sexta-feira, 1 de março de 2024

Beatrix Potter (O Conto de Benjamin Coelho)


Certa manhã, um coelhinho estava sentado em um banco. Ele aguçou as orelhas e ouviu o trit-trot, trit-trot de um pônei.

Um espetáculo estava chegando ao longo da estrada; era dirigido pelo Sr. McGregor, e ao lado dele estava a Sra. McGregor em seu melhor gorro.

Hop, skip

Assim que eles passaram, o pequeno Benjamin Coelho deslizou para a estrada e partiu – com um salto, salto e salto – para visitar seus parentes, que viviam na floresta nos fundos do jardim do Sr. McGregor.

Aquela floresta estava cheia de buracos de coelho; e no buraco mais limpo e arenoso de todos viviam a tia de Benjamin e seus primos – Flopsy, Mopsy, Rabo de Algodão e Peter.

A velha Sra. Coelho era viúva; ela ganhava a vida tricotando luvas e cachecóis de lã de coelho (uma vez comprei um par em um bazar). Ela também vendia ervas, chá de alecrim e tabaco de coelho (que é o que chamamos de lavanda).

O pequeno Benjamin não queria muito ver sua tia.

Ele deu a volta por trás do abeto e quase caiu em cima de seu primo Peter.

Peter estava sentado sozinho. Ele parecia mal e estava vestido com um lenço de bolso de algodão vermelho.

“Peter”, disse o pequeno Benjamin, num sussurro, “quem está com suas roupas?”

Peter respondeu: “O espantalho no jardim do Sr. McGregor”, e descreveu como ele foi perseguido pelo jardim e deixou cair os sapatos e o casaco.

O pequeno Benjamin sentou-se ao lado de seu primo e assegurou-lhe que o Sr. McGregor havia saído em uma carruagem, e a Sra. McGregor também; e certamente seria o dia inteiro, porque ela estava usando seu melhor gorro.

Peter disse que esperava que chovesse.

Nesse ponto, ouviu-se a voz da velha Dona Coelha dentro da toca do coelho, chamando: “Rabo de algodão! Rabo de algodão! Traga mais camomila!”

Peter disse que achava que poderia se sentir melhor se fosse dar uma caminhada.

Eles foram embora de mãos dadas e chegaram ao topo plano da parede no fundo da floresta. Dali eles olharam para o jardim do Sr. McGregor. O casaco e os sapatos de Peter podiam ser vistos claramente sobre o espantalho, encimado por um velho gorro do Sr. McGregor.

O pequeno Benjamim disse: “Estraga a roupa se espremer debaixo do portão; a maneira correta de chegar é descendo pelo pé de pera.”

Peter caiu de cabeça; mas não teve importância, pois o chão abaixo estava recém-arrumado e bastante macio.

Fora semeado com alface.

Eles deixaram muitas e estranhas marcas de pés por todo lugar, especialmente o pequeno Benjamin, que usava tamancos.

O pequeno Benjamim disse que a primeira coisa a fazer era recuperar as roupas de Peter, para que pudessem usar o lenço de bolso.

Eles os tiraram do espantalho. Chovera durante a noite; havia água nos sapatos e o casaco estava um pouco encolhido.

Benjamin experimentou o gorro, mas era grande demais para ele.

Então ele sugeriu que enchessem o lenço de bolso com cebolas, como um presentinho para sua tia.

Peter não parecia estar se divertindo; ele continuou ouvindo ruídos.

Benjamin, ao contrário, estava perfeitamente à vontade e comeu uma folha de alface. Disse que tinha o hábito de ir ao jardim com o pai buscar alface para o jantar de domingo.

(O nome do pai do pequeno Benjamin era o velho Sr. Benjamin Coelho.)

As alfaces certamente eram muito boas.

Peter não comeu nada; ele disse que gostaria de ir para casa. Logo ele derrubou metade das cebolas.

O pequeno Benjamim disse que não era possível subir no pé de pêra com uma carga de legumes. Ele liderou o caminho corajosamente em direção à outra extremidade do jardim. Fizeram uma pequena caminhada sobre tábuas, sob uma ensolarada parede de tijolos vermelhos.

Os camundongos sentavam-se na soleira de suas portas quebrando caroços de cerejeira; eles piscaram para Peter e o pequeno Benjamin.

Logo Peter soltou o lenço de bolso novamente.

Eles se misturaram a vasos de flores, molduras e banheiras. Peter ouviu barulhos piores do que nunca; seus olhos ficaram grandes como pirulitos!

Ele estava um ou dois passos à frente de seu primo quando parou de repente.

E o que foi que ele viu naquela esquina?

O pequeno Benjamin deu uma olhada e, em menos de meio minuto, escondeu a si mesmo, Peter e as cebolas debaixo de uma grande cesta…

A gata levantou-se e espreguiçou-se, aproximou-se e cheirou o cesto.

Talvez ela gostasse do cheiro de cebola!

De qualquer forma, ela se sentou em cima da cesta.

Ela ficou sentada lá por cinco horas.

Não posso fazer um desenho de Peter e Benjamim debaixo da cesta, porque estava muito escuro e porque o cheiro de cebola era terrível; fez Peter e o pequeno Benjamin chorarem.

O sol estava por trás da floresta e já era bem tarde; mas o gato ainda estava sentado em cima da cesta.

Por fim, houve um tamborilar, mais ruídos e alguns pedaços de argamassa caíram da parede acima.

O gato olhou para cima e viu o velho Sr. Benjamin Coelho saltitando ao longo do topo da parede do terraço superior.

Ele estava fumando um cachimbo de tabaco para coelhos e tinha um pequeno cajado na mão.

Ele estava procurando por seu filho.

O velho Sr. Coelho não tinha opinião alguma sobre gatos.

Ele deu um tremendo salto do topo da parede para cima do gato, o empurrou para fora da cesta, e o chutou para dentro da estufa, arrancando um punhado de pelo.

O gato ficou surpreso demais para lutar de volta.

Quando o velho Sr. Coelho jogou o gato na estufa, ele trancou a porta.

Então ele voltou para a cesta e pegou seu filho Benjamin pelas orelhas, e o bateu com uma pequena vara.

Então ele pegou seu sobrinho Peter.

Sr. Coelho pegou o lenço de cebolas e marchou para fora do jardim.

Quando o Sr. McGregor voltou cerca de meia hora depois, ele observou várias coisas que o deixaram perplexo.

Parecia que alguém andava por todo o jardim com um par de tamancos – só que as pegadas eram ridiculamente pequenas!

Também não conseguia entender como a gata conseguiu se trancar dentro da estufa, trancando a porta por fora.

Quando Peter chegou em casa, sua mãe o perdoou, porque ela ficou muito feliz em ver que ele havia encontrado seus sapatos e casaco. Rabo de Algodão e Peter dobraram o lenço de bolso, e a velha Dona Coelha pendurou as cebolas no teto da cozinha, com os molhos de ervas e o tabaco para coelho.

Fonte: Beatrix Potter (escritora e ilustradora). O conto de Benjamin Coelho. Publicado originalmente em 1902 como The Tale of Benjamin Bunny. Disponível em Domínio Público

Indice Alfabético do Blog de trovas Voo da Gralha Azul (novembro 2016 - março 2024)


VOO DA GRALHA AZUL 

https://voogralhaazul.blogspot.com/

Um blog exclusivamente de trovas, com dicas, lições, trovas premiadas, milhares de trovas, mais de mil trovadores, etc 

INDICE ALFABETICO DAS PUBLICAÇÕES
8 de NOVEMBRO de 2016 – 1. de MARÇO de 2024

50. Jogos Florais de Niterói (Trovas Premiadas)
A. A. de Assis (Bela alma a do poeta)
A. A. de Assis (Estudar é preciso)
A. A. de Assis (PR)
A. A. de Assis (Saudade em Trovas: Adalberto Dutra Rezende)
A. A. de Assis (Saudade em Trovas: Ademar Macedo)
A. A. de Assis (Saudade em Trovas: Augusta Campos)
A. A. de Assis (Saudade em Trovas: Carlos Guimarães)
A. A. de Assis (Saudade em Trovas: Colombina)
A. A. de Assis (Saudade em Trovas: Durval Mendonça)
A. A. de Assis (Saudade em Trovas: Helena Kolody)
A. A. de Assis (Saudade em Trovas: Izo Goldman)
A. A. de Assis (Saudade em Trovas: J. G. de Araújo Jorge)
A. A. de Assis (Saudade em Trovas: João Freire Filho)
A. A. de Assis (Saudade em Trovas: Lilinha Fernandes)
A. A. de Assis (Saudade em Trovas: Luiz Otávio)
A. A. de Assis (Saudade em Trovas: Magdalena Léa)
A. A. de Assis (Saudade em Trovas: Miguel Russowsky)
A. A. de Assis (Saudade em Trovas: Nádia Huguenin)
A. A. de Assis (Saudade em Trovas: Nydia Iaggi Martins)
A. A. de Assis (Saudade em Trovas: Padre Celso de Carvalho)
A. A. de Assis (Saudade em Trovas: Sophia Irene Canalles)
A. A. de Assis (Saudade em Trovas: Zalkind Piatigórsky)
Adalberto Dutra Rezende (1913 - 1999)
Adaucto Soares Gondim (Pedra Branca/CE, 1915 - 1980, Fortaleza/CE)
Adélia Victória Ferreira
Adelir Coelho Machado (1928 - 2003)
Adelmar Tavares (1888 - 1963)
Ademar Macedo (1951 - 2013)
Afrânio Peixoto (Trovas Populares Brasileiras) – 1
Alba Christina Campos Netto
Alberto Fernando Bastos (1921 - )
Alberto Isaías Ramires (Vila Velha/ES, 1924 - 2004, Rio de Janeiro/RJ)
Alcy Ribeiro (1920 - 2006)
Alfredo Aranha
Alfredo Valadares
Alice Brandão
Almerinda Liporage
Aloísio Alves da Costa (Umari/CE, 1935 - 2010, Fortaleza/CE)
Aloisio Bezerra (Massapê/CE, 1925 - ????)
Alonso Rocha (1926 - 2010)
Álvares de Azevedo (1831 - 1852)
Alvitres do Prof. Renato Alves – 7 –
Alvitres do Professor Renato Alves - 1 -
Alvitres do Professor Renato Alves - 2 -
Alvitres do Professor Renato Alves - 3 -
Alvitres do Professor Renato Alves - 4 -
Alvitres do Professor Renato Alves - 5 -
Alvitres do Professor Renato Alves - 6 -
Amália Max (1929 - 2014)
Amaryllis Schloenbach
Amilton Maciel Monteiro
Ana Maria Guerrize Gouveia
Ana Maria Motta
Ana Michel
Angélica Villela Santos (1935 - 2017)
Anis Murad (1904 - 1962)
Antonio Cabral Filho
Antonio Carlos Teixeira Pinto (Brasília/DF)
Antonio Colavite Filho
Antonio Juraci Siqueira
Antônio Sales (Paracuru/CE, 1868 - 1940, Fortaleza/CE)
Aparício Fernandes (1934 - 1996)
Aparício Fernandes (A Classificação das Trovas)
Aparício Fernandes (Como Fazer uma Trova Antológica)
Aparício Fernandes (Trovadores Indígenas)
Aparício Fernandes (Trovas Circunstanciais) - 1 -
Aparício Fernandes (Trovas Circunstanciais) - 2 -
Aparício Fernandes (Trovas Circunstanciais) - 3, final -
Apollo Taborda França (1926 - 2017)
Apollo Taborda França (A Trova e O Trovador)
Araceli Rodrigues Friedrich (1913 - 2016)
Archimino Lapagesse (1897 - 1966)
Argemira Fernandes Marcondes
Argemiro Martins Corrêa (1918 - 1992)
Argentina de Mello e Silva (1904 – 1996)
Argentina de Mello e Silva (Canteiro de Trovas) 1
Argentina de Mello e Silva (Jardim de Trovas) 2
Argentina de Mello e Silva (Jardim de Trovas) 4
Argentina de Mello e Silva (Jardim de Trovas) 5
Argentina de Mello e Silva (Jardim de Trovas) 6
Argentina de Mello e Silva (Jardim de Trovas) 7
Argentina de Mello e Silva (O Bom Humor nas Trovas)
Ary Santos Campos
Augusto Vasconcelos Rubião (1905 - ????)
Aurolina Araújo de Castro (1933 - 2004)
Aurora Pierre Artese
Auta de Souza (1876 - 1901)
Bardos da Trova - 01
Bardos da Trova - 02
Bastos Tigre (1882 - 1957)
Baú de Trovas – 1
Baú de Trovas - 2 
Baú de Trovas 22
Baú de Trovas 23
Baú de Trovas 24
Baú de Trovas 25
Baú de Trovas 26
Baú de Trovas 27
Baú de Trovas 28
Baú de Trovas 29
Baú de Trovas 30
Baú de Trovas 31
Baú de Trovas 32
Baú de Trovas 33
Baú de Trovas 34
Baú de Trovas 35
Baú de Trovas 36
Baú de Trovas 37
Baú de Trovas 38
Baú de Trovas 39
Baú de Trovas 40
Baú de Trovas 41
Baú de Trovas 42
Baú de Trovas 43
Baú de Trovas 44
Baú de Trovas 45
Baú de Trovas 46
Baú de Trovas 47
Baú de Trovas 48
Baú de Trovas 49
Baú de Trovas 50
Baú de Trovas 51
Baú de Trovas 52
Baú de Trovas 53
Baú de Trovas 54
Baú de Trovas 55
Baú de Trovas 56
Baú de Trovas 57
Baú de Trovas 58
Baú de Trovas 59
Baú de Trovas 60
Baú de Trovas 61
Baú de Trovas 62
Baú de Trovas 63
Baú de Trovas 64
Baú de Trovas 65
Baú de Trovas 66
Baú de Trovas 67 – Dia do Trovador
Baú de Trovas 68
Baú de Trovas 69
Baú de Trovas 70
Baú de Trovas 71
Baú de Trovas 72
Baú de Trovas 73
Baú de Trovas 75
Baú de Trovas 76
Baú de Trovas 77
Baú de Trovas 78
Baú de Trovas 79
Baú de Trovas: Natal
Belmiro Braga (1872 - 1937)
Benedito de Góis
Brandina Rocha Lima
Calazans Alves D’Araújo (1902 - 1976)
Campos Sales
Cantinho do Assis (Pausa para Reflexão)
Cantinho do Assis (Trovaterapia)
Carlos Guimarães
Carlos Ribeiro Rocha (Ipupiara/BA, 1923 - 2011, Salvador/BA)
Carolina Ramos
Casimiro de Abreu (1839 - 1860)
Cassio Magnani (1921 - 1990)
Célia Aparecida Marques da Silva
Célia Cerqueira Cavalcanti (1910 - 2003)
Célio Grunewald (1923 - 1991)
César Torraca
Cesídio Ambrogi
Cidoca da Silva Velho (1920 - 2015)
Clarindo Batista de Araújo (1929 - 2010)
Cláudio de Capua (1945 - 2021)
Cláudio Derli
Clenir Neves Ribeiro
Clodoaldo de Abreu Filho
Colbert Rangel Coelho (1925 - 1975)
Colombina (1882 - 1963)
Concurso de Trovas "Memorial Cláudio de Cápua" (Trovas Premiadas)
Cônego Benedito Vieira Telles
Conrado da Rosa (1930 - 2003)
Conselhos para Fazer a Boa Trova
Cornélio Pires
Cristina Cacossi
Dagmar Aderaldo de Araújo Chaves (1908 - 2002)
Dáguima Verônica
Dalva de Araújo Sales
Darly O. Barros
Delcy Canalles (RS)
Diamantino Ferreira
Dimas Lopes de Almeida (1915 - 1994)
Dinair Leite
Divenei Boselli (1938 - 2020)
Domitilla Borges Beltrame
Doralice Gomes da Rosa
Dorothy Jansson Moretti
Dorothy Jansson Moretti (Tertúlia da Saudade) I
Dorothy Jansson Moretti (Trovas ao Entardecer) – 3
Dorothy Jansson Moretti (Trovas...e Trovões...)
Dulcídio de Barros Moreira Sobrinho
Durval Mendonça (1906 - 2001)
Edgar Barcellos Cerqueira (1913 - ????)
Edmar Japiassú Maia
Edna Ferracini
Eduardo Toledo
Edy Soares (Vila Velha/ES)
Elane Rangel / RJ (O Pinheiro e a Gralha Azul)
Elbea Priscila de Souza e Silva
Élen Novais Felix (1946 - 2015)
Eliana Dagmar
Elisa Alderani
Elisabete do Amaral Albuquerque Freire Aguiar
Elisabeth Souza Cruz
Elton Carvalho (1916 - 1994)
Ercy Maria Marques de Faria
Ester Figueiredo
Eulinda Barreto
Fabiano Wanderley (RN)
Ferdinando Fernandes (Portugal)
Fernando Câncio de Araújo (Fortaleza/CE, 1922 - 2013)
Fernando Vasconcelos (1937 - 2010)
Filemon Francisco Martins
Filemon Martins (Escadas de Trovas) II
Flávio Roberto Stefani (Querência de Trovas) = 1
Flávio Roberto Stefani (Querência de Trovas) = 3
Flávio Roberto Stefani (Querência de Trovas) = 4
Flávio Roberto Stefani (Querência de Trovas) = 5
Flávio Roberto Stefani (RS)
Francisco José Pessoa (Fortaleza/CE, 1949 - 2020)
Francisco Macedo
Frazão Teixeira (1902 - ????)
Gamaliel Borges Pinheiro
Geraldo Pimenta de Moraes (1913 - ????)
Gérson César Souza (PR)
Gilson Faustino Maia
Gilvan Carneiro
Giselda de Medeiros Albuquerque (Fortaleza/CE)
Gislaine Canales
Gislaine Canales (Glosas Diversas) LVIII
Glória Tabet Marson
Harley Clóvis Stocchero (1926 - 2005)
Haroldo de Castro (1936 - 2003)
Haroldo Lyra (Fortaleza/CE)
Hegel Pontes (1932 - 2012)
Hélio Pedro Souza (RN)
Heloisa Zanconato Pinto
Helvécio Barros
Hely Marés de Souza (1923 - 2013)
Henriette Effenberger (Trovas Temáticas)
Hermoclydes S. Franco (1929 - 2012)
Hermoclydes S. Franco (Oração de São Francisco em Trovas)
Héron Patrício
Humberto Del Maestro (Vitória/ES)
Humberto Rodrigues Neto
I Concurso de Trovas “Singrando Horizontes” (Resultado Final)
I Concurso de Trovas de São Luís do Maranhão (Trovas Premiadas)
Ialmar Pio Schneider
Ieda Lucimar Mastrângelo Corrêa
II Concurso de Trovas "Memorial Luiz Otávio" (Resultado Final) Nacional / Internacional
Irene Lopes Guimarães
Istela Marina Gotelipe Lima
Izo Goldman
Izo Goldman (O Uso do Computador)
Izo Goldman (Orientação para Participação em Concurso de Trovas) Sistema de Envelopes
J. B. Xavier
J. G. de Araujo Jorge (1914 - 1987)
J. G. de Araújo Jorge (1914 - 1987) (2)
J. G. de Araújo Jorge (Trovas sobre Saudade)
Jacinto Campos (1900 - 1972)
Janske Niemann Schlenker
Jaqueline Machado (Cachoeira do Sul/RS)
Jeremias Ribeiro dos Santos (Gentio do Ouro/BA, 1926 - 1999, Ipupiara/BA)
Jerson Brito (Magia das Trovas) – 1
Jessé Nascimento
Jessé Nascimento (Analecto de Trovas)
Jessé Nascimento (Sementes de Trovas)
Joamir Medeiros
Joana Darc da Veiga
Joao Batista Xavier Oliveira
João Freire Filho (1940 - 2012)
João Ney Rodrigues Damasceno (1924 - 2005)
João Rangel Coelho (1897 - 1975)
JOGOS FLORAIS
Jogos Florais de Bragança Paulista (Trovas Premiadas)
Josafá Sobreira da Silva
José de Ávila (1904 -????)
José Gilberto Gaspar
José Lucas de Barros (RN)
José Maria Machado de Araújo (1922 - 2004)
José Messias Braz
José Paulo Corrêa de Souza (Jardim de Trovas)
Jose Tavares de Lima
José Valdez de Castro Moura
Josué de Vargas Ferreira (1925 - 2017)
Joubert de Araújo e Silva (1915 - 1993)
Judith Cocarelli
Julieta Wendhausen de Carvalho Gomes
Julimar Andrade Vieira (SE)
Lairton Trovão de Andrade (PR)
Lavínio Gomes de Almeida (???? - 2009)
Lélia Miguel Moreira de Lima (Caderno de Trovas)
Leonilda Yvonetti Spina (PR)
Lia-Rosa Reuse (1947 - 2011)
Licínio Antônio de Andrade (Canteiro de Trovas)
Lilinha Fernandes (1891 - 1981)
Lisete Johnson (1950 - 2020)
Lóla Prata Garcia
Lourdes Gutbrod
Lourice Conceição Saliba
Luci Barbijan
Lucilia Alzira Trindade DeCarli
Lucy Sother de Alencar Rocha (1928 - 2006)
Luiz Carlos Abritta (Álbum de Trovas)
Luiz Damo (As Faces da Trova) - 1 -
Luiz Damo (As Faces da Trova) - 2 -
Luiz Damo (RS)
Luiz Damo (Trovas do Sul) XLVII
Luiz Frazão (???? - 1998)
Luiz Gonzaga da Silva (Natal/RN)
Luiz Gonzaga da Silva (Trova e Cidadania) – 20
Luiz Gonzaga da Silva (Trova e Cidadania) Ecologia - Consciência Ecológica
Luiz Gonzaga da Silva (Trova e Cidadania) Fome e Miséria
Luiz Gonzaga da Silva (Trova e Cidadania) Guerra e Paz (?)
Luiz Hélio Friedrich
Luiz Machado Stábile
Luiz Máximo de Souza
Luiz Otávio
Luiz Otávio (Aspectos da Trova Humorística)
Luiz Otávio (Jardim de Trovas) 2
Luiz Otávio (Jardim de Trovas) 3
Luiz Otávio (Jardim de Trovas) I
Luna Fernandes
Luzimagda Martin Ramos da Fonseca (Canteiro de Trovas)
Lydia Lauer (???? - 2004)
Madalena Castro (Canteiro de Trovas)
Magdalena Léa (1913 - 2001)
Manita (1922 - 2011)
Manoel Cavalcante (RN)
Manoel Monteiro (Canteiro de Trovas)
Mara Melinni (RN)
Maria Apparecida Picanço Goulart
Maria da Conceição A. P. Abritta (1941 - 2015)
Maria Helena Calazans Machado Duarte
Maria Helena Ururahy Campos da Fonseca (Caderno de Trovas)
Maria Lúcia Daloce
Maria Madalena Ferreira
Maria Nascimento Santos Carvalho
Maria Thereza Cavalheiro
Maria Thereza Cavalheiro (Trovas para Refletir) – 2 -
Maria Thereza Cavalheiro: O Bom Trovar (I - Rima: elemento imprescindível)
Maria Thereza Cavalheiro: O Bom Trovar (II - Os ictos - o ritmo - a cadência)
Maria Thereza Cavalheiro: O Bom Trovar (III - Figuras na Trova)
Maria Thereza Cavalheiro: O Bom Trovar (IV - O que evitar)
Marilúcia Rezende
Marina Bruna
Marina Bruna (O Nome Próprio na Trova)
Marina Gomes Valente
Marisa Vieira Olivaes
Marlê Beatriz Jardim Araújo (Viamão/RS)
Massilon Silva (Aracaju/SE)
Maurício Norberto Friedrich (1945 - 2020)
MIFORI
Miguel Perrone Cione
Miguel Russowsky (1923 - 2009)
Milton Nunes Loureiro (1923 - 2011)
Milton Souza
Moreira Cardoso (Caderno de Trovas)
Myrthes Mazza Masiero
Myrthes Neusali Spina de Moraes (Caderno de Trovas)
Nádia Huguenin (1946 - 2008)
Nadir Giovanelli
Nei Garcez (O Paraná em Trovas)
Nei Garcez (PR)
Neide Rocha Portugal
Neiva Fernandes
Nemésio Prata (Fortaleza/CE)
Neoly O. Vargas
Neuci da Cunha Gonçalves
Newton Vieira
Nilton da Costa Teixeira (1920 - 1983)
Nilton Manoel (Como Fazer Trovas) 1a. Parte
Nilton Manoel (Como Fazer Trovas) 2a. Parte
Nilton Manoel (Como Fazer Trovas) 3a. Parte, final
Nilton Manoel Teixeira
Octávio Babo Filho (1915 - 2003)
Oefe Souza
Oficina de Trovas do Assis
Olavo Dantas Coelho (1901 - 1997)
Olivaldo Júnior
Olympio da Cruz Simões Coutinho
Onildo Barbosa de Campos (1924 - 2002)
Origens (Quem são os Trovadores?)
Orlando Brito (Niterói/RJ, 1927 - 2010, São Luís/MA)
Orlando Woczikosky
Oswaldo Soares da Cunha (1921 - 2013)
Otávio Venturelli
Ozório Porto
P. de Petrus (1920 - 1999)
Paulo Emílio Pinto (1906 - ????)
Paulo Roberto de Oliveira Caruso
Pedro Mello (Considerações sobre a trova humorística)
Pedro Melo (Caderno de Trovas)
Petrarca Maranhão (1913 - 1985)
Plágio em Concursos
Prof. Garcia (Caderno de Trovas) 2
Professor Garcia (Jardim de Trovas) - 1 -
Professor Garcia (Poemas do Meu Cantar) Trovas – 11–
Professor Garcia (Reflexões em Trovas) 1
Professor Garcia (Reflexões em Trovas) XXXIX
Professor Garcia (RN)
Professor Garcia (Trovas que sonhei cantar) XIII
QUEM FOI O TROVADOR LUIZ OTÁVIO?
Raul Poli (1946 – 2004)
Reinaldo Moreira de Aguiar
Relva do Egypto Rezende Silveira
Renata Paccola
Renato Alves (RJ)
Renato Baptista Nunes (1883 - 1965)
Renato Benvindo Frata
Ricardina Yone
Rita Marciano Mourão
Rita Mourão (Trovas Premiadas) I
Rita Mourão (Trovas Premiadas) II
Roberto Pinheiro Acruche
Roberto Resende Vilela
Roberto Tchepelentyky
Rodolpho Abbud (1926 - 2013)
Romeu Gonçalves da Silva (1914 - 1984)
Rômulo Cavalcante Mota
Ronnaldo de Andrade (SP)
Ruth Farah
Sady Maurente (1928 - 2004)
Santiago Vasques Filho (Teresina/PI, 1921 - 1992, Fortaleza/CE)
Sarah Mariani Kanter
Selma Patti Spínelli
Sérgio Bernardo
Sérgio Corrêa Miranda Filho
Sérgio Ferreira da Silva
Silvia Araújo Motta
Sílvia Svereda (Jardim de Trovas) - 1
Sinclair Pozza Casemiro
Solange Colombara (Tertúlia Trovadoresca) I
Sonia Maria Ditzel Martelo (1943 - 2016)
Sophia Irene Canalles (1911 - 2004)
Sotero Silveira de Souza (1957 - 2010)
Sylvio Ricciardi
Talita Batista
Thalma Tavares
Thalma Tavares (Jardim de Trovas) 2
Thalma Tavares (Luiz Otávio)
Therezinha Dieguez Brisolla (SP)
Therezinha Tavares
Tobias de Sousa Pinheiro (Brejo/MA, 1926 - 2019, Engenheiro Coelho/SP)
Trovadores de Campinas/SP
Trovadorismo
Trovas de Portugal
Vanda Alves da Silva
Vanda Fagundes Queiroz
Vânia Ennes (PR)
Vidal Idony Stockler (1924 - 2014)
Wadad Naief Kattar (Canteiro de Trovas)
Waldir Neves (1924 - 2007)
Wanda de Paula Mourthé
Wanda de Paula Mourthé (Canteiro de Trovas) 1
Wandira Fagundes Queiroz
Wilma Mello Cavalheiro
XXXI Concurso Nacional/Internacional de Trovas da UBT Bandeirantes/PR (Trovas Premiadas)
Zaé Junior (1929 - 2020)
Zélia de Nardi
Zelinda Slomp (1931 - 2014)
Zilda Cormack
        

Mitos Indígenas (Yara - a rainha das águas)

Yara, a jovem Tupi, era a mais formosa mulher das tribos que habitavam ao longo do Rio Amazonas. Muito atraente, com longos e negros cabelos, tinha um sorriso meigo e sensual. Mantinha-se, entretanto, indiferente aos muitos admiradores, preferindo ser livre. 

Caminhava pela floresta e pelas areias brancas dos rios, envolvendo-se constantemente em suas águas claras. Por sua doçura, todos os animais e as plantas a amavam. 

Numa tarde de verão, mesmo após o sol se pôr, Yara permanecia no banho, quando foi surpreendida por um grupo de homens estranhos. Tinham longas barbas, usavam roupas pesadas, botas e chapéus. Falavam uma língua desconhecida e pareciam muito agressivos. 

Sem condições de fugir, a jovem foi agarrada e amordaçada, não podendo se livrar daquelas mãos que tocavam todo o seu corpo. Acabou por desmaiar, sendo mesmo assim violentada e atirada ao rio. 

O espírito das águas transformou o corpo de Yara num ser duplo. Continuaria humana da cintura para cima, tornando-se peixe no restante. Assim permaneceria bela, podendo ao mesmo tempo viver eternamente no rio. 

Yara passou a entender os pássaros e a conversar com eles e com os peixes, como uma sereia, cujo canto atrai os homens de maneira irresistível. 

Ao verem a linda criatura, aproximam-se dela, que os abraça e os arrasta às profundezas, de onde nunca mais voltarão.

Fonte> Adaptação do Texto de Jayhr Gael in O Caminho de Wicca - http://www.caminhodewicca.com.br (desativado). acesso em 13/10/2023.

Concurso Nacional / Internacional de Trovas de Taubaté/SP (Prazo: 30 de junho)

Nacional / Internacional - (LÍRICA/FILOSÓFICA) 
(Trovadores do Brasil e do mundo, exceto Estado de São Paulo):

- ALIMENTO = para Veteranos, Novos Trovadores e Mestres da Trova

Estadual - (LÍRICA/FILOSÓFICA) 
(Trovadores do Estado de São Paulo, exceto Taubaté):

- IMENSIDÃO = para Veteranos e Novos Trovadores

Municipal - (LÍRICA/FILOSÓFICA) 
(Trovadores de Taubaté):

- "FAZER O BEM" ou "CARIDADE" = para Veteranos e Novos Trovadores

HUMORÍSTICA
(Todos trovadores independente categoria, inclusive Mestres da Trova em Humor):

- CADEIA

REGULAMENTO

- Máximo de 02 trovas por participante para todas as categorias;

- Valem palavras derivadas, cognatas e mesmo somente a ideia do tema contida na trova; a trova deve ser inédita, escrita em língua portuguesa e de autoria própria; proibido plágio; evitem ditados populares e citações;

MODO DE ENVIO:

- É obrigatório que o trovador indique se é Novo Trovador, Veterano ou Trovador Mestre (no corpo do e-mail);

-> Por email: 

Fiel Depositário - Raul Filho = 

ubttaubateconc@gmail.com

No campo Assunto colocar: Concurso de Trovas de Taubaté 2024;

- No corpo do e-mail são dados obrigatórios: o tema a que concorre, a trova, se é Veterano, Novo Trovador ou Mestre da Trova) e a identificação (nome - como sairá no certificado caso classificado - endereço completo com CEP, telefone/whatsApp e e-mail);

- Os Mestres da Trova (título outorgado por Taubaté desde 2015) serão comunicados individualmente; para conhecimento acerca dos critérios para a obtenção do Título de Mestre da Trova, bem como aqueles que atualmente compõe o Quadro de Mestres da Trova (L/F ou H),

- As decisões da Comissão Julgadora serão soberanas e irrecorríveis;

- Casos avulsos serão resolvidos pela Comissão Organizadora;

- O resultado será divulgado no máximo até o mês de agosto de 2024;

- As festividades de premiação ocorrerão nos dias 18 a 20 de outubro de 2024.

quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Filemon Martins (Aquarela de Trovas) 30

 

Eduardo Martínez (Parada Inusitada)

Não estavam propriamente se dirigindo para aquela cidade, mas resolveram fazer uma visita breve para conhecê-la. Gostavam de fazer isso, mesmo que por alguns instantes. O sol escaldante aguçou o desejo de tomar sorvete. Procuraram e logo encontraram um local ali perto da principal lagoa do centro, uma das sete da famosa cidade próxima à Belo Horizonte. Ela, menos afoita, olhava a loja com certo ar de curiosidade. Ele, no entanto, já foi direto para o balcão, onde havia um vidro separando-o daqueles inúmeros potes enorme de sorvete: morango, chocolate, creme, avelã, uva... Ih, a lista ia longe!

– Quero esse, esse, aquele, aquele outro e também os dois do canto. 

– Não pode! - a atendente o interrompeu.

 – Por que não pode? - ele a questionou.

– Porque é muito caro! - ela retrucou.

Ele sorriu,

– Mas eu tenho dinheiro!

– Mas mesmo assim não pode, pois dá muito trabalho - ela insistiu.

Ele voltou a sorrir.

– São só duas bolas - a atendente disse.

Ele, com o sorriso ainda presente no seu rosto, disse:

– Então, eu quero esse e aquele.

A atendente pegou a casquinha e o pegador e colocou os dois escolhidos. Em seguida, ela ficou estática o observando, como se esperasse que ele completasse o pedido. Ele não entendeu direito aquela situação e, antes que pudesse falar algo, a atendente o questionou:

– E aí, já escolheu o outro sabor?

– Ué, mas não são apenas duas bolas?

– São duas bolas, mas são três sabores! - a atendente finalizou.

Acreditem! Isso realmente aconteceu!

Chico Anysio (Um amigo antigo)

De início, tudo são flores. Esta frase idiota era, no entanto, verdade, porque ela, Margarida, e ele, João Cravo, tinham flores nos seus nomes.

Conheceram-se na Penha quando pagavam promessa, subindo os dois, de joelhos, os degraus da igreja. Durante a subida, nos momentos de parada para o repouso das rótulas, ficaram sabendo das coisas que os torturavam a ponto de dar motivo às promessas. Souberam mais: os seus nomes, telefones, endereços, dissabores, esperanças, e também ficaram a par das imensas solidões que dominavam a vida que carregavam, pois o verbo era bem esse.

Entraram na igreja já um pouco mais amigos. Tinham as mãos dadas num quente apertar de dedos que se entrelaçavam, pondo isto ao bom serviço da santa que amavam. Achavam um exagero o milagre nem pedido, só de longe imaginado.

Na prece que os dois fizeram em pé (joelhos sangrando), mudamente agradeceram o encontro proporcionado pela santinha adorada, sempre de mãos em aperto, amor pingando dos poros abertos pelo esforço na subida.

Não nos atenhamos, porém, ao começo do romance, que foi igual a milhões: trocas de muitos beijos, juras de amor infindo, a constante procura e encontro de João Cravo e Margarida, passeios pelos jardins, encostamentos nos muros, sofá da sala da dona que, por ser desquitada, dava a João certos favores que eram retribuídos no carinho que ele dava.

Margarida nem lembrava do primeiro marido. Sumira um mês depois do casamento civil, e a última notícia era a de que ele andava em Manaus ou Belém. Sabia que era no Norte.

Como não podia casar, um mês depois do milagre os dois se juntaram.

João Cravo, querendo filhos, Margarida transferindo, acabou engravidando, botando gêmeos no mundo. Depois dos dois, a menina, que se chamou Madalena. Devia chamar-se Penha, mas João Cravo ponderou que isso não era certo. Penha só se chamaria filha de casal casado. Esperavam pela morte do marido em Santarém, porque chegaram notícias contando ele andar doente.

Ficaram em três, todavia. Os gêmeos (Mário e Marino) e Madalena, a menina, um ano e pouco mais nova. Os três, a fuça do pai, moreno da cor de um índio, cara de linhas marcadas, um rosto anguloso, feito com régua, olho aberto a compasso.

Ponha-se em conta do encanto a boa vida levada nos quatro primeiros anos de João Cravo e Margarida. Pode ser que tenha sido a busca louca de filhos que tenha cegado João, a ponto de não lhe deixar notar a frieza da mulher. Passados cinco anos, João Cravo então se deu conta de que o amor muitas noites evitado, a busca sem proveito pelo corpo da mulher, dor de cabeça constante, tudo chocho, sem graça, o sexo obrigatório, de pouco ou nenhum prazer.

— O que é que você tem?

— Nada. Uma dorzinha...

— De novo?

— Dor de cabeça.

— Toda noite, Margarida?

— Mas eu não posso ter dor?

— Pode, bem, mas toda noite?

Não era assim toda noite, mas era em volta disso.

Ponha-se em conta das dores de Margarida a aceitação do amor que Suzana ofereceu.

Suzana cresceu na vida, tomando João pra si, e ele sumiu com ela, deixando assim Margarida desquitada e desamada, com 3 filhos pra criar, os gêmeos já com 3 anos, Madalena indo aos dois.

Margarida não tentou tirar esta ideia de João.

— Quer ir? A porta está aberta.

Ficou com os meninos e a máquina de costura que lhe ajudava na criação das crianças. De noite fazia doces pra festas de aniversário. Deitava depois da uma, acordava antes das sete. Mesada João não lhe dava e nem tinha obrigação. Mesmo sendo casada, não lhe pediria nunca um centavo. Os filhos, os seus problemas, ela os resolveria. Mas tinha uma resolução tomada pra toda a vida: "Homem, nunca mais!"

As poucas joias que tinha, de valor pequeno, dormiram nas prateleiras da Caixa, em penhor. Depois vendeu as cautelas, fazendo dinheiro. Sem contar os empréstimos tomados a juros descomunais.

Os filhos cresceram tanto quanto as dívidas contraídas. Os três eram muito certos, estudavam o necessário, e Marino, o mais esperto, arranjou um empreguinho que o ajudava a ajudar nas contas que a mãe pagava.

No quarto, luz apagada, preparada para dormir, Margarida agradecia os filhos que João lhe dera, três crianças feito ouro, três joinhas muito ricas, que um dia seriam gente e, então, oferecia contrita Salve-Rainha à "memória" de João Cravo, de cujo paradeiro não tinha notícia.

Passaram-se quinze anos do dia em que João se tinha ido.

Madalena, professora, ensinava em Madureira, numa escola do governo, e os irmãos, Mário e Marino, faziam cursos pra enfrentar o vestibular. Margarida emagrecia, cabeça já tão grisalha, os olhos diminuídos pela lente avantajada, via os filhos debruçados sobre os livros e chorava a alegria de vê-los no rumo certo, a caminho do diploma.

— Meus filhos de anel no dedo, minha filha professora, a vida foi muito boa, Deus tomou conta de mim.

Foi assim que João a achou no dia em que, arrependido, apareceu de repente, na volta nunca pensada.

— Alô — foi o que falou quando a porta foi aberta.

Ela olhou e, de cabeça, retribuiu o alô, sem nenhum pasmo ou surpresa, olhando apenas nos olhos, os olhos que João trazia, embotados por um choro que era quase evidente.

— Alô — ele repetiu.

E então ela disse: "Alô".

— Quer entrar? — ofereceu, gentil e maquinalmente.

— Se você deixa... — e sorriu.

A porta escancarada deu passagem a João Cravo que, muito desajeitado, entrou, sentou no sofá, mãos fechadas entre as pernas, um jeito mais de visita do que qualquer outra coisa.

A roupa, suja e surrada, a camisa encardida, sapatos desengraxados, cabelos em desalinho, as rugas tomando os olhos, vincos fartos pela testa, um ricto de sofrimento. "Um homem meio molambo" — Margarida deduziu depois de muito o olhar no exame que fazia no homem que ali estava.

— Como vai? — João quis saber.

— Muito bem — ela falou.

— E as crianças?

— Crescidas.

— Estudando?

— Estudando. Madalena é professora.

— Que bonito!

— Também acho.

— Os meninos...

— Vão ser médicos. Vão fazer vestibular, e eu tenho plena certeza de que serão aprovados.

— Doutores... — suspirou fundo — ...doutores!

— Se Deus quiser.

— E você?

— Eu já falei. Eu vou bem, vou muito bem.

João levantou um instante, foi à janela e a abriu. Queria ficar de costas para não mostrar o pranto que descia pelo rosto. Margarida ali o deixou e foi fazer um café. Quando voltou, ele estava ainda lá na janela, olho parado na rua, como quem examinasse as pedras do calçamento.

— Um cafezinho, João?

Ele aceitou e sorveu o café num gole longo.

— Senta, João.

Ele sentou.

Madalena e os meninos ainda não tinham chegado. Ele voltou ao sofá. Ela, na cadeira em frente.

— Eu andei lá pelo Sul.

— É?

— Andei. Você não soube?

— Não. Se soube, não me lembro.

— Andei por lá um tempão.

— Calculo. Faz tanto tempo...

— Quinze anos.

— Tudo isso? Gozado. Parece menos.

Ele sofreu muito a frase. No modo como falara, João percebeu que a chance de voltar àquela casa era nenhuma. Nenhuma. Ficaram calados, mudos, por minutos infindáveis. Ele olhava a simpatia da mulher que tanto o amara, simpatia que crescia pelos cabelos cinzentos. Os óculos lhe davam um jeito de professora primária, um aspecto agradável, os óculos caíam bem.

— Você fica bem de óculos.

Ela os levantou com o dedo, chegando-os ao posto certo, e sorriu agradecida pelo elogio de João.

A porta abriu-se depressa, como se fosse empurrada por força de furacão. Madalena, muito alta, cabelos longos e lisos que deveriam dançar a lhe varrer por detrás, quando corresse ou andasse em passo mais apertado. Madalena, alta e linda, entrou e freou o passo. Seus olhos de moça nova viram João no sofá. À entrada dela ele levantara quase em salto. Madalena olhou o homem e nele viu sua cara. Depois fitou Margarida num olhar que perguntava. A resposta foi um riso escondido, disfarçado. Madalena não fez mais que dizer um boa noite e sumiu no corredor.

— Ela não me conheceu.

— Nem podia conhecer. Tinha menos de dois anos, não podia conhecer.

— É verdade.

— Quinze anos. Não lembra? Faz quinze anos.

Ele muito se lembrava. Depois chegaram os gêmeos, entrando às gargalhadas. Beijaram a mãe na testa e nem deram atenção ao homem que, no sofá, esperava pelo menos um boa noite igual ao que ouvira da filha. Sumiram no corredor, e os dois voltaram a ficar sozinhos naquela sala.

— Dois homens!

— Vão ser doutores — reafirmou Margarida, desta vez muito orgulhosa.

Daí, por falta de assunto, ela perguntou as coisas que ele há muito queria falar, contar, explicar.

— Estou no fim.

Foi o começo da estória que contou. Estória muito sofrida, de enganos e dissabores, contou da mulher (Suzana) de mau proceder constante. Falou de amor só de carne, sem filhos, sem bem-querer, do uruguaio Manolo, com quem Suzana sumira pros lados de Uruguaiana; da ida dele à procura da mulher que o enganara. E antes houvera outros, até um negro peão, de uma fazenda de gado, andara achando em Suzana o xodó que procurava. Mas sempre havia o perdão ditado pelo desejo. Confessou que era Suzana a mulher que o atendia na justa medida, a exata, do sexo. Somente sexo. Aos poucos, foi acordando e vendo que aquilo tudo era coisa de animal. Gente não procede assim, isso não é coisa humana. Falou um quarto de hora na resposta da pergunta que era só:

— E você?

Foram essas cinco letras que provocaram o chorrilho de confissões tão sinceras, tardio arrependimento.

Madalena perguntou se não iriam jantar.

Margarida levantou, depois de pedir licença, e foi preparar a janta, modesta como a de sempre.

— O senhor janta conosco?

A filha, que perguntou.

— Não obrigado, filhinha. Eu já estou de saída.

Muito delicadamente Margarida despediu-se com os filhos já em volta da mesa, começando a se servir.

Da porta, João escutava o tinir de prato e faca. Margarida lhe estendeu a mão, num gesto comum. Ele lhe deu um boa noite, ela, então, fechou a porta e foi sentar-se à mesa, juntando-se aos seus três filhos.

— Quem era? — perguntou Mário.

— Um amigo antigo da mamãe, um amigo do passado — lhe respondeu Madalena, tomando o lugar da mãe na resposta que ela, tonta, procurava encontrar.

— É, meu filho. Um amigo antigo.

Comeram muito calados.

Fonte: Chico Anysio. O Enterro do Anão. Publicado em 1973.