quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Luiz Poeta (Poemas Escolhidos)

BOTÃO DE ROSA

Aos meus pés cai uma flor
Trazida pelo vento,
Dizendo talvez que o amor
É sutil ou violento.

Eu não a deixo ao relento;
É uma rosa... e quase fala !
Mas firo seus sentimentos
Se ela se despetala.

Pego-a delicadamente,
Mas me firo em seu espinho
Eu nem sei se ela sente
Esta forma de carinho.

Com minhas mãos perfumadas,
Seguro esta rosa-botão
Que mesmo depois de arrancada,
Se abre no meu coração.

A DOR DA TUA AUSÊNCIA

Se a tua ausência pode ser sentida
Como uma dor que apenas incomoda
E se em teu ser só fica uma ferida
No exato instante em que alguém te poda...

É interessante que tu compreendas
Que a outra ausência também é doída
E se tu queres que alguém te entenda,
Faz tua dor sutil ser percebida.

Não te maltrates – assim é a vida:
Fica o perfume onde morre a flor;
A dor da ausência é menos dolorida
Quando ela nasce da falta de amor.

E o teu amor é uma flor tão doce
Que não merece assim ser destruída...
Guarda em teu ser o amor que alguém te trouxe,
Porque ele faz parte da tua vida.

PALPITAÇÕES
 
Teu coração te palpita
Porque tem aprisionado
Um velho amor que te grita
De um tempo do teu passado.

Teu coração maltratado
Por teus sutis devaneios,
Grita sem ser escutado
Por quem não tem teus anseios.

E essa aflição repentina...
Que importa de onde ela veio ?
O importante, menina,
É que ela pulsa em teu seio.

AMANTE É QUEM AMA

Somos amantes sem sê-lo,
Mesmo epidermicamente,
Somos mesmo sem sabê-lo,
Somos amantes na mente.

Se um corpo alheio, ao vê-lo,
Sentimos um calor fremente
E, num átimo, por tê-lo,
Ansiamos de repente…

Mesmo estando tão presente
A pessoa que nos ama,
Mesmo estando até na cama
Em carícias envolventes…

Traímos o que nos sente,
Sem todavia traí-lo,
Sentimos o amante ausente,
Sem entretanto senti-lo.

E não depende da gente
Lembrar alguém no momento
Do amor mais forte e envolvente,
Repleto de sentimento.

Traímos no pensamento,
Sem toques e sem contatos,
Portanto, se não há ato,
Não traímos, tão-somente.

Se em pensamentos traímos…
Traímos! …mas quem reclama ?
Porque, quando nos unimos,
Amante é aquele que ama.

AO MAIS ANTIGO CIDADÃO DE SÃO FIDÉLIS

Sem que o relevo desta terra te proíba,
Com sedutora imponência…e mansidão…
Tu atravessas nossa história, Paraíba,
Abençoando muito mais que um coração.

Tua corrente é poesia em movimento
E por cruzares nossa Cidade Poema,
Quem te navega com o olhar, vê num momento,
Que és o verso…São Fidélis é o tema.

Numa das ruas que te abraçam, da matriz
Duzentos anos te miram…o campanário
Geme estridências solidárias e te diz
Que o teu matiz é sempre um novo itinerário.

Se retornasses há alguns tempos passados,
As tuas margens…de tão líricos caminhos,
Enlaçariam teus Puris e Coroados
E reveriam teus sublimes capuchinhos.

Quando anoitece, a cidade se emoldura…
E na ternura dos olhares solidários,
A luz da Lua se mistura…com brandura,
À escultura dos seus prédios centenários.

Das luminárias do presente fidelense…
Às lamparinas dos casebres ribeirinhos,
A poesia se dilui…sublimemente
Na agitação dos teus eternos torvelinhos.

E quando o sol, pela manhã, te ilumina,
Cada retina comovida que te chora
Reflete em tua solidão mais…mais cristalina…
A repentina emoção de quem te adora.

Os flamboiants fazem a corte quando passas,
Porque eles sabem que sempre reverencias
Cada poeta que passeia pelas praças
De São Fidélis, respirando fantasia.

Na solidão das tuas águas mais douradas,
Quando teu ímpeto…perene…nos completa,
Teu coração, em pulsações cadenciadas
Fala de amor com a ternura de um poeta.

Nós te louvamos, porque és o nosso irmão,
E quem visita nossa lírica cidade,
Sempre te vê, atravessando um coração
E desaguando em nossa sensibilidade.

PINTURA ALEATÓRIA

Tu te mascaras, mas as caras que tu fazes
São tantas caras... por que usas tantas tintas ?
Tuas pinturas inseguras são fugazes
Teu rosto é lindo... afinal... por que te pintas ?

Os que te amam de verdade não projetam
O que não és... querem te ver sem maquiagem
Ao natural... feliz... com os sonhos que completam
O interior do teu amor... por que outra imagem ?

Que importa a cor de um falso amor, se o rosto é triste ?
Se tu chorares, teu pranto vai dissolver
Essa pintura aleatória à dor que existe
E que insiste em habitar todo o teu ser.

Tira essa tinta... onde está o teu sorriso ?
Quando tu ris, teu coração, como uma flor
Se abre em pétalas sutis... rir é preciso
Porque o sorriso pinta a cor do teu amor.

Queres pintar o teu amor sem te mentir ?
Apenas ri da tua dor aleatória
Ao teu amor, assim vais multicolorir
O que existir de desamor na tua história.

Se a chuva é triste, o arco-íris se revela
Quando uma luz timidamente se projeta
Por entre as nuvens... como a cor dessa aquarela
Do teu amor na luz do olhar... que te completa.

PASSE...ARTE

Tu me passeias por dentro, irmã do meu coração,
Percorres a solidão do meu silêncio mais fundo...
São ermos reflexivos... são lagos onde a paixão
Repousa na abstração de um sonho fora do mundo...

Eu te passeio, menina... e entendo cada caminho
Que enfeitas devagarzinho com teu olhar delicado...
E a cada rumo que traças, colores com teu carinho
A borda de cada ninho de um passarinho encantado.

Poetas voam tão alto, diluem-se em devaneios,
São anjos...criam enleios tão nebulosos... sutis...
Que, quando sonham, sublimam a essência dos seus anseios
Alheios, dão seus passeios nos sonhos mais infantis...

Somos assim, minha amiga... iguais na necessidade
De amar nebulosidades e infinitos sem fim,
Por isso é que eu te passeio, percorro tuas cidades
E tuas ansiedades se perdem... dentro de mim.

ÂNSIAS SONOLENTAS

O homem mente quando diz que se extasia
Com a fantasia de amar o que ele inventa;
A euforia taciturna só aumenta
A sua ânsia de viver sem hipocrisia.

Por outro lado, é nas ilhas nevoentas
Que as formas dançam sedutoras, seminuas
E cada sombra toma a direção das ruas
Que o sonho cria em suas ânsias sonolentas.

É da emoção que o coração se alimenta;
O sonho tenta misturar a realidade,
Com seu prazer de amar e ter felicidade,
Quando a ilusão de ser feliz não o contenta.

O homem crê no que ele vê, porém duvida
Da sua vida, quando sua solidão
Cria a razão de uma dor que intimida
A própria vida do seu próprio coração.

Mas é no pranto que deságua no poeta
Que se completa este ciclo sedutor
Que se alimenta da essência inquieta
Quando o poeta inquieta o próprio amor.

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