quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Odenir Follador (Centro Urbano)


          Por vezes arguto, procuro trocar o meio de locomoção habitual, fazendo uso do transporte viário de nossa cidade. E são incontáveis as situações que encontro no dia a dia dos bairros e, até mesmo no centro urbano.

          Certo dia, após desembaraçar-me da condução e da multidão que contumaz toma conta do terminal, e segui pela rua principal, quando me deparei com uma cena pitoresca, daquelas que nos deixam chocados e ao mesmo tempo embevecidos. Eis que estava à minha frente, encostada junto à parede de uma casa comercial, uma “gaiota” – dessas que são usadas pelos catadores de papéis, papelão e afins. Um artefato construído sobre rodas de motocicletas ou similares, cujas grades laterais de arame se elevam, formando um grande caixote, com grandes cabeçalhos para ser conduzida; na qual são acomodados seus pertences e os produtos do trabalho.

          O que me chamou mais a atenção, não foi o artefato em si, e sim, a família que dela se ocupavam: um casal e seus dois filhos; o pai; a mãe e a filha de uns dez anos talvez, portavam vestes rudimentares, e calçavam simples sandálias, apesar do frio cortante daquela manhã de outono.  

          Dentro da gaiota acomodado num espaço improvisado, estava o filho pequenino. Formariam um quadro comum, dentre tantas outras famílias humildes e desvalidas, sequer outro meio de sustentação, não fosse uma questão que passei a arguir: Vi estampado em seus rostos, os traços de cansaço por noites mal dormidas ou muitos outros problemas a serem resolvidos... Doenças, talvez... Mas o que eu via não era tristeza em seus rostos, e sim, uma família que apesar de nada terem de importante, tinham um sorriso especial estampado em seus semblantes! Estavam alegres, brincavam e sorriam o tempo todo.

          Continuando em meu trajeto, não consegui esquecer aquela cena pitoresca, e fiquei a imaginar: quantas famílias tem tudo ao seu alcance: boa educação; escolas particulares; bons empregos; etc. Mas a felicidade irradiante que ali eu vi estampada naquela cena descontraída e maravilhosa, eu tenho certeza, que faz falta em muitas famílias por mais abastadas que sejam.

Fonte:
Crônica enviada pelo autor

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