O PRÍNCIPE
Dizem que ele
nasceu em noite constelada
enquanto um anjo bom
sua lira tangia.
Por isso é que se
fez senhor da madrugada
e parceiro fiel de
gaia confraria.
Soltando a
inspiração em noites de boemia,
a Via Láctea fitou
com alma extasiada
e tristonho cantou,
banhado em nostalgia,
o amor que não
viveu, a vida descuidada.
Foi poeta maior,
conversou com estrelas,
exortou-nos a amar
para, enfim, entendê-las…
E tudo o que mais
fez deu-lhe fama e destaque.
Tinha mesmo de ser
um bardo em seu destino,
que traria por nome
um verso alexandrino:
Olavo Brás Martins
dos Guimarães Bilac.
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O ANJO E O FAUNO
Por que tenho de
ser de dois extremos feito?…
De um extremo, o
melhor, vem a luz que me eleva.
Mas se às vezes sou
luz, outras vezes sou treva,
que me impede
enxergar o que é certo e direito.
Do outro extremo, o
pior, eu direi contrafeito
que há um fauno
viril que à luxúria me leva,
contra o qual, com
razão, a razão se subleva
e me faz explodir a
revolta no peito.
Quantas vezes me
ergui do meu lado mais nobre
como quem, com a
luz, de pureza se cobre
e a seguir, sem
razão, deixa tudo sombrio.
Entre um anjo e um
fauno eu passo a vida assim
a suplicar aos céus
que afugentem de mim
o lascivo animal
que anda sempre no cio.
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A UM JOVEM SUICIDA
Pela porta
entreaberta o velho pai assoma.
Olha triste, em
silêncio, a família e a casa.
E em soluços
explode a dor que ele não doma,
o mal contido
pranto, a lágrima que abrasa.
A todos, de um só
golpe, o sofrimento arrasa.
Inconsolável mágoa
a casa inteira toma.
Parece que a
tristeza, enfim, deitou sua asa
sobre um lar onde a
paz era único idioma.
Tempos depois
passou a dor e o desconforto.
Mas do pai, que um
dia abraçou o filho morto,
como eterno castigo
a dor não se apartou.
Ficou-lhe na
lembrança – e pela vida inteira -
a débil voz do
filho e a queixa derradeira:
– Estou morrendo,
pai!… A droga me matou!
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AMOR EM DOIS TEMPOS
Rompendo a neblina
que embaça o passado,
o sol em minha alma
desperta a saudade
e eu volto contente
à feliz liberdade,
ao álacre jogo do
tempo encantado,
do idílio inocente,
do beijo apressado
temendo os olhares
do pai da beldade.
Depois uma flor do
gentil namorado
no peito da amada
era a felicidade!
Não sei em que
ponto perdeu-se o lirismo
do amor que os
“ficantes”, em seu modernismo,
mataram o encanto e
a pureza ideal.
E enquanto eles
“ficam”, ao som da balada,
o amor vai perdendo
a feição encantada,
mudando-se em coisa
sem graça e banal.
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UM CASO APENAS
Quando ouvi teu
adeus cruzando minha porta,
em meu peito senti
se esvair minha crença,
e vi, contendo a
dor, minha esperança morta
na frieza letal de
tua indiferença.
Em minha solidão um
sonho me conforta:
ver-te um dia
chegar e me pedir licença
para entrar nesta
casa, e pela mesma porta
de onde te vi
partir sem amor, sem detença.
Tudo passa e esta
vida é lição permanente.
E eu aprendi que
amar não é viver somente
de passada ilusão
que no tempo se escoa.
E daqui desta porta
eu te digo, em verdade,
que agora para mim
não és sequer saudade;
mas um caso banal, um incidente à-toa.
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