quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Isabel Pakes (Poemas Avulsos) II

POEMA DE AMOR INTENSO

Amas-me tanto, Senhor!
Puseste nas alturas a extensão da tua grandeza
e banhaste os meus olhos com as luzes das estrelas
para que eu possa me extasiar ao contemplar tua beleza!

Amas-me tanto, Senhor!
Sobre a terra deixaste transbordar o cálice da tua providência
e fertilizaste o meu espírito nos princípios da fé
para que eu possa me abastar do Pão sem temores de carência!

Amas-me tanto, Senhor!
Concedeste-me o dom da Vida.
Tomaste-me por teu filho e herdeiro dos teus astros,
das tuas águas, das tuas flores...
E para consumar o teu amor por mim
ofereceste em holocausto o teu melhor cordeiro!

Amas-me tanto, Senhor!
Dentro da minha pequenez me constituíste grande e forte
quanto a tua imagem e semelhança.
E tudo o que esperas de mim é tão pouco!
Apenas que eu me guarde simples aos teus olhos, tua eterna criança!

Amas-me tanto, Senhor!
Quantas vezes tenho te agastado com lamúrias infundadas
sem que te apartes de mim...
Quantas vezes tenho te contristado, apresentando-me fraca diante de ti
e mesmo assim me reconfortas e me reconduzes à caminhada!

Amas-me tanto, Senhor!
Que eu me perco em meus anseios de muito te louvar.
E sinto-me impotente na busca de palavras
que retratem fielmente a minha inspiração.
Por mais que eu me desdobre em pensamento
não consigo me alcançar no infinito da minha gratidão!

QUALQUER DIA

Qualquer dia destes
eu vou me vestir de brisa
e brincar nas ondas
dos teus cabelos.

Qualquer dia destes
eu vou me vestir de riso
e me embalar na rede
da tua boca.

Qualquer dia destes
eu vou me vestir de brilho
e refletir no espelho
dos seus olhos.

Qualquer dia destes
eu vou me vestir de amor
e me guardar no cofre
do teu coração.

POETA

Teu ego a descoberto,
teus sentimentos, tuas emoções,
tuas alegrias literalmente expostas,
tua saudade rimando à Auroras, Amélias e Marias...
teus desabafos, teus apelos, teus cuidados,
teu coração pulsando cá do teu lado de fora - tuas agonias,
tua morte de cada dia, tua alma exteriorizada,
teu inferno, teu céu, tua vida tanta vezes renascida,
teus êxtases, teus sonhos, teus delírios...
Teu ser em minhas mãos - tua poesia!

Teu demônio me tentando
teus pecados me pervertendo
teu anjo me guardando
teu amor me absolvendo
tua sina me encantando
tua arte me seduzindo
tua essência escorrendo em mim
pelas entrelinhas
minha alma se entregando à tua estesia
tuas musas fecundando as minhas
meus versos vindo à luz...
Meu ser em tuas mãos!

SAUDADE

Vives de sugar-me a essência.
Vives de estancar-me o riso.
Vives de me envelhecer.

Saudade!

Parasita voraz crescendo dentro em mim,
corroendo-me.
Eco de lembranças retumbando em minha mente,
entorpecendo-me.
Veneno fluindo lentamente em minhas veias,
mortificando-me.

Saudade!

GARI DE ESTRELAS


O Sol, gari de estrelas e amantes,
varreu a noite pela madrugada.
Espanou carícias, recolheu amores,
levou Morfeu dos braços da amada.

Passou o dia austero, inclemente,
a espreitar lembranças e saudade.
Desfez promessas, desmentiu as juras
e demorou-se prolongando a tarde.

Mas o cansaço o alcança e o domina.
Torna-o morno... fraco... sonolento.
Depois o arrasta horizonte além.
O céu muda de cor nesse momento!

E Vênus, esplendorosa alcoviteira,
por sobre os ombros do horizonte espia:
- O Sol já dorme - sussurrando avisa.
Volta, Morfeu, que terminou o dia!

TRANSMUTAÇÃO
Vi esgarçarem-se os véus e a névoa dissipar-se...
E no espocar das lágrimas, meu sonho vi
como num flash
dimensionar-se aqui, magnífico e palpável:
meu mundo modificado, impregnado de amor!
E tudo estava nele! E só o esprecto de mim...

Foi um estado novo que experimentei, atônita!
A dor parindo o riso...!
E ao grito surdo de minh'alma em êxtase
ruíram-se as muralhas à volta do meu ser.

Sou livre, agora! Posso ir-me.
Devo tomar no sonho o lugar
onde o sonhar a mim tem projetado.
Os despojos do que fui...
Que deles se ocupem aqueles que ainda dormem.
Nada mais são que pó e ao pó devem tornar.

Vou dar-me à vida! Soprar-me...
Transmutar o eu em mim.
Tornar verdade o que sonhei, aqui
onde todos estão, só eu que não...
...estava.

VIVERÁS

Viverás para sempre,
perpetuado em mim,
que o meu amor
é transcendente à vida.
Assim, quando eu dormir
na minha noite infinda,
em mim tu viverás ainda!

FLAMAS AZUIS

Emerso das sombras
à força do lume
o sólido imenso se avulta
majestático!

Hermético,
geometricamente plantado
como a levar a terra a contatar no espaço
as emissões celestiais,
em meio a amplidão do deserto
onde os fantasmas se inibem
e se aquietam os sons.

Ao fundo, o negro da noite se acentua
e o azul fosforesce no contraste.
São flamas azuis lhe coroando o ápice,
como se lá dentro se guardasse
o espírito do mundo.
Admirável archote!

Colossal pira pétrea e angular
que os séculos olham, arranham
e... passam,
porquanto perdure...
porquanto perdurem as impressões do artista
neste quadro em que me enquadro,
buscando decifrar...

O POBRE

Sem escrúpulos, no claro do dia,
ele sai pelas ruas assuntando cabeças.
Enquanto elas idealizam, ele trama.
E à hora dos justos, enquanto repousam,
o velho morcego motiva sua insônia
à luz das idéias - delas.
E no domingo veste a lã,
lustra o latão da auréola
e vai à igreja articular seu perdão.
Certo de si, o hipócrita,
infla o peito de vanglórias
e a si mesmo aplaude.
Pensa burlar a divina consciência,
acredita mesmo que pode,
o pobre pseudo-ser.

TRANSCENDÊNCIA

Mergulho o olhar no fundo do espelho
e me guardo dentro dele,
que eu mesma não me possa divisar.

Cristalizo a minha imagem
deixo pesar essa âncora...
que eu me ausente, mas não deixe o lugar.

Abro minhas imensas asas,
espano o pó dos pés
e saio de mim,
diluindo-me no tempo e no espaço.

Leve - mais que a pluma,
livre - mais que o ar,
experimento o meu vôo e gosto!

Ensaio um bailado novo sobre minha sombra fria
e rio-me de sua impotência ante a mudez dos meus passos.

Fortaleço-me no que quero!
Liberta que estou
das tramas da carne e dos ossos,
tudo alcanço. Tudo posso!

Visualizo teus pensamentos e vou buscar-te.
Emaranho-me nas espirais dos teus devaneios
e te arrasto além dos limites da tua imaginação,
onde o silêncio absoluto é a expressão mais forte da palavra
e o sentimento mais oculto se extravasa em comoção!

É quando tu te despes dos teus zelos e pecados
e te entregas a mim, com toda a nudez do teu eu eterno.

É quando te descobres SANTO
e eu te reconheço HOMEM!
e me apresso em aparar-te o pranto.
Porque preciso do sal das tuas lágrimas
com que temperar o meu depois...

Depois. Quando emergir do espelho...

Fontes:
Portal CEN http://www.caestamosnos.org/
Blog da Autora. http://belpakes.blogspot.com/

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