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quarta-feira, 13 de novembro de 2024
Erigutemberg Meneses (Cascata de versos) 01
José Feldman (O Desafio da Garagem)
Era um sábado de manhã, e o sol brilhava intensamente no céu. Pericárdio e Tipoia estavam determinados a tirar o carro da garagem, que estava preso entre caixas e objetos diversos.
"Vamos lá, é hoje!", disse Pericárdio, animado.
"Sim, mas como vamos fazer isso?", perguntou Tipoia, olhando para a montanha de coisas que havia se acumulado.
"Eu tenho um plano", disse Pericárdio, com um sorriso.
"Qual é?", perguntou Tipoia, curiosa.
"Vou empurrar, e você vai guiar", disse Pericárdio.
"É isso?", perguntou Tipoia, incrédula.
"Sim, é simples", disse Pericárdio.
Tipoia suspirou e se posicionou ao volante.
"Pronto, vamos!", gritou Pericárdio.
Pericárdio começou a empurrar o carro, mas ele não se moveu.
"Não está funcionando!", gritou Tipoia.
"É porque você não está ajudando!", respondeu Pericárdio.
"Ajudando? Eu estou dirigindo!", disse Tipoia.
"Dirigindo? Você está apenas sentada lá!", disse Pericárdio.
Tipoia saiu do carro e foi até Pericárdio.
"Você não entendeu o plano", disse ela.
"Entendi, sim. Eu empurro, e você guia", disse Pericárdio.
"Não, não é isso. O plano é nós dois empurrarmos", disse Tipoia.
Pericárdio olhou para ela, surpreso.
"Ah, entendi agora", disse ele.
Eles começaram a empurrar o carro juntos, mas ele ainda não se moveu.
"Isso é impossível!", disse Pericárdio.
"Não é impossível. É apenas difícil", disse Tipoia.
Eles continuaram a empurrar, suando e gritando.
"Eu não aguento mais!", disse Pericárdio.
"Eu também não!", disse Tipoia.
Mas então, de repente, o carro se moveu.
"Eu não acredito!", disse Pericárdio.
"Eu acredito!", disse Tipoia.
Eles conseguiram tirar o carro da garagem, mas estavam exaustos.
"Bem, isso foi divertido", disse Pericárdio.
"Divertido? Você está brincando?", disse Tipoia.
"Sim, foi divertido. Agora vamos tomar um café merecido", disse Pericárdio.
Tipoia sorriu.
"Sim, vamos", disse ela.
Eles foram para o café, rindo e conversando.
"Essa foi uma aventura", disse Pericárdio.
"Sim, foi", disse Tipoia.
Eles se olharam e sorriram.
Fontes: José Feldman. Peripécias de um jornalista de fofocas & outros contos. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul, 2024.
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Mensagem na Garrafa = 137 =
Campinas/SP
CUMPLICIDADE
Pequeno preito de gratidão à lua.
Tu me seduzias com tua inebriante claridade.
E eu, cativo, não resistia aos teus insistentes apelos.
Sob o manto da noite, me guiaste, soberana, quando percorri caminhos improváveis e situações inusitadas.
Me ajudaste em paixões, exibindo tuas companheiras estrelas, para que eu as contasse quando estivesse nos braços de alguém.
Sou-lhe grato também pelas inúmeras vezes, que para conter meus excessos, tu me indicavas estar indo embora, e que a intensa luz do dia não mais encobriria minha conduta.
Tu, recatada, por vezes se escondia atrás das nuvens para não presenciar minha desvairada boemia. Fostes testemunha e cúmplice de minhas aventuras em amores proibidos.
Ocultaste-me em tuas sombras quando eu corria perigo em minhas descuidadas andanças.
Certa vez, talvez para exibir-me perante os companheiros de copo, ousei afirmar que tu não passavas de matéria que se deslocara da Terra após o choque com o planeta Theia.
Ao sair, olhei para o céu, e tu, tristonha, estavas minguante. Voltei então à mesa e desdisse tudo o que antes afirmara de ti. Ao sair novamente, tu estavas crescente a sorrir para mim.
Foi o sinal para nossa eterna cumplicidade.
Fonte: Arthur Thomaz. Leves contos ao léu: imponderáveis. Volume 3. Santos/SP: Bueno Editora, 2022. Enviado pelo autor
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Nilto Maciel (O desafio de Facundo)
“Você está com medo desse doido?”
Eu realmente demonstrava inquietação, bastasse ver o maluco da rua.
Meu interesse em conversar com loucos é puramente literário. Prefiro observá-los de longe, descobrir suas manias a luneta.
Com o bebedor de coca-cola afoitei-me.
“Por que você bebe tanto isso?”
Sua resposta me deixou tonto, perplexo e, ao mesmo tempo, penalizado dele: “É para me lavar por dentro. Ando sujo, como todo mundo. Não bebo cachaça, com medo de perder o juízo.”
Antes de se embriagar e se tornar triste, revoltado, pessimista, Vicente passava por duas fases: na primeira, parecia alegre, contava seu mais recente passado, o dia findo, a semana, no máximo; na segunda, se achegava ao mais presente do presente e até arriscava prever os próximos minutos.
“Eu quero é cegar da gota-serena se o Helvécio não estiver falando mal de mim. Quer apostar?”
Numa dessas olhadas para o seu redor, quis saber minha opinião a respeito do dono do bar.
“Um tipo quase pitoresco, como aquele doido que bebe coca-cola como se bebesse cerveja.”
Gostou do pitoresco e do resto da frase, mas não podia esperar uma resposta como aquela. Porque existem tipos interessantes em demasia. Eu mesmo podia ser tido como um deles. E se perdeu num labirinto de considerações e descrições, esquecido já do próprio Helvécio.
Não sei se antes ou depois disso, Helvécio denegria alguns de nossos conhecidos, entre eles Vicente.
“Um beberrão ignorante. Fala mal de todo mundo e não repara nem as dívidas que faz.”
Não me pediu opinião. Apenas parou de esbravejar e se pôs a olhar para mim, como se me inquirisse: É ou não é?
“Eu não compro fiado, mas também falo mal do governo.”
Achei por bem não me referir diretamente a Vicente, nem tocar em bebida, apesar de as palavras engolidas terem sido: “Beberrão, não, porque, se for assim, seus filhos são beberrões também.” “Não insulte meus filhos, veja como se expressa.”
“É, mas você não fala à toa, sabe distinguir o certo do errado.”
Aquela minha audaz indagação feita ao doido, arranjei-a e aprimorei-a durante mais de um mês. A primeira versão dizia: você gosta dessa porcaria? Talvez ele não a entendesse e até ficasse calado. Podia imaginar que eu me referisse à sua vida. Ou mesmo à cidade, ao bairro, à rua onde morávamos. Modifiquei-a, a seguir, para: você gosta de beber essa porcaria? Se ele bebia, era porque gostava de coca-cola ou porque gostava de bebê-la. Poderia me responder simplesmente: Gosto. E eu não saberia de que gostava.
Fui reconstruindo a pergunta: por que você gosta de beber essa porcaria? por que você gosta tanto de beber essa porcaria? por que você bebe tanto essa porcaria?
O não mencionar o nome da bebida grudou-se-me feito nódoa na camisa. Bastava ver o pobre doido para me sentir alvo de sua loucura. Poderia me rachar a cabeça com uma garrafada. E Vicente fez a pergunta como se me acusasse de um crime. Não olhava para meus olhos ou minha boca, mas fitava meu peito, como se ali estivesse o segredo, a solução. E ria sempre, como se suas palavras ecoassem: medo medo medo.
Ri também e me controlei. Organizei a resposta: a loucura só dá medo ao sistema.
Tencionava discorrer sobre a relação entre poder e anarquia, ordem legal e desordem social. Um discurso violento e radical. E calaria a boca dele. Nenhuma ordem temia o discurso anárquico de qualquer bebedor de cerveja. O álcool dos rebeldes não incomoda a lucidez dos poderosos.
“Andei mexendo com ele.”
"Tirou coca-cola da boca do coitado?”
“Não sou perverso. Seria o mesmo que tomar mamadeira da boquinha de neném.”
Muito mais tarde, compreendi a vulgaridade dessas duas frases e imaginei um diálogo inteligente, a partir da segunda indagação de Vicente, se houvesse respondido assim: o tratamento dado por um homem rico a um pobre, estudado a um rude, de alta estatura a um de baixa, etc., é comumente maléfico, por mais humildes que sejam os primeiros. Há sempre perversidade nessa relação, por mais humanistas que sejam o burguês, o diplomado, o gigante. Porque analisar, estudar, perquirir, tentar conhecer outrem é, em essência, um ato bárbaro, egoísta, desumano.
“Então, o que você fez?”
Se outro o rumo dado por mim à conversa, qual a importância da especificidade de minha ação? O egoísmo existe na mãe ou na babá que corta ao meio o prazer bucal da criança; no burguês que dá uma esmola; no escritor que se compadece da personagem, sua ou de outro, que nunca bebeu champanha; no homem que alisa os cabelos do menino.
Esperei eras pelo momento de ver no bar do Helvécio o Vicente e o doido. Minha intenção: embriagá-los e fazê-los abraçarem-se, ao som de um baião. O cenário: fotos do Padre Cícero, da Seleção Brasileira e aquele imenso cartaz da Coca-Cola. Não seria apenas a encenação. Eu fotografaria o instante para capa de um romance: O Reino do Verbo.
Ao vê-los, não paguei nenhuma bebida. Desafiei-os para uma partida de bilhar. Eu contra os três.
Fontes: Nilto Maciel. Punhalzinho Cravado de Ódio, contos. Secretaria da Cultura do Ceará, 1986. Enviado pelo autor.
segunda-feira, 11 de novembro de 2024
Silmar Bohrer (Gôndola de Versos) 01
José Feldman (Um dia na academia)
Era uma manhã nublada quando Epitáfio e Etelvina decidiram que era hora de se inscreverem na academia. Depois de uma longa conversa sobre a importância de manter a saúde, ambos concordaram que os exercícios eram uma boa maneira de combater o sedentarismo.
Ao chegarem à academia, Epitáfio, com seu jeito cômico e exagerado, olhou ao redor com um misto de admiração e pânico.
"Olha, Etelvina! Esse lugar parece um campo de batalha! Olha aquelas máquinas, parecem armas de tortura!"
Etelvina, que sempre foi a mais prática dos dois, respondeu: "Epitáfio, é só uma esteira! Você não precisa entrar em pânico. Vamos apenas caminhar um pouco."
"Eu não sei... Caminhar em uma esteira que se move? Isso não parece um pouco perigoso?"
Epitáfio fez uma expressão de dúvida, como se estivesse considerando entrar em um filme de ação.
"Se você não conseguir andar em uma esteira, amor, estamos perdidos", disse Etelvina, tentando conter o riso. "Vamos lá, é só subir e começar a andar!"
Depois de alguma hesitação, Epitáfio finalmente subiu na esteira. Assim que começou a andar, ele logo se distraiu olhando para a televisão na frente.
"Olha, um programa de culinária! Isso parece muito mais interessante do que andar."
"Foca no exercício, Epitáfio!" Etelvina gritou do lado, já na sua própria esteira. “Se você não se concentrar, vai acabar caindo!”
"Eu não vou cair, calma! Eu sou um atleta nato!"
Ele disse isso enquanto tentava aumentar a velocidade da esteira, mas logo percebeu que havia exagerado.
"Atleta nato? Desde quando? Desde a última vez que você correu para pegar um pedaço de bolo na festa do aniversário da sua mãe?" Etelvina resmungou.
Epitáfio, agora lutando para se manter em pé, respondeu: "Era um bolo de chocolate, Etelvina! É uma questão de sobrevivência!"
Finalmente, ele conseguiu desacelerar a esteira e se equilibrar.
"Pronto! O que fazemos agora?"
"Agora vamos para a bicicleta!" Etelvina sugeriu, já se dirigindo para a máquina.
"Uma bicicleta? Ah, isso é mais fácil. Eu sei andar de bicicleta!"
Epitáfio disse, já se sentando na bike. Mas, assim que começou a pedalar, percebeu que a resistência estava mais alta do que esperava.
"Ei! Isso não é uma bicicleta, isso é uma tortura! Eu vou acabar com as minhas pernas!"
"Você também não precisa exagerar, Epitáfio! É só ajustar a resistência!" Etelvina estava rindo cada vez mais da situação.
Epitáfio, tentando ajustar a máquina, acabou apertando todos os botões ao mesmo tempo.
"Olha, Etelvina, agora estou em uma corrida contra o tempo! Estou em uma competição para ver quem se cansa primeiro!"
"Você e suas competições! O que você vai ganhar? Um troféu de 'Maior Drama na Academia'?" Etelvina respondeu, rindo.
Depois de um tempo, Epitáfio, já cansado, decidiu que era hora de experimentar algo diferente.
"Vamos fazer um pouco de musculação? Eu sempre quis parecer com aqueles caras de filme de ação!"
"Você? Parecer com um desses? Você precisa de muito mais do que um dia na academia!"
"Desafio aceito!" Epitáfio disse, enquanto se dirigia para os pesos. Pegou um haltere que parecia maior do que ele. "Olha, Etelvina, sou o Hulk!"
"Mais parece um Hulk de pelúcia!" Etelvina não conseguiu conter o riso. "Cuidado para não quebrar o pé!"
Ele levantou o peso, mas ao tentar impressionar, acabou fazendo uma careta tão engraçada que chamou a atenção de outros frequentadores da academia.
"Se você fizer isso, vai acabar viralizando na internet como o 'Homem que quis ser Hulk e não conseguiu ser nem Hulkzinho bebê'!" Etelvina continuou a zombar, enquanto ele lutava para colocar o peso de volta.
"Você está torcendo contra mim, não está?" Epitáfio perguntou, tentando recuperar a compostura.
"Claro que não! Estou apenas te dando um empurrãozinho para você não se levar tão a sério!", respondeu Etelvina, rindo.
Finalmente, após uma série de exercícios que mais pareciam uma comédia, Epitáfio e Etelvina decidiram que era hora de encerrar o "treinamento". Eles se sentaram em um banco, ofegantes.
"Então, o que você achou da nossa experiência na academia?" Epitáfio perguntou.
"Eu acho que precisamos de mais prática... e talvez de um 'personal trainer' só para você!" Etelvina respondeu, piscando.
"Ou talvez só precisemos de um bom café e um pedaço de bolo para comemorar nosso 'sucesso'!"
Epitáfio sugeriu, fazendo uma expressão de quem já estava pensando no próximo lanche.
"Essa eu topo! Afinal, a vida é curta demais para não ter um pedaço de bolo depois de um dia de exercícios!" Etelvina concordou, levantando-se.
E assim, enquanto deixavam a academia, Epitáfio e Etelvina continuaram com suas brincadeiras e discussões, prontos para enfrentar a próxima aventura juntos, seja na academia ou na cozinha, onde o verdadeiro 'treinamento' aconteceria.
Fontes: José Feldman. Peripécias de um jornalista de fofocas & outros contos. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul, 2024.
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Vânia Figueiredo (Uma aurora)
Aquela foi uma noite de pavor, no pequeno barco em pleno rio Xingu. O céu estava limpo, estrelado, mas sobre a superfície da água começava a soprar uma ventania feroz, era tipo inusitado de tempestade que não vinha dos céus... Ondas furiosas se levantavam e sacudiam o barco que estralejava como à beira de partir-se. "E o banzeiro", - explicou o barqueiro, sem parecer preocupado e ainda acrescentou: "Acontece por aqui, mas vai passar... nóis chega lá." Para ele, natural do povo xinguara, aquilo era apenas algo conhecido. Para mim, sulista e urbana, era a Morte chegando.
"Lá" era meu destino, a cidade de Altamira, no Pará, onde meu trabalho na colonização do INCRA me aguardava. Agarrada ao fundo do barco, eu duvidava que realmente pudéssemos chegar lá, amaldiçoando a tolice de ter querido visitar uma distante vila ribeirinha a título de aventura.
Foi então que as águas começaram a se acalmar, o vento foi perdendo a força, a angústia timidamente se transformando em expectativa. Quando ousei erguer-me para ver o que acontecia, uma flecha de luz dourada atingiu meus olhos. A aurora vinha surgindo, majestosa e solene como uma rainha, vestida de ouro e púrpura, dominando o rio que se aquietava sob sua luz. Pássaros saíam da mata próxima e revoavam saudando a aurora, um e outro boto dançou em sua homenagem.
Eu me senti pequena sob a magia daquela festa da Natureza, diante do sol que surgia pontuando a vida, sabendo que jamais veria uma aurora como aquela.
= = = = = = =
A autora é de Campinas/SP
(Este conto obteve a menção honrosa no Concurso de Contos, adulto nacional, do III Concurso Literário “Foed Castro Chamma”, 2020 – Tema: Aurora)
Fontes: Luiza Fillus/ Bruno Pedro Bitencourt/ Flávio José Dalazona (org.). III Concurso Literário “Foed Castro Chamma 2020”. Ponta Grossa/PR: Texto e Contexto, 2021. Livro enviado por Luiza Fillus.
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domingo, 10 de novembro de 2024
Varal de Trovas n. 617
José Feldman (Zé Capim se aventura na cidade)
Todo mundo conhece Seu Zé Capim, o fazendeiro caipira que, com seu chapéu de palha e sorriso largo, é a alma da roça. Mas um belo dia, Seu Zé decidiu que era hora de um passeio diferente. Ele olhou para o horizonte, respirou fundo e declarou: "Hoje eu vou à cidade!" A ideia, que parecia inusitada, foi recebida com entusiasmo por seus amigos da fazenda.
Na manhã seguinte, Seu Zé acordou cedo, caprichou no banho e vestiu sua melhor roupa — uma camisa de flanela e calças que pareciam ter visto melhores dias, mas que ele achava que eram um verdadeiro charme. "Vou impressionar o povo da cidade!", pensou. Com uma sacola de frutas frescas da fazenda para comer durante a viagem, ele partiu em direção à cidade.
A viagem de ônibus foi uma aventura à parte. Seu Zé, sentado ao lado de um grupo de jovens que mal conseguiam parar de olhar para as telas dos celulares, começou a se sentir um pouco deslocado.
"Que coisa estranha é essa de ficar olhando para a tela? Na minha época, a gente olhava nos olhos das pessoas", murmurou, enquanto observava as pessoas na rodovia. Assim que chegou ao terminal rodoviário, a realidade da cidade o atingiu como um balde de água fria.
Logo, ele se viu cercado por carros, buzinas e um movimento frenético que o deixou atordoado.
"Uai, mas onde estão as vacas?", pensou, enquanto tentava atravessar a rua sem se tornar uma estatística de trânsito.
Seu Zé decidiu começar sua jornada pelo centro da cidade. A primeira parada foi uma cafeteria, onde ele viu um cardápio escrito em uma língua que mais parecia um enigma.
"Um 'cappuccino'? Isso é café ou remédio?", questionou, enquanto olhava para a barista com uma expressão de confusão. Afinal, pediu um simples café preto, mas não sem antes receber um olhar curioso da atendente, que provavelmente nunca havia visto um cliente tão despretensioso.
Depois de se reabastecer, decidiu explorar as lojas. Entrou em uma boutique cheia de roupas que pareciam mais uma pintura abstrata do que vestuário.
"O que é isso? Um vestido ou uma bandeira de sinalização?", ele pensou, tentando entender como aquilo poderia ser considerado moda.
A vendedora, tentando ajudar, ofereceu um vestido com estampa de flores. "Esse aqui, senhor, é super na moda!"
Seu Zé olhou para o vestido e, com um sorriso, respondeu: "Na minha fazenda, só as vacas usam flores!"
Após algumas horas de exploração, Seu Zé decidiu que era hora de ver o que mais a cidade tinha a oferecer. Ele se aventurou em um shopping, onde as lojas pareciam labirintos e as pessoas andavam com uma pressa que o deixava tonto.
"Uai, será que tem um concurso de quem chega primeiro na loja?", ele se perguntou, enquanto observava um grupo de jovens correndo em direção a uma promoção.
Ao passar por um corredor, viu uma máquina de refrigerante. Curioso, decidiu experimentar. "Um 'refri de limão'?", ele leu. Com a inocência genuína de quem nunca havia visto uma máquina dessas, decidiu apertar os botões. O resultado? Uma explosão de soda que o deixou encharcado e com uma expressão de espanto.
"Pelo amor de Deus! Isso é um ataque de limão!", gritou, enquanto os jovens ao redor riam da cena.
Mas a verdadeira aventura estava apenas começando. Ao sair do shopping, Seu Zé decidiu que queria conhecer um pouco mais da cultura local. Assim, seguiu a música que saía de um parque próximo.
Ao chegar, viu um grupo de pessoas dançando e fazendo uma espécie de "flash mob". Ele, que nunca tinha ouvido falar disso, decidiu que era sua vez de brilhar. Com um passo de dança bem caipira, começou a rodopiar, chamando a atenção de todos.
A cena era hilária: um fazendeiro dançando ao som de uma batida eletrônica, enquanto os jovens ao redor tentavam imitar seus passos.
"Isso é como um forró, mas com mais luzes e menos sanfona!", pensou, rindo da situação.
Em poucos minutos, Seu Zé virou a estrela do parque. As pessoas começaram a gravar e compartilhar, e ele se sentiu como um verdadeiro artista.
Ao final do dia, cansado mas feliz, Seu Zé decidiu que já era hora de voltar para casa.
No ônibus de volta, ele refletiu sobre a aventura. "A cidade é cheia de coisas estranhas, mas também tem seu charme", pensou, enquanto olhava pela janela e via as luzes piscando. "Mas, no fundo, ainda prefiro meu campo, minhas vacas e o cheiro de terra molhada."
E assim, Seu Zé voltou para a fazenda, não apenas como um fazendeiro, mas como um verdadeiro "caipira urbano". A cidade havia lhe ensinado que, às vezes, é preciso sair da zona de conforto e se deixar levar pela vida, mesmo que isso signifique dançar com um grupo de desconhecidos e se encharcar de refrigerante.
Afinal, a vida é feita de experiências, e cada uma delas, por mais estranha que seja, traz um sorriso e uma boa história para contar.
Quando Seu Zé finalmente chegou à fazenda, o sol já começava a se pôr, tingindo o céu de laranja e roxo. As vacas, que sempre esperavam ansiosas pelo retorno do fazendeiro, se aproximaram, como se também quisessem saber das novidades. Mas Seu Zé tinha algo muito mais emocionante para compartilhar com sua turma.
Ele se sentou na varanda, cercado por seus amigos, que já estavam prontos para ouvir as histórias da cidade. Com um sorriso no rosto e um brilho nos olhos, começou a narrar suas aventuras urbanas. A conversa continuou com histórias de outrora, risadas e lembranças. O crepúsculo já havia se instalado, e a fazenda, com seu charme rústico, parecia mais acolhedora do que nunca.
"Então, Seu Zé, quando você vai voltar à cidade?", perguntou um dos amigos, ainda rindo da dança.
"Ah, quem sabe no próximo verão, mas da próxima vez vou levar vocês comigo! Imaginem a cena: nós todos, com nossos chapéus de palha, tentando entender o que é um 'cappuccino' e dançando um forró no meio da cidade. Vai ser uma verdadeira farra!", respondeu Seu Zé, piscando.
E assim, entre risadas e histórias, a noite na fazenda seguia tranquila, com cada um refletindo sobre suas próprias aventuras, ou a falta delas. Afinal, a vida é feita de experiências, e, com um pouco de humor e a boa companhia de amigos, qualquer dia pode se tornar uma grande história para contar.
Fontes:
José Feldman. Peripécias de um jornalista de fofocas & outros contos. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul, 2024.
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Vereda da Poesia = Janete Francisco Sales Yoshinaga (São Paulo/SP)
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Ítalo Moura (O fardo)
O dia se arrastou calmo e sereno, era chegada a hora de se recolher, afagar os filhos, comer alguma coisinha e dormir.
Bentinho, já fadado do sol quente, mal conseguiu se manter de pé, na mesa de jantar, Carlota, sua esposa, lhe servira um prato de sopa quente com um pedacinho de pão caseiro, feito ali mesmo, por suas próprias mãos. Bentinho só conseguia pensar nos afazeres do dia seguinte, tirar leite, arar a terra, colocar comida para os bichos e, por fim, se deitar novamente.
Não pôde deixar de notar que tudo isso lhe prendia muito e quanto tempo se passou sem que ele pudesse colocar os pés na cidade, desprender-se do campo por, pelo menos, um minuto, era um filme que nunca passou por sua cabeça, o fardo de cuidar daquelas terras lhe era grande o bastante para lhe prender.
A sua face murchou, não conseguia mais comer.
Bentinho acabou se esquecendo dos prazeres da vida, a vida no campo não tinha nenhuma regalia, mas oferecia tudo, o pão de cada dia, e foi assim que ele sempre viveu por ela, nunca pôde se ausentar. Mas, no fundo de sua consciência, prometeu que ao romper da aurora, junto com a Carlota, a cidade aos seus filhos ia mostrar, quem sabe um descanso, de alegria e não de pranto, haveriam de passar.
A noite se arrastou lentamente, caiu um sereno fino e singelo por sobre a terra, o orvalho se formava nas folhas da velha roseira vermelha, os sapos faziam uma orquestra estridente, o cenário pastoril contribuía para o clima de despedida.
A noite se fez dia, Bentinho cuidou dos seus últimos afazeres, ateou a carroça no seu velho pangaré, era chegada a hora.
A velha charrete de madeira se arrastou lentamente na estrada, a poeira formava nuvens singelas, os olhos dos meninos lacrimejavam, fitavam o velho casebre de madeira que sumia no horizonte, era a primeira vez que zarpava.
= = = = = = =
O autor é de Porto Velho/RO
(Este conto obteve a menção honrosa no Concurso de Contos, adulto nacional, do III Concurso Literário “Foed Castro Chamma”, 2020 – Tema: Aurora)
Fontes: Luiza Fillus/ Bruno Pedro Bitencourt/ Flávio José Dalazona (org.). III Concurso Literário “Foed Castro Chamma 2020”. Ponta Grossa/PR: Texto e Contexto, 2021. Livro enviado por Luiza Fillus.
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sábado, 9 de novembro de 2024
José Feldman (Guirlanda de Versos) * 7 *
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Francisco Gabriel (A última aurora do lobisomem)
Toda minha infância eu vivi na zona rural. Nossa casa possuía um alpendre que sempre atraía visitantes para uma boa conversa. Tinha eu uns sete anos de idade quando, nesse alpendre, chegou um visitante desconhecido para mim. Mas, para minha surpresa, já era bem conhecido da minha mãe e da minha vó. Tratava-se de um andarilho de nome Quinca, que por diversas vezes já havia pousado em nossa casa, especificamente naquele alpendre.
Nesse dia, ele me contou muitas histórias cotidianas e fantásticas. Uma delas eu nunca esqueci. Foi a respeito de um suposto lobisomem que ele havia conhecido.
Disse que, no seu tempo de rapaz, havia morado em lugar um tanto esmo, onde não havia mais do que dez casas. Uma delas era habitada por um velho, chamado Zebebé, que não tinha boa aparência e, entre os moradores da região, corria a Fama de que ele tinha a maldição de se transformar em lobisomem.
Sempre que aparecia um animal sangrando, diziam que havia sido o dito lobisomem quem havia feito tal estrago. Segundo diziam, Zebebé não dormia à noite, ficava no campo contemplando os astros até meia-noite; nesse horário, depois de espojar-se no chão em uma encruzilhada, ele era transfigurado em lobisomem, somente voltando à sua forma humana quando o dia começava a alvorecer. Só ia dormir depois de ver os primeiros raios da aurora, pela qual nutria um verdadeiro fascínio.
Certa noite, de quinta para sexta-feira, saiu para o campo, como sempre fazia e, estando na condição de lobisomem, a noite terminou e ele não conseguiu voltar à sua forma humana. E, sem perceber o ocorrido, ficou esperando o surgimento da aurora, como sempre fazia.
Extasiado, deparou-se com os primeiros raios de Sol, e isso lhe foi fatal.
Na manhã do mesmo dia, os moradores da região encontraram o corpo de uma criatura, meio homem e meio bicho; enterraram no em uma cova rasa, sem um reconhecimento preciso. O certo é que o velho Zebebé nunca mais apareceu no seu casebre. Certamente, foi a última aurora do lobisomem.
= = = = = = =
O autor é de Natal/RN
(Este conto obteve a menção honrosa no Concurso de Contos, adulto nacional, do III Concurso Literário “Foed Castro Chamma”, 2020 – Tema: Aurora)
Fontes: Luiza Fillus/ Bruno Pedro Bitencourt/ Flávio José Dalazona (org.). III Concurso Literário “Foed Castro Chamma 2020”. Ponta Grossa/PR: Texto e Contexto, 2021. Livro enviado por Luiza Fillus.
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José Feldman (Visita dos Urbanos na Zona Rural)
Era uma manhã ensolarada quando a fazenda de Seu Zé Capim se preparou para receber uma visita muito especial: um grupo de amigos da cidade, aqueles que acham que a vida no campo é feita apenas de vacas pastando e pôr do sol cinematográfico. A expectativa era alta, mas a realidade seria ainda mais divertida.
Os visitantes chegaram em uma van, todos com suas roupas de grife, óculos escuros e uma expressão que misturava curiosidade e um ar de superioridade. Assim que desembarcaram, a primeira coisa que fizeram foi puxar os celulares para registrar o momento, como se estivessem em um safári.
"Olha, o campo!" exclamou uma delas, enquanto apontava para um touro que, sinceramente, parecia estar mais interessado em comer capim do que em ser o foco de um ensaio fotográfico.
Seu Zé Capim, com seu chapéu de palha e sorriso no rosto, fez questão de dar as boas-vindas.
"Bem-vindos à fazenda! Aqui, a gente vive na tranquilidade."
Mas, a tranquilidade logo se tornaria um conceito relativo.
A primeira atividade programada era a ordenha das vacas. Ao ouvir isso, os citadinos trocaram olhares de perplexidade.
"Ordenha? Como assim? Não é só apertar um botão?" perguntou um deles, enquanto sua amiga tentava entender a diferença entre a vaca e o boi.
"É tudo a mesma coisa, né?"
A risada de Seu Zé foi tão alta que até as galinhas pararam de ciscar para ver o que estava acontecendo.
Com um pouco de paciência — e algumas demonstrações de como se faz — os visitantes finalmente se aproximaram das vacas.
A cena era digna de uma comédia: um deles, armado com um balde, se aproximou da vaca com uma cautela que mais parecia estar tentando conquistar uma celebridade do que fazer uma simples ordenha.
"E se ela correr atrás de mim?", ele sussurrou, quase em pânico.
A vaca, claro, estava mais preocupada com o seu lanche do que com a presença de um humano nervoso.
Depois de algum tempo e muitas risadas, a primeira ordenha foi realizada.
"Olha, saiu leite! Como se faz para embalar isso?"
Um outro amigo, que estava mais interessado em saber como o leite virava queijo, já estava desenhando planos de um negócio de laticínios.
"Podemos fazer um delivery de queijo artesanal na cidade! O que vocês acham?"
A ideia de colocar queijo de fazenda em uma embalagem causou gargalhadas na turma.
A próxima parada foi na horta.
"Como assim, você planta as coisas aqui? E o supermercado, não faz nada disso?", perguntou uma moça, enquanto segurava um tomate como se fosse um artefato raro. "E se a gente não tiver água? Como as plantas vão crescer?"
Seu Zé, já acostumado com a curiosidade dos urbanos, respondeu: "A gente rega, minha filha! Aqui a gente não tem água da torneira, mas a gente faz acontecer!"
A expressão dela ao ouvir "água da torneira" era como se tivesse descoberto que o mundo não é plano.
A tarde avançou com uma trilha pela mata.
"Aqui é tudo muito verde!", exclamou um dos rapazes, enquanto outro já tentava identificar se o som que ouvira era uma onça ou apenas um sapo.
"É só um sapo, amigo! Para de ser medroso!", gritou um dos outros, que já começava a se sentir como um verdadeiro desbravador. A verdade é que a natureza, com suas folhas e barulhos, parecia tanto um mistério quanto um parque temático para eles.
Para completar a experiência rural, Seu Zé decidiu preparar um autêntico almoço caipira.
"Vocês vão adorar a comida da roça!", disse, enquanto começava a fritar um frango.
A expectativa era alta, mas quando os pratos chegaram à mesa, um dos amigos olhou para a farofa e perguntou: "E isso, é o que? Um acompanhamento ou um novo tipo de arroz?"
A confusão era tanta que a farofa quase foi confundida com um novo prato gourmet. A refeição, por sua vez, acabou se tornando um concurso de quem conseguia comer mais, sem saber o que estava colocando na boca.
Os amigos até tentaram ajudar na cozinha, mas a situação rapidamente saiu do controle. Um deles, ao tentar fazer um suco de limão, acabou espremendo mais limão na roupa do que no copo.
“É uma nova técnica de tempero!” gritou, enquanto todos riam e o limão escorria por suas mãos.
À medida que o dia chegava ao fim, as risadas e as histórias compartilhadas se tornaram o verdadeiro espírito do encontro. O campo, com suas simplicidades e suas complexidades, havia mostrado aos visitantes que a vida rural era muito mais do que eles imaginavam. As dificuldades do dia a dia, as alegrias simples e as risadas ao redor da mesa criaram uma conexão que superou qualquer preconceito que eles pudessem ter.
No final do dia, enquanto se preparavam para voltar à cidade, um dos amigos olhou para Seu Zé e disse: "Sabe, acho que vou começar a plantar um pé de alface na varanda."
E Seu Zé, com um sorriso cúmplice, apenas respondeu: "É um bom começo! Mas não esquece de regar, tá?"
E assim, a visita dos urbanos à fazenda se tornou uma lembrança hilária e inesquecível, um lembrete de que, às vezes, é preciso sair da zona de conforto para descobrir que a vida, com suas simplicidades e desafios, é muito mais divertida do que parece — mesmo que isso signifique lidar com vacas e farofas!
Fontes: José Feldman. Peripécias de um jornalista de fofocas & outros contos. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul, 2024.
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sexta-feira, 8 de novembro de 2024
Edy Soares (Fragata da Poesia) 64: Sombra e Luz
Flávio de Azevedo Levy (Faz de conto)
A aurora veio lentamente da escuridão, a luminosidade inicialmente rasa ia mostrando aos poucos a sua presença, acentuando-se na cadência do prenúncio da manhã. Uma ave sonora interpretava satisfeita um canto pelo introdutório deste espetáculo. Pássaros rasgavam o céu em formação de flecha e os vagalumes saíam de cena, como também a noitada fria. A temperatura ia aumentando, enquanto as rãs quedavam. Os caramujos teimavam em continuar a reproduzir o som dos mares e as gotas de orvalho passaram a fornecer, em tempo real, a transmissão da alvorada nas folhagens das plantas. O lusco-fusco perdeu seu equilíbrio quando a tocha vermelha apontou ao leste, despindo o primeiro clarão. Os contornos das formas superiores pareceram adquirir vida própria, e quanto mais a bola de fogo subia, iam descendo as bênçãos de mais um dia glorioso nesta parte privilegiada do planeta. A noite, como soprada, seguiu apagando as últimas imagens de um dia em paragens mais distantes, deixando descortinado este imenso palco onde o astro-rei todos os dia nos fornece um espetáculo único.
– Ainda não está bom - disse-me o professor Vinícius, devolvendo o texto que havia lhe entregado - parece que você exagera em tudo o que escreve! Tente ser mais realista. E claro que o leitor precisa sonhar, mas aquele que escreve não pode perder o senso e os parâmetros. Por favor - continuou ele - não quero desestimulá-lo de ser um escritor, mas seria bom se você simplesmente pudesse relatar algo que realmente possa estar acontecendo. Você já viu uma luminosidade rasa? Uma ave interpretar satisfeita um canto por algum introdutório? Vagalumes deixando um palco? Caramujos teimarem e, o mais absurdo, o orvalho transmitir em tempo real alguma coisa? Transmitir? Por favor, concentre-se melhor no texto. Pássaros rasgando o céu, em formação de flecha ainda vá lá, faz algum sentido...
Enquanto ele falava, um maravilhoso crepúsculo acontecia nas suas costas emoldurado pelo janelão da sala. O mar recebia o Sol como um anfitrião, oferecendo um caldo saboroso de luzes em águas salinas. O convidado, feliz, mergulhava radiante numa efervescente sopa marinha, enquanto a claridade diminuía, um grande prato branco vinha a seguir trazendo as primeiras estrelas da noite...
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O autor é de Campinas/SP
(Este conto obteve a menção honrosa no Concurso de Contos, adulto nacional, do III Concurso Literário “Foed Castro Chamma”, 2020 – Tema: Aurora)
Fontes: Luiza Fillus/ Bruno Pedro Bitencourt/ Flávio José Dalazona (org.). III Concurso Literário “Foed Castro Chamma 2020”. Ponta Grossa/PR: Texto e Contexto, 2021. Livro enviado por Luiza Fillus.
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Vereda da Poesia = A. A. de Assis (Maringá/PR)
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