quarta-feira, 2 de abril de 2008

A Poesia

POESIA

Poesia é forma de expressão literária que surgiu simultaneamente com a Música, a Dança e o Teatro, em época que remonta à Antiguidade histórica. Na própria fala - fruto da necessidade de comunicação entre elementos de uma comunidade primitiva - estão as raízes poéticas. Sabe-se que a comunicação imediata entre duas pessoas se dá pela palavra e pelo gesto, que estão tanto mais intimamente ligados quanto mais primitivo for o grupo. O gesto complementa sempre a fala, na proporção em que esta é limitada em sua inteligibilidade. Assim é que os gestos foram marcando o tom e o ritmo das palavras, até a caracterização individual dos primeiros contadores de seus feitos (caçadas) e dos feitos de sua tribo (guerras). A saliência cada vez maior do indivíduo que contava sobre a comunidade que o ouvia, acarretou a procura de fins artísticos em relação narrativa.

O primeiro valor artístico destacável das narrativas primitivas foi o ritmo, a música da palavra já cantada ou simplesmente articulada. E até nas revoluções mais radicais das formas poéticas o ritmo continua a ser o elemento-chave da expressão. É certo que a motivação rítmica varia entre o passado e o presente, como também sua perspectiva imediata: a fonética. Com o desenvolvimento cultural, os aspectos primários do ritmo e do som começaram a adquirir cores intelectuais, indivíduos que pensavam não mais em função estrita dos problemas da comunidade. Novas sugestões rítmicas foram aparecendo e permitindo à narrativa constituir-se em formas fixas.

Essência da Poesia - Ensaístas e filósofos já se preocupavam então com a essência da poesia, numa tentativa de desligá-la da matriz onde fermentara com outras expressões, que também foram conquistando autonomia e passando, por características afins, à qualidade de gêneros. A poesia, ligada à estrutura da narrativa, é a expressão artística que mais discussões tem suscitado em relação à sua essência.

Platão, relativamente próximo às formas primitivas, classificou-a entre as artes representativas, ou artes plásticas, ao lado da dança e do teatro. Entre o filósofo grego e os modernos estudos da ensaísta norte-americana Susanne Langer há uma longa escala interpretativa. Para ela, a poesia não é mais representativa, pois desvinculou-se da preocupação de imitar a natureza. O inglês Herbert Read chega a conclusões semelhantes, quando estabelece a diferença entre poesia e prosa: "Na prosa, as palavras implicam, geralmente, a análise de um estado mental, ao passo que na poesia as palavras aparecem como coisas objetivas, que mantêm uma definida equivalência com o estado de intensidade mental do poeta."

O filósofo alemão Heidegger, ao procurar a essência da poesia em Holderlin, não afastou a possibilidade de ser ela conceitual e, ao mesmo tempo, lírica. De fato, é constante poética através dos tempos, o aspecto lírico, presente, inclusive, na obra dos grandes épicos, como em Homero, nas cenas de amor de Circe ou como em Camões, nas cenas do Adamastor e de Inês de Castro (Os Lusíadas). Por outro lado, Goethe sempre considerou a poesia como impossível de ser analisada, por se tratar de algo demoníaco.

Um ensaísta brasileiro, Júlio Braga, procurou também situar a essência poética no trabalho Conceituação Dual do Conhecimento, em capítulo que leva o subtítulo de "Conceituação Dual da Linguagem". Para ele, a poesia é uma arte gráfica, assentada num suporte neutro. Ao dividir todas as expressões artísticas em gráficas e poéticas, salienta a natureza dual dessa divisão e conclui: "Uma vez descoberta a essência da linguagem gráfica, ela reencontra seu instrumento autêntico, a palavra, com toda a sua extensão para o logos: verbal, escrita, visual, mímica, prática, filosófica, épica, dramática, coreográfica, mitogênica, cosmogônica, etc". Esses são os veículos preferenciais da linguagem gráfica, como diria o escritor, incluindo assim toda forma poética conhecida até agora. Julio Braga, entretanto, não está sozinho em seu ponto de vista, quando pensa na Música como a única expressão poética autêntica. É ainda Susanne Langer que, estudando os signos e símbolos, situa os limites últimos da experiência muito além da teoria uma vez que "as coisas inacessíveis à linguagem podem possuir suas formas específicas de concepção, ou melhor: suas formas não discursivas, cumuladas com possibilidades lógicas de significados, fundamentam a significação da música".

TIPOS DE POESIA

Os poetas têm escrito poemas de vários tipos. Dois deles, entretanto, são considerados os principais: o poema lírico e o poema narrativo. Alguns críticos e ensaístas acrescentam, como um terceiro tipo, o poema dramático.

POEMA LÍRICO

é geralmente curto. Muitos carregam grande musicalidade: ritmo e rima às vezes os fazem parecer canções. No poema lírico o autor expressa sua reação pessoal ante as coisas que vê, ouve, pensa e sente. Alguns teóricos incluem nesse tipo de poesia o poema satírico. Para conhecer os vários tipos de poesia lírica.

POEMA NARRATIVO

Conta uma história e geralmente é mais extenso que os outros. O poeta apresenta os ambientes, os personagens e os acontecimentos e lhes dá uma significação. Um exemplo de poema narrativo é Os Lusíadas, de Luís de Camões. As epopéias e as baladas estão entre os principais tipos de poesia narrativa. Costumamos pensar que as fábulas são trabalhos em prosa, mas muitas delas foram escritas originariamente como poemas narrativos. Para maiores informações sobre essas formas poéticas.

O POEMA DRAMÁTICO

Assemelha-se ao poema narrativo porque também conta uma história e é relativamente longo. Mas, no poema dramático, essa história é contada através das falas dos personagens. As peças de teatro escritas em verso constituem forma de poesia dramática. Em sentido amplo, também pode ser considerado um exemplo o "Caso do Vestido", de Carlos Drumonnd de Andrade. Através de uma suposta conversa entre mãe e filhas, o leitor acompanha uma história de amor e traição e tem os elementos para reconstituir o caráter e os sentimentos dos personagens principais.

COMO O POETA ESCREVE

Para transmitir idéias e sensações, o poeta não se apóia unicamente no significado exato das palavras e em suas relações dentro da frase. Ele utiliza sobre tudo os valores sonoros e o poder sugestivo dessas mesmas palavras combinadas entre si.

Do ponto de vista de sua forma, a poesia caracteriza-se pela existência de versus (linhas que constituem o poema). No texto em verso, as linhas de palavras são tão extensas quanto o poeta o deseje. No texto em prosa, elas têm o tamanho que a página ou coluna que as contém comporta. Quem lê versos sente um ritmo mais ou menos regular, diferente do ritmo da prosa. Os versos podem ou não ser reunidos em estrofes, grupos de dois ou mais versos. A rima (repetição de sons existentes no final dos versos) é própria da poesia, embora não indispensável.

Além disso, o poeta faz uso daquilo que as palavras podem sugerir ao leitor. Esse efeito sugestivo das palavras é obtido através dos sons que elas têm e, sobretudo, das diversas imagens, ou figuras de linguagem, que o autor for capaz de criar. Em suma, a poesia resulta da combinação sensível e inteligente de todos esses aspectos da linguagem.

VERSO E MELODIA

Os poetas modernos usam tanto o verso metrificado quanto o verso livre. O verso metrificado, isto é, que obedece a um esquema métrico, a uma espécie de "compasso" regular, é o tipo mais antigo e mais comum. Um poema em verso livre, como o de Cecília Meireles, não tem um esquema métrico regular.

Para se identificar que tipo de verso o poeta usa: basta ler em voz alta algumas linhas do poema. Se ele revela uma "batida" regular, um ritmo constante, isso significa que tem um esquema métrico e, portanto, está escrito em versos metrificados. Em caso contrário, trata-se de um poema em verso livre.

Assim que o leitor percebe o esquema métrico, o tipo de construção do poema, espera que ele continue regularmente até o fim.

Mas a melodia de um poema não reside propriamente em sua métrica. Ela resulta do uso que o poeta faz do esquema escolhido, e da liberdade que ele se permitir. O poeta encontra sua forma própria, mas não se torna escravo dela. Quando você lê ou ouve um poema, espera certa regularidade na cadência. Às vezes, entretanto, é agradavelmente surpreendido por algumas variações. Como nos poemas de João Cabral de Melo Neto.

OS SONS DAS PALAVRAS

Assim como um compositor aproveita-se dos sons dos diferentes instrumentos e do contraste entre notas graves e agudas, o poeta obtém efeitos musicais e significativos utilizando os diversos sons de que se compõem as palavras. Por exemplo, um verso em que existam muitas vogais abertas, como a , é, pode lembrar ao leitor um clima de alegria e luminosidade; a predominância de sons fechados r, ô, pode sugerir uma atmosfera pesada. É claro que o poeta não usa mecanicamente esses recursos, como se fossem ingredientes de uma receita. O bom resultado dependerá, em última análise, de sua sensibilidade. A utilização dos efeitos sonoros das palavras é mais conhecida através da rima e da aliteração.

A rima, num paralelo com a música, já foi chamada de "harmonia do verso". Em principio, ela é agradável ao ouvido. Isso, por si só, já a justificaria. Mas, além desse aspecto, a rima pode ajudar a constituir o ritmo do poema, sobretudo na poesia clássica, onde assinala o final do verso. Aliás, as palavras rima e verso provêm do latim rhytmus, originado do grego rhythmós, "movimento regulado e compassado, ritmo".

A excessiva preocupação com a rima, sobretudo no parnasianismo, levou muitos poetas a forçarem sua expressão e caírem num formalismo de pouco significado. Hoje em dia, os poetas usam indiscriminadamente versos rimados e versos brancos.

A aliteração é uma repetição de sons consonantais dentro do verso, como neste exemplo se pode ver em "O Navio Negreiro", de Castro Alves: "Auriverde pendão de minha terra;/que a brisa do Brasil beija e balança."/. A aliteração pode ser usada para gerar eufonia (efeito sonoro agradável) ou para imitir sons ou ruídos naturais.

IMAGEM E PINTURA

O poeta não trabalha apenas com a melodia da língua, mas também com as imagens e cenas que lança à mente do leitor. Às vezes, ele faz quase a pintura de uma cena, como neste início de "O Banho", de Ribeiro Couto:

Junto à ponte do ribeirão
Meninos brincam nus dentro da água faiscante.
O sol brilha nos corpos molhados,
Cobertos de escamas líquidas.

Mas o poeta não tem que limitar-se às coisas que podem ser vistas. Muitas vezes, para melhor comunicar o que pretende, ele sugere sons, movimentos, perfumes -- através de imagens bastante fortes. Em "Mormaço", Guilherme de Almeida, não é à toa que palmeiras e bananeiras têm "ventarolas"e "leques"; que "(...) as taturanas escorrem quase líquidas na relva que estala como um esmalte"; e que "--- uma araponga metálica --- bate o bico de bronze na atmosfera timpânica". O conjunto do poema transmite ao leitor a sensação de calor, desconforto e impossibilidade de sonhar sob uma tal temperatura. Ao chamar a araponga de "última romântica", Guilherme de Almeida está ironizando, pois nada existe de menos romântico que o canto seco e agressivo desta ave.

PENSAMENTO E SENTIMENTO

Às vezes o poeta lida com idéias e emoções complexas, mesmo através de assuntos aparentemente simples. A "Morte do Leiteiro", de Carlos Drummond de Andrade, fala de uma situação comum -- a entrega do leite --- em linguagem bastante acessível. Mas, ao terminar a leitura, sentimos que o poeta deu a essa situação um significado muito mais amplo. Drummond transforma o que não passaria de uma cena policial --- confundido com um ladrão, o leiteiro é morto -- num retrato das diferenças sociais entre as pessoas, da violência da vida urbana e da insegurança dos ricos, preocupados apenas em defender suas propriedades.

SISTEMA DE VERSIFICAÇÃO

Através da história, foram criados vários sistemas de versificação, devido às diferenças entre as culturas e as línguas. Os versos que conhecemos na poesia de língua portuguesa -- metrificados e livres, rimados e brancos, assim como as combinações entre esses tipos -- constituem apenas alguns exemplos desses sistemas. Os primeiros hebreus escreviam numa espécie de padrão de frase semelhante aos versos livres das literaturas posteriores. Os antigos gregos desenvolveram versos quantitativos. Esses versos eram baseados na quantidade, isto é, duração das sílabas, e não em seu número, como em português e francês, de acordo com o ritmo de sua língua. Os anglo-saxões escreveram estrofes de quatro versos cujo ritmo se baseava em aliterações. Os poetas medievais franceses já contavam as sílabas como base rítmica dos seus versos e usavam assonâncias (rimas em que coincidem apenas as vogais, a partir da última vogal tônica, apoiadas em consoantes diferentes. Os poetas franceses posteriores criaram esquemas de rimas bastante elaborados. Povos como os hindus, os japoneses e os persas inventaram vários outros sistemas de versificação. Uma famosa forma poética japonesa, o haicai ou haiku, compõe-se de apenas dezessete sílabas, distribuídas em três linhas. À diferença da poesia ocidental, o haicai não possui rima nem ritmo.

Fonte:
http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/poesia-e-historia/poesia-e-historia.php

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