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sexta-feira, 30 de maio de 2025
Guirlanda de Versos * 35 *
Renato Benvindo Frata (Entre o jardim e o dia a dia)
A vida é como a brisa matinal. Às vezes, nos parece suave, agradável, sugestiva, que nos incita ao fazer, ao sonhar e, enlevados nesses prazeres, imaginamos. Às vezes, nos parece rude, frívola e difícil como vento gelado em manhã molhada de inverno, a parecer que tudo à nossa volta se compõe de espinhos.
Somos, nos momentos de brisa leve, como jardins visitados pelos zum-zuns das abelhas em que o perfume das flores se mistura aos seus zumbidos, a fazer música.
Nos momentos maus, porém, - valha-nos Deus! – parece que tudo à nossa volta ganha ares de desassossego permeado de espirros, tosses, encolhimentos e mais sensações adversas.
Nessa relação flor-abelha (que faz os bons momentos), há um quase segredo: mesmo que possa parecer impossível, flor e inseto se comunicam e, nisso, ambos mantêm uma sintonia mutualística que os beneficia por igual. É o ganha-ganha na relação de troca: a abelha ganha o alimento provido pela flor e a flor ganha a tão necessária e sonhada polinização, feita pelas patinhas e corpo do inseto, a pisar em seu nectário. Dessa maneira, nessa sociedade de favores, ambas preservam os ecossistemas produtivos e a si próprias.
Mas, afinal, qual a relação flor-abelha com a nossa vida e a brisa matinal do verão, ou com o vento úmido e gelado de inverno?
Nada e tudo, eu diria.
Nada, se levarmos em consideração que tanto a nossa vida, como os ventos, são feitos de momentos, assim como as visitas das abelhas às flores; e que esses momentos, por serem tão rápidos, podem passar despercebidos como o ato da abelha ao sugar o néctar, ou a passagem do ar matinal em nossos rostos, quer em dia quente, quer em dia frio, a depender de nosso estado de ânimo ao olhar e aceitar ou gostar.
E tudo, quando esses momentos, pela nossa percepção, conseguem ser marcantes em sua passagem. Nela ficarão rastros como as pegadas de um ontem que guardamos nítidas e sintonizadas na memória, apesar do tempo que possa ter passado.
Da somatória desses momentos nascem nossas escolhas, mesmo que o sejam apenas pelo gosto momentâneo de um encontro, ou por interesse, a exemplo das abelhas que, ao saírem a beijar flores, buscam alimento.
No mais das vezes, porém, a sensação lúdica que a brisa matinal proporciona, mesmo que em lanços mais frios que os comuns de verão, põe-nos prazer quando a elas, em um relance, abrimos nossos braços como um abrir de pétalas a recepcioná-las, ao aguardo de sua visita.
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
Renato Benvindo Frata nasceu em Bauru/SP, radicou-se em Paranavaí/PR. Formado em Ciências Contábeis e Direito. Professor da rede pública, aposentado do magistério. Atua ainda, na área de Direito. Fundador da Academia de Letras e Artes de Paranavaí, em 2007, tendo sido seu primeiro presidente. Acadêmico da Confraria Brasileira de Letras. Seus trabalhos literários são editados pelo Diário do Noroeste, de Paranavaí e pelos blogs: Taturana e Cafécomkibe, além de compartilhá-los pela rede social. Possui diversos livros publicados, a maioria direcionada ao público infantil.
Fontes:
Texto enviado pelo autor.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
Aparecido Raimundo de Souza (Vai ser azarado assim lá no raio que o parta)
O AMAPOLO CHEGOU na portaria do prédio onde mora o seu amigo Beringelo e interfonou para a portaria. Na terceira, atendeu uma jovem de voz sorridente:
— Pois não?
— Boa noite, senhorita. Como é seu nome?
— Gervasiana, às suas ordens.
— Eu queria ir no 609.
— Ok! Então até logo. Boa noite. Passe bem.
Amapolo gritou, antes que ela desligasse:
— Senhorita Gervasiana, eu quero ir no 609...
Gervasiana respondeu sem deixar de olhar para a tela de seu celular:
— O senhor me disse assim: “eu queria.”
— Tá legal, moça. Eu quero ir no apartamento 609.
— E a quem devo anunciar? Qual é o seu nome?
— Amapolo.
— E com quem o senhor quer falar, seu Anacolo?
Risos:
— Linda, eu preciso subir no apartamento 609. Pretendo visitar meu amigo Beringelo... E meu nome é Amapolo.
A porteira, de novo, sem deixar o celular onde falava com o seu namorado:
— Perdão. Com quem?
— Beringelo...
Gervasiana sequer se dignou a dar uma espiada nos moradores. Não encontrou nenhum Anabelo:
— Perdão, meu amigo. Com quem?
— Beringelo... Be... e... erre... i... ene... ge... e... ele... o...
A porteira, educadíssima respondeu:
— Senhor, aqui não tem nenhuma pessoa com esse nome.
— A senhorita não disse que conhece todos os moradores?
— Disse e repito. Conheço todo mundo. O senhor é quem está me dando um nome estranho. Tem certeza que é essa mesma que procura? Como é o nome do tal morador? Quer por favor repetir?
— Tenho certeza, moça. Vou repetir: procuro o Beringelo.
— Cogumelo?
— Beringelo, moça. Beringelo. Já lhe soletrei letra por letra...
— Então, senhor, aqui não tem nenhum PEDIBELO...
Amapolo, em vias de perder a serenidade e a educação:
— Filha você por acaso tem problema de audição?
E a Gervasiana grudada no bate paro com seu amado:
— Senhor, de quê?
— Audição...
Gervasiana, irritada e sem deixar, claro, o celular, não sabia se dava atenção ao namorado ou ao sujeito que queria subir no 609:
— O que é isso? Eu estou fazendo confusão...?
— Audição, moça, audição...
— Então, foi o que eu disse, amor... hoje não... estou naqueles dias...
— Senhorita Gervasiana, pelo amor de Deus. Interfona para o Beringelo... apartamento 609...
Gervasiana, para lá de irada, deixa o seu local de trabalho e caminha até onde está o Amapolo. Ao dar de cara com ele, berra:
— Escuta, ô seu “Pé de chinelo...” já lhe falei mil vezes que aqui não tem nenhum Amancoso... muito menos essa pessoa que o senhor procura, esse... esse... Berim sem chinelo, ou Berim descalço...
Foi aí que o Amapolo perdeu as estribeiras. Ele realmente se distanciou do bom senso:
— Que foi que disse, sua desqualificada?
— O que o senhor escutou...
Fora de si, Amapolo se encheu de razão. Meteu os pés na porta envidraçada, até que ela se partiu em cacos. Sem se desvencilhar do endiabrado que o dominava, voou para cima da Gervasiana. Tomou seu celular e jogou o aparelho no meio da rua. Quase acertou a cabeça de uma idosa que justo naquele momento, adentrava o prédio. Completamente descontrolado, Amapolo agarrou com raiva incontida, o pescoço da porteira. E o apertou com toda força que vinha do ódio que o dominava. Completamente sem ar, língua de fora, tremendo feito vara verde, em face da força bruta empregada, a infeliz serviçal, se estrebuchando, veio, por conta da esganação, a óbito.
Moradores que saiam e outros que chegavam, presenciando a cena, acionaram a polícia. Amapolo tentou fugir da galera que se pôs em seus calcanhares. Sem saída, correu, estabanado, de um lado para outro. Se viu perdido. Sem conhecer as dependências do edifício, a certa altura abriu uma porta ao acaso. Na escuridão do ambiente, escorregou numa escada sem corrimão e caiu justo na piscina. Como não sabia nadar, e em vias de morrer afogado, finalmente se viu resgatado e dominado pelos condôminos. Quando a viatura militar encostou, acabou algemado, preso e conduzido para a delegacia do bairro. Até hoje, seis meses se passaram. Nenhum advogado apareceu. Menos ainda Beringelo, o amigo que fora visitar.
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Aparecido Raimundo de Souza, natural de Andirá/PR, 1953. Em Osasco, foi responsável, de 1973 a 1981, pela coluna Social no jornal “Municípios em Marcha” (hoje “Diário de Osasco”). Neste jornal, além de sua coluna social, escrevia também crônicas, embora seu foco fosse viver e trazer à público as efervescências apenas em prol da sociedade local. Aos vinte anos, ingressou na Faculdade de Direito de Itu, formando-se bacharel em direito. Após este curso, matriculou-se na Faculdade da Fundação Cásper Líbero, diplomando-se em jornalismo. Colaborou como cronista, para diversos jornais do Rio de Janeiro e Minas Gerais, como A Gazeta do Rio de Janeiro, A Tribuna de Vitória e Jornal A Gazeta, entre outras. Hoje, é free lancer da Revista ”QUEM” (da Rede Globo de Televisão), onde se dedica a publicar diariamente fofocas. Escreve crônicas sobre os mais diversos temas as quintas-feiras para o jornal “O Dia, no Rio de Janeiro.” Acadêmico da Confraria Brasileira de Letras. Reside atualmente em Vila Velha/ES.
Fonte:
Texto enviado pelo autor.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
quarta-feira, 28 de maio de 2025
Asas da Poesia * 29 *
Soneto de
CAROLINA RAMOS
Santos/SP
O saber
O saber, que arrebata e que mantém ativo
o lampejo do gênio e a fluência da história,
abre portas e as fecha, em rigor decisivo,
soberano senhor das chaves da memória.
Esse mesmo saber pode tornar cativo
o incauto que se ilude às promessas de glória
e, a erguer-se em pedestal, não mais que tolo altivo,
permite que a soberba o enleie compulsória!
Ao ver tombar ao chão seus castelos e aprumos,
na busca ao próprio eu, o homem se desengana
a revelar-se anão de limitados rumos!
Sem saber de onde vem, sequer sabe quem é!...
- Toda arrogância vã, toda a vaidade humana,
desmoronam aos pés, humílimos, da Fé!
= = = = = = = = =
Poema de
ANTONIO JURACI SIQUEIRA
Belém/PA
Há horas que o homem deve
estar só com seus consigos;
outras vezes quer chamego
quer ombros, braços, abrigos…
Deve, pois, ser uma ilha
cercada de… mil amigos!
= = = = = = = = =
Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO
Você ontem me falou
que não anda, não passeia,
como é que hoje cedinho
eu vi seu rasto na areia?
= = = = = = = = =
Soneto de
VINICIUS DE MORAES
Rio de Janeiro/RJ, 1913 – 1980
Soneto a Quatro Mãos
Tudo de amor que existe em mim foi dado
Tudo que fala em mim de amor foi dito
Do nada em mim o amor fez o infinito
Que por muito tornou-me escravizado.
Tão pródigo de amor fiquei coitado
Tão fácil para amar fiquei proscrito
Cada voto que fiz ergueu-se em grito
Contra o meu próprio dar demasiado.
Tenho dado de amor mais que coubesse
Nesse meu pobre coração humano
Desse eterno amor meu antes não desse.
Pois se por tanto dar me fiz engano
Melhor fora que desse e recebesse
Para viver da vida o amor sem dano.
= = = = = = = = =
Soneto de
CASTRO ALVES
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA
Aqui, onde o talento verdadeiro
Não nega o povo o merecido preito;
Aqui onde no público respeito
Se conquista o brasão mais lisonjeiro.
Aqui onde o gênio sobranceiro
E, de torpes calúnias, ao efeito,
Jesuína, dos zoilos* a despeito,
És tu que ocupas o lugar primeiro!
Repara como o povo te festeja...
Vê como em teu favor se manifesta,
Mau grado a mão, que, oculta, te apedreja!
Fazes bem desprezar quem te molesta;
Ser indif'rente ao regougar** da inveja,
"Das almas grandes a nobreza é esta."
= = = = = = = = =
* zoilos = críticos invejosos, apaixonados.
** regougar = resmungar.
= = = = = = = = =
Soneto de
MARTINS FONTES
Santos/SP, 1884 – 1937
Crepúsculo
Alada, corta o espaço uma estrela cadente.
As folhas fremem. Sopra o vento. A sombra avança.
Paira no ar um langor de mística esperança
e de doçura triste, inexprimivelmente.
À surdina da luz irrompe, de repente,
o coro vesperal das cigarras. E mansa,
E marmórea, no céu, curvo e claro, balança,
entre nuvens de opala, a concha do crescente.
Na alma, como na terra, a noite nasce. É quando,
da recôndita paz das horas esquecidas,
vão, ao luar da saudade, os sonhos acordando...
E, na torre do peito, em plácidas batidas,
melancolicamente o coração chorando,
plange o réquiem de amor das ilusões perdidas.
= = = = = = = = =
Haicai do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN
Minha mãe, de joelhos,
com o velho terço entre os dedos,
pede a Deus, conselhos!
= = = = = = = = =
Soneto de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal
Enerva-me esta chuva impertinente
(Fernandes Valente Sobrinho in "Poemas Escolhidos", p. 127)
Enerva-me esta chuva impertinente
Que tomba lá dos céus feitos de breu
E as gotas são o pranto que nasceu
De nuvens que tivessem dor de gente.
O vento ainda faz mais repelente
Cada pingo que o meu rosto ofendeu
Lágrima que do ar se desprendeu
Como um cristal da mágoa que alguém sente.
A chuva tudo alaga, tudo invade
Deixando o fino véu dessa umidade
Caído pelo chão, pênsil dos ramos.
E sobe uma revolta ao meu olhar;
Por que há de a Natureza assim chorar
Do modo como nós também choramos?
= = = = = = = = =
Poema de
MACHADO DE ASSIS
Rio de Janeiro/RJ, 1839 – 1908
Gonçalves Crespo
Esta musa da pátria, esta saudosa
Níobe dolorida,
Esquece acaso a vida,
Mas não esquece a morte gloriosa.
E pálida, e chorosa,
Ao Tejo voa, onde no chão caída
Jaz aquela evadida
Lira da nossa América viçosa.
Com ela torna, e, dividindo os ares,
Trépido, mole, doce movimento
Sente nas frouxas cordas singulares.
Não é a asa do vento,
Mas a sombra do filho, no momento
De entrar perpetuamente os pátrios lares.
= = = = = =
Poemeto de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo/SP
Um olhar pode eternizar um momento
mas uma noite não dura para sempre.
Um sorriso às vezes é aconchego, ou
pode ser um retrospecto, um lamento.
Mas na noite... O sonho torna-se cura.
= = = = = = = = =
Soneto de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP
Mudança de rumo
Não consigo entender tua procura
e essa corrida que não tem descanso,
se a vida foi madrasta, triste e dura,
melhor é procurar outro remanso.
Às vezes, o capricho é uma loucura,
não traz felicidade nem avanço
na procura da Paz e da Ventura,
o Amor fala mais alto, embora manso.
Por que buscar carinho na incerteza,
se aqui mesmo tens luz e tens beleza
que podem transformar o teu desejo?
É melhor prosseguir naquela estrada
onde a felicidade fez morada
e estará te esperando com um beijo.
= = = = = = = = =
Poema de
CÉLIA EVARISTO
Lisboa/ Portugal
Mais
O teu coração nunca me amou,
o teu olhar nunca me encontrou.
E as vezes em que a tua pele a minha tocou,
foram vezes vazias,
de ti nada ficou…
E eu queria receber mais,
apenas uma réstia
do que sempre te dei.
As horas, os minutos e os segundos,
o tempo que te dediquei,
deitaste fora sem pensar
que me poderias magoar.
Dei-te o que nunca tive em troca,
porque quem ama
também espera ser amado.
Mas em vez de amor
recebi a dor
de um ser abandonado.
E eu queria receber mais,
apenas uma réstia
do que sempre te dei.
Os passos lentos que davas
quando eu corria
e caía nos teus braços.
Sorria-te,
ignoravas-me.
Pedia-te tempo,
dizias ter pressa.
E a cada momento
uma promessa.
E eu queria receber mais,
apenas uma réstia
do que sempre te dei.
Nunca soubeste o que era o amor.
A vida, para ti, sempre foi fugaz,
intensa de coisas banais.
Nunca perdeste o teu tempo
para ser mais.
= = = = = = = = =
Poema de
SILMAR BOHRER
Caçador/SC
Lágrimas
A nossa vida é um padecer incessante.
Em cada lágrima um mistério profundo
verte nos olhos o tormento constante
que aflige a alma humana neste mundo.
Em cada lágrima sangra com ardimento
a ferida duma paixão que silenciamos
e escorre da intimidade o sofrimento
pelo delírio do amor que alimentamos.
Em cada lágrima vivemos a desventura
dum adeus tristonho e o mais sagrado
anseio da volta esperada com ternura.
Em cada lágrima existe uma constância
a instruir que só após termos chorado
aprendemos a ver melhor uma distância.
= = = = = = = = =
Poeminha de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
Ostras
e palavras.
Conteúdo:
pérolas.
= = = = = = = = =
Soneto de
JÉRSON BRITO
Porto Velho/ RO
O cálice
As madrugadas atravesso em claro
Tendo este cálice por companhia,
Sorvo d'angústia o paladar amaro,
Nada mais fulge, nada me alumia.
Quanto negrume verte meu suspiro,
Essa lembrança, quando vem, magoa,
Nenhum alento no horizonte miro,
Somente um brado lastimoso ecoa.
Devaneando nest'alcova escura
Vejo-me à beira dum abismo fero.
Nem mesmo estrelas tem o céu... Nem lua!
A dor me cinge e se tornou clausura,
Se regressares, meu amor, espero
Embebedar-me da meiguice tua.
= = = = = = = = =
Poetrix de
TASSO ROSSI
Porto Velho/RO
Geométrica Mente
tuas curvas,
meus planos…
tangentes.
= = = = = = = = =
Poema de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/SP
Eu e o tempo
Nos meus poemas faço uma profunda reflexão
sobre o sentido da vida.
Vivi, vivo, sofro e faço versos.
Mas a vida engole com sofreguidão as minhas rimas,
as minhas metáforas, meus tempos verbais,
que tanto sustentaram meus quereres.
E meus poemas já pedem escoras.
= = = = = = = = =
Soneto de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ
Antes de nós
Quando eu partir para o destino derradeiro
Irá comigo, o amigo que... ficar
e eu dormirei dentro da luz do seu olhar
mais fraternal, mais luminoso e prazenteiro.
Ele há de rir, sorrir, cantar o que eu cantei,
lembrar-se-á até das minhas gargalhadas,
remoerá, com alegria, as piadas
que me contou e que eu também já lhe contei.
Se ele se for antes de mim, hei de guardá-lo
no coração, porque a bênção fraternal
que há em nós há de fazer-me preservá-lo
e preservar- me dentro do seu coração,
porque o amor que torna o outro tão igual.
sempre abençoa quem foi verdadeiro irmão.
= = = = = = = = =
Poema de
J. G. DE ARAÚJO JORGE
Tarauacá/AC (1914 – 1987) Rio de Janeiro/RJ
A espera
Ela tarda... E eu me sinto inquieto, quando
julgo vê-la surgir, num vulto, adiante,
- os lábios frios, trêmula e ofegante,
os seus olhos nos meus, linda, fitando...
O céu desfaz-se em luar... Um vento brando
nas folhagens cicia, acariciante,
enquanto com o olhar terno de amante
fico à sombra da noite perscrutando...
E ela não vem...Aumenta-me a ansiedade:
- o segundo que passa e me tortura,
é o segundo sem fim da eternidade...
Mas eis que ela aparece de repente!...
- E eu feliz, chego a crer que igual ventura
bem valia esperar-se eternamente!...
= = = = = = = = =
Soneto de
ÓGUI LOURENÇO MAURI
Catanduva/SP
Beijos de verdade
(Anadiplose*)
Verdade! Beijos poéticos, dei!...
Dei no rosto, com afeto e carinho.
Carinho à cova dos seios, sonhei;
Sonhei e me deliciei de mansinho.
De mansinho, fui; te beijei na nuca;
Na nuca, sempre pensei te beijar.
Beijar devagar, te deixar maluca;
Maluca, enfim, sem poder disfarçar.
Disfarçar, nunca foi, aliás, teu forte.
Forte é, mesmo, o amor que sinto por ti.
Por ti, faço tudo, busco meu norte.
Meu norte é teu rumo, eu não desisti.
Eu não desisti de abraçar-te ao vivo.
Ao vivo, em cores, sentir teu calor.
Calor presente, eis um forte motivo.
Motivo que sublima nosso amor.
Amor tão sofrido alimenta os sonhos.
Sonhos tais de te abraçar à vontade...
Vontade de ver teus lábios risonhos.
Risonhos, para beijos de verdade!
_____________________________
(*) - Figura de linguagem que consiste na repetição da palavra (ou últimas palavras) de um verso (frase) como palavra(s) inicial(ais) do verso seguinte.
= = = = = = = = =
Soneto de
EDY SOARES
Vila Velha/ES
Anjos e demônios
Se acaso ainda sofre, noite afora,
em sua infinitude mal dormida;
se a insônia, em noites tristes, apavora
e o pranto ainda inunda a sua vida...
Talvez seja o momento, então, querida,
de ponderar que enquanto você chora
minha alma, aqui, também está sofrida
e a dor da despedida me devora.
Bem sei que tenho em mim algum defeito
mas nem por isso a vejo no direito
de impor a culpa inteira a mim somente.
Nenhum de nós é santo ou pecador,
mas creio que erra ainda mais, amor,
não assumindo o que deveras sente!...
= = = = = = = = =
Poema de
CECÍLIA MEIRELES
Rio de Janeiro RJ, 1901-1964
Alva
Deixei meus olhos sozinhos
nos degraus da sua porta.
Minha boca anda cantando,
mas todo o mundo está vendo
que a minha vida está morta.
Seu rosto nasceu das ondas
e em sua boca há uma estrela.
Minha mão viveu mil vidas
para uma noite encontrá-la
e noutra noite perdê-la.
Caminhei tantos caminhos,
tanto tempo e não sabia
como era fácil a morte
pela seta do silêncio
no sangue de uma alegria.
Seus olhos andam cobertos
de cores da primavera.
Pelos muros de seu peito,
durante inúteis vigílias,
desenhei meus sonhos de hera.
Desenho, apenas, do tempo,
cada dia mais profundo,
roteiro do pensamento,
saudade das esperanças
quando se acabar o mundo…
= = = = = = = = =
Trova de
NEI GARCEZ
Curitiba/PR
Há emoções que a gente sente
e, que encantam tanto, tanto,
que, se expressas, verbalmente,
perdem parte deste encanto.
= = = = = = = = =
Soneto de
EMÍLIO DE MENESES
Curitiba/PR, 1816 – 1918, Rio de Janeiro/RJ
A chegada
Noite de chuva tétrica e pressaga*.
Da natureza ao íntimo recesso
Gritos de augúrio vão, praga por praga,
Cortando a treva e o matagal espesso.
Montes e vales, que a torrente alaga,
Venço e à alimária** o incerto passo apresso.
Da última estrela à réstia ínfima e vaga
Ínvios*** caminhos, trêmulo, atravesso.
Tudo me envolve em tenebroso cerco
D'alma a vida me foge, sonho a sonho,
E a esperança de vê-la quase perco.
Mas uma volta, súbito, da estrada
Surge, em auréola. o seu perfil risonho,
Ao clarão da varanda iluminada!
======================
*Pressaga = que pressagia, prevê ou pressente
**Alimária = animal de carga
***Ínvios = Em que não se pode passar, transitar em caminho, estrada etc.).
= = = = = = = = =
Quadra Popular
Sonhei contigo esta noite,
mas oh! que sonho atrevido!
Sonhei que estava abraçado
à forma do teu vestido !
= = = = = = = = =
Epigrama de
ROBERTO CORREIA
Salvador/BA 1876 – 1937
Carroceiro, desalmado,
– diz o burro – vê que tu és
meu irmão! mas, aleijado,
que nasceste com dois pés!
= = = = = = = = =
Martelo Agalopado de
JOSÉ CAMELO DE MELO REZENDE
Pilõezinhos/Distrito de Guarabira/PB, 1885 – 1964, Rio Tinto/PB
O orgulho nasceu em noite escura,
E é filho da triste ignorância,
Ao descer o seu corpo à sepultura,
Cai-lhe verme por cima, em abundância,
E seu todo se torna uma figura,
Que nos causa a maior repugnância.
= = = = = = = = =
Haicai de
HANA HARUKO
(Clevane Pessoa de Araújo Lopes)
Belo Horizonte/MG
Pássaros canoros
Energia em expansão
Almas projetadas…
= = = = = = = = =
Trova de
ARTHUR THOMAZ
(Arthur Thomaz da Silva Neto)
Campinas/SP
Não tem preço, a amizade,
é o ditado popular.
E os amigos de verdade
são difíceis de encontrar.
= = = = = = = = =
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