quarta-feira, 20 de julho de 2016

Folclore Japonês (Kitsune, O Noivo da Raposa Encantada)

Essa é uma antiga história que surgiu no século VIII, durante o reinado do imperador Kinmei no Japão. Conta a lenda que um rapaz que vivia em Mino-no-Kuni, atualmente prefeitura de Gifu, certo dia montou em um belo cavalo branco e decidido, saiu à procura de uma linda noiva para com ela casar. Depois de muito cavalgar, em uma grande planície, avistou uma linda jovem colhendo flores silvestres. Ele ficou admirado com a beleza da encantadora menina, que percebendo sua presença, abriu um belo sorriso. Seus olhares se cruzaram e ele sentiu um estranho brilho em suas pupilas, como intencionassem seduzi-lo…

O rapaz tomado de súbita coragem, aproximou-se educadamente com o coração cheio de alegria. Descendo de seu cavalo, dirigiu algumas palavras a ela: 

– O que faz tão bela donzela nesta planície florida? 

– Caminhando à procura, quem sabe, de alguém que possa preencher meu coração!

O rapaz levou um choque de encantamento e, timidamente, propôs: 

– Gentil menina queira eu poder ser essa pessoa! Aceita ser minha noiva?

Um tanto ruborizada, a garota abaixou os olhos e respondeu: 

– Eu aceito!

Poucos dias depois, o rapaz voltou para sua casa na companhia da bela garota. A vila inteira se reuniu e, então, foi realizada uma grande festa de casamento.

Assim, o tempo passou e o casal vivia muito feliz.  Tempo depois, a jovem esposa engravidou e no dia 15 de Dezembro, um filho saudável nasceu. Exatamente naquela data e hora, a cadela que o rapaz criava em sua casa, desde que era menino, também teve um filhote. Os dias foram passando e o cachorrinho, todas as vezes que via a bela mulher do lavrador, começava a rosnar irritado, mostrando-lhe os dentes. Por vezes, chegou ameaçar atacar, deixando-a tremendo de medo. Um dia, ela pediu ao marido: 

– Por favor, meu querido marido, livre-se desse filhote de cachorro que vive me atormentando. Porém, seu marido ficou com dó do cachorrinho.

O tempo foi passando, chegando meados de Fevereiro; época de pilar o arroz em casca para fazer o beneficiamento. Então, a bela esposa entrou na despensa onde estava o pilão e o almofariz, para preparar a refeição da tarde. De repente, a cadela, mãe do filhote, avançou rosnando e atacou a mulher saltando sobre ela enfurecida. Ela ficou paralisada de medo e tremendo de pavor. Ao ouvir os gritos, o marido correu em seu socorro. Mas o que ele viu o deixou ainda mais espantado.

Sua bela esposa estava se transformando em uma raposa. Imediatamente, a raposa subiu sobre um armário para fugir dos dentes afiados da cadela e disse ao marido: 

– Desculpe-me querido, a cadela quebrou meu encanto e, num momento de pânico, acabei por revelar minha forma original. Como pode ver, não sou humana, e sim uma raposa. Mas, creia, eu te amo como ninguém mais poderia amar nesse mundo! Tivemos uma bela convivência como marido e mulher. Embora por um período curto, nós fomos muito felizes. A prova da nossa felicidade é essa linda criança, ela é fruto de nosso amor. Sei que, conhecendo minha verdadeira origem, é impossível permanecermos casados, por isso retornarei a floresta – assim, saltando pela janela, a raposa desapareceu na mata.

A raposa encantada em forma de mulher foi chamada de kitsune. Dizem que a raposa voltava todas as noites para dormir com seu marido humano.  Mas, na realidade, ela voltava apenas nos sonhos do jovem lavrador. Certa ocasião, a raposa encantada veio visitar o marido trajando um lindo quimono. Seu longo traje tinha a cor rosa do alvorecer e uma elegância indescritível. Mas, tomada pelo vento, ela foi flutuando para um lugar distante e desconhecido.

Desde então, o jovem nunca mais sonhou com sua encantada. Porém, aquela visão ficou gravada em sua mente e ele não conseguiu esquecê-la. O saudoso marido passou a escrever poemas e recitá-los repetidamente em homenagem a sua amada. Com o passar dos anos, o garoto, filho do lavrador e da raposa, cresceu e se tornou um rapaz de força e rapidez sem igual. O jovem, muito popular na província, acabou se tornando o organizador dos Festivais da Primavera e da Colheita. E, por ele ser conhecido como filho da raposa encantada (kitsune), o cargo de organizador dos festivais, passou a ser chamado de Kitsune-no-atae.

Fonte: 
Myths and legends of ancient Japan

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