domingo, 18 de agosto de 2019

Contos e Lendas do Mundo (Japão: A Raposa e o Tanuki)


Muito, muito tempo atrás, uma raposa encontrou um tanuki*.

“Como vai tudo, Tanu-kun? Quando se trata de transformação nós dois somos os melhores do mundo, mas eu imagino quem seria o número um, eu ou você?”

O tanuki não respondeu, mas apenas apontou para o próprio peito.

“O que você quer dizer? Você acha que você é o melhor transformador?”

“Isso é certo”, disse o tanuki. Então, eles decidiram ter um concurso de metamorfose.

Uma vez que foi decidido, a raposa não perdeu tempo. “Se eu não superar esse tanuki metido”, pensou a raposa, “será uma vergonha para a fama das raposas.”

Só então a raposa notou uma pedra memorial em pé ao lado da estrada. Assim, a raposa ficou bem próximo a ela e se transformou em uma estátua de Jizo-sama.

Em pouco tempo, o tanuki apareceu. Este tanuki tinha um hábito curioso – sempre que via Jizo-sama, ele ficava com fome e comia o almoço que ele estava carregando. Neste dia não foi diferente.

“Meu Deus, eu estou com tanta fome. Acho que vou almoçar.”

O tanuki pegou o almoço que ele estava carregando em suas costas e tirou alguns bolinhos de arroz. Ele colocou um diante de Jizo-sama como oferenda, e inclinou a cabeça.

Talvez ele tivesse orado “que a raposa será vencida no concurso de transformação.” Mas, quando ele levantou a cabeça e abriu os olhos, foi pego de surpresa. O bolinho de arroz que ele tinha oferecido não estava mais lá. Isso foi estranho. Pensando nisso, ele se perguntou se talvez ele realmente não tivesse feito a oferta. Então ele com muito cuidado colocou outro bolinho em frente à estátua de Jizo-sama. Ele abaixou a cabeça, orou “Namu Amida Butsu, Namu Amida Butsu”* e levantou a cabeça imediatamente. O quê? O bolinho tinha sumido!

“Isso não está certo!”

O tanuki colocou mais um bolo de arroz na frente de Jizo-sama, disse rapidamente: “Namu Amida -” e levantou a cabeça antes que pudesse sequer ter a certeza que ele tinha realmente abaixado. O que ele viu foi Jizo-sama com um bolinho de arroz meio comido em uma das mãos.

“Ei!” o tanuki gritou, e agarrou o braço de Jizo-sama. O que havia sido Jizo-sama voltou à sua forma habitual, a raposa.

“O que é tudo isso, Kitsune-san?” perguntou o tanuki.

“Agora é a sua vez”, respondeu a raposa. O tanuki pensou por um momento, e levou de volta o que restava do bolinho antes de falar.

“Cerca de meio dia de amanhã eu vou me transformar no senhor do castelo e passar por aqui, e então olhar de perto.”

E assim, a raposa ficou esperando lá no dia seguinte. Finalmente, ele viu a procissão do senhor vindo em sua direção.

Primeiro vieram os varredores gritando “Abaixo! Todo mundo no chão!” Depois disso veio uma longa fila de samurai, e, em seguida, a liteira em que o senhor estava sentado. A raposa estava cheio de admiração, e correu para a liteira do senhor, sem sequer pensar mudar para a forma humana.

“Senhor Tanu, senhor Tanu”, ele chamou, “você me venceu.”

No entanto, a procissão não era uma transformação do tanuki, e sim uma procissão de verdade. E assim, um dos samurais carregando um grupo correu para a raposa. A surra que raposa levou foi severa. E de verdade.
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Notas:
* A oração Amida Butsu é amplamente ensinada por ser universalmente eficazes, e também tem a vantagem de ser curto. Isso é útil em um caso como este, quando a pessoa precisa rezar não tem nada de especial para pedir.

* Tanuki – é um personagem do folclore japonês desde tempos antigos. Ele é uma criatura mística, travessa e alegre, mestre no disfarce e na troca de formas, segundo relatos sobre a “criatura” que constam no livro Kojiki (Registro das Coisas Antigas), o livro mais antigo sobre a cultura do Japão, datado de 712. Diz-se que a principal característica do Tanuki é a predileção por saquê (sake, bebida fermentada feita de arroz). A criatura é frequentemente retratada com uma garrafa de saquê em uma mão e uma nota promissória na outra – uma conta que ele nunca paga – e sempre usando um chapéu.
Desde os tempos antigos até os atuais, estátuas de Tanuki podem ser vistas nas portas (tanto do lado de fora como de dentro) de restaurantes e izakaya (um tipo de bar japonês) para atrair clientes. Isso porque imagens de Tanuki são consideradas amuletos de boa sorte e prosperidade, enquanto ele próprio é um grande degustador de comida e bebidas, em especial o saquê, claro.
No Japão antigo, a identificação do Tanuki era incerta. Ele era referido à animais como itachi (doninha), ten (marta), musasabi (esquilo voador). Uma definição mais precisa do termo Tanuki ocorreu a partir da Período Edo (1603–1868), quando acabaram por identificá-lo com o texugo ou guaxinim japonês.
Contam as lendas que os planos fracassados em aplicar brincadeiras nos humanos, em muitas das vezes, seria por conta de sua adoração por saquê. “Ao sentir o aroma da bebida, o Tanuki esquece imediatamente de seu disfarce e levanta o rabo, revelando sua  verdadeira identidade”, conta um trecho em uma de suas lendas descritas no livro “Legends of Japan”, obra compilada em três volumes por F. Hadland Davis, escritor e estudioso da mitologia japonesa. o folclore japonês retrata Tanuki como uma criatura brincalhona, astuta e, ao mesmo tempo, “atrapalhada”. São raros os contos japoneses descrevendo um Tanuki cruel. (Fonte: Mundo-Nipo)


Fonte:
Casa de Cha

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