segunda-feira, 17 de novembro de 2025

José Luiz Boromelo (Orgulho de ser caipira)

O termo caipira tem sido utilizado para designar as pessoas oriundas do meio rural e que apresentam certos comportamentos peculiares que os identificam de imediato, seja no modo de falar, vestir ou de caminhar. O dicionário o classifica ainda como um “indivíduo tímido, acanhado” e afeito às dificuldades da vida na roça. Pelo menos é dessa forma que os compositores há muito descrevem o nosso sertanejo, decerto inspirados no estereótipo do personagem criado por Monteiro Lobato, o “Jeca Tatu”. A postura típica do matuto está igualmente representada de forma acentuada, com ênfase ao exagero de expressões e trejeitos imortalizados pelo impagável Mazzaropi. Essa mistura de componentes resultou na consolidação da imagem de um ser renitente e despojado de cultura, mas com uma carga expressiva de valores morais arraigados na alma, que transmitem uma alta dose de confiança aos seus interlocutores.

O cidadão das áreas urbanas desconhece certos valores que o homem da roça cultua a cada dia. Seja no cumprimento espontâneo com um aperto forte de mão, seja no olhar sereno e tranquilo ou na fala pausada e comedida. Essa condição o diferencia do homem urbano que vive a conturbada correria da vida moderna, sem tempo para apreciar as coisas mais simples da vida. O campo oferece uma qualidade de vida muito superior ao da cidade, porém cobra seu preço. A labuta diária é exaustiva e ao mesmo tempo gratificante. As marcas do sol ardente e da poeira da terra são visíveis no semblante do sertanejo, assim como as mãos ásperas, judiadas pelo trabalho incessante e penoso. Mas a satisfação em colher os frutos do esforço constante é um presente divino para quem molha todos os dias a terra fértil com o suor do seu trabalho. Atualmente o campo é servido por quase todos os recursos disponíveis no meio urbano. Energia elétrica, telefone, internet, vias pavimentadas, transporte escolar e outros benefícios predominam na imensa maioria das propriedades rurais, proporcionando excelente qualidade de vida. Até nos rincões mais longínquos o homem encontra algum tipo de comodidade, que ameniza as dificuldades em seu cotidiano.

A figura do caipira tradicional, que andava descalço, fumava cigarro de palha e gostava de dedilhar sua viola nas noites de lua cheia vai lentamente ficando para trás, se transformando em lenda no imaginário popular. A imagem do poeta choroso, que vivia no ranchinho de sapé e exalava nostalgia pela ingratidão da mulher amada vai sendo esquecida. O legado deixado pelos legítimos representantes de uma era impregnada de saudosismo oferece inspiração para os jovens artistas, que acabam regravando antigos sucessos em versões atuais em que a poesia é evidenciada de forma a exaltar os valores culturais da gente da roça. As mudanças também são verificadas nos diversos estilos musicais da atualidade que procuram inserir temas rurais em suas letras. A moda “country” pegou carona na onda rural numa versão bem mais chique, importada e adaptada para o gosto do consumidor brasileiro. Mesmo elitizada e acessível a uma seleta parcela da sociedade, as roupas fazem sucesso em todas as faixas etárias, conferindo um ar de “status” ao consumidor fiel do estilo.

Apesar de toda a tecnologia utilizada nas produções musicais, ainda é possível desfrutar de uma boa música sertaneja de raiz acompanhada somente de violão, acordeom e viola. E ouvir os acordes desses instrumentos sem tratamento de estúdio é um privilégio para poucos nos dias atuais. Isso remete aos tempos do verdadeiro caipira, que com sua simplicidade conquistava quem dele se “achegava”. Por tudo isso, sinto orgulho de ter as raízes no campo, de preservar os costumes da gente da roça como o tradicional chapéu de palha, o fogão a lenha, o moinho de café e de ser chamado de caipira. E como diz a música, “o caipira de verdade, nasce e morre desse jeito”.
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José Luiz Boromelo, é de Marialva/PR, policial rodoviário aposentado, escritor, cronista e agricultor, colaborador da Orquestra Municipal Raiz Sertaneja.

Fontes:
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Figueiredo Pimentel (A sapa casada)

Reinaldo era um moço estimadíssimo pelas excelentes qualidades, sobretudo por ser honrado e sério. Tinha dois irmãos, e todos três eram filhos de um rico fidalgo.

Os irmãos casaram-se com moças da sua sociedade e posição. Vivia cada um em sua casa, tendo por costume irem jantar o primeiro domingo de cada mês no palacete do velho, onde se reunia toda a família.

Reinaldo gostava extraordinariamente de música. Qualquer que fosse o instrumento, apreciava, e seria capaz de ficar um dia inteiro a ouvi-lo.

Uma tarde passeava à margem de uma lagoa. Era ao pôr-do-sol. De súbito, ouviu uma voz deliciosa, cantando uma romanza* que ele desconhecia, de extraordinária harmonia e suavidade.

O moço parou, e deixou-se ficar enlevado a escutar. A voz parecia vir de perto, mas debalde procurou a moça que cantava.

Foi-se entusiasmando cada vez mais, até que, cessando a cantiga, ele exclamou:

– Palavra de honra que me casaria com a dona de tão linda voz, se pudesse vê-la, ainda que fosse uma sapa desta lagoa!

Acabando de dizer isso, Reinaldo viu saltar da água para terra uma sapa enormíssima e horrendamente feia.

– Pois é uma sapa que estava cantando, falou ela. O senhor é um moço sério, e tem de cumprir a sua palavra...

– Fui leviano em pronunciar tal frase, replicou Reinaldo. Entretanto, como só tenho uma palavra, cumpri-la-ei. Vou apenas avisar meu pai, e amanhã aqui estarei.

Saiu e chegou à casa, tristíssimo, narrando o que lhe sucedera. 

O velho fidalgo concordou que ele devia cumprir a promessa, feita sob palavra de honra.

No dia seguinte, o jovem foi à lagoa. A sapa, assim que o viu, falou:

– Entre dentro da água sem receio, e mergulhe.

O rapaz executou à risca aquela recomendação, e viu-se de súbito num deslumbrante palácio, edificado embaixo do lago.

Aí estava tudo preparado para o casamento. Passou-se o mesmo que ocorre em nossas cerimônias, com a diferença que a única criatura humana era Reinaldo. O mais: padre, sacristão, testemunhas, convidados, lacaios, eram sapas e rãs que coaxavam desagradavelmente.

Durante quinze dias o moço viveu satisfeitíssimo. Habitando um palácio real, nada lhe faltava, melhor do que no palacete de seu pai, e tendo ainda por cima, concertos divinos, em que tomavam parte sapos músicos e sapos cantores inexcedíveis, tocando toda a sorte de instrumentos.

Ia se aproximando o primeiro domingo em que sua família – segundo antiquíssima tradição – devia reunir-se no solar paterno.

Reinaldo entristeceu-se, lembrando-se que tinha que ir forçosamente em companhia de sua horrenda mulher. Que não diriam seus irmãos/? Como não haviam de zombar dele suas cunhadas e sobrinhos?

Chegou o dia marcado. Eram onze horas da manhã quando ele e a sapa se puseram a caminho, seguidos de uma infinidade de sapos, sapas, sapões.

Iam em ordem, enfileirados, como se se tratasse de um cortejo real.

No palacete, a família reunida esperava a chegada de Reinaldo, zombando dele, cheia de escárnio e ironia.

Avistaram de longe a multidão dos habitantes da lagoa.

Todo o mundo se ria.

Quando o séquito chegou ao grande pátio do palacete, bateu a primeira badalada do meio-dia.

Nesse instante os sapos, sapas, sapões e sapinhos viraram fidalgos, fidalgas, lacaios, pajens, soldados e cavaleiros, escoltando Reinaldo e uma lindíssima jovem.

A sapa era uma princesa. Encantada por uma feiticeira, só devia volver à forma humana, bem como os seus súditos, se encontrasse um homem que a desposasse.

Reinaldo ficou louco de contentamento, ao passo que seus irmãos e cunhadas desapontaram.

No lugar onde era a lagoa apareceu um palácio sem igual em todo o país – o palácio que estava no fundo da água, e fora submergido pela fada má.
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* Romanza = Composição sentimental de versos breves e repetidos.
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ALBERTO FIGUEIREDO PIMENTEL nasceu e morreu em Macaé/RJ, 1869 — 1914 foi além de poeta, contista, cronista, autor de literatura infantil e tradutor. Manteve por muitos anos, desde 1907, uma seção chamada Binóculo na Gazeta de Notícias. Publicou novelas, poesia, histórias infantis e contos. Um de seus grandes êxitos foi o romance O Aborto, estudo naturalista, publicado em 1893, e por mais de um século completamente esgotado. Como poeta, participou da primeira geração simbolista chegando a se corresponder com os franceses. Era amigo de Aluísio Azevedo, com quem trocou cartas, enquanto o autor de O Cortiço estava fora do país como diplomata. Poeta, romancista, escritor de literatura infantil, ganhou destaque e se perpetuou nos compêndios da literatura brasileira. A coluna Binóculo, assinada pelo autor na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro, de 1907 até 1914, obteve grande sucesso entre leitores e leitoras, ditando moda, o que faz de Figueiredo Pimentel o primeiro cronista social da capital. Era ele quem tratava das novidades da moda, do bom gosto, do chique em voga em Paris e que deveria ser aqui aclimatado. Obras: Fototipias, poesia, 1893; Histórias da avozinha, conto - somente em 1952; Histórias da Carochinha; Livro mau, poesia, 1895; O aborto, 1893; O terror dos maridos, romance e novela, 1897; Suicida, romance e novela, 1895; Um canalha, romance e novela, 1895.
Fontes:
Alberto Figueiredo Pimentel. Histórias da Avozinha. Publicado originalmente em 1896. 
Disponível em Domínio Público. 
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Mário Rodrigues ( Nosso português de cada dia) “Cabra”

Etimologicamente, cabra significa, segundo todos os dicionários da língua portuguesa, a fêmea do bode.

No dicionário prático ilustrado (Novo dicionário enciclopédico luso-brasileiro publicado sob a direção de Jaime de Seguier, edição atualizada e aumentada por José Lello e Edgard Lello, Porto, 1960), lemos: "Cabra - s. f. (lat. capra) Animal mamífero, da ordem dos ruminantes. Fêmea do bode. Guindaste. Espécie de pequeno peixe avermelhado, também conhecido por cabrita de cabrinra. Fig. Mulher de mau gênio ou que berra muito. Pé de cabra, pequena alavanca de ferro, com uma extremidade bifendida. Cabra-cega, jogo de rapazes em que um deles com os olhos vendados, procura apanhar os outros. Coimbra — Sinete da Universidade. Brasileirismo — mestiço, filho de mulato e negra, ou vice-versa.

Registra o dicionário referido, apenas, o brasileirismo de cabra significando mestiço, mas os nosso dicionaristas definem o termo com inúmeros significados: cangaceiro; guarda-costas; valentão; indivíduo insignificante; mau; imprestável; ordinário; falso; desonesto; bom; leal; de confiança; trabalhador; sabido; enfim, o cabra, tanto pode ser um sujeito da pior espécie como um homem direito no sentido exato do termo.

Cabra bom, diz ainda hoje o "coronel" nordestino ao se referir ao seu "homem" de confiança, pau pra toda obra, capaz de matar e morrer defendendo a própria vida ou a de seu chefe. "Cabra ordinário", diz o mesmo coronel amargurado, quando constata que o capanga em quem depositava tanta confiança, não passava de um medroso ou desleal, que se evadiu à vista do inimigo, deixou de cumprir o "serviço" encomendado, ou passou-se para o adversário, por maior paga, proteção, na hora exata em que seus préstimos eram mais reclamados.

Na região do Nordeste, dependendo do tom em que se emprega o termo, pode a palavra significar homenagem, injúria gravíssima ou adulação e carinho. É muito comum o pai chamar o filho, menino ou rapaz carinhosamente: “cabra, venha cá. Pegue esse dinheiro e vá comprar o que você me pediu”, ou então, encolerizado, carregando a voz, gritar-lhe: “— Cabra, tome jeito, senão dou-lhe uma surra que até o diabo vai ficar com pena de você!”

Mas... qual a origem do termo para significar capanga e mestiço?

Diz-nos o historiador Gottfried Heinshich Handelmann, "doutor em filosofia e docente privado de História Contemporânea na Universidade de Kiel", em sua História do Brasil escrita em 1859, que a chamada "Divisão Auxiliar mandada de Portugal para o Brasil em 1821, com o intuito de forçar o príncipe dom Pedro a obedecer as ordens emanadas das cortes portuguesas, era muito orgulhosa, e, convencida de sua superioridade sobre as tropas do Brasil tudo fazia para provocar os brasileiros e demonstrar-lhes sua condição de inferiores". Acrescenta: "Em parte alguma eram essas relações tão poucos amigáveis como no Rio de Janeiro onde as tropas, de ambos os lados em maior número, se enfrentavam, e onde de contínuo se provocavam reciprocamente com alcunhas. Vangloriavam-se os portugueses de serem os "heróis de Talavera" (Nova Castela), por sua participação naquela batalha; também os brasileiros queriam ser chamados "Pernambucanos" porque haviam auxiliado a abafar a Revolução de Pernambuco; ainda mais usualmente eram os portugueses, por causa de seu modo pesado de andar, chamados "pés de chumbo", contra o que os brasileiros, de andar saltitante, eram escarnecidos com a alcunha de "pés de cabra", ou, como mulatos, com o de "cabrada".

Ora, se sabe que as tropas brasileiras que se bateram pela nossa independência, era composta em sua quase totalidade de "forças irregulares", aliciadas, principalmente entre a gente de cor, que formava o grosso da soldadesca. Os brancos, de "boa família", como se dizia, eram os oficiais e não se misturavam muito com os inferiores, isto é, soldado rasos.

Terminada a guerra de independência, desmobilizada em grande parte a tropa, os "soldados" passaram ao serviço dos políticos e fazendeiros, e, daí, talvez, começasse a ser chamado de "cabra", para diferenciá-lo do soldado regular. É possível que as autoridades do interior hajam aproveitado, como aliás, aproveitaram os serviços desses soldados desmobilizados para formarem milícias, polícias e guardas municipais encarregados de manterem a ordem, chamados pelo povo de "cachimbo" ou "manichupas", termos pejorativos para demonstrar o desprezo do povo a tais indivíduos. O fazendeiro que no Brasil sempre teve homens armados em seu redor, desde os tempos coloniais, para a defesa contra a indiada rebelde; acrescendo que essa tropa particular era composta exclusivamente de mestiços, deve ter achado apropriado o termo para designar sua gente, generalizando-se então a palavra "cabra" como significado de capanga, guarda-costas, cangaceiro. Convém salientar, que Domingos Jorge Velho, o bandeirante vencedor de Palmares, designava sua gente mestiça como tapuias e em carta ao rei, reclamando recompensas pela redução do famoso quilombo, dizia que não havia no mundo soldados mais valentes do que seus "tapuias", desde que comandados por brancos.

Outra hipótese para a origem do termo com o significado referido é a seguinte: Era comum, o indivíduo encarregado de armar uma tocaia para assassinar alguém, espreitar sua vítima de cima de uma pedra a beira do caminho. Avistado o infeliz, essa mesma pedra servia de trincheira e de apoio da arma para a segurança da pontaria.

Então, poderia alguém dizer: "estava em pé numa pedra feito uma cabra" — por analogia ao costume desta andar trepada em pedras.

Assim, talvez, haja surgido o termo, antes mesmo da alcunha atribuída aos divisionários portugueses.

Fontes:
Mário Rodrigues, in sessão “Palhoça”, Revista Jangada Brasil. Outubro 2010 - Ano XIII - nº 141. http://www.jangadabrasil/revista/pa14110.asp.htm. Acesso em 28.12.2012 (site desativado)
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domingo, 16 de novembro de 2025

Asas da Poesia * 129 *


Poema de
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Vila Velha/ES

Remédio ideal

Cada vazio
Existente
em minha alma
Cabe uma partícula
Que completa
Você
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Soneto de
DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Dia Brusco

Plena manhã é um triste lusco-fusco
como se a tarde já tivesse entrado.
Que depressão me traz o dia brusco,
tudo cinza, sombrio, meio enlutado!

As casas vestem-se de um tom pardusco,
tudo parece velho e desbotado…
Inutilmente, em cada canto eu busco
o brilho e a cor de um dia ensolarado.

Adoro o sol. Adoro a chuva mansa
que alegre cantarola na enxurrada
e me recorda os tempos de criança.

Mas dia brusco, seco e carrancudo,
tange meus nervos e eu, mal-humorada,
só vejo sombras de velhice em tudo!
= = = = = = = = =  

Poema de
ANTONIO JURACI SIQUEIRA
Belém/PA

Que Pena...

Já não falo de mim. Não vale a pena
pois a pena que eu sentir do meu penar
é tão vã quanto as penas ressequidas
de um pássaro empalhado e tão inútil
quanto a pena da caneta que secou.

Apenas te direi que sinto pena
das penas que perdi durante o voo
no céu da solidão cumprindo a pena
imposta pela pena algoz do teu amor.
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Trova Popular

Muito vence quem se vence
e muito diz quem diz tudo, 
porque ao discreto pertence
a tempo fazer-se mudo.
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Dobradinha poética (trova e soneto) de
LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DECARLI
Bandeirantes/PR

Doce Olhar

Teu olhar, pura magia,
transmite doçura tanta,
que em mim tira a nostalgia
e qualquer medo suplanta!

Transmite o teu olhar real doçura…
Pergunto-me se existem tais momentos
em que este olhar, despido de candura,
reflete o fel de alguns maus pensamentos.

Aqueles pensamentos de amargura,
que em todos nós evocam sofrimentos,
pois não existe, creio, uma criatura
livre no mundo, sem quaisquer tormentos…

Mas este olhar, que inspira em mim confiança,
fala de amor, de paz e de esperança,
logo afugenta o meu triste pensar.

Volto a te olhar, atenta e embevecida…
Se em tuas mãos coloco a minha vida,
no teu olhar eu quero mergulhar!…
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Poema de
ANTERO JERÓNIMO
Lisboa/Portugal


Na árvore sagrada
mágica mística
berço da Criação
lugar singular
o combatente abrigou a sua fé

Ali, em partidas e chegadas
milhares depositaram as suas preces
invocando o seu deus
orando pelos seus
e pelos irmãos da guerra
que regaram de sangue a vermelha terra

Quão grande 
pode ser a fé do Homem.
Crê-se que a árvore
é uma ponte para o céu.
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Soneto de 
ANTÔNIO OLIVEIRA PENA
Volta Redonda/RJ

Soneto de aproximação

A vida, ao teu redor, vê com alegria;
nos jardins, conta as flores que se abriram;
esquece as murchas, já sem poesia,
e aquelas cujas pétalas caíram.

Retém, do lábio teu, tudo o que é bom,
e as linhas do sorriso do teu rosto;
não te deixes levar pelo desgosto,
nem digas nada em pesaroso tom.

Que saibas rir, malgrado o sofrimento;
não te incomode nunca a noite escura,
tampouco, por teu corpo, as cicatrizes...

Guarda que as nuvens as dissipa o vento,
e que a árvore que mais alcança altura
tem mais fundas, no chão, suas raízes.
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Poema de
VANDA FAGUNDES QUEIROZ
Curitiba/PR

Menino da feira

Menino da feira,
esperto e magrinho,
tão cedo na vida
perdeu seu lazer.

Carreto, moça?
Baratinho, dona!
Posso cuidar do carro, tia?

Menino insistente
pedindo com os olhos
que guardam no fundo
segredos do lar…
(Talvez o pai fugiu…
A mãe leva para fora…
Oito irmãozinhos com fome...)

Menino
sem direitos…
só deveres.
Seus pais, onde estarão?
Talvez você seja filho…
da minha própria omissão.
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Trova Funerária Cigana

A minha alma não morreu,
desfaleceu no transporte,
na ocasião do gemido
que meu irmão deu na morte.
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Soneto de 
GIOCONDA LABECCA
(Campanha/MG, 1931 – 2020, São Paulo/SP)

Aspiração

Se eu pudesse, morrer, morrer olhando,
daqui desta janela bem defronte,
o Céu, a Vargem, a Campina e o Monte,
e junto a mim a minha Mãe orando...

E a natureza toda me embalando
ao som de salmos, murmurando a fonte,
e o sol tépido e morno no horizonte
e sorrateiramente se escambando...

Ver meus irmãos em orações funéreas,
mandando aos Céus em espirais etéreas
a fumaça do incenso, espesso véu...

E eu, vendo a vida plena de esplendores,
dizer, sorrindo nos meus estertores:
— Que tarde azul para subir ao Céu!
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Poema de 
RITA MARCIANO MOURÃO
Ribeirão Preto/SP

A poesia pede silêncio

Poetar é meu jeito de estar sozinha,
esquecer o mundo e suas ameaças.
A poesia pede silêncio, recolhimento.
O silêncio me leva a exorcizar os demônios
que insistem em amordaçar a minha liberdade
de ser e de amar.
A poesia me aproxima de Deus!
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Soneto de 
JOÃO RANGEL COELHO
Juiz de Fora/MG, 1897 – 1975, Rio de Janeiro/RJ

Mãos

As tuas longas mãos alvinitentes,
despetalando rosas ao luar,
são brancas, "como dois lírios doentes"
no lago emocional do meu olhar.

Meu triste amor!... Nas horas mais pungentes
da minha vida boêmia e singular,
as tuas mãos de seda, transparentes,
teceram meu destino, a acarinhar.

Quando partiste, as tuas mãos esguias,
num derradeiro gesto de agonias,
tremularam de manso aos olhos meus

e, com saudade imensa e dolorida,
deixaram para sempre a minha vida
na balada tristíssima do adeus.
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Hino da 
Lapa/ PR

I
Junto a Dulcídio e Carneiro
No cerco da Lapa, um dia,
Mostramos ao mundo inteiro
Que a nossa gente sabia,

Pela justiça e o direito
Lá nos campos de batalha
Pelejar peito a peito
Ao rouco som da metralha

Estribilho:
Que campos verdes, que alegre terra,
Terra mais bela que esta não há:
Quantas riquezas no seio encerra
A linda terra do Paraná!

II
Como é feliz quem caminha,
Assim denodadamente,
Pronto, sempre, em linha,
Gesto firme, olhar em frente.

Bendita seja esta imagem
Da Pátria sonora e bela...
Que orgulho de ter coragem
Para poder defendê-la

Estribilho:
Que campos verdes, que alegre terra,
Terra mais bela que esta não há:
Quantas riquezas no seio encerra
A linda terra do Paraná!

III
Cair no combate e sangue
Dar pela Pátria querida,
Em ondas, o nosso sangue,
Em ondas, a nossa vida,

É uma esplêndida vitória
Que arrebata e que consola:
Dai-nos senhor, essa glória
Dai-nos senhor, essa esmola!

Estribilho:
Que campos verdes, que alegre terra,
Terra mais bela que esta não há:
Quantas riquezas no seio encerra
A linda terra do Paraná!
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Soneto de 
LILINHA FERNANDES
Rio de Janeiro/RJ, 1891 – 1981

A casa onde nasci

Era minha esta casa. Eu a conheço...
Janelas amplas... larga porta... a escada
por onde agora em pensamento desço
para ver como nasce uma alvorada.

O laranjal cheiroso, o mato espesso...
O poço onde era a roupa bem lavada.
No pátio, bem no centro, eu não me esqueço,
a amendoeira por meu pai plantada.

Dava guarda ao portão um jasmineiro
que de flor se vestia o ano inteiro
e hoje está triste e velho como eu.

Casa velha! deixaste de ser minha...
Assim, tudo que amei, tudo que eu tinha,
deixou, há muito tempo, de ser meu!
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França

O leão e o rato

Saiu da toca aturdido
Daninho pequeno rato,
E foi cair insensato
Entre as garras dum leão.
Eis o monarca das feras
Lhe concedeu liberdade,
Ou por ter dele piedade,
Ou por não ter fome então.

Mas essa beneficência
Foi bem paga, e quem diria
Que o rei das feras teria
Dum vil rato precisão!
Pois que uma vez indo entrando
Por uma selva frondosa,
Caiu em rede enganosa
Sem conhecer a traição.

Rugidos, esforços, tudo
Balda sem poder fugir-lhe;
Mas vem o rato acudir-lhe
E entra a roer-lhe a prisão.
Rompe com seus finos dentes
Primeira e segunda malha;
E tanto depois trabalha,
Que as mais também rotas são.

O seu benfeitor liberta,
Uma dívida pagando,
E assim à gente ensinando
De ser grato a obrigação.
Também mostra aos insofridos
Que o trabalho com paciência
Faz mais que a força, a imprudência
Dos que em fúria sempre estão.
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Eduardo Martínez (Santana e o retrato falado)

Santana, como de costume, chegou atrasado à delegacia. Mas nada além do que as quase duas horas de costume. Afinal, ele, segundo as suas próprias palavras, já havia feito muito para a polícia nos seus tantos e tantos anos de casa. Chegou, arrastou seu corpanzil através da portinhola que separava o público dos grandes defensores da ordem pública e, sem causar espanto nos colegas no balcão, foi direto para a cozinha tomar algumas xícaras de café. Obviamente, o Santana merecia essa pausa antes mesmo de começar a fatigante labuta.

Quase uma hora após, lá vem aquele paquiderme se sentar na cadeira ao canto, tentando não ser visto pelas pessoas que aguardavam o atendimento. No entanto, para o seu azar, uma mulher de seus lá trinta e poucos anos se sentou justamente no assento do outro lado da bancada. 

— Quero registrar um boletim!

— O que houve? - o Santana, com o mau humor costumeiro, questionou a mulher.

— Fui estuprada!

Pois bem, o Santana, até mesmo o Santana, tomou um susto e arregalou aqueles olhos, que ficaram ainda mais esbugalhados.

— O quê? Onde foi isso?

— No Rio de Janeiro!

— E por que você não registrou isso lá?

— Porque estão me perseguindo!

O Santana, talvez resgatando aquele famoso tino policial, que na verdade nunca teve, começou a imaginar que a tal mulher não fosse muito boa da cabeça.

— E isso foi onde no Rio exatamente?

— Em Copacabana!

— Onde em Copacabana?

— Na praia!

— Quando foi?

— Domingo passado!

— Domingo? Qual o horário?

— Dez horas da manhã!

— Estava fazendo sol?

— Muito!

— Provavelmente a praia deveria estar cheia de gente.

— Lotada!

O Santana já estava quase erguendo o seu enorme corpo para ir tomar mais algumas xícaras de café. Pretendia deixar aquela maluca ali mesmo falando sozinha. Mas, antes que ele o fizesse, ela disse algo que o deixou curioso.

— Se quiser, posso fazer o retrato do estuprador!

Ele ficou ali com aquela cara de espanto, como que curioso do desfecho da história.

— Você pode me arrumar uma caneta e um papel? - perguntou a mulher.

O Santana se virou para o colega ao lado e disse:

— Me dá um papel e uma caneta aí.

Já com os objetos à mão, a mulher desenhou toscamente um rosto, como aqueles que fazemos quando estamos aprendendo a desenhar ou, como a maioria de nós, continuamos a fazê-los simplesmente para demonstrar a nossa completa falta de talento.

Assim que olhou o que a mulher havia desenhado, o Santana apenas balançou a cabeça. Não havia mais nada a se fazer na delegacia naquele dia e, então, ele, utilizando a própria lógica, foi embora. Já que havia chegado mais tarde, tinha o direito de sair mais cedo.
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Eduardo Martínez possui formação em Jornalismo, Medicina Veterinária e Engenharia Agronômica. Editor de Cultura e colunista do Notibras, autor dos livros "57 Contos e crônicas por um autor muito velho", "Despido de ilusões", "Meu melhor amigo e eu" e "Raquel", além de dezenas de participações em coletânea. Reside em Porto Alegre/RS.

Fontes:
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Humberto de Campos (A Filoxera)

O maior cuidado de Dona Marieta Gomes era a educação daquele filho. Horrorizava-a a ideia de possuir um rebento da sua árvore sem a noção completa da moral católica, e foi com essa preocupação que tomou, ela própria, à sua conta, a educação completa do pirralho.

— Quero que você se torne um homem como seu avô; um homem sério, formado na lei de Deus, e que seja um dia fidalgo da Santa Sé!

E assim ia sendo, mais ou menos. Sem confiança no marido, que podia manifestar informações profanas ao seu Ricardinho, ou saía madame com ele pela cidade, ou pedia ao pai, o cone Souza Viana, que saísse, levando-o a conferências, às exposições, aos lugares instrutivos. E foi em uma visita à Escola de Belas Artes, que o menino, vendo o avô parado diante de um mármore admirável representando uma beleza feminina, em tamanho natural, indagou, vivaz:

— Vovô, que folha é esta?

— É folha de parreira... - informou o ancião, a voz trêmula, puxando-o carinhosamente pelo braço...

Dias depois, passeavam Dona Marieta, o filho, e o padre Corrêa, amigo da família e padrinho do garoto, pelo jardim da grande chácara do Corcovado, quando o reverendo estacou diante de uma videira, cujas folhas haviam sido atacadas pela filoxera. Estacou, arrancou a folha, examinou-a devidamente e ia atirá-la fora, quando o Ricardinho indagou, os olhos muito vivos:

— Dindinho, que bicho é esse?

— É a filoxera, uma moléstia das parreiras... - informou, paciente, o sacerdote.

— E isso só dá nas plantas de verdade? - insistiu o menino, os olhos na cara do padre.

E como ninguém respondesse, por não ter compreendido:

— É porque o vovô quando vai comigo naquele museu, fica um tempo enorme olhando aquelas folhas que estão naquelas mulheres de pedra!
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Humberto de Campos Veras nasceu em Miritiba/MA (hoje Humberto de Campos) em 1886 e faleceu no Rio de Janeiro, em 1934. Jornalista, político e escritor brasileiro. Aos dezessete anos muda-se para o Pará, onde começa a exercer atividade jornalística na Folha do Norte e n'A Província do Pará. Em 1910, publica seu primeiro livro de versos, intitulado "Poeira" (1.ª série), que lhe dá razoável reconhecimento. Dois anos depois, muda-se para o Rio de Janeiro, onde prossegue sua carreira jornalística e passa a ganhar destaque no meio literário da Capital Federal, angariando a amizade de escritores como Coelho Neto, Emílio de Menezes e Olavo Bilac. Trabalhou no jornal "O Imparcial", ao lado de Rui Barbosa, José Veríssimo, Vicente de Carvalho e João Ribeiro. Torna-se cada vez mais conhecido em âmbito nacional por suas crônicas, publicadas em diversos jornais do Rio de Janeiro, São Paulo e outras capitais brasileiras, inclusive sob o pseudônimo "Conselheiro XX". Em 1919 ingressa na Academia Brasileira de Letras. Em 1933, com a saúde já debilitada, Humberto de Campos publicou suas Memórias (1886-1900), na qual descreve suas lembranças dos tempos da infância e juventude. Após vários anos de enfermidade, que lhe provocou a perda quase total da visão e graves problemas no sistema urinário, Humberto de Campos faleceu no Rio de Janeiro, em 1934, aos 48 anos, por uma síncope ocorrida durante uma cirurgia. Além do Conselheiro XX, Campos usou os pseudônimos de Almirante Justino Ribas, Luís Phoca, João Caetano, Giovani Morelli, Batu-Allah, Micromegas e Hélios. Algumas publicações são Da seara de Booz, crônicas (1918); Tonel de Diógenes, contos (1920); A serpente de bronze, contos (1921); A bacia de Pilatos, contos (1924); Pombos de Maomé, contos (1925); Antologia dos humoristas galantes (1926); O Brasil anedótico, anedotas (1927); O monstro e outros contos (1932); Poesias completas (1933); À sombra das tamareiras, contos (1934) etc.
Fontes:
Humberto de Campos. Grãos de Mostarda. Publicado originalmente em 1926. Disponível em Domínio Público. 
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Fernando Pessoa (No Jardim de Epíteto)

O aprazível de ver estes frutos, e a frescura que sai destas árvores frondosas, são — disse o Mestre, — outras tantas solicitações da natureza para que nos entreguemos às melhores delícias de um pensamento sereno. Não há melhor hora para a meditação da vida, ainda que seja inútil, do que esta em que, sem que o sol esteja no ocaso, já a tarde perde o calor do dia e parece que sobe vento do arrefecimento dos campos.

São muitas as questões em que nos ocupamos, e grande é o tempo que perdemos em descobrir que nada podemos nelas. Pô-las de parte, como quem passa sem querer ver, fora muito para homem e pouco para deus; entregarmo-nos a elas, como a um senhor, fora vender o que não temos.

Sossegai comigo à sombra das árvores verdes, em que não pesa mais pensamento que o secarem-lhes as folhas quando vem o outono, ou esticarem múltiplos dedos hirtos para o céu frio do inverno passageiro. Sossegai comigo e meditai quanto o esforço é inútil, a vontade estranha; e a própria meditação, que fazemos, nem mais útil que o esforço, nem mais nossa que a vontade. Meditai também que uma vida que não quer nada não pode pesar no decurso das coisas, mas uma vida que quer tudo também não pode pesar no decurso das coisas, porque não pode obter tudo. E o obter menos que tudo não é digno das almas que solicitam a verdade.

Mais vale, filhos, a sombra de uma árvore do que o conhecimento da verdade, porque a sombra da árvore é verdadeira enquanto dura, e o conhecimento da verdade é falso no próprio conhecimento. Mais vale, para um justo entendimento, o verdor das folhas que um grande pensamento, pois o verdor das folhas, podeis mostrá-lo aos outros, e nunca podereis mostrar aos outros um grande pensamento. Nascemos sem saber falar e morremos sem ter sabido dizer. Passa-se nossa vida entre o silêncio de quem está calado e o silêncio de quem não foi entendido, e em torno disto, como uma abelha em torno de onde não há flores, paira incógnito um inútil destino.
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Fernando Pessoa (1888-1935) foi um dos mais importantes poetas e escritores da língua portuguesa e uma figura central do modernismo em Portugal. Sua obra é notável pela criação de heterônimos — personalidades literárias distintas com biografias, estilos e filosofias próprias — que assinaram grande parte de sua produção. Fernando António Nogueira Pessoa nasceu em Lisboa, Portugal, em 13 de junho de 1888. Após a morte de seu pai e o novo casamento de sua mãe, a família mudou-se para Durban, na África do Sul, em 1896. Ele viveu lá até 1905, onde recebeu uma educação em inglês e começou a escrever seus primeiros poemas nesse idioma. Ao voltar a Portugal, ele se matriculou no curso de Letras, mas logo o abandonou, dedicando-se à literatura e trabalhando em várias empresas como correspondente comercial. Pessoa estreou como crítico literário em 1912, na revista Águia. Introduziu o modernismo em Portugal e tornou-se um símbolo da cultura portuguesa. Apesar de sua importância, Pessoa publicou poucas obras em vida. Seu reconhecimento pleno veio após sua morte, com a descoberta de um grande número de textos inéditos em um baú. 
A criação de diferentes identidades literárias é a característica mais marcante de sua obra. Os mais conhecidos são: Alberto Caeiro: O "mestre" dos outros heterônimos, poeta bucólico e simples, que valorizava a natureza e o empirismo, com uma filosofia antirreflexiva; Ricardo Reis: Poeta clássico e neoclássico, com referências à mitologia greco-romana e uma busca pela tranquilidade interior; Álvaro de Campos: Engenheiro naval, poeta vanguardista e futurista, caracterizado pela exaltação da vida moderna e da velocidade, mas também pelo tédio e pessimismo; Bernardo Soares: Considerado um "semi-heterônimo", autor do Livro do Desassossego, que reflete sobre a vida, o existencialismo e a solidão. 
Embora tenha tido uma vida amorosa intensa, Fernando Pessoa nunca se casou ou teve filhos. Declarava-se um cristão gnóstico, mas não se filiou a nenhuma instituição religiosa, explorando a temática religiosa em seus escritos. Faleceu em Lisboa, em 30 de novembro de 1935, aos 47 anos, devido a uma cólica hepática. 
Fontes:
Fernando Pessoa, O banqueiro anarquista e outros contos filosofais. Disponível em Domínio Público.  
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