quarta-feira, 2 de abril de 2008

Poesia e História

POESIA CLÁSSICA

Sob a ação do processo de evolução cultural das civilizações mais adiantadas, como a grega e a latina, a poesia, essencialmente narrativa no princípio, foi tomando características definidas.

A Odisséia, de Homero, define o poema épico antigo, por uma vinculação às raízes primitivas e populares. Entende-se por épica (do grego epos, canto ou narrativa) a narrativa poética de substrato histórico, considerando-se ambas as obras, a Odisséia e a Ilíada, como a codificação de todos os mitos gregos.

Os poemas homéricos possuem tom eloqüente em seus versos (hexâmetros) e duração das vogais, como se tivessem sido feitos para serem falados em voz alta.

A poesia Lírica nasceu da fusão do poema épico com o instrumento que a acompanhava, a lira. As formas foram então se diversificando; variedades e novas técnicas surgiram, como: a ode, a elegia, os epitáfios, as canções, as baladas e outras mais que se desenvolveriam posteriormente como o soneto, e o madrigal.

Safo (século VI a.C.) é a primeira poetisa conhecida. Sua obra, dedicada às musas, é uma variedade de poesia lírica: odes, elegias, hinos e epitalâmios. Píndaro foi o primeiro grande criador de odes, que conservava uma narrativa heróica, embora já admitisse um canto pessoal, subjetivo, retratando a vida e experiências do próprio autor.

Simônides de Ceos foi um grande criador de epitáfios, poesia em memória dos heróis mortos.

Outra forma lírica derivada é a poesia bucólica, que teve em Teócrito (século III a.C.) um grande cultor. A primeira característica da poesia lírica é a maior liberdade quanto ao número de sílabas dos versos. Ela também foi de grande influência sobre a poesia dramática, que se apresentava com duplo caráter: épico e lírico (objetivo/subjetivo). A poesia dramática mantinha a narrativa épica, mas transfigurava os narradores nos próprios personagens das ações, pintando seus estados emotivos, o que lhe conferia um sabor lírico.

Os três grandes poetas dramáticos da Antigüidade Clássica são: Eurípedes, Ésquilo e Sófocles. Das inúmeras peças que escreveram, somente algumas foram preservadas, sendo ainda representadas em todas as partes do mundo.

Anchieta, em sua campanha catequista, no Brasil do século XVI, usou um subgênero dramático, o auto sacramental, como forma de difusão do ideais cristãos entre os indígenas.

A cultura latina apresenta acentuado mimetismo literário em relação à cultura grega. Virgílio escreveu um grande poema épico, a Eneida, calcado sobre a unidade latina. As Metamorfoses, de Ovídio, também apresentam caráter épico-lírico.

Outro gênero poético de importância é a sátira com destaque para Horário, PércioeJuvenal.

POESIA RENASCENTISTA

Entre os séculos XII e XVI a Europa foi invadida por subgêneros poéticos, de feição popular, que derivavam diretamente das muitas formas de poesia lírica grego-romana. A poesia continuava com o seu substrato narrativo, em poemas longos ou curtos.

Nessa época surgiu Dante Alighieri, já trabalhando outra língua que não o latim e que marchava para a sua estratificação, o italiano. Antes de escrever a Divina Comédia, Dante criou a obra A Vida Nova. Nessa obra trabalha o soneto, ao lado de algumas passagens em prosa, para cantar um amor. Mas o soneto só viria a se difundir em toda a Europa por Petrarca, que de fato exerceria forte influência sobre o renascimento literário, entre os séculos XVI e XVII.

Como não havia mais uma mitologia a codificar, os poetas começaram a por em seus versos um amontoado de citações mitológicas e da história antiga. Tais recursos se refletiriam até o Romantismo e, em pleno século XIX, via literatura portuguesa e francesa, estariam presentes na obra de poetas brasileiros, como Gonçalves Dias, Castro Alves, Fagundes Varela e Álvares de Azevedo.

Os dois grandes poemas épicos posteriores a Grécia e Roma foram as obras: A Divina Comédia, de Dante e Os Lusíadas, de Camões.

Outros poetas tentaram a epopéia, em termos homéricos ou camonianos, como Ronsard, na França do século XVI; ou Bento Teixeira Pinto, ainda no século XVI; ou ainda Milton na Inglaterra setecentista. Ariosto, também na Itália é autor de um grande poema épico, Orlando Furioso. Ainda podem ser observadas outras formas renscentistas: A Canção de Rolando, na França; ou El Cantar de Mio Cid, na Espanha; e Os Nibelungos, na Alemanha.

Ainda como sintoma da revitalização da cultura clássica, aparece William Shakespeare, poeta dramático que transfigurou a tragédia com seu gênio.

POESIA ROMÂNTICA

Entre o fim do século XVIII e início do século XIX surgiu o movimento romântico. Apareceu como uma tendência literária oposta ao espírito clássico. Apesar da preocupação em fugir aos modelos clássicos, os poetas românticos jamais se afastaram da poesia lírica, agora com a exaltação exacerbada de paixões e emoções.

Goethe desfraldou a bendeira na Alemanha, mas a essência do movimento foi definida na França por Chateaubriand, com O Gênio do Cristianismo, de 1802 e por Mme. De Staël, com Da Alemanha, de 1810.

Uma face mais positiva dessa escola foi a que se voltou para a literatura popular, daí a necessidade de que o poeta romântico sentiu em fazer uma poesia que fosse acessível, com motivos populares, e, ao mesmo tempo, que fosse de um nível literário respeitado. Inaugurou, assim, uma nova concepção de forma, mais livre em sua estruturação técnica, o que permitiu a criação de novas medidas para o verso.

Os críticos dão Gonçalves de Magalhães, como o primeiro poeta romântico brasileiro. Araújo Porto Alegre seria o seu companheiro nesse primeiro grupo romântico.

Um pouco recuado no tempo, encontra-se uma espécie de pré-romantismo brasileiro, na segunda metade do século XVIII, com Cláudio Manoel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Alvarenga Peixoto e outros. Por uma adoção mais total aos cânones da nova escola, destacam-se Álvares de Azevedo, produtor de uma poesia na linha byroniana, e Junqueira Freire. Ainda com destaque, Castro Alves e Joaquim de Souza Andrade. O segundo, mais desconhecido, é autor de uma poesia adiantada para o seu tempo, prenunciando o Simbolismo e o Surrealismo.

Na segunda metade do século XIX surgiram na França as escolas literárias que receberam o nome de Parnasianismo e Simbolismo. A primeira procurava reestabelecer o rigor da forma, que o movimento romântico deixara em um segundo plano. Os simbolista irromperam com um espírito romântico ainda mais acentuado. Abandonaram o rigor formal apenas de modo aparente, devido ao aspecto de terem continuado como rimadores e metrificadores.

Permaneciam os dois movimentos, porém, com o mesmo pathos da exacerbação emotiva. No Brasil, mais uma vez, surgiram por influência francesa, pois então já eram lidos Verlaine, Baudelaire, Valéry, Mallarmé, Rimbaud e outros. A trindade brasileira - Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia - que se considerava helenista, compôs inúmeros sonetos.

Cruz e Souza e Alphonsus de Guimaraens representaram os simbolistas no Brasil.

POESIA MODERNA

No início do século XX, a poesia passou por outras mudanças formais. Cansados de filiação a escolas e ideologias, os poetas resolveram criar seus próprios meios, recursos e técnicas.

O verso branco, sem rima ou metro rigoroso, surgiu como revolucionário nessa nova etapa. Mallarmé fora um dos primeiros a abolir a rima, a métrica e até mesmo a sintaxe convencional do verso; em seu poema "Jogo de Dados" exibe os novos recursos.

Graça Aranha, que, já tendo estado na França, tomara contato com as novas experiências, alertaria alguns poetas brasileiros que, mais tarde, em 1922, lançam a Semana de Arte Moderna, rompendo publicamente todos os vínculos com o passado. Mário de Andrade e Oswald de Andrade são as vozes iniciais.

Não só os temas brasileiros, como também a linguagem coloquial, servem de matéria prima aos inovadores. Cada poeta traz a sua contribuição ao novo movimento, como Cassiano Ricardo, Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade, os mais altos momentos da poesia brasileira anterior a 1945.

A reação de Mallarmé, já no fim da vida, contra sua própria posição artística, fez que sua obra ficasse dividida em duas fases, a simbolista e a espacial. Ao quebrar o verso, verifico que o espaço em branco da página poderia ser usado não só como simples suporte gráfico, mas também, e principalmente, como material orgânico.

Apollinaire também verificaria a importância da quebra do discurso. Pertencente a um grupo de poetas chamados dadaístas, usaria o caligrama, palavras soltas e até letras, procurando figurar a idéia central do poema.

No Brasil, os primeiros poetas que se interesseram pela palavra em si, como signo concreto, foram Oswald de Andrade, na fase de 1922, e João Cabral de Mello Neto, da chamada "Geração de 1945". Não se entregaram à poesia espacial, mas seu discurso é concreto e essencial, sem derrames subjetivistas.

Um grupo de escritores paulistas lançou, em 1956, a I Exposição Nacional de Arte Concreta. Foram eles: Décio Pignatari, Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Ferreira Gullar. A poesia concreta receberia, ainda no Brasil, a adesão de poetas de fases anteriores, como Cassiano Ricardo e Manuel Bandeira.

Os grupos paulista e carioca, por uma discordância teórica, acabariam por se separar, insurgindo-se o segundo contra o cerebralismo de alguns poemas do primeiro, e defendendo a permanência do subjetivismo na poesia, como uma dimensão maior da experiência humana. O fato é que as experiências de uma poesia sem verso continuam como sintoma de uma nova linguagem poética.

Fonte:
http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/poesia-e-historia/poesia-e-historia.php

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