sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Domitilla Borges Beltrame (Trovas em preto e branco)

                          

1
A exemplo de um bom peão,
eu já não tenho altivez;
se um amor me joga ao chão
tiro o pó...tento outra vez!
2
A nossa fé é a virtude
que nos dá tanto otimismo,
que deixa ver, da altitude,
a flor nas trevas do abismo!
3
Brigamos, mas a tormenta
em instantes se desfaz...
um grande amor sempre inventa
um arco-íris de paz!
4
Com altivez, disse um dia:
- “Ir procurar-te? Jamais!”
Mas a saudade vadia
não respeita o “nunca mais”…
5
Das ofensas de um irmão
não guardes nenhum rancor,
que um minuto de perdão
vale uma vida de amor!
6
Em minha varanda, a sós,
vendo os ganchos na parede,
eu choro a falta dos nós
que amarravam nossa rede!
7
Lembro a garoa...a seresta...
minha feliz mocidade
e o que restou desta festa
embala minha saudade!
8
Na calmaria aparente,
num silêncio enganador,
saudade dentro da gente,
grita mais alto que a dor…
9
"Olvidarei !"...E, orgulhosa,
nem chorei na despedida,
mas, a saudade, teimosa,
foi no meu lenço, escondida!
10
Perco todos os cansaços
e minha angústia tem fim,
ao doce som dos teus passos
no cascalho do jardim…
11
Quando a vida, num desmando,
fecha a porta da esperança,
vem a saudade, arrombando,
as janelas da lembrança !…
12
Revejo o passado e penso,
sem surpresa e sem espanto,
que o tempo, às vezes, é o lenço
com que Deus me enxuga o pranto…
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SOBRE AS TROVAS DE DOMITILLA
por José Feldman

As trovas de Domitilla Borges Beltrame refletem uma profunda sensibilidade e emoção. Cada uma delas aborda temas como amor, saudade, perdão e memória, utilizando uma linguagem simples e poética que toca o coração.

REFLEXÕES TROVA A TROVA

1 – Resiliência no Amor: destaca a força de recomeçar após desilusões amorosas, mostrando a capacidade humana de se levantar e tentar novamente.

2 – Fé e Otimismo: fala sobre a fé como uma virtude que ilumina momentos difíceis, revelando beleza mesmo nas situações mais sombrias.

3 – Conciliação nas Relações: enfatiza a importância do amor na superação de conflitos, simbolizando a paz que pode surgir após a tempestade.

4 – Saudade e Promessas: toca na inevitabilidade da saudade, mesmo diante de promessas de distanciamento.

5 – Perdão e Amor: ressalta o poder do perdão e como ele pode transformar relacionamentos e vivências.

6 – Memórias e Solidão: revela a solidão e a dor da falta, utilizando a imagem da varanda e dos ganchos para simbolizar a ausência.

7 – Saudade da Juventude: remete à nostalgia, mostrando como as lembranças de tempos felizes marcam profundamente.

8 – Silêncio e Saudade: destaca a intensidade da saudade, que pode ser mais forte que a dor física, mesmo em momentos de aparente tranquilidade.

9 – Despedidas e Lembranças: aborda a dificuldade de deixar ir, simbolizando a saudade que persiste mesmo após tentativas de esquecer.

10 – Alegria nas Pequenas Coisas: ressalta como a presença do outro pode dissipar a tristeza e trazer alegria.

11 – Saudade e Lembrança: mostra a saudade como uma força que invade a mente e o coração, trazendo à tona memórias.

12 – Reflexão sobre o Tempo: A última trova reflete sobre a relação entre o tempo e a dor, sugerindo que ele pode ser um conforto em momentos de tristeza.

TEMÁTICAS PRINCIPAIS

Amor e Desilusão: Muitas trovas falam sobre a jornada emocional de amar e enfrentar desilusões. A capacidade de recomeçar é uma constante, refletindo a resiliência humana.

Saudade: A saudade é um tema central, retratada como uma força poderosa que pode trazer tanto dor quanto beleza. É uma expressão de amor que persiste mesmo na ausência.

Perdão: O perdão aparece como um ato transformador. A autora sugere que perdoar é um caminho para a paz e a reconciliação, mostrando a importância das relações saudáveis.

Memória e Tempo: O tempo é visto de maneira ambivalente; ele pode curar, mas também intensificar a saudade. As lembranças são retratadas como uma parte intrínseca da experiência emocional.

ESTILO POÉTICO

Simplicidade e Profundidade: A linguagem utilizada é acessível, mas carrega profundidade emocional. A simplicidade das palavras contrasta com a complexidade dos sentimentos.

Imagens Visuais: Domitilla usa imagens cotidianas (como a varanda e os ganchos) para evocar emoções, tornando as trovas mais relacionáveis e vívidas.

Ritmo e Musicalidade: O formato em trova confere um ritmo musical, tornando a leitura quase cantada e aumentando seu impacto emocional.

CONCLUSÃO

As trovas de Domitilla Borges Beltrame servem como um espelho das vivências de muitas pessoas. Elas capturam a essência da vida, abordando a beleza e a dor de forma equilibrada. O convite à reflexão sobre o amor, a perda e a reconciliação torna suas obras atemporais e universais, ressoando com leitores de diversas épocas e contextos. 

Fonte: José Feldman. 50 Trovadores e suas Trovas em preto e branco. vol.1. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

Humberto de Campos (O prêmio)

A palestra, naquela mesa tão seleta, versava um assunto delicadíssimo: o direito, que tem o esposo, de exigir da mulher a mais acentuada obediência, e a prerrogativa, que esta pode ter, de usar, ou de abusar, da liberdade que lhe seja concedida.

- Ninguém - afirmava D. Consuelo Mendes, com o sangue no rosto, - ninguém, no Rio, é mais exigente consigo mesma, do que eu. Ninguém me vê em bailes, em festas, em piqueniques, em divertimentos mais ou menos comprometedores. Vivo para minha casa, para meu marido, para os meus filhos. Acho, porém, que a mulher que assim procede, tem o direito de, uma vez por outra, desforrar-se, lançando mão da sua liberdade, distraindo-se, divertindo-se, procurando, por suas mãos, o prêmio do seu cativeiro.

E como percebesse a estranheza causada pelas suas palavras, retificou, esclarecendo:

- Eu, por exemplo. Eu vivo para o meu lar. Não saio, não faço visitas, não veraneio em Petrópolis, não faço estação em Poços de Caldas. No Carnaval, porém, pago-me de tudo isso: danço, folgo, divirto-me a valer!

Foi por essa altura, mais ou menos, que o desembargador Abelardo de Barros interveio, abrindo, com elegância, a sua cigarreira de ouro, polvilhada de brilhantes:

- Vossa Excelência faz, então, D. Consuelo, como aquele honesto beberrão, de que me falava, ontem, o Alfredo Pinto, na casa de Saúde do Poggi.

A moça franziu a testa, desconfiada, e o magistrado contou:

- Certo boêmio, habituado a entrar em casa depois de uma peregrinação sistemática por todas as casas de bebidas, resolveu, um dia, corrigir-se. Era preciso energia para não regressar aos tombos, e ele havia de tê-la, dali em diante. Tomada essa resolução, saiu para a rua, e passou, sem entrar, pela frente do primeiro botequim. Satisfeito com a vitória, passou pelo segundo, pelo terceiro, pelo quarto, pelo quinto, e, assim por vários outros, resistindo à tentação. À noite, à hora de recolher, tomou o caminho do lar, quando se pôs a pensar, de si para si: "Sim, senhor! Nunca pensei, seu Fernandes, nunca pensei que você tivesse tamanha força de vontade!" Deu mais alguns passos, e insistiu: "Você merece um prêmio. Vou lhe pagar um whisky!" E entrou no botequim, chegando em casa, nessa noite, tão bêbado como na véspera!

As senhoras entreolharam-se e Dona Consuelo interpelou-o, vermelha.

- Isso não tem nada com o meu caso; tem?

- Absolutamente, nada, D. Consuelo! acudiu o desembargador, vascolejando a cabeça: - absolutamente nada.

E mergulhou o nariz no chá.

Fonte: Humberto de Campos. A Serpente de Bronze. Publicado originalmente em 1925. Disponível em Domínio Público.  

Vereda da Poesia = 92 =


Trova do Rio de Janeiro/RJ

LOURDES REGINA F. GUTBROD

No templo da natureza,
que a luz divina irradia,
nos assombra, com certeza,
encontrar tanta harmonia!
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Poema de Belém/PA

ANTONIO JURACI SIQUEIRA

Meu canto

Meu canto aprendi com a água
bulindo na ribanceira
ao som do vento brincando
na copa da seringueira.

Aprendi a rimar com a chuva
no telhado a batucar,
com o urutau que ensaiava
canções à luz do luar.

Meu cantar é como a voz
do mar na areia quebrando
e o canto do rouxinol
quando a aurora vem raiando.

Meu canto escala montanhas,
vence dunas, soa no ar,
transpõe rios e florestas,
dança nas ondas do mar!
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Trova de Nova Friburgo/RJ

DALVA GUEDES DE ATHAYDE

Jovem!... Busca em tua vida
levar, em qualquer passagem,
harmonia na medida
e a esperança... na bagagem!
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Soneto de Mogi-Guaçu/SP

OLIVALDO JÚNIOR

Um rapaz, um homem só…

Nas esquinas do meu quarto,
um rapaz, um homem só,
guarda os versos que reparto
com alguém que vira pó.

Das porções com que me farto,
um rapaz, um homem só,
já não pensa mais no infarto
que faria alguém ter dó.

Sem ninguém que a vida inflame,
dobra esquinas da cidade
como peças de origami.

Já não quer ninguém que o chame
pela alcunha de "saudade",
mas que, ao vê-lo só, o ame.
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Trova Premiada em Barra do Piraí/RJ, 2000

ERCY MARIA MARQUES DE FARIA
Bauru/SP

A varanda, hoje
de algazarra das crianças,
se transforma, dia a dia,
num castelo de lembranças!...
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Poema de Vila Velha/ES

APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA

Desejos

Queria ser 
o seu “tudo” na vida...
o caminho a percorrer,
os perigos a enfrentar,
o amanhã por nascer,
o sorriso 
do seu olhar.

Queria 
ser o seu 
agora;
o seu melhor 
momento 
de felicidade
e encantamento...

Queria, 
ser também,
a sua, 
esperança.
A sua alegria,
a sua ilusão, 
e fantasia.

Queria, 
finalmente,
estar em seu coração...
ser seu momento
de reflexão
na calma tarde 
refletida lá fora.
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Trova Popular

Passarinhos, meus amigos,
eu também sou vosso irmão:
vós tendes penas nas asas,
eu tenho-as no coração.
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ

CARMEN CINIRA
(1902 – 1933)

Ser mulher

Ser mulher não é ter nas formas de escultura,
no traço do perfil, no corpo fascinante,
a beleza que, um dia, o tempo transfigura
e um olhar deslumbrado atrai a cada instante.

Ser mulher não é só ter a graça empolgante,
o feitiço absorvente, a lascívia e a ternura;
ser mulher não é ter na carne provocante
a volúpia infernal que arrasta e desfigura...

Ser mulher é ter na alma essa imortal beleza
de quem sabe pensar com toda a sutileza
e no próprio ideal rara virtude alcança...

É ter, simples e pura, os sentimentos francos,
E, ainda no fulgor dos seus cabelos brancos,
sonhar como mulher, sentir como criança!
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Trova do Rio de Janeiro/RJ

LUIZ POETA
Luiz Gilberto de Barros

Declamar verso sem pausa
é perder, da roda, o aro,
é tiro que sai da mausa*,
sem que alguém faça o disparo.
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* Mausa = pistola
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Poema de Cachoeira do Sul/RS

JAQUELINE MACHADO

Quero abraçar o mundo

 Sou amiga da paz.
Mas paradoxalmente, sou barulhenta!
Penso demais...
E vou confessar um defeito:
sou um pouco controladora.
Quero abraçar o mundo e seus espaços,
impedir erros e sofrimentos.
Preciso aceitar que, na verdade,
não controlo nem meus sentimentos...
Ficar de bem comigo do jeito que sou, incontrolável...
Igual ao sopro do um vento...
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Trova Humorística de São Paulo/SP

THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

Na "guerra" pela conquista
de um bom salário, valentes,
a manicure e o dentista
lutam "com unhas e dentes"!
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Soneto Mineiro

CÍCERO ACAIABA
Cambuquira/MG, 1925 – 2009, Varginha/MG

Minha sombra

Depois de te esperar inutilmente
na esquina desta rua abandonada,
eu volto mais sozinho e, lentamente,
marcam meus passos versos na calçada.

O coração, de súbito, se sente
liberto dessa angústia exasperada,
ao ver que minha sombra, obediente,
arrasta-se a meus pés, escravizada.

Ao menos, a que sempre me acompanha,
sombra fiel de tantas confidências,
mártir da mesma dor, do mesmo espinho,

ouve em silêncio minha voz estranha,
e vai beijando as longas reticências
das lágrimas que deixo no caminho.
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Trova de Bandeirantes/PR

LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DE CARLI

Família é laço afetivo,
motivo para viver,
pois viver sem ter motivo
só nos leva ao desprazer.
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Poema de São Francisco de Itabapoana/RJ

ROBERTO PINHEIRO ACRUCHE

Quando morre um poeta

“Quando morre um Poeta
Uma luz se apaga
Uma rima deixa de ser feita
Um trovador se cala.
-  O belo é menos escrito
Do jeito mais bonito
de externar a inspiração.”
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Trova de Campinas/SP

ARTHUR THOMAZ

Liberdade, és valiosa!
quem te perde sabe bem
que por seres preciosa
não se pode viver sem.
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Soneto de de Piracicaba/SP

LINO VITTI
(1920 – 2016)

Veleiro do amor

Coração - débil barco aventureiro -
pelo oceano do amor, toma cautela.
Pode surgir um vendaval traiçoeiro
que te arrebate e te estraçalhe a vela.

Perscruta o rumo. Sobre o mar inteiro
se prepare talvez árdua procela.
Busca horizontes claros, meu veleiro,
onde o sol brilha e o mar não se encapela.

Não te faças ao largo em demasia
que vem a noite horrenda e a treva zás
queira roubar-te a luz que te alumia.

E então sem rumo, sem farol, sem paz
quiçá não possas mais voltar um dia
à imensa praia que deixaste atrás.
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Trova Premiada em Barra do Piraí/RJ, 2000

MARIA MADALENA FERREIRA
Magé/RJ

Sou seresteiro perfeito,
porque até meu coração
se amoldou, dentro do peito,
à forma de um violão!
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Poema de Santo Antonio do Monte/MG

CARLOS LÚCIO GONTIJO

Amora Doce

Ainda cora no céu de minha boca
Aquele gosto de nuvem do teu beijo
Mora em mim toda janela do teu rosto
Amora doce em calda de raios de lua
Ofuscando as ruas de neon da madrugada
Foi bom sentir-me horizonte ensolarado
Mas se quebrado o bandoneón do amor
Sob as sanhas do batom a dor é branda
A lágrima que corre é apenas vida que anda
Num eterno "quiereme, besame mucho"
Sussurrado em terno de linho branco
Manchado pelo vinho santo da paixão!
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Trova de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

Aviva-lhe o orvalho o viço, 
e a rosa acorda se abrindo... 
Aberta, põe-se a serviço 
de um mundo amoroso e lindo! 
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Escada de Trovas de São Paulo/SP

FILEMON MARTINS

Deus

NO TOPO:
"Quando chegam dissabores,
Vejo o céu todo estrelado,
Nos campos eu vejo flores,
E a Deus eu digo; obrigado"!
Carlos Ribeiro Rocha
(Ipupiara/BA, 1923 – 2011, Salvador/BA)

SUBINDO:
"E a Deus eu digo: obrigado"
ao ver a vida na serra,
o mundo fica encantado
com as belezas da Terra.

"Nos campos eu vejo flores"
iguais no mundo não há,
perfumadas são amores
que a Natureza me dá.

"Vejo o céu todo estrelado"
a nutrir os sonhos meus,
e eu fico mais deslumbrado
ante a beleza de Deus.

"Quando chegam dissabores"
que a própria vida me traz,
esqueço das minhas dores
e escrevo versos de paz.
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Trova da Princesa dos Trovadores

CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Não prolongues a partida...
Vai... não olhes para atrás,
dói bem mais a despedida,
quão mais longa ela se faz!
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Hino de Rio Negro/PR

Na pequena capela da mata,
Nos caminhos dos Campos Gerais,
Tu nasceste, querida Rio Negro,
Da bravura dos seus ancestrais.
És da Mafra fiel companheira
E seguindo caminhos iguais
És imagem de felicidade
Desde os tempos dos Campos Gerais.

(Refrão)
Oh! Rio Negro, singela e formosa.
És a ternura de um botão de rosa.

Em teu seio, querida Rio Negro,
Vive um povo ordeiro e feliz
Que tem fé e amor ao trabalho
E a Deus agradece e bendiz
Pela glória dos teus fundadores,
Pela honra dos seus ancestrais,
Por teus feitos brilhantes na história
Nos caminhos dos campos gerais.

Na beleza da tua paisagem,
És um hino a fraternidade,
És ternura de um botão de rosa
A florir na fronteira da amizade.
Na pujança do bravo Rio Negro,
Na candura de um riso infantil,
És prelúdio de fé e esperança
No amanhã de um grandioso Brasil.
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Trova de Santos/SP

BRITES Q. FIGUEIREDO

Num cofre-forte, guardado
por bruxas, lá na distância,
está o que me é negado:
- os sonhos de minha infância!
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Poema de Ibirama/SC

APOLÔNIA GASTALDI

Palhaço

Já te desejei
Desesperadamente
Sem imaginar
Que num repente
Irias te afastar

Havia em tuas palavras
Um ar de eternidade
Que me fez
Acreditar.
Depois assim indiferente
Tudo se afogou
Morreu na correnteza
Daquele rio
Que era só beleza

E meus sonhos feneceram
Um por um
No regaço da tristeza
Na aurora que eu vi
Apenas nascer

E tu sumiste
Nem palavras tinhas
Eu fiquei
Na penumbra
No desespero de não ter

Sorrindo segues outro destino
Como um palhaço
Escondido pelas tintas
Que não deixam ver emoções

Escondido na mentira. 
Palhaço !
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Trova de Belo Horizonte/MG

OLYMPIO S. COUTINHO

Nada recebe quem nega
dar amor ou coisa assim:
só colhe flores quem rega
dia e noite o seu jardim.
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Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

A leoa e a ursa

Caiu-lhe o filho na cilada
Que o mendaz caçador lhe veio ao bosque armar;
E pelo bosque andava, irada,
A mãe leoa a urrar — a urrar, a urrar, a urrar...

E a noite toda e todo o dia
Soltou berros cruéis, urros descomunais;
E não só ela não dormia,
Mas nem dormir deixava os outros animais.

Tamanho e tal berreiro a fera
Fazia, que fazia os bichos mais tremer;
Até que veio a ursa (que era
Comadre dela) em prol dos mais interceder.

«Comadre, disse, os inocentes
Que, famulenta e crua, estrangulando vai
A aguda serra de teus dentes,
Não têm eles também, acaso, mãe nem pai?

Têm. Entretanto, estes, pungidos,
Loucos por um desastre ao teu desastre igual,
Não vêm quebrar nossos ouvidos;
Não nos quebres tu, pois, com algazarra tal!

—  Eu, sem meu filho! Ai! que velhice
Sem ele arrastarei, com este fado atroz!»
Disse a leoa. E a ursa disse:
«Do teu fado, porém, que culpa temos nós?!

— É o destino que me odeia!...»
E quem no mesmo caso o mesmo não dirá,
Se dessa frase a boca cheia
De todo o mundo (diz o La Fontaine) está?...