quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Vereda da Poesia = 108


Trova de
GODOFREDO MENDES VIANA
São Luís/MA (1878 – 1934)

A todos respeito e ensino
a minha definição.
O beijo é o til pequenino
da palavra coração.
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Poema Indígena de
PAULA BELMINO
Lagoa Nova/RN

Sangue de Índio

Sou filha de índio
Aprendi com eles a dançar
Na luta pela mata virgem
Pela floresta livre a passear
Tenho seu sangue
Guerreiros sempre a lutar
Cantam e seus males espantam
Assim com eles vivo a cantar
Sou filha de índio
E os animais são meus companheiros
Amo a natureza
E a ela tenho por minha mãe
Planto, reciclo, não derrubo as árvores,
Alimento-me do suor de minha mão
Sou filha de índio
E respeito a diversidade
Faço barulho pra alegrar a vida
Num ritual de felicidade
Sou pintura e riso
Sou cultura em qualquer parte
Sou filha de índio
Sou beleza, cor e arte.
O sorriso é minha arma
Ecoando pelos quatro cantos do mundo
Na dança de amor pelo futuro.
Não esquecendo as raízes
Quero uma terra sem sangue,
Em paz! Homens felizes!
Sou filha de índio
Meu sangue é deles
E por eles existo e vivo
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Trova de
MARIA VERGÍNIA GONÇALVES
Maringá/PR

A beleza e o dinheiro
acentuam diferenças:
o segundo é o primeiro
a provocar desavenças.
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Soneto de
VICENTE DE CARVALHO
Santos/SP (1866 – 1924)

Velho tema (IV)

Eu não espero o bem que mais desejo:
Sou condenado, e disso convencido;
Vossas palavras, com que sou punido,
São penas e verdades de sobejo.

O que dizeis é mal muito sabido,
Pois nem se esconde nem procura ensejo,
E anda à vista naquilo que mais vejo:
Em vosso olhar, severo ou distraído.

Tudo quanto afirmais eu mesmo alego:
Ao meu amor desamparado e triste
Toda a esperança de alcançar-vos nego.

Digo-lhe quanto sei, mas ele insiste;
Conto-lhe o mal que vejo, e ele, que é cego,
Põe-se a sonhar o bem que não existe.
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Trova Premiada em Blumenau/SC, 2016

MYRTHES MAZZA MASIERO
São José dos Campos/SP

Mulher e mãe! Que mistura!
Cuidados mil pelos seus...
Zelo, amor, doce ternura,
obra perfeita de Deus!
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Poema de
WISLAWA SZYMBORSKA 
Kornik/Polônia (1923 - 2012)

Álbum

Na minha família ninguém morreu de amor.
Se alguma coisa houve não passou de historieta.
Tísicas de Romeu? Difterias de Julieta?
Alguns envelheceram até ganhar bolor.
Ninguém a definhar por falta de resposta
a uma carta molhada e dolorosa.
Apareceu sempre por fim algum vizinho
com lunetas e uma rosa.
Ninguém a desfalecer no armário de asfixia
de algum marido voltando sem contar.
E os mantos e os folhos e as fitas de apertar
a nenhuma impediram de ficar na fotografia.
E nunca no espírito satânico de Bosch!
E nunca pelos quintais de arma em punho!
De bala na cabeça teve a morte outro cunho
e em macas de campanha alguém os trouxe.
De olheiras fundas como após a grande folia,
até esta aqui de carrapito extático,
se fez ao largo em grande hemorragia
mas não por ti, ó bailarino, e com viático.
Talvez antes do daguerreótipo, alguém,
mas nos deste álbum, ninguém, que eu verifique.
Tristezas dissiparam-se, os dias sucederam-se,
e eles, reconfortados, sumiram-se de gripe.
(Tradução: Júlio Souza Gomes)
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Trova Popular

Por te amar perdi a Deus,
por teu amor me perdi,
agora vejo-me só,
sem Deus, sem amor, sem ti.
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Soneto de
GILSON FAUSTINO MAIA
Petrópolis/RJ

Primavera 

Então ela chegou mostrando as cores, 
transformando a tristeza em alegria, 
trazendo borboletas, poesia, 
suavizando o encontro dos amores. 

Aqui e ali, já estão brotando as flores, 
e os passarinhos, ao raiar o dia, 
no pomar fazem sua sinfonia. 
Vibrem poetas, cantem trovadores! 

Modifica-se, inteira, a natureza. 
A musa mostrará sua beleza 
e o jovem perderá seu coração. 

O sol irá brilhar mais claro agora! 
Capim novo, refaz-se a nossa flora, 
há mais vida no ar e em nosso chão.
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Trova de
CECIM CALIXTO
Pinhalão/PR (1926 – 2008) Tomazina/PR
 
É verdade, neste inverno,
vou dar tudo a quem não tem,
porque sei que para o inferno
nunca vai quem faz o bem.
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Poema de
JONAS ROGÉRIO SANCHES
Catanduva/SP

Semeaduras de Amor e Sangue

Sulquei a terra e ali plantei
sonhos, sangue e lágrimas;
depois de um tempo eu colhi
mil flores de cores áridas.

Semeaduras de almas inocentes
onde o amor foi a semente,
onde a dor foi o adubo
que fez crescer perdão na gente.

Terras de arados tão febris
que alimentam paixões pueris
que atormentam o trovador
que resolveu morrer de amor.

Terras plantadas, flor que condiz
na madrugada seu olor matiz,
noite enluarada e uma cicatriz
no peito que mata o amor motriz.

Plantei meu sangue pelos terreiros
desse sertão tão meu, brasileiro;
colhi meus sonhos tão inconsequentes
e fui feliz amando a minha gente.
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Trova Humorística de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP

Bonita, pobre e sacana
é a nova mulher do Ernesto.
Do velho, só quer a grana
e, do filho dele... o resto!
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Soneto de 
CLÁUDIO MANOEL DA COSTA
Mariana/MG, 1729 – 1789, Ouro Preto/MG

VIII

Este é o rio, a montanha é esta,
Estes os troncos, estes os rochedos;
São estes inda os mesmos arvoredos;
Esta é a mesma rústica floresta.

Tudo cheio de horror se manifesta,
Rio, montanha, troncos, e penedos;
Que de amor nos suavíssimos enredos
Foi cena alegre, e urna é já funesta.

Oh quão lembrado estou de haver subido
Aquele monte, e as vezes, que baixando
Deixei do pranto o vale umedecido!

Tudo me está a memória retratando;
Que da mesma saudade o infame ruído
Vem as mortas espécies despertando.
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Trova de
JOUBERT DE ARAÚJO E SILVA 
Cachoeiro do Itapemirim/ES, 1915 – 1993, Rio de Janeiro/RJ

A aliança é um elo sagrado,
mas quando o amor morre cedo,
lembrando um sonho acabado,
é um zero enfeitando o dedo...
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Poema de
INGMAR HEYTZE
Utrech/Holanda

Trabalho Noturno

O tic-tac do despertador. O sussurro da caldeira.
O fremir do frigorífico quando liga e desliga.
Os batimentos da chuva contra a janela.
A escuridão apodera-se de nós.

 O sono entrega o coração e a respiração
ao ritmo da noite.
A alma a secar calmamente pendurada
nas suas cordas branco-prateadas.

A manhã inverte os papeis.
O barulho do chuveiro. O apito da chaleira.
O café a gotejar. A escuridão
esconde-se nas cortinas

e espera, e espera, apenas espera e,
espera.
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Trova de
ROBERTO C. DA MOTTA
Natal/RN

Cuidemos nós, da beleza,
também da preservação,
das coisas da natureza,
para os outros que virão.
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Soneto de
BASTOS PORTELA
Recife/PE, 1890 – 1956

Esplendor efêmero

És moça e bela. Assim, hoje pões e dispões;
E, feliz, num requinte fátuo de vaidade,
Vais pela vida, altiva, a esmagar corações...
Nada encontras no amor que te amargure ou enfade!

Mas, quando, um dia, enfim, atingires a idade
Em que se perdem, para sempre, as ilusões,
Tu me dirás, então, o que é sentir saudade
E o que é chorar no horror de longas solidões...

A beleza desfeita, humilde, decadente,
Serás a flor que, num jardim, murcha e descora,
Ao crepúsculo azul da tarde, mansamente...

E vendo-te passar, como os fantasmas, eu...
Eu sofrerei, talvez, como quem lembra ou chora
Uma bela mulher que se amou, e morreu!
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Trova Premiada em Blumenau/SC, 2016

PLÁCIDO FERREIRA DO AMARAL JÚNIOR
Caicó/RN

Tua vida em nossas vidas
é um porto de acalantos.
Teus cuidados são guaridas
onde eu ancoro os meus prantos.
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Poema de
FERNANDO NAMORA 
Condeixa-a-Nova/ Portugal, 1919 – 1989, Lisboa/Portugal

Poema para Iludir a Vida

Tudo na vida está em esquecer o dia que passa.
Não importa que hoje seja qualquer coisa triste,
um cedro, areias, raízes,
ou asa de anjo
caída num paul. 

O navio que passou além da barra
já não lembra a barra.
Tu o olhas nas estranhas águas que ele há de sulcar
e nas estranhas gentes que o esperam em estranhos portos.
Hoje corre-te um rio dos olhos
e dos olhos arrancas limos e morcegos.
Ah, mas a tua vitória está em saber que não é hoje o fim
e que há certezas, firmes e belas,
que nem os olhos vesgos
podem negar.
Hoje é o dia de amanhã.
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Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

A vida nem sempre é encanto; 
para alguns é injusta e inglória... 
– Quanta gente corre tanto, 
porém perde o trem da história!
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Quadrão em Oito* de
LACERDA FURTADO**

Quadrão para Joaquim Batista de Sena

Namorando a Salomé, 
Vi a barca de Noé, 
Palestrei com Josué, 
Com Jacó e Salomão; 
Travei luta com Sansão, 
Nadei no delta do Nilo, 
Montado num crocodilo, 
Cantando os oito em Quadrão!
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Trova da Princesa dos Trovadores 
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Sussurrando com ternura,
prova a fonte, sem revolta,
como é possível ser pura,
mesmo tendo lama em volta.
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Hino de Jaraguá do Sul/SC

Entre montes te vejo engastada,
Marginando corrente prateada...
Vibra um povo querendo progresso,
Crescimento, trabalho e sucesso.

Jaraguá do Sul és vibrante,
Não haverá quem te suplante,
Teu povo alegre e varonil,
Tem por lema: Avante Brasil.

De teus campos abertos em flor,
Da indústria a todo vapor,
Brotam rios de riqueza a sorrir.
Para o dia de amanhã que surgir.

Teu brasão tem o verde: é esperança,
O vermelho, este povo que avança.
Ao lufar da bandeira marchamos
Pela terra que é nossa e que amamos.
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Trova de 
WALDIR NEVES 
Rio de Janeiro/RJ (1924 – 2007)

Saudade!... foto em pedaços
 que eu colei com mão tremida,
 tentando compor os traços
 de quem rasgou minha vida...
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Poema de
LUCI COLLIN
Curitiba/PR

Dor mesmo

dor mesmo nem tanto a incisiva
- surpresa da faca na pele –
intensa dor mas reversível
ferida que enfim cicatriza

dor mesmo é aquela miúda
dor sempre que não envelhece
lateja esta dor – a mais funda –
de um ontem que nunca se esquece
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Trova de 
FERNANDO PESSOA
Lisboa/Portugal, 1888 – 1935

O poeta é um fingidor.
finge tão completamente,
que chega a fingir que é dor
a dor que deveras sente!
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França

A raposa e o busto

Era um busto famoso, um todo teatral...
Por entre a multidão, o burro, esse animal
Que não sabe julgar senão as aparências,
Gabava da escultura as raras excelências.

A raposa, porém, um tanto mais sabida,
Aproxima-se e diz: «Não vi, por minha vida,
Cabeça tão perfeita!... É mágoa verdadeira
A falta que lhe faz lá dentro a mioleira!»

Aos centos, pelo mundo, os homens conto
Que são bustos perfeitos neste ponto.
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* QUADRÃO EM OITO
Ao longo do tempo, o Quadrão tem sido o gênero a receber o maior número de alterações, não só na sua forma interna, mas, também, na estrutura das estrofes, em geral. O Quadrão antigo é formado por uma estância de oito linhas, pertencente à família dos setessílabos, rimando o primeiro verso com o segundo e o terceiro; o quarto com o oitavo, e o quinto com o sexto e o sétimo, contando, no final, o estribilho de sua denominação. O Quadrão em oito apareceu com ligeira modificação na sua forma interna, isto é, o quarto verso que rimava somente com o oitavo passou a rimar também com o quinto. (http://www.bahai.org.br/cordel/generos.html)

Após modificações no universo multifacetado da cantoria, os Quadrões foram incluídos nas Décimas e hoje temos quatro modalidades deste gênero com dez pés, todos mantendo o estribilho na última linha das estrofes.  Além dos cantadores Antônio Batista Guedes, Simplício Pereira da Silva e Manoel Furtado, os saudosos irmãos Batista (Dimas, Lourival e Otacílio), foram os grandes mestres deste estilo especial de cantoria, inclusive tendo sido (os Batista) os criadores do famoso “Quadrão Perguntado”, que recebeu esta denominação por ser uma espécie de diálogo constituído de perguntas e respostas intercaladas, obedecendo a métrica e a rima, pelos dois cantadores. (Fonte: Lilian Maial ) 

** Lacerda Furtado = não encontrei dados de nascimento e/ou morte deste poeta. Se alguém souber, favor me enviar para atualizar no blog.
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Recordando Velhas Canções (Tardes De Lindóia)


(valsa, 1930)
Compositor: Zequinha de Abreu

Tardes silenciosas de Lindoia
Quando o sol morre tristonho
Tardes em que toda a natureza
Veste-se de um véu de sonho

Baixo os arvoredos murmurantes
De a tênue brisa um soprar
Anjinho dos sonhos meus
Não sabes tu com és
Sublime contigo sonhar

Longe, lá no horizonte calmo
As nuvens se incendeiam
Num incêndio de luz

Vibra e se exalta minha alma
Na sensação que a seduz

Um plangente sino toca
Chamando a prece a todos
Os que ainda sabem crer

Então que sonho e creio
Beijar a tua linda boca
Para acalmar o meu sofrer

A Nostalgia Poética em 'Tardes de Lindóia'
A música 'Tardes de Lindóia' de Francisco Petrônio é uma ode à beleza e à serenidade das tardes na cidade de Lindóia. A letra descreve um cenário bucólico e tranquilo, onde o sol se põe de maneira melancólica, e toda a natureza parece se vestir de um véu de sonho. Esse ambiente idílico é um convite à introspecção e à contemplação, onde o eu lírico encontra um refúgio para seus pensamentos e sentimentos mais profundos.

A canção utiliza uma série de metáforas e imagens poéticas para transmitir a sensação de paz e beleza do momento. As 'tardes silenciosas' e o 'véu de sonho' são exemplos de como a natureza é personificada e transformada em um cenário quase onírico. A brisa suave e os 'arvoredos murmurantes' contribuem para essa atmosfera de tranquilidade e introspecção, onde o eu lírico se sente em comunhão com a natureza e consigo mesmo.

Além disso, a música também aborda temas de fé e esperança. O 'plangente sino' que toca ao longe chama todos à prece, simbolizando um momento de reflexão e conexão espiritual. O eu lírico expressa um desejo profundo de encontrar consolo e paz, simbolizado pelo anseio de beijar a 'linda boca' de seu amado ou amada. Esse gesto é visto como uma forma de acalmar seu sofrimento, mostrando como o amor e a fé podem ser fontes de conforto em momentos de tristeza e melancolia.

"Tardes de Lindoia" foi escrita em 1916, e é uma das composições mais conhecidas de Zequinha de Abreu. Peça musical inspirada nas belezas naturais da cidade de Lindoia, localizada no Estado de São Paulo. A valsa é caracterizada por sua melodia doce e suave, que evoca uma atmosfera romântica e nostálgica. A obra é uma composição elegante, que combina elementos clássicos e populares, e é considerada uma das mais belas valsas da música brasileira.

A combinação de melodia e harmonia cria uma atmosfera serena e melancólica, que transmite a sensação de tardes tranquilas e ensolaradas. A obra de Zequinha, incluindo "Tardes em Lindoia" (Também conhecida como "Tardes de Lindoia"), foi um marco na música brasileira do século XX, destacando-se pela originalidade e beleza de suas composições. "Tardes de Lindoia" tem sido interpretada e regravada por muitos músicos ao longo dos anos, sendo uma das obras mais conhecidas e amadas do repertório brasileiro.
Fontes: 

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Daniel Maurício (Poética) 76

 

Arthur Thomaz (O cofre)

Imigrante, fugindo dos horrores da Segunda Guerra Mundial, juntou suas poucas economias e embarcou em um navio com destino ao Brasil. No convés da embarcação escutou conversas em que as pessoas exaltavam o valor de terras em um estado denominado Santa Catarina. Terras férteis e já ocupadas em grande parte por milhares de imigrantes de variadas nacionalidades.

Na viagem conheceu um distinto senhor brasileiro, que lhe contou algumas particularidades do seu povo e ainda trocou suas liras por dinheiro do Brasil.

Desembarcou, tendo o cuidado de esconder seu dinheiro nas meias, conforme aprendera com sua finada mãe.

Em uma banca de jornais, no cais, comprou um mapa da Revista Quatro Rodas. Foi a um albergue, onde pernoitou, e pela manhã, durante o café, estendeu o mapa do estado sobre a mesa, e com olhos fechados, colocou o dedo sobre ele.

Selecionou assim, ao acaso, a cidade onde iria estabelecer-se.

Na rodoviária, tomou o ônibus com destino à tal cidade.

Lá chegando, perambulou pela rua do comércio, por horas, até ouvir uma pessoa falando seu idioma.

Iniciou uma longa conversação com o novo amigo.

Orientado por ele, foi visitar as terras que almejava comprar para explorá-las na agricultura.

Com preços muito altos para suas economias, acabou encontrando uma propriedade no sopé de uma serra, onde fazia muito frio, com episódios de fortes geadas, e que era mais barata por esses fatores.

Acostumado aos rigores do inverno europeu, encantou-se pelo local, e no cartório da cidade, realizou a transferência da propriedade para o seu nome.

Com o restante das economias, comprou as ferramentas, insumos, defensivos agrícolas, mudas e sementes.

Na rústica casinha que havia na propriedade, realizou alguns reparos necessários para poder morar.

Após alguns meses de árduo trabalho, no qual empregou-se com afinco, chegando às vezes a ter as mãos sangrando, começou a colher algumas hortaliças, raízes e frutos.

Foi a pé empurrando um pequeno carrinho de mão, vendê-las no Mercado Municipal. 

Com esse dinheiro comprou uma pequena carroça e um burrinho para puxá-la.

Adquiriu mais insumos, mudas e sementes.

Iniciou a plantação de nova safra de produtos.

Algum tempo decorrido nessa faina diária, arrecadou uma quantia suficiente para comprar a propriedade vizinha e contratar uns empregados para ajudá-lo.

Passados alguns anos, já era considerado um grande produtor rural na região.

Contratou pedreiros e construiu uma casa sede da fazenda.

Sozinho, edificou um porão, com entrada oculta, para guardar, secretamente, dinheiro, documentos e pertences particulares.

Com o aprendizado da língua portuguesa, passou a frequentar o CTG (Centro de Tradições Gaúchas) da cidade, onde conheceu uma jovem descendente de europeus. Casaram-se e dessa união nasceram dois filhos, que em pouco tempo também ajudavam na lida das propriedades.

Não contou sobre o porão nem para a esposa, indo a noite arrumar o aposento e guardar o dinheiro em uma gaveta de uma estante.

Fiodor, por não confiar em instituições bancárias, mandou importar um enorme cofre e cimentou-o no solo do secreto porão. Memorizou, sozinho, o segredo, garantindo assim, ter somente ele, o acesso.

E nele armazenava todo o lucro da propriedade, realizando todos os pagamentos em espécie.

Uma vez por semestre ia até a capital do estado e em uma loja de câmbio, trocava suas economias por moedas estrangeiras, acumulando, assim, uma pequena fortuna, que guardava, zelosamente, no cofre.

Depois de seu falecimento, os laboriosos filhos, desconhecendo a existência do cofre, continuaram a vida na fazenda. Passaram a utilizar agências bancárias para transações financeiras. Expandiram os negócios, amealhando muito dinheiro e comprando mais terras vizinhas. 

Casaram-se e também tiveram filhos que mantiveram a tradição rural da família.

Já os membros da quarta geração, Giuseppe e primos, eram um pouco menos dedicados ao trabalho nas fazendas, acostumados às polpudas mesadas. Preferiam simular estar estudando em busca de diplomas do que a faina diária na lavoura. Moravam fora do Estado, vindo somente nas férias para visitar os parentes.

Em uma dessas férias, Giuseppe, um pouco mais curioso que os outros, resolveu explorar o antigo e enorme casarão sede das propriedades. Observou um som diferente no contato do taco de suas botas com o assoalho. Com a picareta, abriu um buraco e surpreendeu-se ao encontrar um aposento. 

Com a ajuda dos primos, alargaram a passagem e desceram com o auxílio de uma escada de madeira.

Depararam-se, surpresos, com o enorme cofre.

Entreolharam-se, já imaginando o que fazer com a possível quantia em dinheiro que poderia haver lá dentro. 

Tentaram, por muito tempo, diversas maneiras de abri-lo. Iniciaram por aleatórios números encontrar o segredo.

Depois, com o auxílio de um estetoscópio, procurando imitar o que assistiram nos filmes.

Mesmo relutantes em expor o achado a estranhos, apelaram a um chaveiro, que inutilmente tentou, por horas, abri-lo.

Já impacientes, dinamitaram o objeto, sem sucesso.

Recorreram até a um vidente e a um pai de santo, para entrar em contato com o espírito de Fiodor, em vão.

Após meses de vãs tentativas, com muito dinheiro gasto, reuniram-se e resolveram enterrá-lo e esquecer a existência desse estorvo.

Desdenharam a possibilidade do cofre conter algo interessante economicamente. Não contaram esse fato nem aos descendentes, a fim de que caísse no esquecimento para toda a eternidade.

O que nenhum deles reparou, foi em um quadro na parede do aposento, emoldurando um antigo mapa do Estado de Santa Catarina, no qual havia uma sequência de números escritos em volta do nome da cidade.

Fonte: Arthur Thomaz. Leves contos ao léu: insondáveis. 1. ed. Santos/SP: Bueno Editora, 2024. Enviado pelo autor 

Vereda da Poesia = 107 =


Trova de Angra dos Reis/RJ

JESSÉ NASCIMENTO

Mãos erguidas, força unida,
no simbolismo que encerra:
a conservação da vida,
na preservação da Terra. 
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Poema de Fortaleza/CE

NEMÉSIO PRATA

Não deixa te levar pela vingança, 
pois isto não é coisa de Cristão: 
perdoa! Com amor, e sem tardança 
vai lá, e abraça, e beija o teu Irmão! 

Se um dia alguém te fizer qualquer mal, 
não vira-lhe o rosto, imita a Jesus, 
o grande perdoador que, no final, 
perdoou os que lhe puseram na Cruz! 

Se alguma ovelha encontra-se afastada, 
procura-a, pois, pra Deus ela é preciosa; 
encontra-a, e traze-a de volta, "puxada" 
pelas cordas do amor..., esta "teimosa"!
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Trova de São José dos Campos/SP

ADAMO PASQUARELLI

Felicidade - utopia
que está bem longe de mim,
quem sabe se qualquer dia
essa utopia tem fim...
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Soneto de Volta Redonda/RJ

ANTÔNIO OLIVEIRA PENA

O Caminho

Dize a palavra que te encerre o sonho,
aquela que resuma o teu desejo;
evita aquela de pesar medonho,
aquela de lamento malfazejo.

Dize a palavra que te encerre o sonho
com a mesma intensidade do teu beijo!
Evita o murmurar insano, e põe o
teu pensamento a trabalhar, que vejo

que aquilo que dizemos é que é ouvido,
ainda que o façamos em segredo...
— Não há palavra sem repercussão!...

Na estrada em que o homem vai, tão comovido,
seja de sua pátria, ou do degredo,
antes, por ela, andou seu coração!
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Quadra de Vila Real de Santo António/Portugal

ANTONIO ALEIXO
(António Fernandes Aleixo)
1899 — 1949, Loulé/França

Esses por quem não te interessas
produzem quanto consomes:
vivem das suas promessas
ganhando o pão que tu comes.
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Poema de Caicó/RN

DILMA DAMASCENO

A Menina de Caicó

Imagino as “madeixas do sertão”,
com tranças enfeitadas de bonina,
realçando a paisagem campesina,
- a confundir-se com a plantação -,
no decorrer da flórida estação!

… E nas águas do Itans azul-turqueza,
- ao sabor indelével da pureza -,
imagino “a menina de Caicó”,
- pintando sonhos e remando só -,
em sintonia com a natureza!
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Trova Popular

Menina dos olhos verdes,
dá-me água pra beber;
não é sede, não é nada,
é vontade de te ver.
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Soneto de Curitiba/PR

JANSKE NIEMANN SCHLENCKER

Deixa que eu brinque

Deixa que eu brinque por aí, à toa;
as aves brincam, brinca a ventania...
Brincam as flores com a luz do dia
e a borboleta que por elas voa.

Deixa que eu brinque, ainda que me doa
ver escapar-se a límpida alegria
do mesmo olhar, cuja inocência via
em qualquer coisa alguma coisa boa.

Deixa que eu brinque como se, inocente,
eu não soubesse que viver é queixa,
é choro apenas... E eu só peço: deixa...

Deixa que eu brinque levianamente
como se tudo - a nossa vida inteira -
jamais passasse de uma brincadeira...
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Trova de Bauru/SP

HELVÉCIO BARROS
Macau/RN (1909 – 1995)Bauru/SP

Palhaço, visão querida,
dos meus tempos de criança...
velha saudade escondida,
no meu baú de lembrança!
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Poema de Portugal

FLORBELA ESPANCA
(Florbela d'Alma da Conceição Espanca)
Vila Viçosa/Portugal, 1894 — 1930, Matosinhos/Portugal

Poetas

Ai as almas dos poetas
Não as entende ninguém;
São almas de violetas
Que são poetas também.

Andam perdidas na vida,
Feitos as estrelas no ar;
Sentem o vento gemer
Ouvem as rosas chorar!

Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas

E eu que arrasto amarguras
Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma para sentir
A dos poetas também!
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Trova Humorística de São Paulo/SP

THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

"Tira a mão! - Diz, enfezada -
tá pensando que é baderna?"
"Desculpe, ao dançar lambada,
nunca sei de quem é a perna!?”
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ

VINÍCIUS DE MORAES
(Marcus Vinícius da Cruz de Melo Moraes)
(1913 – 1980)

Soneto do Maior Amor

Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.

E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração, e que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal-aventurada.

Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer — e vive a esmo

Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo.
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Trova de Bandeirantes/PR

ISTELA MARINA GOTELIPE LIMA

O tempo passa inclemente,
sem nos pedir permissão,
e o espelho fiel não mente:
- o tempo não passa em vão!
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Poema de Guiné Bissau

HÉLDER PROENÇA
Bolama, 1956 – 2009, Bissau

Não posso adiar a palavra

Quando te propus
um amanhecer diferente
a terra ainda fervia em lavas
e os homens ainda eram bestas ferozes

Quando te propus
a conquista do futuro
vazias eram as mãos 

negras como breu o silêncio da resposta

Quando te propus
o acumular de forças
o sangue nômade e igual
coagulava em todos os cárceres

em toda a terra
e em todos os homens

Quando te propus
um amanhecer diferente, amor
a eternidade voraz das nossas dores
era igual a «Deus Pai todo poderoso criador dos céus e da terra» 

Quando te propus
olhos secos, pés na terra, e convicção firme
surdos eram os céus e a terra
receptivos as balas e punhais

as amaldiçoavam cada existência nossa

Quando te propus
abraçar a história, amor
tantas foram as esperanças comidas
insondável a fé forjada

no extenso breu de canto e morte

Foi assim que te propus
no circuito de lágrimas e fogo, Povo meu
o hastear eterno do nosso sangue
para um amanhecer diferente!
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Trova de São Paulo/SP

JAIME PINA DA SILVEIRA 

Chamar os velhos de insanos,
seria uma insanidade.
Há moços, quase aos cem anos...
e velhos, na flor da idade!
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Soneto Gaúcho

ALMA WELT
Novo Hamburgo/RS, 1972 – 2007, Rosário do Sul/RS

A Câmara Escura

Há momentos em que nos despedaçamos
Contra as arestas do nosso próprio ser,
Então a duras penas nós juntamos
Nossos cacos num mosaico de viver.

Na imagem interior restam fissuras
Como fossem cicatrizes das batalhas
Que travamos não com outras criaturas
Mas conosco mesmo e nossas falhas.

“Mas então, onde é que entra o mundo
Nessa tua síntese autofágica,
Se consideras só teu ser profundo?”

Na câmara da alma é o contrário:
O mundo é o ser na caixa mágica
Como reflexo invertido num armário...
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Trova Humorística de Nova Friburgo/RJ

MARIA LUA

“Quero uma vaca atolada!”
e o garçom, bebum de fama,
em vez da sopa esperada,
jogou a vaca na lama!...
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Poema de Maringá/PR

MARCIANO LOPES E SILVA
Porto Alegre/RS (1965 – 2013) Maringá/PR

Na Correnteza do Tempo

Negro impasse:
erguer ruínas
ou contorná-las 
em abismo?

Perplexo, vivo à deriva:
caçador de cacos
na correnteza do tempo.
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Trova de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

Assim que me aposentei, 
ao meu relógio dei fim... 
Sem ele eu me sinto um rei, 
dono do tempo e de mim!
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Indriso de Villanueva e La Geltrú/Espanha

ISIDRO ITURAT

Cantiga do Viajante sem Sono

Não podem dormir os meus olhos,
não podem dormir,
porque a serrana diz

que quisera ver-me amanhã.
Não podem dormir os meus olhos,
não podem dormir,

porque a verei no prado,

porque a verei amanhã.
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Trova da Princesa dos Trovadores

CAROLINA RAMOS
Santos/SP

No claro-escuro da vida,
fusão de alegria e dor,
a penumbra é colorida
se for penumbra de amor!
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Hino de Manacapuru/ AM

Salve, Manacapuru
Taba altiva do rio Solimões,
Salve, Manacapuru
Tu plasmaste nossos corações
Salve, Manacapuru
Terra fértil de um povo viril,
Os teus filhos se orgulham de ti,
E engrandecem a todo o Brasil

Eme a má, ene a na, tens maná
Ce a cá, manacá tens tu
Pê u pu, erre uru, formado está
O teu nome Manacapuru

Salve, Manacapuru
Tens nas águas piscosas, fartura,
Salve, Manacapuru
Teus rebanhos a carne assegura
Salve, Manacapuru
Tens, minério, castanha e madeira
A instrução de moral e civismo
De há muito é a tua Bandeira.
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Trova de Pinhais/PR

LÍGIA CHRISTINA DE MENEZES

Meu girassol pobrezinho
saudoso, não resistiu.
Morreu olhando o caminho
por onde meu bem partiu…
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Poema Goiano

HAROLDO DE BRITTO GIMARÃES
Goiatuba/GO (1928 – 1998) Goiânia/GO

O Disco 

Dispa-se de toda angustia
de toda a paixão, de todo o ódio:
- Olhe o disco rodando.
Sinta-o não porque ele traga
Chopin, - um, samba, moda de viola, um valsa,
um tango para os desesperados desta noite.

Sinta todo o encantamento da infância
num disco a girar! coisa estranha é, voz humana
brotando de pedra escura do limbo
que gravou a natureza selvagem da Noite.
Sinta a sua infância ou a sua velhice
observe um disco a girar:
girando no tempo, na face das águas ...
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Trova de Santos Dumont/MG

SEBASTIÃO TORRES DE LIMA

Amar... é felicidade!
É ternura... é bom demais!
- Quem tem amor de verdade,
renuncia a tudo mais!
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Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

Os peixes e o pastor que toca flauta

Tirso, jovem amante pegureiro,
Que aos sons da flauta o canto acrescentava,
Tocava um dia à borda de um ribeiro
Que com as linfas os prados refrescava.

Tocava Tirso; e a sedutora Aninha
Pescava ao mesmo tempo;
Mas — fatal contratempo! —
Nem um só peixe lhe acudia à linha!

O pastor, que com seu mavioso canto
Atraía inumanas,
Aos tais das barbatanas
Desta sorte cantou: «Deixai o encanto

Da náiade que amais; d’outra mais bela
Não temais a prisão:
Cruel pode ser ela
Com os humanos — com os peixes, não!

Cruel fosse!... a morrer quem não se afoita
Àquelas mãos galantes?»
Os tais peixinhos — moita!...
Não acodem à linha como dantes.

Tirso vê que se cansa
Em vão cantar; na água a rede lança;
E aos pés da pastorinha
Depõe o peixe que fugira à linha.

Reis, que em razões sutis fazeis estudo
Para convencer a estranhos,
Malograis vossos empenhos;
Lançai as redes. O poder faz tudo.