova caminhada rumo à eterna graça, bastando, daí por diante, manter o coração permanentemente conectado com a fonte do Amor – o coração de Jesus.

Quanto maior o número de pessoas amorizadas, mais próximos estaremos todos do estado de bem-aventurança. Só assim finalmente seremos uma grande família de gente feliz.

Gente feliz é feliz por ser gente que ama.

Gente que ama tem o coração hospitaleiro e alegre, tem a mente sadia e limpa, tem a alma serena e doce. Gente que ama não se irrita, não comete injustiça, não abusa da inocência das crianças, não ofende, não agride, não calunia, não mata, não rouba, não mente, não guarda mágoa ou rancor, não deixa que alguém a seu lado sofra por falta de pão ou de cobertor ou de medicamento ou principalmente por falta de colo.

Gente que ama sorri, escuta, perdoa, ajuda, abraça, beija. Gente que ama gosta de gente, gosta dos passarinhos, gosta dos bichos, gosta das plantas, gosta das flores, gosta das águas, gosta do sol, da lua, da brisa, das estrelas. Gente que ama gosta de amar – gosta da vida.

No dia em que todos nos encharcarmos de Amor, seremos todos felizes sim, e então não haverá mais maldade no mundo, não haverá mais pobreza, não haverá mais sofrimento, não haverá mais tristeza. Seremos uma só família, unida e boa, do jeito que Deus programou.

Recordando Velhas Canções (A praia)


Em plena praia no céu azul brilhava o sol
E junto ao mar a meditar coisas de amor
Mal poderia imaginar, que ao sol se pôr,
Encontraria um grande amor

E de repente o amor aconteceu
Unindo para sempre você e eu
Um beijo então calou a nossa voz
Somente o amor falou, falou por nós.

Quando na praia novamente o sol brilhar
Lá estarei e ficarei bem junto ao mar
Perguntarei que ao sol se pôr
Em plena praia eu encontrei um grande amor

E de repente o amor aconteceu
Unindo para sempre você e eu
Um beijo então calou a nossa voz
Somente o amor falou, falou por nós.
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O Encontro do Amor na Praia
A música 'A Praia' é uma celebração do amor inesperado e profundo que surge em um cenário idílico. A letra começa descrevendo um dia ensolarado na praia, onde o eu lírico está imerso em pensamentos sobre o amor. A praia, com seu céu azul e o brilho do sol, serve como um pano de fundo perfeito para a meditação e a introspecção. É nesse ambiente sereno e contemplativo que o amor surge de forma inesperada, como um evento quase mágico ao pôr do sol.

O refrão da música destaca o momento em que o amor se manifesta de maneira súbita e intensa, unindo duas pessoas para sempre. O beijo que 'calou a nossa voz' simboliza a comunicação profunda e silenciosa que só o amor verdadeiro pode proporcionar. Esse momento de união é tão poderoso que transcende as palavras, deixando o amor falar por si mesmo. A simplicidade e a pureza desse encontro são enfatizadas pela repetição do tema do amor que 'falou por nós'.

Agnaldo Rayol, conhecido por sua voz potente e emotiva, utiliza essa canção para explorar a beleza do amor que surge de forma inesperada e transforma vidas. A praia, um lugar de tranquilidade e beleza natural, torna-se o cenário perfeito para esse encontro amoroso. A música transmite uma mensagem de esperança e a crença no poder do amor para unir e transformar. A repetição da cena da praia ao longo da canção reforça a ideia de que o amor verdadeiro é eterno e sempre presente, mesmo nos momentos mais simples e cotidianos.

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Therezinha Dieguez Brisolla (Trovas em preto e branco)

                                    


1
À pergunta: - Qual andar?
Responde o pinguço, a esmo:
- Onde quiser me levar;
já errei de prédio mesmo!
2
Ao vir "de fogo" recua
gritando, após a topada:
- Que faz um poste na rua
às duas da madrugada?!
3
Cai no trilho e a triste sina
maldiz tanto o beberrão...
"Essa escada não termina
e é tão baixo o corrimão!”
4
"Depois do jantar, o mate",
diz, ao filho, o anfitrião.
Foge, ao perigo, o mascate.
Foi sem tomar chimarrão!…
5
- É o piloto... tô em perigo!...
Tem fumaça... e um fogaréu!...
- É a torre... reze comigo:
“Pai nosso, que estais no céu...”
6
Foi o par pro beleléu...
e o fantasma, em tom moderno:
- Venho, à noite, aqui no céu,
ou você vai lá no inferno?
7
Jaz o ancião na cascata!...
Seu anjo, que é seu abrigo,
já velho e com catarata,
não viu a placa "PERIGO"!
8
Na escada, a aposta suicida
dos genros, no arranha-céu:
- Leva, quem perde a corrida,
a sogra como troféu!
9
Não houve pancadaria
nem sufoco na paquera...
“Sou homem”, disse a Maria.
Ainda bem que o Zé não era!
10
O bombeiro subalterno
morreu... e o céu foi seu rogo...
Mas, foi mandado pro inferno
porque no céu não tem fogo!!!
11
Pede a graça ao padroeiro
e promete ao santo, à beça...
É um beato caloteiro
que não paga nem promessa!
12
Querendo ver o acidente,
ele abriu caminho a murro...
Foi dizendo: "Sou parente"...
Mas quem morreu foi um burro!

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SOBRE AS TROVAS DE THEREZINHA
por José Feldman

As trovas humorísticas de Therezinha Dieguez Brisolla capturam de forma leve e irônica situações cotidianas, muitas vezes com um toque de absurdo.

AS TROVAS

1 – Ironia do pinguço: A resposta do pinguço mostra a desorientação que o álcool pode trazer, transformando uma simples pergunta em uma piada sobre confusão, refletindo uma crítica ao consumo excessivo de álcool e suas consequências.

2 – Poste na madrugada: A indignação de encontrar um obstáculo à noite ilustra a falta de atenção que todos podem ter em momentos de distração.

3 – A escada interminável: O desespero do beberrão reflete a frustração de situações que parecem não ter fim, uma metáfora para desafios da vida.

4 – Chimarrão perdido: O mascate foge do perigo sem se preparar adequadamente, uma. É uma crítica ao despreparo e à falta de atenção nas interações sociais, às próprias tradições, ironizando a seriedade que as pessoas costumam dar a eventos triviais.

5 – O piloto em perigo: A cena humorística mostra como a fé pode ser uma reação imediata ao medo, mesmo em situações absurdas.

6 – Fantasma moderno: A troca entre o fantasma e o homem traz um humor surreal, questionando o que é realmente assustador.

7 – Catarata e perigo: A ironia da situação do ancião que ignora um aviso é um lembrete sobre a vulnerabilidade da idade.

8 – Aposta com sogra: A aposta arriscada entre genros e a sogra revela o humor em relações familiares e rivalidades.

9 – Confusão na paquera: A revelação sobre Zé traz um alívio cômico, jogando com expectativas em situações românticas.

10 – Bombeiro no céu: O bombeiro que, ao morrer, é enviado para o inferno porque "no céu não tem fogo" brinca com a expectativa de que heróis vão para o céu, revelando uma ironia sobre o destino das pessoas.

11 – Beato caloteiro: A figura do beato que não cumpre suas promessas é uma crítica social divertida, expõe a falta de sinceridade em práticas religiosas, mostrando como as pessoas muitas vezes não se comprometem com suas palavras.

12 – Abertura de caminho: A busca por atenção em um acidente termina tragicamente cômica, mostrando como a vida pode ser cheia de surpresas.

ESTILO E ESTRUTURA

Ritmo e Rima: As trovas têm uma cadência marcante, com rimas que tornam a leitura leve e divertida.

Personificação: Elementos como fantasmas e anjos são usados para dar vida a ideias e reflexões, criando um ambiente lúdico.

Simplicidade: A linguagem é acessível, o que permite que as mensagens sejam compreendidas por diversos públicos.

A IRONIA NAS TROVAS DE THEREZINHA

A ironia nas trovas humorísticas de Therezinha  está profundamente enraizada na cultura brasileira e se relaciona com diversos aspectos da sociedade.

As trovas refletem a oralidade e a riqueza do português falado no Brasil, utilizando expressões coloquiais que ressoam com o cotidiano das pessoas. O uso de ironia e humor é uma forma de expressar a identidade brasileira, revelando a capacidade de rir das próprias desventuras. serve como ferramenta de crítica às injustiças sociais e políticas, algo comum na tradição de humor no Brasil, desde a literatura até as manifestações artísticas.

O brasileiro tem uma tradição de usar o humor como forma de resistência, especialmente em tempos difíceis. A ironia nas trovas reflete essa capacidade de encontrar leveza em situações complicadas, pois o riso é uma parte fundamental da cultura brasileira, e as trovas humorísticas abraçam essa característica, criando um espaço para a reflexão através do humor.

CONCLUSÃO

Essas trovas ressoam por sua capacidade de fazer o leitor rir, enquanto o convida a refletir sobre a condição humana. Elas são uma forma de humor popular que preserva tradições e, ao mesmo tempo, traz à tona questões contemporâneas, cada uma com seu próprio charme e sagacidade.

Essa conexão entre ironia e cultura enriquece a compreensão das trovas, tornando-as não apenas divertidas, mas também significativas dentro do contexto social e cultural do Brasil.

Fonte: José Feldman. 50 Trovadores e suas Trovas em preto e branco. vol.1. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

Arthur Thomaz (Travessia) conto e análise

 Nota do blog: Pequena análise sobre o conto, ao final.

Era o barqueiro responsável por pilotar uma embarcação que levava pessoas para o lado de lá. Diferente do que imaginavam, não se tratava de um santo ou um enviado dos deuses. Em volta do barco, estava escrito em letras garrafais: “Lá, você encontrará o inesperado, o imponderável e o inescrutável”.

Simultaneamente, era emitido um aviso sonoro, com a voz dos pais ou de pessoas mais velhas que haviam advertido essa criatura a não ir até o lado de lá.

No início de sua carreira, o gentil barqueiro tentara também persuadir os passageiros a não embarcar, mas com o passar do tempo, percebendo a inutilidade de tais conselhos, calou-se, mesmo se sentindo contrariado com isso, limitando-se a remar e remar, tentando entender o que levava essas pessoas a aventurar-se nessa vã tentativa.

Seres que deixavam para trás estáveis situações sociais, econômicas e amorosas para lançarem-se com poucas ou nenhuma ficha em um difícil jogo, em que o próprio futuro estava em risco.

Eram indivíduos heterogêneos que possuíam em comum somente a obstinação em chegar à margem de lá. Casais apaixonados, outros já nem tanto, adolescentes guiados apenas por falsos apelos nas redes sociais, mulheres e homens solitários e iludidos com o que acreditavam encontrar no outro lado.

Atletas em fim de carreira em busca de um time que os fizesse ouvir novamente os aplausos de torcedores, artistas em decadência à procura de um palco qualquer que lhes devolvesse o assédio antigo de fãs. Idosos inconformados, almejando retornar à mocidade, e jovens querendo uma precoce maturidade.

Tinham ainda velhas raposas políticas, sonhando com a vitória na próxima eleição, para apagar a última e desastrosa derrota nas urnas. Incompreendidos, querendo reconhecimento, e desajustados, tentando retomar o rumo perdido.

Mesmo sendo um rio caudaloso, cheio de correntezas e bancos de areia, o barqueiro dominava inteiramente a rota a seguir. Mas, às vezes, uma inesperada onda derrubava algum passageiro e o desespero deste em chegar ao outro lado era tanto, que o fazia nadar em direção à distante margem, sem pensar em retornar à embarcação, causando-lhe a morte.

Ao chegar e desembarcar os passageiros, o barqueiro aguardava pacientemente por horas o retorno de alguns deles. 

Infrutífera espera, nenhum jamais voltou.

Esta rotina ocorreu por décadas (cerca de três gerações de barqueiros), até que certo dia, a embarcação rompeu-se na colisão com um recém-formado banco de areia.

Nesse naufrágio, mais do que as vidas, perdeu-se também a inútil esperança dos desesperados mortais transformarem-se em algo superior aos seus limites, dádiva reservada somente aos deuses.

Por ironia do destino, o Olimpo situava-se do lado de lá, muito perto, mas invisível e inexpugnável.

Fonte: Arthur Thomaz. Leves contos ao léu: imponderáveis. Volume 3. Santos/SP: Bueno Editora, 2022. Enviado pelo autor 
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Breve Análise do conto “Travessia”, 
por José Feldman

O conto de Arthur Thomaz, "Travessia", utiliza a figura do barqueiro como uma metáfora poderosa para a transição e a busca humana por significado.

O barqueiro, que deveria ser um guia, acaba se tornando um mero transportador, simbolizando a frustração das expectativas humanas. As promessas de um "lado de lá" repleto de esperanças contrastam com a dura realidade da travessia, evidenciando a futilidade de muitas aspirações.

A obstinação dos passageiros em buscar algo melhor, apesar dos avisos, revela a ironia da condição humana. A determinação em buscar o desconhecido, mesmo com a consciência do risco, reflete a natureza muitas vezes irracional das decisões humanas.

O barqueiro aguarda o retorno dos passageiros, mas nunca os vê voltar, simbolizando a ironia da esperança. A busca por algo maior muitas vezes resulta em desilusão, mostrando como as aspirações podem levar à perda.

A proximidade do Olimpo, invisível e inalcançável, intensifica a ironia. O que se busca está tão perto, mas é inatingível, destacando a tragédia da condição humana em sua incessante busca por um ideal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A narrativa reflete aspectos da cultura brasileira, como a busca contínua por melhores condições de vida e a esperança de transformação, mesmo em face de adversidades. A ironia serve como uma crítica sutil às promessas não cumpridas da sociedade, que frequentemente leva indivíduos a arriscarem tudo por um futuro incerto.

No fundo, "Travessia" é um convite à reflexão sobre as motivações humanas e as ironias da vida. Através da figura do barqueiro e de seus passageiros, Thomaz explora temas universais que ressoam profundamente na experiência humana, especialmente em um contexto cultural rico e complexo como o brasileiro.
Fonte: José Feldman. Dissecando a magia dos contos. Maringá/PR. IA Open.
 Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

Recordando Velhas Canções (Velho realejo)


(Valsa, 1940)

Compositor: Custódio Mesquita/Sady Cabral

Naquele bairro afastado
Onde em criança vivias
A remoer melodias
De uma ternura sem par

Passava todas as tardes
Um realejo risonho
Passava como num sonho
Um realejo a cantar

Depois tu partiste
Ficou triste a rua deserta
Na tarde fria e calma
Ouço ainda o realejo tocar

Ficou a saudade
Comigo a morar
Tu cantas alegre e o realejo
Parece que chora com pena de ti

Ficou a saudade
Comigo a morar
Tu cantas alegre e o realejo
Parece que chora com pena de ti
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Saudade e Melancolia em 'Velho Realejo'
A música 'Velho Realejo', é uma obra que evoca sentimentos profundos de saudade e melancolia. A letra nos transporta para um bairro afastado, onde o eu lírico relembra sua infância e as melodias ternas que ouvia de um realejo. Esse instrumento musical, que passava todas as tardes, é descrito como risonho e capaz de transformar a realidade em um sonho, trazendo uma sensação de nostalgia e simplicidade.

A partida de uma pessoa querida é um ponto central na canção. A rua, que antes era animada pela presença dessa pessoa e pelo som do realejo, agora está deserta e triste. A ausência é sentida profundamente, e o realejo, que antes trazia alegria, agora parece chorar, refletindo a dor da perda. A música utiliza essa metáfora do realejo para expressar a dualidade entre a alegria do passado e a tristeza do presente, criando uma imagem poética e tocante.

Orlando Silva, conhecido como o 'Cantor das Multidões', era famoso por sua voz emotiva e interpretação apaixonada. 'Velho Realejo' é um exemplo perfeito de seu estilo, que combina lirismo e emoção para tocar o coração dos ouvintes. A canção fala sobre a permanência da saudade e como as memórias podem ser tanto uma fonte de consolo quanto de dor. A melodia do realejo, que antes era um símbolo de alegria, agora é um lembrete constante da ausência e da saudade que ficou. https://www.letras.mus.br/orlando-silva/125899/