sábado, 10 de setembro de 2016

Olivaldo Júnior (A menina e o jardineiro)

A menina estava doente há muito tempo. Por isso, de uns tempos para cá, morava mais no hospital que em sua casa. Sua mãe, professora no Jardim da Infância em que essa mesma menina tinha estudado, aquela mulher se desdobrava em mil por sua filha.

Foi que, de manhã, pouco antes da mãe despertar, no quarto daquele insípido hospital, adentrava um homem de macacão jeans e suspensórios rubros, que vinha ao pé da cama da menina e dizia:

- Bom dia, flor do dia! Como vai, minha "tulipa"?

A primeira vez em que ela o viu, não gostou de vê-lo. Sentiu medo. Mas, com o passar dos meses, aquele homem se tornara um verdadeiro raio de sol para a menina dos olhos da menina, que sorria mal abria os olhos e via o tal do homem, lá, com seu bom dia.

Contou à mãe sobre o homem de macacão que a visitava, o que deixou a mulher em pânico, chegando a pedir ao diretor do hospital que redobrasse a segurança no quarto de sua filha. Prontamente atendida, em nada adiantou reforçarem a vigia. Dia após dia, com seu bom dia, lá vinha o homem deixar aos pés da cama da menina um botão de rosa, uma flor qualquer que lhe fizesse bem.

Um dia, a menina não acordou mais. Choro. Desespero. A mãe pensou que fosse morrer. Por que será que isso acontece? Onde estava Deus? O jeito era o tempo, diziam a ela no velório. Que tempo pode suprir a ausência de quem nasceu de seu ventre, hein?

À hora exata do enterro, no cemitério lotado de gente, o tempo virou, e todas as flores de todas as lápides foram varridas para o pequeno caixão cor-de-rosa em que o corpo da menina dormia. Ninguém viu o jardineiro, aquele mesmo do hospital, detrás de um mausoléu, sorrindo, como se aquele vento todo fosse obra de Sua vontade de se despedir da menina, que, toda feliz, ao lado Dele, de mãos dadas com Ele, partia. Ai, ai...


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