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sábado, 6 de abril de 2024
quinta-feira, 19 de outubro de 2023
A. A. de Assis (Poesia em pílulas)
Se vivesse hoje entre nós, será que Castro Alves escreveria o “Navio Negreiro”? Talvez até sim, e tão bonito quanto. O difícil seria encontrar leitor para tão longo e magistral poema, visto que tudo é tão corrido nestes tempos loucos.
Daí que a tendência é concentrar poesia em textos curtinhos, como se faz na trova ou no haicai. A trova tem quatro versos, correspondendo a 28 notas musicais. O haicai tem três versos, correspondendo a 17 notas. Uma trova se diz em oito segundos, um haicai em apenas seis.
Na trova tenho mais experiência. No haicai há certas normas que só os bambambans conseguem seguir ao pé da letra, porém arrisco fazer uns versinhos à minha moda. Cito alguns exemplos. Sugiro ler devagarinho, para fruir bem cada um.
Daí que a tendência é concentrar poesia em textos curtinhos, como se faz na trova ou no haicai. A trova tem quatro versos, correspondendo a 28 notas musicais. O haicai tem três versos, correspondendo a 17 notas. Uma trova se diz em oito segundos, um haicai em apenas seis.
Na trova tenho mais experiência. No haicai há certas normas que só os bambambans conseguem seguir ao pé da letra, porém arrisco fazer uns versinhos à minha moda. Cito alguns exemplos. Sugiro ler devagarinho, para fruir bem cada um.
· Assanhadas rosas.
Disputam a preferência
de um raio de sol.
· Chocados os ovos,
há o choque dos seres novos.
E a vida prossegue.
· Flores na enxurrada.
Vão ter afinal bom hálito
as bocas de lobo.
· Os passantes param.
Carregadinhos de flores
os jacarandás.
· Klash klash klash.
Brincando de pula-pula
no laguinho as rãs.
· De novo nas ruas
o encanto das pernas nuas.
Viva a primavera.
· Pombo sobre pomba.
Virão logo fazer ninho
em minha janela.
· Suaves passeios.
O vô leva o neto ao bosque
para ouvir gorjeios.
· Mão de jardineiro.
Num leve toque de artista
faz do esterco a flor.
· Florzinha silvestre
no jardim do shopping-center.
Êxodo rural.
· Almocinho a dois.
Tico-tico come um tico
do fubá da tica.
· Sabiá caçando.
Nem só de gorjeios vive,
mas também de insetos.
· Deixa o beija-flor
um selinho em cada rosa.
E elas gostam... ahhhh.
· Abelha se aninha
no colo do girassol.
Vai ter mel quentinho.
· Mosca na parede.
Avisem à lagartixa
que o jantar chegou.
· Gari, no capricho,
colhe pétalas no asfalto.
São flores, não lixo.
· No meio do pasto
um ponto de exclamação.
Último coqueiro.
· Outrora cantavam
de tardezinha as cigarras.
Onde mora o outrora?
· A pombinha desce
numa imagem de Jesus.
Pousa a paz na luz.
· Teste de audição.
Canta ao longe um pintassilgo
e eu escuto, oba.
Sujaram meu rio.
Ele, que lavava as gentes,
não lavou as mentes.
· Zunzunzum... zunzum...
É um pernilongo brincando
de fórmula um.
· Casal de velhinhos
na janela olhando a Lua.
Tão longe a de mel...
· Tanta coisa boa
virou coisa do passado.
Por exemplo: nós.
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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 19-10-2023)
Fonte: Texto enviado pelo autor
segunda-feira, 28 de agosto de 2023
quarta-feira, 9 de agosto de 2023
quarta-feira, 19 de julho de 2023
sexta-feira, 30 de junho de 2023
quarta-feira, 14 de junho de 2023
sábado, 27 de maio de 2023
sábado, 13 de maio de 2023
segunda-feira, 24 de abril de 2023
sábado, 22 de abril de 2023
sexta-feira, 7 de abril de 2023
sexta-feira, 17 de março de 2023
segunda-feira, 13 de março de 2023
Vanice Zimmerman (Tela de Versos) 14
domingo, 12 de março de 2023
Benedita Azevedo (Triversos Escolhidos) 1
a chuva está forte
e o relâmpago risca o céu
cadela se esconde
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ainda manhãzinha
olhares fixos na rede
esperam sardinhas
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além da montanha
já se vai a tarde outonal
enfeite do jantar
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bacalhoada
chega à hora do jantar
o marido faminto
= = = = = = = = =
caminhadas de inverno
orelhas sob o vento
parecem queimar
= = = = = = = = =
casa de veraneio
da janela para a rua
cheiro de peixe frito
= = = = = = = = =
cercado dos peixes —
tudo tão abandonado
com o mar de inverno
= = = = = = = = =
clarão da manhã
as pedras à beira mar
guardam lótus brancas
= = = = = = = = =
começo de férias
invade a quadra da escola
o mar agitado
= = = = = = = = =
culto das imagens
o turista esqueceu-se
do seu veranear
= = = = = = = = =
desvãos de praia
cheias de pobreza as casas
sob a chuvarada
= = = = = = = = =
Dia da mentira
o avô engana os netos
e volta à infância
= = = = = = = = =
dia prolongado
também o trabalho aumenta
na horta da casa
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Domingo de Ramos
a procissão acompanha
o padre e a cruz
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em plena calçada
pescador conserta a rede
tempo de bagre
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família reunida
na mesa do restaurante
filé de dourado
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férias de verão
peixe frito no barraco
dá água na boca
= = = = = = = = =
fim de carnaval
restos de fantasia
no meio da rua
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gritos ritmados
pescadores puxam a rede
cheia de peixe-espada
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joga a meninada
debaixo de um aguaceiro
tombos e risadas
= = = = = = = = =
lembra um lenço branco —
o leve pouso da garça
entre os pescadores
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manhã de verão
sabor de peixe com arroz
à beira da praia
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maré outonal
as ondas quebram na areia
bem devagarinho
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marulhar das ondas
folguedos de carnaval
à beira da praia
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noite do folclore
a lua parece dançar
sobre as ondas
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noite tropical
últimos raios de sol
clareiam a praia
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padaria cheia —
o pão doce da vitrine
atrai uma abelha
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paisagem distante
a neblina de Petrópolis
desde o quintal
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revoada na praia
aves tornam a partir
na tarde de outono
= = = = = = = = =
roçado de milho
só restam talos em pé –
gafanhoto peregrino
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súbito aparece
a lua sobre o Atlântico
valeu a espera
= = = = = = = = =
vento da manhã
os barcos pra lá e pra cá
cheios de sardinhas
= = = = = = = = =
velho sorridente
distribui panfletos –
chuva de inverno
Fonte:
Enviado pela autora.
Benedita Azevedo. Praia do Anil. Curitiba: Araucária Cultural, 2006.
Enviado pela autora.
Benedita Azevedo. Praia do Anil. Curitiba: Araucária Cultural, 2006.
quarta-feira, 2 de novembro de 2022
Álvaro Posselt (Diário de Instantes) 1
a letra A tremeu na base
ao topar com outro A
teve uma crÀse
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Aqui tudo pode
Até a cabra
fica de bode
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A vida é o agora
Se alguém chegar atrasado
vai ficar de fora
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A vida não tem fim
Entre túmulos e flores
uma caveira acenou pra mim
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Curitiba não nos poupa
Ontem eu tomei sorvete
Hoje eu tomo sopa
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Escrever sem consulta
O bom é obedecer
à norma oculta
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Esta vida é um mistério
Perto da maternidade
também tem um cemitério
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Eu juro de pé junto
Com o calor na capela
suava até o defunto
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Gritei na caverna
Lá dentro
meu grito hiberna
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Inteligência não me falta
Veja como é elevado
o meu QI em caixa alta
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Literatura clássica
Seu Zé tenta ler a lista
da cesta básica
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Meu Deus, que desânimo!
Hoje quem vai trabalhar
é o meu heterônimo
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Meu violão me intriga
Morre de tanto rir
quando lhe coço a barriga
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Não cresceu com fermento
Para o pão ficar grande
usei lentes de aumento
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Não se empolgue
Na minha feijoada
só a orelha do Van Gogh
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Nas entrelinhas
destas linhas
só há estrelinhas
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Ninguém me liga
nem desliga
Ando meio stand by
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Nossa relação é quente
Toda noite na cama
um gato entre a gente
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Páginas do orkut
Essa tal de gramática
naum c diskut
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Para não perder o clima
peguei o verso de baixo
e rimei com o de cima.
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Pode ser a métrica
Para moldar estes versos
só com serra elétrica
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Reunião de família
Os ponteiros se ajustam
com o horário de Brasília
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Sentado no banco
o gato finge
que é uma esfinge
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Traiçoeira
Só dorme com o machado
Livro de cabeceira
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Fonte:
Álvaro Posselt. Tão breve quanto o agora. Curitiba: Blanche, 2012.
Livro enviado pelo autor.
Álvaro Posselt. Tão breve quanto o agora. Curitiba: Blanche, 2012.
Livro enviado pelo autor.
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