sábado, 12 de agosto de 2017

Carlos Leite Ribeiro (Sabendo e Recordando) Parte I

Novela em 5 partes.

Novela de Carlos Leite Ribeiro 
Embora romanceada, é baseada em fatos reais, passados por familiar de uma pessoa amiga, cujos fatos se passaram em Portugal e no Brasil.
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Este livro foi escrito, em parte, baseado sobre o filme de ficção “Casablanca” (*) produzido em 1942. Comecei então a imaginar: o que teria acontecido a estas personagens depois de Casablanca? Como dizia o Mestre Almada Negreiros: “a caverna da mente dos escritores é insondável e imprevista …”. E assim, comecei a escrever este livro, que é pura ficção.
Carlos Leite Ribeiro

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(*) Casablanca, (Marrocos – África Oriental) em árabe “dar al-Bayda ou Dar el-Beida” que quer dizer “a casa branca”. Cidade de Marrocos e seu principal porto no oceano Atlântico. Casablanca desenvolveu-se durante o período colonial francês. Em Janeiro de 1943, realizou-se nesta cidade marroquina, uma conferência entre Churchill e Roosevelt, no decurso da qual os generais franceses De Gaulle e Giraud tiveram o primeiro encontro.

Ambos trabalharam durante muitos anos num escritório de advogados em Lisboa, em gabinetes diferentes e separados. Quando se cruzavam no corredor, davam um simples cumprimento, como: “olá”; “bom dia”; “tarde”. Só uma vez em tantos anos, ele deu-lhe uma boleia (carona), numa tarde muito chuvosa, até ao Metro que nem ficava longe do escritório, pois ela tinha o carro a reparar. Nem almoçavam no mesmo restaurante.

Os anos foram passando e chegou a altura da reforma: primeiro ela e meses depois ele. Por casualidade, ambos começaram a lanchar na mesma pastelaria que ficava no centro de Lisboa. Olhavam um para o outro, sorriam e cumprimentavam-se.

Certo dia e também por casualidade, ela sentou-se numa mesa junto à mesa que ele ocupava.

- Então Dona Ivone, como vai a sua vidinha, depois de se reformar?

- Vai bem Sr. Júlio, só com uns “achaques” de vez em quando, devido à idade. E a sua vidinha como vai – perguntou-lhe ela, o que ele respondeu-lhe:

- Descontando o reumatismo e uns “ataques” de artrite, vai indo bem. E podia ser melhor se os impostos não fossem tão altos!

- Desse mal, também me queixo, meu caro amigo (não sei se possa e deva trata-lo como amigo?)

- Trate-me como quiser, desde que retire o “Sr”. Pode tratar-me só por Júlio e eu a tratarei só por Ivone. Está de acordo?

Começou a ser habitual os tais encontros naquela pastelaria, só com a diferença de ambos se sentarem na mesma mesa. Durante semanas, as conversas foram banais, praticamente só falando dos filhos e dos netos. Até que um dia, começaram a falar de suas famílias. A determinada altura, Ivone perguntou-lhe:

- Júlio, o que lhe vou perguntar, corro o risco de estar completamente enganada. Seu sobrenome é Blaine – certo?

- Desde que nasci – disse-lhe ele com um sorriso aberto.

- O sobrenome Lund, não lhe diz nada?

- Confesso que não, mas porquê?

- O nome de seu avô, por acaso não era Rick Blaine?

- Sim, era do sobrenome do meu avô paterno. Mas porque essa pergunta, digamos tão “misteriosa?

- Minha avó escreveu um diário que quando morreu, entregou-o a minha mão que por sua vez mo deu a mim. Nesse diário, minha avó materna, conta que conheceu durante a segunda guerra, um americano de nome Rick Blaine, o qual foi a paixão de sua vida.

- Meu avô Rick, foi um aventureiro, digamos compulsivo. Conseguiu fugir de França quando os alemães ocuparam-na, e durante uns anos fixou-se em Casablanca.´, em pleno Marrocos.

- Então acertei, é mesmo de seu avô que estou a falar, mas fale de seu avô.

- Segundo as “crônicas” da família, meu avô em Casablanca, teve de matar um general ou major alemão para ajudar a fugir uma mulher que até era casada.

- Até aqui conheço a história, que depois lhe contarei. O que foi feito de seu avô?

- Quero saber essa história direitinha. Continuando a falar do que dizem as crônicas familiares. Meu avô Rick teve de fugir de Casablanca para Brazzaville (ex- Congo Belga), onde montou um bar em parceria com um chefe de polícia que tinha conhecido em Casablanca, e parece que ajudou a matar o tal general alemão. O Louis Renault.

Mas Brazzaville era um ninho de nazistas que estavam espalhados por toda a parte e, por azar, foi lá assassinado. Meu avô mais uma vez teve de abandonar o negócio e fugir com a filha do Louis Renault, para Lourenço Marques (hoje Maputo) em Moçambique e lá casou com ela, ou seja com minha avó. Casamento esse que durou pouco tempo, pois minha avó fugiu, levando-lhe todo o seu dinheiro, abandonando – o assim como o filho.

Meu avô teve de trabalhar no duro em Moçambique, para poder sobreviver. Entretanto, uma família portuguesa que vivia nesse país africano, acolheu e mais tarde adotou meu pai. Quando regressaram a Portugal, trouxeram meu pai que cá casou e eu nasci aqui nesta bela cidade que é Lisboa.

- Nunca soube mais nada de seu avô Rick?. Só agora reparo que já é noite e tenho que me ir embora. Amanhã continuaremos a história. Esta noite quero dar uma vista de olhos pelo diário que minha avó Ilsa Lund escreveu.

- Sim, já é noite e estava quase a convidá-la para jantar comigo. Como quer ir para casa, eu acompanho-a até lá.

Foi uma noite em que ambos tiveram dificuldade em adormecer. Ela impressionada com o que ele lhe contou do avô; ela desejosa de lhe contar a história de sua avó. Ambos tiveram vontade de ligar um ao outro, mas tinham receio de incomodar a outra parte. Por fim, Ivone encheu-se de coragem e ligou para ele.

- É o Júlio? Desculpe de lhe ligar a esta hora…

- É um prazer ouvi-la! Também tinha vontade de lhe ligar, mas não queria incomodá-la. Pelos vistos, ambos estamos com dificuldade em adormecer!

- Estou deitada a passar os olhos sobre o diário de minha avó.

- Tem encontrado coisas interessantes?

- Afirmativo, mas não lhe vou contar aqui pelo telefone. Nem antes de saber toda a história de seu avô! Temos muito que falar sobre nossos avós!

- Deve ser preciso muitas horas! Atrevo-me a convidá-la para um almoço, pois assim teríamos mais tempo para dar à língua. Aceita?

- Aceito!

- Já amanhã?

- Amanhã não pode ser pois tenho cá em casa a senhora que faz a limpeza. Se o Júlio aceitar, poderá ser na próxima sexta-feira?

- Por mim está tudo bem. E onde a Ivone quer almoçar (e se quiser jantar também), diga que eu aceito. E também diga a hora em que posso a ir buscar no fundo da sua rua.

- Gosto muito da beira-mar da zona de Setúbal. Mas só almoçar.

- Proponho-lhe a Serra de Arrábida, depois as praias da Figueirinha, Portinho da Arrábida e almoçar em Sesimbra no restaurante “O Velho e o Mar”, que tem sempre um peixe espetacular.

- Também gosto muito da Arrábida, de suas belas praias e de Sesimbra e também conheço esse restaurante. Também conheço o belo Convento de Nossa Senhora da Arrábida. A hora, pode ser às 10?…

- Amiga Ivone, não pode ser mais cedo? Tomávamos o pequeno almoço em Almada.

- Pensando bem, o Júlio pode vir-me esperar ás 08.30. E o pequeno almoço poderá ser em Corroios, numa pastelaria que também conheço e tem sempre bolos quentinhos rssss.

- Então até sexta-feira e tente fazer um soninho bem descansado.

- Também tenha uma boa noite. Abraço.

- Um beijo!

No dia e hora combinada, Júlio estava no fundo da rua esperando a Ivone. Quando já estava com o telemóvel (celular) na mão para lhe ligar para lhe perguntar se tinha esquecido o combinado, quando ela apareceu junto ao carro e logo que entrou, perguntou-lhe:

- Não estou muito atrasada, pois não?

- Claro que não. A Ivone só está atrasada 25 minutos!

- Pelo meu relógio, são só 20 minutos, Veja se acerta seu relógio!

Ele deu uma sonora gargalhada e partiram para o passeio. Depois de passar a Ponte 25 de Abril e já à entrada de Almada, ela disse-lhe que estava com muita fome e se podiam ir tomar o pequeno almoço a Almada, talvez a um Shopping, desculpando-se:

- Sabe, o atravessar o Tejo faz-me sempre abrir o apetite.

- E também os 25 minutos de atraso, também lhe provocaram ainda mais essa fome rsssss

- Nem tenho palavras nem lhe quero responder!

Já a caminho da Arrábida, ele perguntou-lhe por onde queria começar, o que ela, depois de pensar algum tempo, respondeu-lhe:

- Se o “cavalheiro” estiver de acordo, podemos começar por visitar o Convento de Nossa Senhora da Arrábida. É um local calmo, onde se vê o mar e sempre me sinto bem.

- De acordo, pois ainda sou uma “cavalheiro à moda antiga”!

- Daqueles que atiram flores às damas?

- Sou ainda mais completo: não só atiro flores como também o respectivo vaso! .
KKKKKKK !!! E nesse local podemos falar mais um pouco de seu avô.

Algum tempo depois chegaram ao convento e numa das varandas superiores admiraram o belo estuário do rio Sado e um pouco à esquerda, Troia (portuguesa que fica na margem esquerda do Sado).

Lembrou-se que quando mais novo, conheceu Troia ainda estado “selvagem”, era uma grande herança, mais tarde comprada pelo grupo Grão-Pará. Hoje tem vários pavilhões e condomínios Também se lembrou que um grande amigo dele, nas escavações arqueológicas para prática de seu curso, em determinada altura encontrou um cobra. Fugiu gritando que tinha encontrado uma cobra com mais de três metros. Os companheiros mataram a cobra e ao medi-la não tinha mais de 70 centímetros. Nesse acampamento, ficou conhecido por “Cobra de três metros”!

continua...
 
Fonte: O Autor. Disponível em http://cencaestamosnos.blogspot.pt/search/label/CONTOS

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