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terça-feira, 20 de agosto de 2019

Contos e Lendas do Mundo (Izanami e Izanagi: A Criação do Japão)


Izanami (aquela que convida) e Izanagi (aquele que é convidado) eram deuses que representavam o Céu e a Terra, e foram eles os criadores de Oyashima (as grandes oito ilha do arquipélago japonês). Também criaram o Sol, a Lua, as tempestades e outros fenômenos naturais além de serem os responsáveis ​​pelo nascimento de outros deuses e da civilização japonesa como um todo.

Naqueles tempos primórdios, só existia um oceano de caos. Kunitokotachi, o governante eterno da terra, apareceu da massa borbulhante com duas divindades subordinadas. Desses deuses nasceram Izanagi e sua irmã (futura esposa) Izanami, considerados enviados dos céus. Depois de criar uma ilha utilizando um arpão, ali estabeleceram um lar e criaram uma coluna sagrada.

Caminhando em direções opostas ao redor da coluna, o casal se encontrou e Izanami elogiou a beleza de Izanagi. Então se casaram e o primeiro filho que nasceu foi um monstro; o segundo, uma ilha. O casal então pediu explicações aos deuses que lhes informaram que a iniciativa do encontro sexual tinha que partir de Izanagi e não de Izanami, como vinha ocorrendo até então.

Seguindo essa orientação, tiveram mais filhos, não só as ilhas que formam o Japão, como inúmeras divindades. O último a nascer dessa união foi Kagutsuchi, o deus do fogo, que acabou queimando Izanami, provocando sua morte. Do vômito, da urina e dos excrementos da deusa ao morrer, nasceram outros deuses. Izanagi ficou tão furioso com o filho, que o decapitou com a espada.

Das gotas de sangue de Kagutsuchi (deus do fogo) que caíram da espada nasceram oito deuses e do corpo sem cabeça de Kagutsuchi surgiram mais oito divindades da montanha. Inconsolável com a morte de Izanami e como ainda não tinham acabado com o trabalho de criação da terra, Izanagi se dirigiu até a “terra das melancolias” (yomotsu-kuni) para tentar resgatar sua esposa.

Ela o recebeu na porta dos infernos e pediu-lhe que esperasse ali enquanto organizava sua liberação dos poderes da morte, proibindo-o que entrasse e a olhasse de perto. Com saudades de sua mulher, Izanagi não esperou e acendendo uma tocha, penetrou na terra da melancolia e teve a horrível visão de Izanami em plena decomposição, e em volta vermes retorcidos e serpentes.

Sentindo-se humilhada, a deusa mandou soldados do inferno, mulheres horríveis e deuses do trovão para que despedaçassem Izanagi, mas este conseguiu repelir os demônios e fugir. Ao final, Izanami saiu da cova e se divorciou do marido, retornando depois para o inferno, cuja porta foi fechada com uma enorme rocha, separando definitivamente o mundo dos vivos com a dos mortos.

Izanami se sentiu desonrado pelo acontecido e foi se purificar no mar. Ao tirar a roupa e seus objetos pessoais, estes se converteram em deuses e deusas. A sujeira que saiu no banho se transformou em outros deuses malignos, forçando Izanagi a criar deidades marinhas para manter o equilíbrio.

Ao lavar o rosto, de seu olho esquerdo nasceu Amaterasu, a deusa do sol, do seu olho direito, Tsuki-yomi, o deus da lua, e do seu nariz Susanowo, o deus da tempestade. A deusa Amaterasu herdaria os céus, Tsukuyomi tomaria o controle da noite e Susanoo seria o deus da tempestade e dos mares.

Fonte:
Japão em Foco

domingo, 18 de agosto de 2019

Contos e Lendas do Mundo (Japão: A Raposa e o Tanuki)


Muito, muito tempo atrás, uma raposa encontrou um tanuki*.

“Como vai tudo, Tanu-kun? Quando se trata de transformação nós dois somos os melhores do mundo, mas eu imagino quem seria o número um, eu ou você?”

O tanuki não respondeu, mas apenas apontou para o próprio peito.

“O que você quer dizer? Você acha que você é o melhor transformador?”

“Isso é certo”, disse o tanuki. Então, eles decidiram ter um concurso de metamorfose.

Uma vez que foi decidido, a raposa não perdeu tempo. “Se eu não superar esse tanuki metido”, pensou a raposa, “será uma vergonha para a fama das raposas.”

Só então a raposa notou uma pedra memorial em pé ao lado da estrada. Assim, a raposa ficou bem próximo a ela e se transformou em uma estátua de Jizo-sama.

Em pouco tempo, o tanuki apareceu. Este tanuki tinha um hábito curioso – sempre que via Jizo-sama, ele ficava com fome e comia o almoço que ele estava carregando. Neste dia não foi diferente.

“Meu Deus, eu estou com tanta fome. Acho que vou almoçar.”

O tanuki pegou o almoço que ele estava carregando em suas costas e tirou alguns bolinhos de arroz. Ele colocou um diante de Jizo-sama como oferenda, e inclinou a cabeça.

Talvez ele tivesse orado “que a raposa será vencida no concurso de transformação.” Mas, quando ele levantou a cabeça e abriu os olhos, foi pego de surpresa. O bolinho de arroz que ele tinha oferecido não estava mais lá. Isso foi estranho. Pensando nisso, ele se perguntou se talvez ele realmente não tivesse feito a oferta. Então ele com muito cuidado colocou outro bolinho em frente à estátua de Jizo-sama. Ele abaixou a cabeça, orou “Namu Amida Butsu, Namu Amida Butsu”* e levantou a cabeça imediatamente. O quê? O bolinho tinha sumido!

“Isso não está certo!”

O tanuki colocou mais um bolo de arroz na frente de Jizo-sama, disse rapidamente: “Namu Amida -” e levantou a cabeça antes que pudesse sequer ter a certeza que ele tinha realmente abaixado. O que ele viu foi Jizo-sama com um bolinho de arroz meio comido em uma das mãos.

“Ei!” o tanuki gritou, e agarrou o braço de Jizo-sama. O que havia sido Jizo-sama voltou à sua forma habitual, a raposa.

“O que é tudo isso, Kitsune-san?” perguntou o tanuki.

“Agora é a sua vez”, respondeu a raposa. O tanuki pensou por um momento, e levou de volta o que restava do bolinho antes de falar.

“Cerca de meio dia de amanhã eu vou me transformar no senhor do castelo e passar por aqui, e então olhar de perto.”

E assim, a raposa ficou esperando lá no dia seguinte. Finalmente, ele viu a procissão do senhor vindo em sua direção.

Primeiro vieram os varredores gritando “Abaixo! Todo mundo no chão!” Depois disso veio uma longa fila de samurai, e, em seguida, a liteira em que o senhor estava sentado. A raposa estava cheio de admiração, e correu para a liteira do senhor, sem sequer pensar mudar para a forma humana.

“Senhor Tanu, senhor Tanu”, ele chamou, “você me venceu.”

No entanto, a procissão não era uma transformação do tanuki, e sim uma procissão de verdade. E assim, um dos samurais carregando um grupo correu para a raposa. A surra que raposa levou foi severa. E de verdade.
____________________________
Notas:
* A oração Amida Butsu é amplamente ensinada por ser universalmente eficazes, e também tem a vantagem de ser curto. Isso é útil em um caso como este, quando a pessoa precisa rezar não tem nada de especial para pedir.

* Tanuki – é um personagem do folclore japonês desde tempos antigos. Ele é uma criatura mística, travessa e alegre, mestre no disfarce e na troca de formas, segundo relatos sobre a “criatura” que constam no livro Kojiki (Registro das Coisas Antigas), o livro mais antigo sobre a cultura do Japão, datado de 712. Diz-se que a principal característica do Tanuki é a predileção por saquê (sake, bebida fermentada feita de arroz). A criatura é frequentemente retratada com uma garrafa de saquê em uma mão e uma nota promissória na outra – uma conta que ele nunca paga – e sempre usando um chapéu.
Desde os tempos antigos até os atuais, estátuas de Tanuki podem ser vistas nas portas (tanto do lado de fora como de dentro) de restaurantes e izakaya (um tipo de bar japonês) para atrair clientes. Isso porque imagens de Tanuki são consideradas amuletos de boa sorte e prosperidade, enquanto ele próprio é um grande degustador de comida e bebidas, em especial o saquê, claro.
No Japão antigo, a identificação do Tanuki era incerta. Ele era referido à animais como itachi (doninha), ten (marta), musasabi (esquilo voador). Uma definição mais precisa do termo Tanuki ocorreu a partir da Período Edo (1603–1868), quando acabaram por identificá-lo com o texugo ou guaxinim japonês.
Contam as lendas que os planos fracassados em aplicar brincadeiras nos humanos, em muitas das vezes, seria por conta de sua adoração por saquê. “Ao sentir o aroma da bebida, o Tanuki esquece imediatamente de seu disfarce e levanta o rabo, revelando sua  verdadeira identidade”, conta um trecho em uma de suas lendas descritas no livro “Legends of Japan”, obra compilada em três volumes por F. Hadland Davis, escritor e estudioso da mitologia japonesa. o folclore japonês retrata Tanuki como uma criatura brincalhona, astuta e, ao mesmo tempo, “atrapalhada”. São raros os contos japoneses descrevendo um Tanuki cruel. (Fonte: Mundo-Nipo)


Fonte:
Casa de Cha

domingo, 16 de dezembro de 2018

Contos e Lendas do Mundo (Japão: A luta de sabres)


Essa história transcorre no século 17, no Japão, durante um período de fome.

Um camponês não tinha com o que alimentar sua família e se recorda do costume que promete forte recompensa àquele que seja capaz de desafiar e vencer o mestre de uma escola de sabre.

Ainda que nunca houvesse tocado numa arma em sua vida, o camponês desafia o mestre mais famoso da região. No dia fixado, diante de público numeroso, os dois homens se enfrentam. O camponês, sem se mostrar impressionado pela reputação do adversário, o espera com firmeza, enquanto o mestre de sabre estava um pouco perturbado por tal determinação. 

Quem será este homem? - pensa - Jamais nenhum vilão teria coragem de me desafiar. Não será uma armadilha de meus inimigos?

O camponês, acuado pela fome, se adianta resolutamente até seu rival. O mestre vacila, desconcertado pela total ausência de técnica de seu adversário. Finalmente, retrocede movido pelo medo. Antes do primeiro assalto, o mestre sente que será vencido. Baixa seu sabre e diz:

- Você é o vencedor. Pela primeira vez na vida seria abatido. Entre todas as escolas de sabre, a minha é a mais renomada. É conhecida com o nome de "A que num só gesto dá dez mil golpes". Posso perguntar-lhe, respeitosamente, o nome de sua escola?

- A escola da fome! - responde o camponês.

Fonte:

domingo, 29 de janeiro de 2017

Folclore Japonês (Kaguya Hime: A Princesa da Lua)

A lenda da Princesa Kaguya também conhecido como o Conto do Cortador de Bambu, cujo título original é Taketori monogatari, data do Século X, é considerada a mais antiga narrativa japonesa existente. 

Kaguya-Hime: A Lenda

Há muito, muito tempo atrás, viveu um homem conhecido como O Velho Cortador de Bambu, ou “Taketori”. Todos os dias, andava entre os campos e as montanhas para colher bambus que, depois, transformava em lindos cestos e nos mais variados artigos. Seu nome era Sanuki no Miyatsuko.

O ancião e sua velha esposa viviam juntos numa casa no meio da floresta. Eles eram muito pobres e solitários, pois não tinham filhos para criar.

Um belo dia, enquanto estava na floresta, o velho Sanuki percebeu entre os bambus um talo cuja base brilhava intensamente. Achando aquilo muito estranho, aproximou-se para examinar melhor e viu uma luz intensa dentro do talo oco. Ele ficou espantado, pois, em anos e anos de trabalho, nunca havia visto algo como aquilo. Muito curioso, ele cortou o bambu e mal pôde acreditar no que viu. Dentro do talo, havia uma garotinha encantadora, com cerca de dez centímetros de altura.

“Uma menina, uma menina! Tão pequena e tão linda, só pode ser um presente dos Deuses!” -Disse o velho homem  – “Eu a descobri porque você estava aqui, entre os bambus que vejo todos os dias. Isso deve significar que você está destinada a ser minha filha.”

Então, ele pegou a frágil garotinha na palma de suas calejadas mãos e a levou para casa, entregando-a aos cuidados da sua esposa para que a criasse. Ao ver a menina, a velha senhora também ficou muito contente e encantada com a criança que possuía uma beleza incomparável, e era tão pequena que eles a colocaram num cesto para protegê-la.

Depois desse dia, por várias vezes, quando o Velho Cortador de Bambu recolhia os bambus, encontrava alguns talos recheados de moedas de ouro que ele juntou e juntou e, dessa forma, tornou-se um homem rico e importante na região. Pouco a pouco, Sanuki abandonou sua rotina de andar pelos campos para cortar bambus, porém, permaneceu sendo tratado e conhecido pelo antigo ofício: o Cortador de Bambu.

Kaguya Hime crescia muito rápido e a cada dia parecia mais bonita. Menos de três meses depois da sua chegada, a pequenina já era alta como uma adolescente. Até então, durante dias e noites, os pais, preocupados com a sua segurança, sequer tinham permitido que a filha saísse de seu quarto protegido por enormes cortinas.

Ninguém poderia acreditar que uma pessoa tão bonita pertencesse a este mundo. A menina tinha uma pureza de traços sem igual no mundo inteiro, e sua presença iluminava a casa com uma luz intensa que não deixava nem um canto na penumbra. Além disso, todas as vezes que o velho homem se sentia desanimado, com alguma dor ou até mesmo com raiva, bastava olhar para a criança e tudo passava. Diante dela, tudo ficava perfeito.

Ao alcançar o tamanho de adulta, um homem sábio de Mimuroto, de nome Imbe no Akita, foi convidado a dar a jovem um nome de mulher. Akita a chamou de “Nayotake no Kaguya-hime”, a Princesa Resplandecente do Bambu Flexível.

Os pais, que cuidavam dela amorosamente, decidiram celebrar o acontecimento com sua entrada na vida adulta. Para a comemoração, a jovem foi cuidadosamente preparada. Seus cabelos foram penteados para cima e a vestiram com trajes longos, de modo que a sua beleza foi ainda mais realçada.

A princesa Kaguya-hime estava deslumbrante. Sua festa, engrandecida por atrações de todos os tipos, durou três dias inteiros. Homens e mulheres foram convidados e se divertiram largamente.

Logo os comentários sobre a beleza da Kaguya Hime se espalharam e vinham jovens de todos os cantos do país para conhecê-la. Todos, encantados com a bela jovem queriam se casar com ela, mas Kaguya não queria se casar com ninguém. “Quero ficar ao lado de vocês dois”, dizia a jovem para seus velhos pais.

Mas cinco jovens nobres, de posições importantes, foram mais persistentes. Eles acamparam em frente à casa de Kaguya Hime e pediam uma chance a ela.

Preocupado, o velhinho chamou Kaguya e disse: “Minha filha, eu gostaria muito de ter você sempre por perto, mas acho justo que se case. Escolha um dentre os cinco rapazes que estão acampados aqui”.

Assim, depois de refletir, a linda jovem decidiu. “Eu me casarei com aquele que me trouxer o objeto mágico que pedirei”.

Um colar feito com os olhos de um dragão, um vaso feito com pedras dos deuses que nunca se quebra, um manto de pele de animal forrado de ouro, um galho que faz crescer pedras preciosas, um leque que brilha como a luz do sol e uma concha que a andorinha põe junto com seus ovos. Estes foram os objetos que Kaguya Hime pediu.

O velhinho levou os pedidos de Kaguya aos pretendentes acampados. Ele sabia que seria muito difícil conseguirem obter tais objetos. Qual não foi sua surpresa quando, ao final de alguns meses, todos os pretendentes trouxeram os presentes para Kaguya. Mas, quando eles foram obrigados a entregá-los a jovem, todos admitiram que os presentes eram falsos, pois conseguir os verdadeiros era uma missão muito difícil. E assim, nenhum deles obteve êxito.

Com a falha de todos os cinco príncipes, Kaguyahime, o velho taketori e sua esposa viveram tranquilos e felizes por uns tempos, como uma família unida. Mas as histórias sobre os feitos e falhas dos príncipes percorreram todo o Japão e chegaram ao ouvidos do imperador.

Este ficou então curioso e fascinado pelos relatos sobre a beleza da princesa, e se interessou em conhecê-la, enviando até seu pai então, um convite para que comparecesse a sede imperial.

Mas mesmo o convite do imperador foi rejeitado pela jovem, o que o irritou e o fez enviar então uma ordem convocativa. Temendo o imperador o cortador de bambu aconselhou à filha que obedecesse, mas ela surpreendeu a todos mais uma vez declarando que não obedeceria a ordem e que nem poderia, pois caso se afastasse de casa, iria dissolver-se em fumaça e desaparecer.

Dessa vez o Imperador não se enfureceu devido a justificativa, mas ficou ainda mais interessado, passaram então a trocar correspondências frequentemente e acabaram se tornando amigos, mas sempre adiando uma oportunidade de se conhecerem, enviando um ao outro poemas e contos. E assim, a família do taketori permaneceu em paz por alguns anos a mais.

Quatro primaveras haviam se passado desde que Kaguya fora encontrada no broto de bambu. Mas ela ficava mais triste a cada dia. Noite após noite, Kaguya Hime olhava para a lua, suspirando. Preocupado, o velho pai um dia perguntou: “Por que está tão triste minha filha?”. “Eu gostaria de ficar aqui para sempre, mas logo devo retornar.” Disse a jovem. “Retornar, mas para onde? O seu lugar é aqui conosco, nunca deixaremos você partir.” Disse o pai aflito. “Este não é o meu reino, eu sou uma princesa de Reino da Lua e, na próxima lua cheia, eles virão me buscar”. Completou tristemente a princesa.

Muito assustados com a reveladora confissão de Kaguya Hime, os velhinhos decidiram pedir ajuda ao imperador do reino onde viviam. O Imperador, em ajuda, prontamente enviou muitos guardas para vigiarem a casa do casal. Um verdadeiro exército foi formado.

No dia seguinte, a temida noite de lua cheia chegou. A casa estava tão vigiada que parecia impossível alguém conseguir levar Kaguya Hime. De repente, uma enorme luz surgiu no céu, como se milhares de luas estivessem presentes ao mesmo tempo.

A luz era tão intensa que ninguém conseguiu enxergar a carruagem que descia, guiada por um grande cavalo alado e muitos seres ricamente trajados. Depois de algum tempo, quando a luz diminuiu, a carruagem já estava voando, em direção à lua. Kaguya Hime não estava mais presente, ela fora junto com a comitiva celestial. A comitiva celeste levou Kaguya-hime de volta à Tsuki-no-Miyako (A Capital da Lua), deixando seus pais adotivos da terra em lágrimas.

Os velhos pais ficaram muito tristes, inconformados voltaram ao aposento de Kaguya e encontraram um potinho, presente da filha querida. Ela havia deixado um pó mágico, uma pequena amostra do elixir da vida que garantiria a vida eterna para os dois.

Mas, sem sua filha amada, os velhinhos não tinham motivo para viver para sempre. Eles recolheram todos os pertences de Kaguya e levaram para o monte mais alto do Japão. Lá, queimaram tudo, junto com o pó mágico deixado pela jovem. Uma fumaça branca foi vista subindo ao céu naquele dia.

A montanha era o Monte Fuji. A lenda diz que a palavra imortalidade (fushi ou fuji) tornou-se o nome da montanha, “Monte Fuji”. Dizem, que ainda hoje, é possível ver a fumaça branca subindo em direção ao céu.

Fonte:  Myths and Legends of ancient Japan in Caçadores de Lendas 

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Conto Japonês (O nome da gata)

Há muitos e muitos anos, numa pequena cidade no interior do Japão vivia um casal de velhinhos. Eles levavam uma vida feliz e tranquila e amavam a natureza. Certo dia quando os velhinhos visitavam um templo, o monge deu a eles uma gatinha que havia nascido sob o assoalho do pavilhão de orações.

O velhinho e a velhinha receberam a linda gatinha como quem recebe uma graça divina. Eles não tinham filhos e sentiram que podiam criar aquele pequeno animal com todo carinho e dedicação. Enquanto voltavam para casa foram discutindo qual nome dariam para a gatinha.

- Vamos dar o nome de uma pessoa forte e valente para que nossa gatinha seja sadia e corajosa - disse o velhinho.

- Sugiro que seja Musashi-bo Benkei, pois é um forte e valente guerreiro e ao mesmo tempo, um monge dedicado - respondeu a velhinha.

- Seria um nome perfeito se Benkei não fosse nome de homem. Nossa gatinha tem que ter nome de mulher.

- Que tal Tomoe Gozen, nome da mais forte mulher guerreira do Japão. Ela participou de várias batalhas cavalgando pelos campos, vestida de armadura e brandindo sua mortal naguinata (alabarda). Lutou ao lado do marido Minamoto no Yoshinaga, até tomar a capital do Japão e expulsar os poderosos de Heian-kyo (capital do antigo Japão).

- Tomoe Gozen, pode ser um nome interessante, porém é um nome muito comprido. Para chamar nossa gatinha será preciso repetir - Tomoe Gozen, Tomoe Gozen, Tomoe Gozen...ah! é comprido demais.

Assim os velhinhos continuaram pensando em qual nome colocar na gatinha, quando chegam em casa. Um vizinho que os viu chegar foi logo perguntando.

- Oh! Que linda gatinha, qual é o nome dela?

- Pois estávamos pensando exatamente em qual nome dar para ela. Tem alguma sugestão?

- Deixe-me ver...acho que Tora (tigre) combina com as manchas na pele dela.

- Pensando bem é um bom nome, pois o tigre é um animal forte e destemido.

Assim a gatinha passou a ser chamada de Tora, sendo tratada com muito carinho.

No dia seguinte o casal brincava com a gatinha chamando Tora pra cá e Tora pra lá. Nisso a mulher do vizinho que observava do portão perguntou:

- Por que deram o nome de Tora para um bichinho tão delicado?

- A sugestão foi de seu marido, e nós aceitamos porque queremos que nossa gatinha cresça muito forte.

- Ah! Meu marido não sabe nada. O animal mais forte que existe é o ryu (dragão). Se lutarem dentro d’água, o dragão vence o tigre facilmente.

O casal concluiu que a vizinha tinha razão e mudaram o nome da gatinha para Ryu.

Alguns dias depois, passou por ali um andarilho e comentou:

- É a primeira vez que ouço uma gatinha sendo chamada de Ryu (dragão). Por que puseram um nome tão diferente para uma gatinha?

Mais uma vez o velhinho explicou que era um nome sugestivo para a gatinha crescer forte.

- Realmente o dragão é um animal muito forte, porém, todos nós sabemos que em dia de grande tempestade, o dragão sobe nadando na chuva e penetra numa nuvem para chegar ao céu. Portanto, se não fosse a nuvem ele jamais chegaria ao céu. Isso significa que a nuvem é mais forte que o dragão.

O casal pensou, pensou e concluíram que o andarilho tinha razão. Assim mudaram o nome da gatinha para Kumo (nuvem). O andarilho seguiu sua caminhada e chegando ao castelo mais próximo comentou o que tinha acontecido.

Na época havia na corte muitos debates culturais. Os intelectuais discutiam incansavelmente durante anos à fio, qual era a estação do ano mais bonita: a primavera ou o outono. Também faziam debates para saber qual a flor mais bonita: a cerejeira (Sakura) ou a ameixeira (Ume). Houve então, grande interesse em sugerir o nome da gatinha pelos intelectuais do castelo. Um deles foi até o vilarejo e sugeriu ao casal que mudasse o nome da gatinha que agora chamava Kumo (nuvem), para Kaze (vento).

- Por que Kaze?, perguntou o velhinho.

- Ora, pense bem. Um sopro de vento e a nuvem dissipa-se toda. Por isso é melhor dar o nome de Kaze (vento).

O bom velhinho pensou um pouco e concluiu que o cortesão tinha razão. Assim o nome da gatinha foi mudado para Kaze.

Nisso chegou outro intelectual da corte e questionou:

- Ora, Kaze não me parece forte suficiente. Estive observando no último vendaval que o vento destelhou muitas casas, mas não conseguiu derrubar as paredes. Isso significa que Kabe (parede) é mais forte que Kaze (vento).

O argumento pareceu muito convincente ao velhinho e mais uma vez o nome da gatinha foi mudado para Kabe (parede).

- Acho que Kabe será seu nome definitivo, disse o velhinho olhando satisfeito para a gatinha.

Nisso a velhinha fez uma observação:

- Parede não é tão forte assim. Veja ali aquele buraco. Foi o Nezumi (rato) quem fez.

- Então precisamos mudar o nome dela para Nezumi.
- Gato com nome de rato não fica muito bem, e rato tem medo de Neko (gato)...

- Realmente, o gato é mais forte que o rato. Então vamos chama-la de Gatinha. E assim passaram a chamar a gatinha de Gatinha e parece que foi uma medida acertada, pois ninguém mais deu palpite no nome dela.

Fonte:
Gisele Keiko Yamasaki. Contos e Lendas Japonesas.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Folclore Japonês (Ningyo: As Sereias do Japão)

Lendas sobre sereias são contadas há muito tempo ao redor do Mundo. Essas criaturas enigmáticas têm sido vistas e encantado marinheiros nas águas dos cantos mais distantes da Terra. No Japão, uma nação rodeada pelo mar, histórias desses seres meio-humanos e meio-peixes foi relatada durante séculos. Sereias são conhecidas como Ningyo em japonês, mas diferente das tradicionais sereias ocidentais, estas se assemelham mais a uma criatura marinha do que a um ser humano, provocando horror nas águas da “Terra do Sol Nascente”.

Com o torso e o rosto variando entre humano e peixe, as sereias nipônicas possuem dedos longos, garras afiadas e brilhantes escamas douradas, podendo variar em tamanho, desde o tamanho de uma criança a um adulto. Suas cabeças foram, por vezes, descritas como sendo deformadas, possuidoras de chifres, ou dentes proeminentes. Em outras versões, as sereias são descritas com uma forma que lembra a versão mais familiar de sereias ocidentais, mas com uma aparência sinistra, meio demoníaca.

Segundo a lenda, são capazes de emitir um canto agradável como a canção de um pássaro ou o doce som de uma flauta. Mas, ao contrário das sereias das lendas do Atlântico e do Mediterrâneo, uma Ningyo do Pacífico e do Mar do Japão são criaturas horríveis, sendo consideradas como um pesadelo surreal ao invés de uma mulher sedutora. Porém, acredita-se que a carne de uma Ningyo pode conceder a imortalidade e, suas lágrimas transformam-se em pérolas e, quando consumidas, trazem a juventude eterna sendo, portanto, assunto de muitos contos populares, alguns assustadores.

Avistamentos de Ningyo estão presentes no Nihon Shoki, um dos livros de registros mais antigos de histórias japonesas, que remonta a 619 dC. De acordo com antigas crenças, apanhar uma Ningyo pode trazer tempestades e infortúnio. Uma Ningyo levada com as ondas para a praia era um presságio de guerra ou calamidade. Essas sereias são consideradas Youkais, possuidoras de poderes sobrenaturais e podem amaldiçoar os seres humanos que tentarem ferir ou capturá-las. Algumas lendas falam de cidades inteiras que foram engolidas por terremotos ou maremotos após um pescador levar para casa uma Ningyo em uma de suas capturas.

Muitas e antigas histórias sobre Ningyos são relatadas na “Terra do Sol Nascente”. Diz-se que o primeiro relato registrado de sereias no Japão data do ano 619, durante o reinado da imperatriz Suiko. Nessa época, uma Ningyo teria sido capturada em águas japonesas e levada perante o tribunal da própria Imperatriz. A criatura teria sido mantida em um tanque improvisado para o entretenimento de Suiko e de seus visitantes.

Com o passar do tempo, qualidades místicas e habilidades mágicas foram atribuídas às sereias do Japão e, assim como outros Youkais, acredita-se que tenham a capacidade de mudar de forma. Uma antiga história se passa no Farol de Nosaapu, ao nordeste de Hokkaido. A lenda conta que, em 1870, os guardiões do farol acreditavam que as sereias locais poderiam se transformar em medusas ou água-viva mortal. Estas sereias teriam se transfigurado em belas mulheres trajadas com requintados quimonos, que vinham em terra para seduzir e atrair os homens para o oceano. Em seguida se transformavam em medusas gigantes, matando qualquer um, tolo o suficiente por ter mergulhado com elas nas águas do mar.

Nomes como: Amabie, Amahiko, Arie e Yao Bikuni, estão entre as lendas de sereias e tritões mais conhecidas dos mares do Japão.

Amabie, uma sereia lendária com poderes de premonição, podia profetizar, quer uma abundante colheita ou devastadoras epidemias. Segundo contam, Amabie era uma Ningyo com o corpo do pescoço para baixo coberto por escamas, semelhante a um peixe, rosto humano e longos cabelos, porém, ao invés de boca, possuía um bico. De acordo com a lenda, no Reino de Higo, antigo distrito da prefeitura de Kumamoto, em torno do quinto mês do ano de Koka (meados de Maio, 1846), durante o Período Edo, um brilhante objeto foi avistado no mar.

Oficiais de Higo foram enviados à costa para investigar o reluzente objeto. E, durante muitas noites, se dirigiram até a beira da praia para observar a intensa luz. Em uma destas vigílias, uma estranha criatura saiu do mar. Ela revelou-se chamar Amabie e pronunciou uma profecia: “Durante seis anos, esse território boa colheita terá, porém, com a colheita, poderá surgir uma epidemia, se a doença surgir, um desenho deverá ser feito a minha imagem e mostrado aos doentes que, ao ver a imagem, se curarão da enfermidade”.  Após profetizar, imediatamente Amabie retornou ao mar. A história foi impressa no Kawaraban (boletim impresso em xilogravura) e assim sua aparência foi divulgada por todo o Japão.

Existem relatos de outras Ningyos com poderes semelhantes por toda costa japonesa. Amahiko Nyudo (amahiko monge), um tritão idêntico a Amabie, foi avistado na província de Hyuga (região de Miyazaki). Uma criatura idêntica, chamado Arie, apareceu em Aoshima-gun, de acordo com o jornal “Yamanashi Nichinichi Shinbun” de 17 de Junho 1876. Todos esses seres eram possuidores de poderes de predição, igual a muitos outros Youkais do vasto folclore nipônico.
Yao Bikuni: A Lenda

Outra lenda famosa sobre Ningyo, com diferentes versões, é a de Yao Bikuni, cujo nome significa “Monja budista de 800 anos”. Durante o período Edo, já rezavam as lendas que ossos de sereias podiam ser usados como remédio para curar qualquer doença, e que a ingestão da carne de uma Ningyo faria com que a pessoa vivesse para sempre.

Segundo essa crença, um homem chamado Takahashi que vivia na província de Wakasa, certa vez, após longo dia no mar, capturou uma criatura incomum em sua rede apinhada de peixes. Em todos os seus anos de pesca, nunca tinha visto nada parecido, animado, convidou seus amigos para provar a sua carne. Depois de muita comemoração e bebedeira, o homem levou parte do que sobrou para casa. Porém a filha de Takahashi, Yao Bikuni, comeu despreocupadamente da carne, sem suspeitar que era de uma ningyo.

Os anos se passaram e Yao Bikuni, manteve a mesma aparência jovem. Ela casou-se, viu a morte de seus pais e de seu marido, mas nunca envelhecia. Depois de ficar viúva, novo e de novo, Yao Bikuni cansou de seus muitos anos de juventude, uma vida perpétua. Amaldiçoada por viver eternamente, ela tornou-se uma monja, dedicando-se a ajudar os necessitados. Até que, aos 800 anos, desapareceu nas cavernas da montanha do local onde havia nascido.

Durante muito tempo, as sereias foram avistadas nos mares do Japão, não só pelos japoneses, mas por marinheiros e oficiais de navios estrangeiros que registraram sua aparição em seus diários de bordo. Em 1610, um capitão britânico registrou ter visto uma sereia em um cais no porto de Sentojonzu. Segundo seu relato, a criatura estava brincando nas proximidades e supostamente veio muito perto do cais onde o capitão desnorteado a avistara.

As Ningyo não só foram avistadas como capturadas por um longo tempo. Muitas vezes por sua carne imortal, em outras, expostas como atrações em Misemonos (feiras do período Edo) que atraia milhares de pessoas. Estes populares eventos, contavam com uma grande variedade de atrações, sendo que os mais aguardados eram as exposições de fenômenos naturais bizarros e exóticos como as sereias. Existem muitos relatos sobre essas criaturas fazerem sucesso nas feiras desse período, além de serem exportadas para outras partes do Mundo. Contam que, muito desse material foram confeccionados artesanalmente para essas exposições, mas eram tão minuciosamente detalhados que enganavam até o mais exigente expectador.

Histórias de Sereias povoaram e encantaram a imaginação, não só dos marinheiros, mais de pessoas do Mundo todo durante muito tempo e, até hoje, suas aparições intrigam envoltas em mistério nas águas de todo canto da Terra.

Fontes:
http://monster.wikia.com/wiki/Ningyo / http://mysteriousuniverse.org/2015/02/the-mysterious-mermaids-of-japan, disponível em Caçadores de Lendas

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Folclore Japonês (A Princesa e a Peônia)

Este é um dos antigos e mais poéticos contos do folclore japonês. Ele nos conta a triste história de um amor impossível entre uma bela princesa e um espírito encantador materializado em forma de flor: O espírito da peônia que manifesta-se sob a aparição de um belo jovem.

Há muitos e muitos anos, em Gamo-Gun, na província de Omi, havia um castelo chamado Azuchi. Era um lugar antigo e magnífico, cercado por uma alta parede de pedras e um fosso cheio de lótus. O senhor feudal era um homem muito rico, porém mal humorado chamado Yuki Naizen no Jô. Sua esposa tinha estado doente por muitos anos e teve uma única filha, que todos chamavam carinhosamente de Aya Hime (princesa Aya).

Na época, o Japão vivia um longo período de paz e tranquilidade, e os senhores feudais haviam abandonado a ideia de guerrear constantemente para conquistar novos territórios. Como os feudatários mantinham relacionamento amigável, Naizen no Jô percebeu então que, a época era oportuna para encontrar um bom pretendente para sua princesa.  Depois de vários contatos, ele optou pelo segundo filho do senhor do castelo de Ako, da província de Harima. Este, para Naizen no Jô, seria apropriado para ser o marido de sua única e amada filha. Os dois feudatários ficaram muito satisfeitos com a possibilidade de que seus filhos viessem a se casar, pois a aliança matrimonial fortaleceria o poder bélico de ambos.

Por esse tempo, no Japão, as famílias ricas marcavam os casamentos de seus filhos sem que estes tivessem prévio conhecimento um do outro. Já que era obrigada a aceitar a determinação de seu pai, a princesa Aya fez grande esforço mental para aceitar seu futuro marido, falando e pensando nele positivamente, mesmo sem nunca tê-lo visto.

Certa ocasião, junto com sua dama de companhia, Aya Hime caminhava pelo enorme jardim do castelo e foi até o canteiro das peônias. Era o seu local preferido, onde adorava apreciar o reflexo da lua, projetada nas águas do lago, e fazia isso, principalmente, em noites de lua cheia que lhe trazia belas inspirações para compor poesias.

Naquela noite, quando Aya Hime estava passeando distraidamente na beira do lago, tropeçou em uma raiz exposta e desequilibrou-se em direção à água. De repente, foi amparada por um jovem que surgiu como num passe de mágica, evitando milagrosamente que ela afundasse lago adentro. Em seguida, assim que a colocou no chão, o rapaz desapareceu tão rapidamente como apareceu. A dama de companhia viu, quando ela tropeçou, um clarão de luz em torno da princesa refletido na água, mas não chegou a ver claramente nenhum rapaz protegendo-a da queda. Já Aya Hime tinha visto perfeitamente o rosto de seu salvador.
A Princesa encontra o Jovem Espírito da flor…

Era o  homem mais bonito que ela poderia imaginar. –Vinte anos de idade, disse ela a Sadayo San, sua dama de companhia favorita, –Ele deve ser um samurai da mais alta ordem. Seu traje estava coberto com minhas peônias preferidas, e sua espada era ricamente ornamentada. Oh!!! eu poderia tê-lo visto mais um minuto, para agradecer-lhe por me salvar da água! Quem pode ser?

– Mas princesa, como ele teria chegado ao jardim, se todo o castelo está cercado pelo fosso e existem muitos guardas no portão? Acho melhor não comentar nada a ninguém, pois seu pai pode ficar zangado, se souber que um estranho esteve no jardim.

A partir daquela noite, Aya não conseguiu esquecer o misterioso rapaz. Por várias vezes esteve no jardim, mas nunca mais o viu.

Tempos depois, ela ficou muito doente e com dificuldades para comer e dormir. Cada dia foi ficando mais pálida e tornou-se impossível realizar seu casamento com o príncipe de Ako na data marcada.
Vários médicos vieram de Quioto para examinar Aya Hime, porém ninguém conseguiu diagnosticar de que doença se tratava. Como último recurso, o senhor feudal Naizen no Jô, interrogou com veemência Sadayo, a dama de companhia de sua filha, pois sabia que ela era a confidente da princesa.

– Os médicos chegaram a pensar que ela estava fingindo estar doente, só para não se casar com o prometido príncipe de Ako. Se você sabe de algum amor secreto dela, me diga, pois, se continuar assim, ela vai acabar morrendo. Você não quer que ela morra, quer? – perguntou o feudatário.

– Senhor, eu prometi à sua filha que jamais revelaria seu segredo. Porém, diante do risco de vida que ela está correndo por causa de sua enfermidade, sou forçada a revelá-lo, se é que isso contribuirá para sua salvação.

Assim, Sadayo contou detalhadamente o que aconteceu na noite de lua cheia no canteiro das peônias…

– Meu senhor, acredito que a doença da princesa Aya é uma doença de amor. Ela está profundamente apaixonada pelo jovem que viu por alguns instantes e depois desapareceu misteriosamente. Tenho medo de que, se não conseguirmos encontrar o tal jovem, ela definhe dia a dia até morrer – disse Sadayo, a dama de companhia da princesa.

– Mas o nosso castelo é muito vigiado, é humanamente impossível que alguém consiga entrar e sair sem ser visto pelos guardas dos portões…  murmurou o pai de Aya, Naizen no Jô.

– Está sugerindo alguma coisa senhor?! Bem sabes que raposas e texugos têm o poder de se transformar em seres humanos e nos enganar. Será possível que algum desses bichos tenha entrado no castelo por alguma pequena abertura no muro?!

Nessa noite, para tentar reanimar a princesa, foi trazido da capital o famoso músico Yashakita Kengyo, mestre num instrumento de cinco cordas chamado “biwa”. A noite estava quente, e o concerto musical foi ao ar livre. Os acordes espalharam-se pelo ar, tomando conta do belo jardim do castelo.

De repente, no canteiro das peônias, um jovem de ar nobre apareceu para ouvir a música. Desta vez todos o viram, e ele trajava a mesma roupa com bordados de peônias em fios de ouro. – É ele! – gritaram todos os que assistiam o concerto. Diante da reação das pessoas, o jovem desapareceu instantaneamente.

 A princesa ficou visivelmente excitada. Levantou-se e foi procurar pelo moço no jardim, mas nada encontrou. O pai dela, senhor do castelo, ficou muito confuso com a situação. No dia seguinte, mandou fazer uma busca minuciosa no jardim, revirando pedras, removendo canteiros de arbustos e procurando em cima das árvores, porém, não encontrou ninguém escondido, nem mesmo raposa ou texugo.

Nessa mesma noite, quando dois músicos do castelo, Yaesan e Yakumo tocavam seus instrumentos, respectivamente a shakuhachi (flauta) e o koto (instrumento de cordas), o jovem novamente apareceu e desapareceu ao ser notado. O mistério aumentou, pois a vigilância tinha sido triplicada, e tudo no castelo foi vasculhado palmo a palmo.

Yuki Naizen no Jô resolveu chamar, então, o renomado Maki Hyogo, um veterano oficial do exército que atuava como conselheiro na corte do Shogun, para capturar o jovem misterioso. O astuto Maki, que adorava desafios, aceitou prontamente a missão. Vestiu-se de preto, como um ninja, para fazer-se invisível e escondeu-se no canteiro das peônias.

Todos tinham percebido que a música exercia certo fascínio sobre o jovem misterioso. Consequentemente, os músicos Yaesan e Yakumo fizeram um concerto naquela noite. O público presente prestou mais atenção no canteiro das peônias do que na música. A certa altura, um belo jovem surgiu no jardim, com magnífica veste ornada de peônias bordadas.

Maki Hyogo levou um susto, pois o jovem surgiu do nada exatamente a um passo de onde ele estava escondido. Em seguida, agarrou o jovem por trás, na altura da cintura. Manteve-o apertado por alguns segundos, quando sentiu uma baforada de vapor na cara e caiu no chão agarrado firmemente ao jovem.

Os guardas e o pessoal do castelo que assistiram à cena correram para o canteiro e, ao chegarem deparam-se com Maki Hyogo no chão:

– Vejam, consegui agarrá-lo – disse Maki, mas, vendo o que estava abraçando, descobriu que se tratava apenas de uma enorme peônia. Como Hiogo também era astrólogo, logo descobriu do que se tratava.

– Raposas e texugos não conseguiriam passar pelos portões e os guardas do castelo, porém, o jovem sim, pois ele é o espírito da peônia e nasceu aqui mesmo.

Os videntes que estavam no local concordaram plenamente com Maki Hiogo. O espírito da peônia manifestava-se sob aparição de um belo jovem, porém não era na verdade um ser material. Esclarecido o caso, a princesa Aya levou a grande flor de peônia para seu quarto e colocou-a num vaso com água.

Dia a dia, ela foi melhorando de saúde, até recuperar-se completamente. Inexplicavelmente, a grande peônia do vaso também ficava cada vez mais radiante, não dando nenhuma mostra de murchar, apesar de o tempo ir passando.

Como a princesa estava agora com ótima aparência, seu pai não via nenhum motivo para continuar adiando o casamento. Então, dias depois, o senhor de Ako e sua família chegaram com uma luxuosa comitiva, para realizar o casamento de seu segundo filho.

A princesa Aya, com pesar, despediu-se da grande peônia e foi para a cerimônia de casamento. Após o ofício, seguiu com seu marido para o castelo de Ako.

As camareiras que acompanharam a princesa viram a incomparável beleza da flor quando foram para a cerimônia. E, após o evento, quando passaram pelo quarto da princesa novamente, viram a peônia murchar e despetalar-se.

A alma da flor, não suportando a dor de ver sua amada princesa casando-se com outro, despetalou-se de tristeza.
 
Fontes: Livro de Richard Gordon Smith, contos antigos e Folclore do Japão in Caçadores de Lendas

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Folclore Japonês (Tsuru-no-Ongaeshi)

Há muito, muito tempo em uma terra distante, vivia um jovem camponês em sua pobre choupana. Um dia, enquanto colhia algumas parcas verduras na terra cansada de sua fazenda, uma brilhante garça branca veio descendo e caiu no chão a seus pés. O homem percebeu uma flecha perfurando uma de suas asas. Com pena da garça, ele puxou a flecha e limpou o ferimento cuidando pacientemente da ave. Graças aos seus cuidados, o pássaro logo foi capaz de voar novamente. O jovem então soltou a garça de volta para o céu, dizendo: “Tenha cuidado a partir de agora com caçadores”. O belo pássaro circulou voando três vezes sobre a cabeça do jovem, soltou um grito, como em agradecimento, e depois voou para longe.

Alguns tempo depois, ele foi surpreendido pela visão de uma bela mulher a quem ele nunca tinha visto antes em pé na soleira da porta de sua casa, que pediu que lhe desse abrigo por uma noite. O camponês, por ser bom, não negaria esta caridade a qualquer pessoa, mas a beleza da mulher fez com que ele acreditasse que deixá-la dormir em sua pobre cabana era realmente uma honra. Atraídos um pelo outro, apaixonaram-se. “Eu serei sua esposa”, disse a mulher. O jovem ficou surpreso e com medo de sua situação precária, disse: “Eu sou muito pobre, e não poderei sustentá-la.” A bela mulher respondeu, apontando para um pequeno saco, “Não se preocupe, temos muito arroz”, e começou a preparar o jantar. O jovem ficou confuso, mas feliz, os dois começaram uma nova vida juntos. E o saco de arroz, misteriosamente, manteve-se sempre cheio.

A noiva era delicada, atenciosa e tinha tanta disposição para o trabalho quanto era bonita, e assim eles viviam muito felizes. Mas o camponês, que já tinha muita dificuldade em viver sozinho, ficou muito preocupado em não conseguir cobrir as despesas de sua nova vida de casado.

Percebendo sua preocupação, a esposa perguntou ao jovem se poderia construir-lhe um quarto de tecelagem, disse ao marido que produziria um tecido especial (tecer era um trabalho comum para as mulheres nessa época). Ele poderia vendê-lo para ganhar dinheiro, mas ela alertou que precisaria fazer seu trabalho em segredo, e que ninguém, nem mesmo ele, seu marido, poderia vê-la tecer.

O homem construiu outra pequena cabana nos fundos de sua casa, e quando ficou pronto, ela disse: “Você tem que prometer nunca espreitar-me.” Com isso, ela se trancou no quarto. Lá, ela trabalhou durante dias, e o jovem pacientemente esperou.

O marido só ouvia o som do tear batendo, e a curiosidade e a saudade que tinha de sua bela mulher fazia com que estes dias demorassem muito para passar. Finalmente, depois de três dias, o som do tear parou e sua esposa saiu segurando nas mãos o mais belo tecido que ele já tinha visto. Era um tecido de textura delicada, brilhante e com desenhos exóticos. A tecelã lhe deu o nome de “mil penas de Tsuru”. “Leve este pano para o mercado que será vendido por um preço alto”, disse a esposa. No dia seguinte, ele levou o rico fardo para a cidade. Os comerciantes ficaram surpreendidos com a beleza do tecido e lutaram entre si para consegui-lo. E, assim como ela disse, foi vendido por muitas moedas de ouro.  O pobre homem não podia acreditar que tão de repente a sorte começasse a lhe sorrir. Feliz, ele voltou para casa.

A partir de então, a esposa passou a trabalhar no valioso tecido muitas outras vezes. O casal podia, com o fruto das vendas, viver em conforto. A mulher, porém, tornava-se dia após dia mais magra. Um dia, ela disse que não poderia tecer por um bom tempo. Ela estava muito cansada. Seus ossos lhe doíam e a fraqueza quase a impedia de ficar em pé. O camponês a amava muito e acreditava naquilo que ela dizia, porém, tinha experimentado a cobiça e, como havia contraído algumas dívidas na cidade, pediu para que ela tecesse somente por mais uma vez. A princípio ela não aceitou, mas perante a insistência do marido, cedeu e começou a tecer novamente.

Desta vez, ela não saiu no terceiro dia como era de costume. E o homem ficou preocupado. Mais três dias se passaram sem que ela aparecesse. E isso começou a deixar o marido desesperado. No sétimo dia, sem saber mais o que fazer, ele quebrou sua promessa, espiando o serviço de tecelagem que ela fazia dentro do quarto.

Para sua grande surpresa, não era sua mulher quem estava tecendo. Arqueada sobre o tear, encontrava-se uma garça, muito parecida com aquela que o camponês havia curado, arrancando suas próprias penas para tecer. O jovem homem sentiu-se arrasado, culpando-se pelo que poderia ter acontecido com sua amada esposa. Amaldiçoava-se por ter sido insaciável e praticamente tê-la obrigado a tecer mais uma vez.

O pássaro então notou o jovem a espreitar-lhe e disse: “Eu sou a garça que você salvou. Eu queria recompensá-lo, por isso tornei-me sua esposa, mas agora que você viu minha verdadeira forma eu não posso ficar aqui por mais tempo.” Então, com as mãos tremulas entregou-lhe o tecido acabado, e com a voz embargada ela disse: “Deixo-vos isto para que se lembre de mim.”  Assim dizendo, ela se transformou em uma garça e voou, deixando o camponês com lágrimas nos olhos vê-la desaparecer no horizonte.

Fonte: 
Livro: Myths and legends of ancient Japan in Caçadores de Lendas

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Folclore Japonês (Anchin e Kiyohime: O Monge e a Serpente)

Este é um velho conto japonês que inspirou gerações de poetas, e é uma das histórias mais encenadas no Japão. É uma antiga lenda a respeito do sino de Dojoji, um templo budista na província de Kishu, hoje Wakayama. Que muitas centenas de anos atrás, abrigou um belo monge com o nome de Anchin, irmão do imperador Suzyaku. Existem muitas versões literárias deste trágico conto, em que o jovem monge se envolve com uma delicada menina provocando seu ódio a ponto de transformá-la em uma terrível e vingativa serpente.

Há muitos e muitos anos, havia um jovem monge chamado Anchin. Todos os anos, ele fazia uma peregrinação nos Caminhos de Kumano. Certa ocasião, quando se dirigia a um dos templos, começou a escurecer, precavido, procurou abrigo onde pudesse passar a noite. O religioso encontrou uma aldeia chamada Hidaka e bateu à porta de uma de suas habitações. Foi atendido pelo senhorio Kiyotsugu que era o administrador da aldeia. Lá, o monge teve uma recepção calorosa, e foi convidado a passar a noite.  Kiyotsugu tinha uma bela filha adolescente chamada Kiyohime.

Anchin elogiou a beleza da garota e disse brincando que um dia viria buscá-la para se casarem. Kiyohime acreditou nele. Na manhã seguinte, Anchin seguiu em peregrinação.

Na casa de seu pai, Kiyohime esperou pacientemente pelo retorno de seu prometido amor. O tempo passou. As estações mudaram, e os crisântemos no jardim de flores desapareceram novamente, mas Anchin não retornou.

Três anos se passaram e Anchin novamente estava fazendo a peregrinação pelos Caminhos de Kumano. Por coincidência, quando passava próximo da aldeia, o tempo fechou e começou a escurecer. Lembrando que já conhecia o administrador local, foi pedir hospedagem.

O monge já nem se lembrava da menina Kiyohime, mas, ao vê-la na casa do administrador, a lembrança voltou à mente do monge. Ao mesmo tempo, o religioso ficou  surpreso ao constatar que ela havia se transformado em uma bela mulher.

O coração de Anchin ansiava pela calma do templo ao som dos sinos da noite e o canto suave dos sutras. Mas a noite caía rapidamente e ele estava cansado. Então Anchin retirou-se para o quarto ofertado pelo senhorio.

Anchin já havia pegado no sono quando foi despertado pela presença de Kiyohime ao lado de seu leito. Ela se atirou em seus braços e disse emocionada: – Obrigada por ter vindo me buscar. Esperei tanto por esse momento que, durante três longos anos, fiquei contando os dias à sua espera. O monge não protestou… foi uma noite de volúpia.

Ao despertar, na manhã seguinte, Anchin, caiu em si. Como bonzo (Sacerdote budista), estava proibido de se casar. Mas não teve coragem de contar a verdade para a inocente Kiyohime. Prometeu a ela que iria até o templo em Kumano e na volta passaria em sua casa para assumir seu compromisso matrimonial.

Na tarde deste dia, Anchin chegou ao templo. Como estava com a cabeça nas nuvens, Osho-san, o monge superior, logo percebeu que ele poderia estar pensando em alguma mulher. Por isso, aconselhou-o que meditasse bastante antes de fazer alguma bobagem. Anchin meditou muito e finalmente disse para si mesmo: – Eu sou um bonzo. Não posso querer Kiyohime. Regressarei por outro caminho para não me encontrar com ela. E assim fez.

Enquanto isso, Kiyohime, preocupada, se perguntava: – Por que Anchin não volta do templo? Ela decidiu ir ao seu encontro. Perguntou para um peregrino que passava por ali se ele não havia visto um monge e fez a descrição de seu tipo físico. – Sim, eu o vi no templo, ele tomou outro caminho para retornar a sua cidade.

– Não posso crer. Ele havia prometido que viria ao meu encontro – disse Kiyohime surpresa e quase chorando.

Ela então correu muito para alcançar Anchin e chegou a vê-lo na travessia do Rio Hidaka.

– Anchin, me espere! Anchin, me espere! – ela gritou com toda a força de seus pulmões.

Ao vê-la, Anchin disse: – Remador, rápido, zarpe o bote.

Kiyohime surpreendeu-se e ficou sem entender porque ele estava fugindo. Ela ficou muito triste, desesperada e cega de raiva, seu amor transformou-se em ódio. – O rato entrou no rio e desapareceu. Somente uma serpente aquática pode acabar com um rato da água.

Kiyohime estava com tanto ódio, que mergulhou no rio para tentar atravessá-lo a nado. Pessoas que estavam na beira do rio ficaram pasmas com o gesto impensado de Kiyohime. Naquele rio, a correnteza era tanta que era impossível atravessá-lo nadando. Testemunhas contaram mais tarde que a moça atravessou o rio nadando e, quando surgiu na outra margem, havia se transformado em uma enorme serpente.

Dizem que o desejo de sua mente moldou seu corpo, transformando-a numa serpente aquática. A jovem transformada pela ira, mergulhou no rio e foi nadando atrás do bote onde estava o monge.

Anchin desembarcou do bote e refugiou-se no Templo Dodoji. – Socorro, socorro, escondam-me por favor! Os monges do templo, mesmo sem saber de que se tratava, abaixaram um enorme e pesado sino, ocultando Anchin em seu interior.

A serpente subiu a escadaria e encontrou o sino. Anchin rezava desesperadamente. Enfurecida, ela se enrolou no grande sino, jorrando chamas de sua enorme boca como um dragão serpente.

O sino começou a esquentar, esquentar, até que o metal avermelhou completamente e deformou-se, derretendo um dos lados, matando Anchin  em seu interior.

Os monges de Dodoji fizeram o enterro do jovem Anchin. Após a tragédia, encomendaram a fundição de um novo sino e determinaram que nenhuma mulher poderia se aproximar novamente de sua plataforma.

O tempo passou, e o novo sino chegou ao Templo Dodoji. Foi preparada uma grande festa para instalação do sino com a participação da comunidade local, porém a cerimônia de entronização estava proibida para mulheres. Entretanto, durante a cerimônia, uma encantadora jovem finamente vestida aproximou-se, e se atirou-se tocando o sino e, para espanto de todos reunidos, desapareceu sem deixar vestígios, como se engolida pelo gongo.

A partir desse acontecimento, o sino ao ser tocado, não soava  como os sinos dos templos, mas gemia como uma voz terrível. E cada vez que ele tocava, desastres aconteciam. Até finalmente, por não mais suportarem, o sino foi levado para baixo, e enterrado.

Ele permaneceu enterrado durante 200 anos, até que Toyotomi Hideyoshi ordenou que fosse cavado e levado para o santuário Myomanji, onde as cinzas de “Sakyamuni Buddha” foram consagradas pelo Imperador Asoka. E lá, dizem que o som da “Sutra de Lótus” incessantemente entoada pelos monges do templo, finalmente trouxe o descanso para as almas atormentadas de Kiyohime e Anchin.

Com o tempo, o som do sino adquiriu uma beleza irresistível, tingida com sabedoria e consciência de dukkha (o sofrimento necessário à mudança).

Ainda hoje, o sino permanece em Myomanji, como um tesouro do templo, junto com as cinzas sagradas de Sakyamuni.

Dizem que, muito tempo depois, Anchin e Kiyohime apareceram abraçados e felizes em sonhos dos monges do Templo Dodoji, eles finalmente encontraram seu destino nos caminhos da Sutra de Lótus.

Fontes:
Wikipedia
Caçadores de Lendas

sábado, 13 de agosto de 2016

Folclore Japonês (Neko-no-Hi: Dia dos Gatos no Japão)

Os gatos são um dos bichos mais estimados na “Terra do Sol Nascente”. Tanto é verdade que existem lugares e lendas que o tem como sagrado. São Santuários, amuletos, mascotes, cafés e até ilhas, isso mesmo, ilhas conhecidas como “Ilha dos Gatos”, onde o bichano é reverenciado. Nestas duas ilhas japonesas, a de Aoshima e Tashirojima, os gatos, rodeados por um pequeno grupo de humanos, é que reinam. O amor por esses pequenos felinos é tamanho que existe até um dia dedicado a homenageá-los, é o dia 22 de fevereiro, conhecido no Japão como “Neko-no-hi”, ou “O dia dos gatos”.

Neko-no-Hi: Origens

A escolha da data tem uma razão, na língua japonesa o número 2 é pronunciado como “ni” e 22 de fevereiro pode ser escrito 22/2, ou seja, “Ni Ni Ni”. Portanto, se repetida três vezes a data, a pronúncia: “Nyan Nyan Nyan” se assemelha ao miado de um gato.

Considerada uma jogada de marketing, a data foi criada em 1987, por uma fabricante de ração para pets, a “Japan Pet Food Association”. Neste dia os donos celebram seus bichanos queridos com presentes, passeios especiais como a ida a um Santuário dedicado ao felino. Acontecem ainda diversos eventos e campanhas no arquipélago, seguida de atividades educativas sobre os gatos.

Inspirados por esse apego dos japoneses ao gato, no Japão existem Santuários Xintoístas destinados exclusivamente a rezar por saúde e vida longa de seus animais de estimação, os “Nekogami Jinja” (Santuário dos Gatos). Localizados em Kagoshima e Kannushi, os Santuários Xintoístas tem uma fonte de água, onde os visitantes jogam moedas e fazem pedidos logo em seu “Toril” (Portal de entrada). Existe até uma lenda que justifica a criação dos Santuários:

Origem do  Santuário dos Gatos

Segundo a lenda, por volta do ano de 1572, Yoshihiro Shimazu, um grande samurai, viajou certa vez de Kyushu para a Coreia, para a “Batalha de Kizakibaru”. Junto com sua comitiva, ele levou sete gatos, porém não como animais de estimação.

Contam que, o samurai conseguia decifrar as horas ao longo do dia através das pupilas dos olhos dos 7 gatos, que mudavam de acordo com a posição do sol, especificamente 6:00 am, 8:00 am, 10:00 am, meio-dia, 2:00 pm, 4:00 pm e 6:00 pm. O que possibilitou Yoshihiro ter uma maior precisão do tempo durante sua longa batalha, permitindo vencer seu inimigo. A vitória contra o clã Ito, é tida com grande contribuição para a unificação de Kyushu.

Sendo um budista devoto, Yoshihiro construiu um monumento para as tropas inimigas durante a “Segunda Guerra dos Sete Anos”. A participação de Yoshihiro foi essencial para o clã Shimazu, tornando-se o 17 º Senhor de Shimadzu.

Por fim, ao final da batalha, apenas dois dos sete gatos sobreviveram e foram levados de volta à Kagoshima. Como forma de gratidão ao serviço e lealdade prestados, em 1602, o senhor Shimadzu construiu um santuário dedicados exclusivamente a eles.

Após a Restauração Meiji (1868), a família mudou-se para a Vila Shimadzu e o Santuário dos Gatos foi transferido para lá, tornando-se um local de devoção a todos os gatos.

Ainda relacionado ao evento, no Santuário foi criado o “Toki no kinenbi” (Dia do Tempo) comemorado no dia 10 de junho.

Nessa data, no Templo, relojoeiros e apreciadores de gatos, prestam homenagem a estes dois gatos sobreviventes da lenda, os “gatos do tempo”. No local também são feitas orações para os gatos que tenham morrido ou que estejam doentes, ou para encontrar seus bichos perdidos. Ou simplesmente, agradecer e celebrar seu animal de estimação, com mensagens escritas em plaquinhas de madeira (emás) que são penduradas nas paredes do Santuário.
A paixão pelos felinos é tamanha, que no Japão existem locais onde, pessoas que não tenham oportunidade de manter esses bichanos em seu lar, possam passar um tempo com seus animais preferidos, os chamados “Cat Cafe”.

Ou, se preferir, pode adquirir um amuleto com o gato da sorte, o “Manekineko” ou um exemplar do mascote do Castelo de Hikone, província de Shiga, muito popular no Japão o “Hikonyan” também chamado de “Gato Samurai”. Ou ainda, a gatinha mais famosa do Japão, a “Hello Kitty”.

Enfim, gatos não faltam na “Terra do Sol Nascente” e são, sem sombra de duvidas, um dos animais mais queridos dos japoneses.

Fonte:
Caçadores de Lendas

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Folclore Japonês (Tokoyo, A filha do Samurai)


Tokoyo é um conto de perigo, amor, sacrifício e aventura do Japão antigo. Conta a lenda que na “Terra do Sol Nascente”, durante a regência de Hojo Takatoki (início do século XIV dC), vivia uma jovem chamada Tokoyo que cresceu com o pai, o samurai Oribe Shima. Eles viviam na província de Shima, onde muitos ganhavam a vida no mar. Os dois viviam muito felizes, e a convivência da jovem menina com os samurais a ensinou a ser forte.

Um fatídico dia, vítima de uma conspiração, o samurai (invejado por muitos por suas habilidades) foi acusado de ser o responsável por agravar a doença do imperador. Assim, ele foi banido para a pequena e distante ilha Kamishima, nas Ilhas Oki. 


Após o triste episódio, Tokoyo, que amava muito seu pai, ficou inconsolável, e determinada a reencontrar a única família que lhe restava. Sozinha em sua antiga casa na província de Shima, Tokoyo chorava dia e noite. Então um dia ela decidiu partir de sua terra em uma jornada para encontrar e resgatá-lo. Primeiro, ela vendeu todos os seus bens a um comerciante local para juntar dinheiro suficiente para a sua empreitada.

A jovem então partiu em sua longa viagem até o litoral de Akasaki, de onde mal podia avistar ao longe a ilha em que se encontrava exilado seu amado pai. Tokoyo tentou convencer os pescadores locais a levá-la até a ilha, mas por não ter dinheiro o bastante para oferecer-lhes, estes se recusaram. Mesmo assim, a determinada menina não desistiu.

O sol já tinha se posto e as estrelas acordado, quando naquela mesma noite, ela encontrou um pequeno e velho barco semi-enterrado e coberto de algas nas areias da baía. Experiente em assuntos do mar, pois quando criança ela costumava mergulhar com as mulheres de sua aldeia para coletar conchas e pérolas, partiu imediatamente rumo à ilha. Foi uma viagem difícil por águas tortuosas com o pequeno barco, mas isso não era nada para a valente Tokoyo.

Ainda estava escuro quando ela chegou à costa. Desembarcando, a jovem passou o dia todo procurando por seu pai na ilha, mas não o encontrou. A noite chegou, e Tokoyo muito cansada e triste decidiu descansar debaixo de uma árvore.

Depois de algumas horas, ela foi despertada pelo som de uma voz feminina que em  soluços pedia: “Não, por favor, você não pode fazer isso! Eu não sou o sacrifício!” Lamentava a voz. “É honroso morrer pela vila, e por causa do dragão. Você deve entender isso.” Respondeu outra figura materializada a partir da crescente escuridão, segurando-a, tentando confortá-la, e, ao mesmo tempo, murmurando orações.

Tokoyo, escondida atrás de um arbusto, avistou uma jovem vestida com uma túnica branca acompanhada de um monge. Eles estavam de pé na beira de um penhasco, e o monge murmurava repetindo: “Namu Amida Butsu.” A menina lutando estava sem fôlego de tanto gritar e brigar, caindo de joelhos, gotas de água salgada refletindo crepúsculo. “Não! Não! Por favor, tenha misericórdia, tenha misericórdia.” Chorava a menina. “Lembre-se! Seu nobre sacrifício, e seu amor vão renascer em gerações vindouras. Você está criando um futuro melhor, querida. Mantenha isso em seu coração, pois este é o seu destino.” Repetia-lhe o sacerdote, que terminando a sua oração, levou a menina até a borda das rochas, e ameaçava empurra-la penhasco abaixo sobre o mar, quando Tokoyo correu em seu socorro.

O monge, diante da abrupta interrupção, tentou responder pacientemente à intervenção de Tokoyo. Segundo o seu relato, uma antiga serpente-dragão chamado Yofune-Nushi, habitava uma caverna nas profundezas dos mares em torno das ilhas Oki. Yofune-Nushi durante décadas aterrorizou as pessoas da ilha e ameaçava  evocar tempestades e destruir a indústria da pesca (única fonte de renda dos aldeões), a menos que lhe sacrificassem uma virgem a cada ano, em 13 de Junho. Dizia-se que, enquanto eles mantivessem a sua parte no sangrento acordo, o temido dragão iria deixar a cidade em paz.

Tokoyo sentiu a injustiça sofrida pelas donzelas diante de um trágico destino, e mesmo angustiada para resgatar seu pai, resignada, ofereceu-se para tomar o lugar da jovem. Vestiu então a túnica branca ofertada pela menina, e saltou do penhasco mergulhando no oceano gelado com um punhal entre os dentes, para o espanto do sacerdote e da garota.

Tokoyo mergulhou cada vez mais fundo, através das águas iluminadas pelo sol que já acordara no céu, lutando contra a sensação gelada que inundava seu corpo. Abaixo, abaixo ela nadou, passando escalas intermináveis de escorregadios peixes de prata, e formações de corais de tirar o fôlego. Afastando-se, ela nadou mais profundamente.

A luz solar que havia preenchido previamente o oceano com um sentimento calorosamente feliz, foi lentamente sendo apagados enquanto nadava mais profundo, até que encontrou uma caverna em uma floresta de algas.

Todo o lugar reluzia com conchas, pérolas e luzes fosforescentes. Na entrada da caverna havia uma pequena estátua de Hojo Takatoki. Tomada pela raiva que sentia do Imperador por banir seu pai do reino, seu primeiro instinto foi destruir a escultura, mas decidiu que seria melhor levá-la primeiro para a superfície. Tokoyo então a atou a seu cinto, preparando-se para emergir, quando vislumbrou uma imagem imensa surgindo das profundezas da caverna.

Era Yofune-Nushi, o temido Dragão. Ele tinha a forma de uma cobra, mas com chifres dourados, pernas e as escamas fosforescentes, com aproximadamente 26 pés de comprimento e olhos de fogo. Presumindo que Tokoyo fosse a oferenda, ele ondulou lentamente em direção a ela a atacando.

Tokoyo não se intimidou com seu tamanho, e corajosamente colocou-se em posição de defesa desviando do ataque da fera. A valente tirava vantagem de sua agilidade, e num golpe rápido ela mergulhou a adaga no olho da ameaçadora criatura. Cego com o sangue que jorrava de seu olho e cambaleante de dor, o dragão tentou retornar para a caverna, mas Tokoyo, destemida, o perseguiu. Mais uma vez, a jovem e o Dragão se enfrentaram em um embate, e a  brava Tokoyo aproveitando-se de sua cegueira continuou a atacá-lo o atingindo no lado inferior vulnerável de seu pescoço. Por fim, não resistindo a agilidade dos golpes da jovem aprendiz de samurai, o vil Yofune-Nushi foi morto. Bolhas de sangue tingiram a água do mar.

Sentindo seus pulmões queimarem sem ar, Tokoyo acelerou sua subida a superfície. A valente guerreira, saindo das águas, arrastou-se sobre a terra, onde ela caiu fraca e cansada na areia. O monge e a garota correram em direção a ela, e não podiam acreditar que ela vencera a fera. O grande Dragão foi morto!

O sacerdote levou Tokoyo para a aldeia, e a notícia de seu heroísmo se espalhou rapidamente. A notícia chegou ao Imperador, que agora se encontrava bem e saudável. Logo perceberam que a magia do dragão Yofune-Nushi amaldiçoou sua imagem na forma da estátua sob o oceano, e quando Tokoyo matou o dragão e recuperou a escultura, a maldição foi quebrada.

Então, percebendo que o pai de Tokoyo era inocente, o Imperador mandou que o libertassem imediatamente, devolvendo-o a sua corajosa filha. Lamentando-se por ter banido seu melhor samurai e amigo, o Imperador ainda ordenou que enviassem a Tokoyo e seu pai, uma enorme quantia de tesouros e recompensas.

Tokoyo, depois de dias adormecida pelo desgaste do combate, despertou ao som de tambores e flautas trovejantes. A aldeia inteira estava em festa, todos gritavam o nome de Tokoyo saudando sua heroína. À distância, ela avistou fileiras de casas, e por entre elas, o oceano onde tinha enfrentado o temeroso dragão. Foi quando Tokoyo ouviu uma voz familiarmente querida chamar-lhe o nome, mal acreditando no que ouvira, virou-se, e seus olhos encheram-se de lágrimas.

Parado ali, logo a sua frente, trajando trapos, com cabelo preto acinzentado bagunçado na cabeça, quase irreconhecível. No entanto, um sorriso iluminou seu rosto, e esse era inesquecível. Tokoyo só conseguiu murmurar… Meu pai!

Também foi dado a valente jovem, o privilégio de servir no palácio como uma guerreira samurai ao lado de seu pai, e no reino, a partir de então, viveram juntos e felizes.

Fontes: 
Wikipedia / Myths and Legends of Japan, in Caçadores de Lendas

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Folclore Japonês (Fujin e Raijin: Deuses do Vento e do Trovão)

Fujin e Raijin, Deus do Vento e Deus do Trovão, são alguns dos deuses mais populares do panteão xintoísta japonês descritos no Kojiki, livro mais antigo sobre a história do Japão. Fujin é geralmente descrito como muito forte, musculoso com um grande saco de pele, o qual é preenchido com numerosos ventos. Quando ele abre seu saco, uma rajada de vento sopra intensamente na Terra. Raijin também é retratado como imensamente robusto, ao seu redor, uma série de tambores, com o qual ele faz os estrondosos trovões. Muitas vezes eles são considerados como Youkais (demônio, espírito ou monstro).

Segundo uma antiga lenda do budismo chinês, Fujin e Raijin foram ambos originalmente demônios que se opunham a Buda. Então Buda ordenou a seu exército celestial que os capturassem, depois de uma batalha intensa entre os dois demônios e 33 deuses, os demônios foram capturados e convertidos, trabalhando para os céus desde então.

FUJIN “O DEUS DO VENTO”

Fujin (fu: vento e jin: deus) é o deus japonês do vento, dos furacões, e dos redemoinhos, é uma das divindades xintoístas mais antigas. Ele estava presente com Amaterasu (deusa do sol) na criação do mundo, e quando ele deixou o vento sair pela primeira vez da sua bolsa, este clareou a neblina da manhã e preencheu o espaço entre o céu e a terra, e assim o sol brilhou. Acredita-se que ele vive acima das nuvens junto com Raijin, o deus do trovão.

Ele geralmente é representado carregando um grande saco de tecido (ou pele de animal), repleto de ventos, quando ele abre este saco, libera uma rajada de ventania. Fujin, Raijin e Amaterasu são responsáveis pelo clima do universo, por isso são representados quase sempre juntos (em algumas versões eles são irmãos), supostamente seriam alguns dos inúmeros filhos de Izanagi.

Conta a lenda, que antes dos humanos habitarem a terra, uma discussão surgiu entre eles pelo controle das tempestades. Nesta batalha, Fujin cortou o braço esquerdo de Raijin. Algum tempo depois, os dois deuses voltam a serem amigos e Amaterasu recuperou o braço perdido de Raijin para que este continuasse produzindo trovões.

Algumas crenças tradicionais atribuem o fracasso dos mongóis em sua tentativa de invadir o Japão no ano de 1274 a uma tempestade criada por Fujin, que recebeu o nome de Kamikaze (kami: divino e kaze: vento).

A iconografia de Fujin parece ter sua origem nas trocas culturais ao longo da Rota da Seda. Começando com o período helenístico, quando a Grécia ocupou partes da Ásia Central e Índia, o deus grego do vento Bóreas tornou-se o deus Wardo na arte Greco budista, em seguida, uma divindade do vento na China (Tarim) e, finalmente na divindade japonesa Fujin.

Durante essa evolução, o deus do vento manteve sua simbologia, o seu jeito falastrão, e sua aparência desgrenhada.

RAIJIN, "O DEUS DO TROVÃO"

É o deus do trovão, do relâmpago e da guerra na mitologia japonesa, um deus-demônio retratado com dentes e garras afiadas, cabelos longos e com um tambor para fazer os trovões. Por vezes é representado como um deus vermelho que adora comer umbigos humanos, tanto que muitos pais japoneses diziam a seus filhos para esconder seus umbigos durante uma tempestade, se não seriam devorados pelo deus.

Seu nome é derivado das palavras japonesas rai (significando “trovão”) e shin (“deus” ou “kami”). Ele é tipicamente descrito como um demônio batendo tambores para criar um trovão, geralmente com o símbolo “tomoe” (presente em templos budistas e xintoístas, que significa ciclo ou giro, referindo-se ao movimento da terra) desenhado na bateria. Ele também é conhecido pelos seguintes nomes:

Yakuza no ikazuchi no kami: Yakuza (oito) e ikazuchi (trovão) e kami (espírito, ou divindade)

Kaminari-sama: Kaminari (Kami, espírito, ou divindade + nari, trovão) e sama (um japonês honorífico que significa “mestre”)

Raiden-sama: rai (trovão), den (raios), e sama (mestre)

Narukami: naru (trovejante) e kami (espírito, ou divindade)

Raijin geralmente é acompanhado por “Raijuu” (besta do trovão) que é uma lendária criatura da mitologia japonesa, de corpo composto tanto de eletricidade como de fogo e pode aparecer na forma de um gato, tanuki, macaco, ou doninha. Ou ainda, na forma de um lobo azul e branco (ou mesmo um lobo envolvido em raios) é comum seu rugido soar como um trovão.

Um dos comportamentos peculiares de Raiju, parecido com o do deus Raijin, é o de dormir em umbigos humanos. Isso leva Raijin a disparar flechas de raios no Raiju para acordar a criatura, e, portanto, prejudica a pessoa em cujo ventre o demônio está descansando. Pessoas supersticiosas, portanto, muitas vezes escondem seus umbigos durante o mau tempo, mas outras lendas, no entanto, dizem que Raiju só vai se esconder nos umbigos de pessoas que desavisadamente dormirem ao ar livre.
Fujin e Raijin em Anime

Os deuses Fujin e Raijin são muito populares na cultura japonesa e estão presentes em muitos Templos por todo Japão, assim como aparecem em muitas produções para mangá e anime.

Fonte:
Caçadores de Lendas

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Hachiko (A história do cão mais fiel do Mundo)

Na bela e triste história de Hachiko, o ditado “O cachorro é o melhor amigo do homem” faz todo sentido. Esse famoso cão japonês  foi protagonista de uma das mais emocionantes e comoventes histórias de todos os tempos. A história do fiel cachorro que esperou seu tutor por 10 anos em uma estação de trem em Shibuya no Japão. Um cão da raça “Akita”, reverenciado pela incrível lealdade ao seu dono, o professor universitário Hidesaburo Ueno, mesmo muito tempo após a sua morte.

Hachiko  nasceu em 10 de novembro de 1923,  em Odate, na província de Akita, no Japão.  No ano seguinte,  Hachiko foi enviado a casa de seu futuro proprietário, o Dr. Hidesaburo Ueno, um professor do Departamento de Agronomia da Universidade de Tóquio.

Conta a história que o professor a muito ansiava por um cão dessa raça, e ao recebe-lo foi “amor a primeira vista”, os dois tornaram-se inseparáveis. Ueno deu-lhe o nome de Hachi, ao que depois passou a chamá-lo carinhosamente pelo diminutivo, Hachiko.

O professor Ueno morava em Shibuya, subúrbio de Tóquio, perto da estação de trem. Como fazia do trem seu meio de transporte diário até o local de trabalho, já era parte integrante da rotina de Hachiko acompanhar seu dono todas as manhãs. O cão que seguia o professor Ueno a todos os lugares, voltava no final do dia, sempre às 15 horas  para  reencontrar o professor, que desembarcava do trem das 16 horas e retornarem juntos para casa.

Até que um dia, em 21 de Maio de 1925, o professor Ueno foi trabalhar e não retornou. Ele havia sofrido um AVC durante uma reunião de corpo docente na universidade. Hachiko tinha 18 meses nessa época, e sem saber do ocorrido, continuou esperando por seu dono na estação.  Naquele dia a espera durou até a madrugada.

Contam que na noite do velório, Hachiko, que estava no jardim, quebrou as portas de vidro da casa e correu para a sala onde o corpo do professor estava sendo velado e passou a noite deitado ao lado de seu mestre. Outro relato diz que como é de costume no Japão, quando chegou a hora de colocar vários objetos particularmente amados pelo falecido no caixão com o corpo, Hachiko pulou dentro do mesmo e tentou resistir a todas as tentativas de removê-lo do local.

Depois da morte do professor,  a Senhora Ueno deu Hachiko para alguns parentes que moravam em Asakusa, no leste de Tóquio. Mas ele fugiu várias vezes e voltou para a casa em Shibuya. Um ano se passou e ele ainda não havia se acostumado à nova casa, então foi dado ao ex-jardineiro da família que o conhecia desde que ele era um filhote. Mas Hachiko continuava a fugir, aparecendo frequentemente em sua antiga casa. Depois de certo tempo, ele se deu conta de que o professor Ueno não morava mais ali, então resolveu esperar em seu antigo ponto de encontro, em frente à estação de trem de Shibuya.

Hachiko continuou a ir todos os dias até à estação de Shibuya para esperar seu dono voltar do trabalho, da mesma forma como sempre fazia enquanto o professor era vivo. Ele voltava pontualmente no mesmo horário que parava o trem que antes trazia o seu dono. Sentava-se à frente da saída e o esperava surgir entre as centenas de pessoas que saíam dos vagões. Os dias foram passando, viraram semanas, meses e anos. Alguns passageiros, que já o conheciam por tê-lo visto na companhia do professor Ueno, foram tocados pela devoção de Hachiko e passaram a trazer alimento para consolar a espera que não teria fim.

Em 1929, Hachiko contraiu um caso grave de sarna, que quase o matou. Devido aos anos passados nas ruas, ele estava magro e com feridas das brigas com outros cães. Uma de suas orelhas já não se levantava mais, e ele já estava com uma aparência miserável, não parecendo mais com a criatura orgulhosa e forte que tinha sido uma vez.

Um dia, um dos fiéis alunos do professor  que havia visto o cachorro na estação, o seguiu até a residência dos Kobayashi, onde aprendeu a história da vida de Hachiko. Coincidentemente o aluno era um pesquisador da raça Akita, e logo após seu encontro com Hachiko, publicou um censo de Akitas no Japão. Na época haviam apenas 30 Akitas puro-sangue restantes no país, incluindo Hachiko. O antigo aluno do Professor Ueno retornou frequentemente para visitar o cachorro e durante muitos anos publicou diversos artigos sobre a marcante lealdade de Hachiko.

Em 1932 a história de Hachiko foi enviada para o Asahi Shinbun, um dos principais jornais do país. A matéria publicada colocou o cachorro em evidência. Hachiko se tornou sensação nacional! Sua devoção à memória de seu mestre impressionou o povo japonês e se tornou modelo de dedicação à memória da família. Pais e professores usavam Hachiko como exemplo para educar crianças em todo país.

Em 21 de Abril de 1934, uma estátua de bronze de Hachiko, esculpida pelo renomado escultor Teru Ando, foi erguida em frente ao portão de bilheteria da estação de Shibuya, com um poema gravado em um cartaz intitulado “Linhas para um cão leal”. A cerimônia de inauguração foi uma grande ocasião, com a participação do neto do professor Ueno e uma multidão de pessoas.

No entanto, toda a fama não fizera nenhuma diferença para o fiel Hachiko que continuava sua vigília na estação de trem. Contam que ele ficava deitado bem na porta da estação, com as orelhas baixas e o olhar triste todos os dias e quando ouvia o barulho do trem se erguia esperançoso, olhando para todos que passavam, mas logo vinha à tristeza de novo e ele deitava, esperando o próximo trem.

Por quase dez anos, todas as tardes, ele voltou a estação, até que na madrugada de 08 de março de 1934, Hachiko que já estava com quase 12 anos, foi encontrado morto no mesmo local, onde passara tantas horas à espera de seu mestre.

A morte de Hachiko estampou as primeiras páginas dos principais jornais japoneses, e muitas pessoas ficaram inconsoláveis com a notícia. Um dia de luto foi declarado no país.

Seus ossos foram enterrados na sepultura do professor Ueno, no Cemitério Aoyama, Minami-Aoyama, Minato-ku, Tóquio, para que finalmente reencontrasse seu mestre. Sua pele foi preservada e uma figura empalhada de Hachiko pode ser vista no Museu Nacional de Ciências em Ueno.

Durante a 2ª Guerra Mundial, para aplicar no desenvolvimento de material bélico, todas as estátuas foram confiscadas e derretidas, e entre elas estava a de Hachiko. Mas, em 1948, formou-se a “The Society For Recreating The Hachiko Statue” entidade organizada em prol da recriação da estátua de Hachiko. Tekeshi Ando, o filho de Teru Ando foi contratado para esculpir uma nova estátua. A réplica foi reintegrada no mesmo lugar da estátua original, em uma cerimônia realizada no dia 15 de agosto. Esta é a estátua que está, ainda hoje, na Estação de Shibuya e é um dos pontos turístico mais popular em Tóquio.

A história de Hachiko atravessa anos, passa de pai para filho, sendo até mesmo ensinada nas escolas japonesas; no início do século para estimular lealdade ao governo, e atualmente, para exemplificar e instilar o respeito e a lealdade aos anciãos.

Devido a essa história,  a raça de cão Akita se tornou Patrimônio Nacional do povo japonês e a sua exportação é proibida. No Japão, uma imagem de Akita é considerada um amuleto de boa sorte. É comum quando uma criança nasce, a família receber uma estatueta de Akita como desejo de saúde, felicidade e vida longa. Assim como, quando há alguém doente, amigos dão ao enfermo esta estatueta, desejando uma rápida recuperação.

Hoje, viajantes que passam pela estação de Shibuya podem comprar presentes e recordações do seu cão favorito na Loja localizada no Memorial de Hachiko chamada “Shibuya No Shippo” ou “Tail of Shibuya”.

A história de Hachiko se espalhou além das fronteiras nipônicas, e inspirou diversas versões ao redor do mundo. Uma das produções que mais se destacou foi o filme estrelado por Richard Gere “Sempre ao Seu Lado”. O filme é um remake do original japonês, de 1987, “Hachiko monogatari”.

Recentemente, foi inaugurada uma estátua representando o reencontro dos dois, no campus da Faculdade de Agronomia da Universidade de Tóquio, onde o professor Ueno trabalhava. Anualmente, no dia 8 de março, ocorre uma cerimônia solene na estação de trem de Shibuya, em Tóquio para homenagear a lealdade e devoção de Hachiko.

Fonte:
Wikipedia em Caçadores de Lendas