Folclore Brasileiro em Versos de
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR
A Cuca
Na noite enluarada um sussurro a soar,
a Cuca, a bruxa de olhos de fogo,
com seu manto escuro vem te atormentar,
dos sonhos das crianças é o eterno jogo.
Sonhos se desfazem sob seu olhar frio,
e o medo se espalha como sombra a dançar,
levando os inocentes ao mais profundo vazio,
na teia da noite, ela vem se enredar.
Mas sob a maldade há um lamento a ecoar,
histórias esquecidas de um amor a vagar,
que, mesmo em pesadelos busca a liberdade,
e assim, a Cuca tem sua dualidade,
guardando em seu ser um profundo pesar,
entre sonhos perdidos ela vai se ocultar.
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Soneto de
JOÃO BATISTA XAVIER OLIVEIRA
Bauru/SP
Sutil olhar
A nova era agora tão veloz
atinge os ares lassos de metais;
a quântica figura não é mais
o mito que atordoa a todos nós.
Os olhos deslumbrados por fanais
que buscam horizontes, antes sós,
percebem muito além de nossa voz
as vibrações sutis de mil sinais.
Desperta criatura limitada!
Aguça a tua aura dos sentidos;
o mundo ao teu redor é quase nada!
A nova era agora tem ouvidos;
o espírito retarda evolução
se olhar de uma segunda dimensão!!
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Poema de
YVES NAMUR
Namur/Bélgica
Figuras do muito obscuro (I)
Evita pois
Olhar no seio do visível
E
Antes vê as coisas que não vês
E tudo isso que não ouves.
Pois é aí,
Ao centro de “Nenhures”,
Que sempre o coração vai ter
E
O passo do inesperado.
Porquê obstinarmo-nos a chamar ainda
Aquele que o não pode ser
E
Nunca há de poder regressar?
Se não fosse para aumentar o vazio
E a nossa necessidade de ser na imensidão?
(Tradução: Fernando Eduardo Carita)
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Quadra Popular
Vou tirar o teu retrato,
no tampo da minha viola,
o dia que não te ver,
teu retrato me consola.
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Poema de
JOSÉ FANHA
(José Manuel Kruss Fanha Vicente)
Lisboa/Portugal
Grito
De ti que inventaste
a paz
a ternura
e a paixão
o beijo
o beijo fundo intenso e louco
e deixaste lá para trás
a côncava do medo
à hora entre cão e lobo
à hora entre lobo e cão.
De ti que em cada ano
cada dia cada mês
não paraste de acender
uma e outra vez
a flor elétrica
do mais desvairado
coração.
De ti que fugiste à estepe
e obrigaste
à ordem dos caminhos
o pastor
a cabra e o boi
e do fundo do tempo
me chamaste teu irmão.
De ti que ergueste a casa
sobre estacas
e pariste
deuses e linguagens
guerras
e paisagens sem alento.
De ti que domaste
o cavalo e os neutrões
e conquistaste
o lírico tropel
das águas e do vento.
De ti que traçaste
a régua e esquadro
uma abóboda inquieta
semeada de nuvens e tritões
santidades e tormentos.
De ti que levaste
a volúpia da ambição
a trepar ereta
contra as leis do firmamento.
De ti que deixaste um dia
que o teu corpo se cansasse
desta terra de amargura e alegria
e se espalhasse aos quatro cantos
diluído lentamente
no mais plácido
silente
e negro breu.
De ti
meu irmão
ainda ouço
o grito que deixaste
encerrado
em cada pétala do céu
cada pedra
cada flor.
O grito de revolta
que largaste à solta
e que ficou para sempre
em cada grão de areia
a ressoar
como um pálido rumor.
O grito que não cansa
de implorar
por amor
e mais amor
e mais amor.
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Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ
Ah! Se eu morresse, querida,
sentindo os carinhos teus,
teria, na morte, a vida
que em vida pedi a Deus!
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Poema de
CZESLAW MILOSZ
Seteniai/Lituânia, 1911 – 2004, Cracóvia/Polônia
Tão Pouco
Disse tão pouco
Dias curtos.
Dias Curtos,
Noites curtas.
Anos curtos.
Disse tão pouco,
Não tive tempo.
O meu coração cansou-se
Do êxtase,
Do desespero,
Do zelo,
Da esperança.
A boca do Leviatã
Engolia-me.
Deitava-me nu junto ao mar
Nas ilhas desertas.
Arrastava-me para o pélago
A baleia branca do mundo.
E agora não sei
O que foi verdade.
(tradução: Elzbieta Milewska e Sérgio das Neves)
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Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN
A musa chega e me inspira,
num delírio encantador...
Afina as cordas da lira
e enche o meu mundo de amor!
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Soneto de
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP
Ter razão
“Ninguém por ter razão já foi ao céu”!
Eu não duvido disso, pois de fato
Nada vale fazer louco escarcéu,
Se barulho não é prova do que é exato!
Quem teima pode ir é ao beleléu...
É um Infeliz com orgulho caricato,
Que o faz tão só ser dono de um troféu
De convencido, tolo e até insensato!
Impor nossa razão só por vaidade
E a qualquer preço, hora e até lugar
Talvez seja a maior boçalidade!
Importa é ter amor! Não, ter razão!
Vale a pena esta regra ponderar:
O amar faz muito bem ao coração!
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Poema de
ULLA HAHN
Brachthausen/Alemanha
Pré- Escrita
Esta Saudade
de te chamar pelo nome
Este receio
de te chamar pelo nome
Esta saudade
de manter a palavra
Este receio
de apenas manter a palavra
Esta saudade de uma vida
que não dê em poema
Este receio de um poema
que antecipe a vida.
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Hino de
SÃO JOÃO DE MERITI/RJ
Desejando a lei conceber o progresso
De ver o Sol renascendo maior,
Fez ir ao berço da mãe gentil
São João transformado em cidade.
Do passado é memória na história presente
Para tecer um futuro melhor.
Continuamente, nosso dever
É guiá-lo crescendo e avante.
São João de Meriti é o nome da terra que louvamos!
O povo meritiense com áureos lauréis honramos!
Se tiver que partir eu irei onde a vida decidir!
Mas em meu coração levarei a bandeira de Meriti!
Sobre o chão dos "Tamoios" virou "Freguesias",
Nas sesmarias de "Iguaçu",
A produzir finas iguarias
Levadas nas águas do rio.
Tal labor construiu sobre tua presença
Templos à pura e exata razão
Enaltecendo a doce emoção
De quem ama, trabalha e pensa.
Que teu céu guarde o voo da sã liberdade
E que teu solo a permita correr.
Fartas virtudes possam chover
Sobre nossa querida cidade,
Pois ao imaginar não haver mais saída,
Quando a luz do final se apagar,
Quero chorar do amor que te sinto
Ao ver teu brasão acendendo.
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Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO
Ribeirão Preto/SP
Se o homem abaixasse a fronte
com fé, respeito, humildade,
seria a Terra uma ponte
entre Deus e a humanidade.
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Recordando Velhas Canções
ACALANTO
Elomar Figueira Melo
(Vitória da Conquista/BA)
Certa vez ouvi contar
Que muito longe daqui
Bem pra lá do São Francisco, ainda pra lá...
Em um castelo encantado,
Morava um triste rei
E uma linda princesinha,
Sempre a sonhar...
Ela sempre demorava
Na janela do castelo
Todo dia à tardezinha, a sonhar...
Bem pra lá do seu castelo,
Muito além, ainda mais belo,
Havia outro reinado,
De um outro rei.
Certo dia a princesinha,
Que vivia a sonhar
Saiu andando sozinha,
Ao luar...
E o castelo encantado
Foi ficando inda pra lá
Caminhando e caminhando,
Sem encontrar.
Contam que essa princesinha
Não parou de caminhar,
E o rei endoideceu,
E na janela do castelo morreu,
Vendo coisas ao luar.
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