segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Olivaldo Júnior (As estrelas)

Desde criança, as estrelas me encantam. Poderia me mudar para uma nova estrela a cada noite e lá ficar por um bom tempo. Mas, como ainda sou humano e, mesmo tendo passado um Mastercard na maquininha celeste, minhas asas não chegaram, cá estou, sonhando, escrevendo que, um dia, ainda que tardio, chegarei a estar com as Três Marias, face a face, olho no olho, num clima de "Será que já não nos vimos antes?". Ah, mas esse dia vai demorar! Queria ir logo para perto das estrelinhas que, juntas, poderiam ser as Três Espiãs Demais, "As três máscaras de Eva", ou, quem sabe, as Irmãs Cajazeiras, imortais personagens do igualmente imortal Dias Gomes, amantes, quero dizer, namoradas de Odorico Paraguaçu, em O Bem-Amado. Amado, penso eu, também seria pelas três estrelas nesse cosmos imenso, tão grande quanto qualquer gota de qualquer oceano existente. A vida é grande, ainda que minúscula. Não há nada que não seja assim: operístico, intangível, insondável. Na próxima parte, eu queria falar com Deus, mas Ele não veio. Estava ocupado, reunido com seus anjos, para ver se a coisa na Terra melhora. Não é à toa que me encanto com o brilho das estrelas e queria ir morar numa delas a cada dia a viver. Nem morto, não me apartarei desse ideal.

À beira da casa em que moro, minha mãe plantou flores, milhões delas. Flores, para mim, são as estrelas da terra. Que é mesmo uma rosa senão a imitação de uma das luzes do céu? Não sei. O que sei é que as estrelas são belas. Ora orientando os sete mares, a cada noite escura da História, ora desorientando dois seres, a cada noite em chamas da aurora, estrelas são um dos tesouros de Deus. Por falar Nele, a reunião com os anjos, já acabou? Queria tanto falar com Ele, dizer que as estrelas foram sem dúvida um de seus melhores feitos, design nota dez. Bem, quando a reunião terminar, Deus, fala um pouquinho comigo, está bem?

Lembro-me de já ter visto o que chamam de estrela cadente. Mais de uma vez, aliás. Outro dia, vi uma. Pasme: sabia que as estrelas que vemos sequer estão "vivas"? São estrelas mortas, as que vemos brilhar quando o Sol se vai para o Japão e a Lua volta para cá. Estrelas, na verdade, foram sóis imensos, e o que vemos da Terra é apenas o brilho de cada um desses sóis, que, por terem estado muito longe de nós, a luz deles demorou tanto a chegar aqui, que o que vemos é somente a luz deles mesmo. Complexo demais? Nem tanto. Eu gostei de saber disso. Não sei por que, mas isso é mais poético que as próprias estrelas, ora mortas.

Acabou a reunião de Deus com seus anjos? Não?! Ih, vou ter que esperar... Um passarinho me disse que, antes de mim, tem uma fila de iluminados, outra de santos, e ainda outra de espíritos à porta do Pai, querendo um cantinho só seu, numa estrela, num planeta, num satélite, um canto em que, iguais a mim, possam cantarolar Stardust, sucesso na voz de Nat King Cole, ou, se tiverem sido brasileiros, Chão de estrelas, do Sílvio Caldas, músicas lindas, quase esquecidas por gerações mais novas. Sucessos de também estrelas num céu que se mostra opaco, musicalmente falando.

Poderia me mudar para uma nova estrela a cada noite e lá ficar por um bom tempo. Será que minha mãe iria querer ir comigo? Se fosse, poderia fazer bolachas, meias-luas, para São Jorge, que o chá da tarde por lá pode ser bem legal. O quê?! A reunião de Deus acabou?! Graças a Deus, quer dizer, graças a Ele! Bem, é hora de ir. Uma estrela sobe. Vamos lá!

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