domingo, 12 de outubro de 2025

Dicas de Escrita (Uso de aspas ou travessão nos diálogos)


O uso de diálogos em romances e contos é uma ferramenta poderosa para dar vida às personagens, desenvolver a trama e trazer dinamismo à narrativa. Saber como estruturá-los corretamente, utilizando aspas ou travessão, é essencial para garantir clareza e engajamento. Abaixo, explico detalhadamente como usar diálogos, com exemplos e orientações práticas.

A. Diálogos com aspas

Quando usar:
- Esse formato é mais comum em textos de origem anglo-saxônica, mas também é aceito em textos em português, especialmente em estilos literários modernos ou em traduções de obras estrangeiras.

Estrutura:
- As falas das personagens são colocadas entre aspas, geralmente aspas duplas (“ ”). 

- Quando há um verbo de elocução (disse, perguntou, respondeu, etc.), ele pode aparecer antes ou depois do diálogo, separado por vírgula.

Exemplos:

1. Fala simples com verbo de elocução:
   “Você vai sair agora?”, perguntou João.
   Mariana respondeu: “Não, acho que vou ficar em casa hoje.”

2. Fala seguida por uma ação ou descrição:
    “Isso não está certo.” Ela cruzou os braços e encarou-o, séria.
    Ele suspirou, cansado, e disse: “Já conversamos sobre isso tantas vezes.”

3. Falas intercaladas por verbos ou ações:
   “Se eu pudesse voltar no tempo”, disse ele, olhando para o chão, “talvez as coisas fossem diferentes.”
 “Não acredito que você fez isso!” exclamou ela. “Como pôde ser tão imprudente?”

4. Para destacar pensamentos:
   Ela pensou: “Será que ele sabe o que está fazendo?”

Dica: Em diálogos com aspas, evite usar travessões simultaneamente, para não confundir o leitor.

B. Diálogos com travessão

Quando usar:
O travessão (–) é amplamente utilizado em textos literários em português. É o formato mais tradicional e preferido em narrativas clássicas e contemporâneas no Brasil.

Estrutura:
O diálogo começa com um travessão.

Quando há um verbo de elocução, a fala e o verbo são separados por vírgula, e o verbo começa com letra minúscula.

Se o diálogo for interrompido por uma ação ou descrição, usa-se um novo travessão.

Exemplos:
1. Fala simples com verbo de elocução:
   – Você vai sair agora? – perguntou João.
   – Não, acho que vou ficar em casa hoje. – respondeu Mariana.

2. Fala seguida por uma ação ou descrição:
   – Isso não está certo. – Ela cruzou os braços e encarou-o, séria.
   – Já conversamos sobre isso tantas vezes. – Ele suspirou, cansado.

3. Falas intercaladas por verbos ou ações:
   – Se eu pudesse voltar no tempo, – disse ele, olhando para o chão – talvez as coisas fossem diferentes.
   – Não acredito que você fez isso! – exclamou ela. – Como pôde ser tão imprudente?

4. Falas sem verbo de elocução:
    – O que você quer?
    – Só vim buscar minhas coisas.

C. Combinação de diálogos e descrições

Diálogos não precisam ser isolados; eles podem integrar descrições e pensamentos para criar ritmo e profundidade. Veja como fazer isso:

Exemplo:
João se aproximou devagar, hesitante. Olhou para Mariana, que parecia distante, e falou com um tom quase inaudível:
  – Você ainda pensa em nós?
  Ela levantou os olhos e, por um instante, parecia que ia responder. Mas apenas balançou a cabeça, antes de dizer:
  – Não sei, João. Não sei mais o que pensar.

D. Dicas práticas para escrever diálogos envolventes

1. Dê uma voz única a cada personagem:
   Cada personagem deve ter uma forma de falar que reflita sua personalidade, contexto social e idade. Um jovem adolescente não falará como um professor universitário.

2. Evite exposições desnecessárias:
   - Não use os diálogos para despejar informações óbvias. Por exemplo:
     - Evite: “Como você sabe, João, temos que entregar o relatório amanhã.”
     - Prefira: “Já preparou o relatório para amanhã?”, perguntou João.

3. Use verbos de elocução com moderação:
Não exagere nos verbos rebuscados como “vociferou” ou “admoestou”. Palavras simples como “disse”, “perguntou” ou “respondeu” são suficientes na maioria dos casos.

Errado: – O que você quer? – vociferou ele, com os olhos em chamas.
Certo: – O que você quer? – perguntou ele, irritado.

4. Mostre, não conte:
Em vez de dizer que a personagem está nervosa, mostre isso no diálogo ou nas ações:

Errado: – Estou muito nervoso! – disse ele.
Certo: – Onde você estava? – Ele tamborilava os dedos na mesa, sem encará-la.

5. Evite diálogos longos e monótonos:
Intercale falas com ações, pensamentos ou descrições para manter o ritmo. 

Exemplo:
– Você não entende! – Ela levantou-se de súbito, derrubando a cadeira. – Tudo o que eu fiz foi por nós.

E. Quando usar aspas ou travessões?

A escolha depende do estilo do texto e do público-alvo:

Aspas: Preferidas em textos modernos, especialmente quando o autor quer um estilo mais próximo do inglês ou mais minimalista.

Travessões: Mais tradicionais, mantêm o texto alinhado às normas literárias em português e são amplamente aceitos por editoras brasileiras.

Ao dominar o uso de diálogos, você conseguirá enriquecer suas narrativas, tornando-as mais dinâmicas e cativantes!

VANTAGENS E DESVANTAGENS DO USO DOS DOIS FORMATOS

Os dois formatos mais usados para diálogos em narrativas – aspas e travessões – têm suas vantagens e desvantagens. A escolha entre eles depende do estilo do autor, do público-alvo e até do gênero literário. Abaixo, apresento uma análise detalhada para ajudar você a decidir quando e como usar cada formato.

1. USO DE ASPAS (“ ”)

VANTAGENS

1. Estilo Moderno e Internacional:
É amplamente utilizado em textos de língua inglesa e em traduções de obras estrangeiras. Se o objetivo é criar uma obra com apelo internacional ou mais moderna, as aspas podem ser uma boa escolha.

2. Clareza em diálogos curtos:
Aspas são visivelmente delimitadoras de fala, o que facilita a leitura em diálogos curtos e diretos.

Exemplo: “Você está bem?”, perguntou ela.

3. Flexibilidade com descrições:
Combina bem com estilos narrativos onde fala, pensamentos e descrições se misturam.

Exemplo:
“Eu não consigo fazer isso.” Ela suspirou, olhando para o chão. “Mas talvez você consiga.”

4. Leveza visual:
Aspas ocupam menos espaço visual na página, deixando o texto mais fluido e menos “carregado”.

5. Versatilidade em pensamentos ou citações:
Aspas funcionam bem para destacar pensamentos ou trechos de outros textos.

Exemplo: Ela pensou: “Será que ele está mesmo falando a verdade?”

DESVANTAGENS

1. Menor tradição em português:
Apesar de serem aceitas, as aspas não são o formato mais tradicional em obras literárias em português. Leitores acostumados a textos clássicos podem estranhar.

2. Confusão com citações dentro do diálogo:
Pode gerar ambiguidades quando é necessário incluir citações na fala de uma personagem.

Exemplo: “Ele disse: ‘Vou fazer isso amanhã’, mas eu não acredito.”

3. Menor destaque para falas longas:
Em diálogos extensos ou com muitas intervenções, aspas podem dificultar a legibilidade, pois não destacam tanto as falas como o travessão.

2. USO DE TRAVESSÃO OU HÍFEN (–)

VANTAGENS

1. Tradição literária em português:
É o formato mais tradicional nas narrativas em língua portuguesa, sendo amplamente aceito por editoras e leitores no Brasil e em Portugal.

2. Clareza visual em diálogos extensos:
O travessão destaca com mais força as falas das personagens, principalmente em textos com muitos diálogos.

Exemplo:
– Você está bem? – perguntou ela.
– Sim, só estou um pouco cansado.

3. Facilidade em intercalar ações e falas:
- O uso do travessão permite inserir ações ou descrições sem confundir o leitor.

Exemplo:
– Não vou fazer isso. – Ele cruzou os braços, firme. – Você não pode me obrigar.

4. Diferenciação clara entre narrativa e diálogo:
Em textos com muitos trechos narrativos entre as falas, o travessão ajuda a separar com clareza o que é diálogo e o que é descrição.

Exemplo:
João hesitou antes de responder.
– Eu acho que sim. – Sua voz era hesitante.

DESVANTAGENS

1. Visual mais “carregado”:
Como os travessões são visualmente mais marcantes, eles podem dar a impressão de que o texto é mais denso, especialmente em páginas cheias de diálogos.

2. Erros comuns no uso técnico:
Muitos escritores iniciantes confundem o uso do travessão com o hífen (-) ou não sabem como usá-lo corretamente com verbos de elocução e descrições.

Erro: – Eu acho que sim. Disse ele.
Correto: – Eu acho que sim – disse ele.

3. Menos versatilidade com pensamentos:
O travessão é menos usado para destacar pensamentos ou citações, o que pode limitar sua aplicação em narrativas introspectivas.

4. Dificuldade em traduções:
Se a obra for traduzida para outros idiomas, o formato com travessões pode não ser bem recebido, já que outras línguas, como o inglês, preferem aspas.

3. Quando escolher cada formato?

Use aspas (“ ”) se:
- Deseja um estilo mais moderno ou internacional.
- Está escrevendo para um público jovem ou acostumado com literatura traduzida.
- Pretende usar muitos pensamentos ou citações no texto.
- Prefere um visual mais leve e minimalista.

Use travessões (–) se:
- Deseja seguir a tradição literária em português.
- Está escrevendo romances ou contos com muitos diálogos longos.
- Quer clareza visual em obras com maior densidade narrativa.
- Prefere um estilo clássico ou mais formal.

Tanto as aspas quanto os travessões são ferramentas eficazes para destacar diálogos. A escolha depende do estilo que você deseja imprimir em sua obra e da experiência que quer proporcionar ao leitor. O ideal é experimentar ambos os formatos e decidir qual se encaixa melhor na narrativa e no público-alvo. Seja qual for a escolha, consistência é fundamental: “mantenha o mesmo formato ao longo de toda a obra”!

Fontes:
Como escrever? . Plat. Poe, 2025.
Imagem criada por JFeldman

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