Ao ver-te, ó velha tapera,
senti na dor de teus ais…
Meus sonhos de primavera
e o silêncio de meus pais!
Casarão velho, sem teto,
sozinho à beira da estrada,
és o retrato completo
de uma vida abandonada!
Dos lupanares, bordéis,
vê tu, que te resta agora:
Um trapo arrastando os pés
e um corpo velho que chora!
Família unida e eu risonho
prova o bem que sempre fiz...
Sonho bom é aquele sonho
que faz a gente feliz!
Lembrar momentos risonhos.
dos tempos da mocidade,
é torturar velhos sonhos
no pôr do sol da saudade!
Meu sonho é seguir em frente,
sonhando é que a gente cresce;
se o tempo envelhece a gente,
o sonho, nunca envelhece!
Não há força mais sublime
nem mais sublime oração,
do que a força que se exprime
no silêncio do perdão!
Não há lágrima mais triste,
nem solidão mais sombria,
do que aquela dor que existe
no olhar de um cego de guia!
Não há pior desconforto,
nem um crime mais tirano,
que aquele de um filho morto
no ventre de um ser humano!
Na tapera abandonada,
toda noite a vela acesa
mostra a saudade sentada,
repartindo o pão na mesa!
Na tarde em que tu partiste,
o ocaso mudou de cor;
e o Sol, se pôs bem mais triste
com pena de minha dor!
No outono da vida, e ainda,
me apego à velha quimera,
na ilusão que nunca finda
um sonho de primavera!
Nos braços, de alguém que sonha,
ouço uma voz aos pedaços.
É de uma vida tristonha,
com saudade de outros braços!
No silêncio que me embala,
contemplo a foto, calado.
Se a velha foto não fala,
mostra quem fui no passado!
No trem da vida eu me assumo,
sozinho... E, de peito aberto...
Sou passageiro sem rumo,
em busca de um rumo certo!
O beija-flor pequenino,
astucioso e artesão,
tece no galho mais fino
o altar de sua mansão!
O beijo de um beija-flor,
de manhã cedo é tão lindo,
que a rosa tonta de amor
dorme tonta e acorda rindo!
O orvalho da noite aflora
e afaga a velha cascata,
onde a lua também chora
lágrimas da cor de prata!
O tempo com seus deslizes,
com seus conceitos fatais...
Por pouco nos fez felizes,
mas quase tarde demais!
Partiste!.., E agora meu filho,
depois do sonho desfeito,
teu orgulho maltrapilho
pôs mais dilema em teu peito!
Quando a insônia me atropela,
me faz escravo e me abraça,
insone e nos braços dela,
passa a noite e ela não passa!
Quando a tarde se completa,
e o sol, se acalma e se deita,
no céu, um pintor poeta,
pinta uma trova perfeita!
Rompe a aurora, o galo canta,
o sol põe riso na flor,
e o sabiá, da garganta,
liberta um hino de amor!
Se a brisa cai sorrateira
e arrasta a flor que morreu...
Deixa mais triste a roseira,
chorando a flor que perdeu!
Sei que pesa esse pecado
na palma de cada mão;
mas quero ser perdoado
pelos "sins", que disse "não"!
Se não houve despedida
e desse amor, fui descrente,
que o carrilhão desta vida
acerte os passos da gente!
Se o sorriso me enternece,
sorrir na vida é preciso.
Quem põe no riso, uma prece,
faz dela, um lindo sorriso!
Trovador e abelha nova,
são sempre iguais no serviço:
Se ele põe doce na trova,
ela põe mel no cortiço!
Vivo de sonhos, querida!
E há tantas... Tantas versões...
Que fiz dos sonhos da vida
muitos cordéis de ilusões!
Fonte:
Professor Garcia. Trovas que sonhei cantar. vol.2. Caicó/RN: Ed. do Autor, 2018.
Livro gentilmente enviado pelo autor.
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