Ah, Tempo, adia o futuro, modera o passo, demora!
E eu te prometo — até juro —
pagar-te juros de mora.
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Carente do teu abraço,
se a lembrança estreita o cerco,
aceito a queda de braço
com tua ausência... mas perco!
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Estas rugas em meu rosto,
mais que vestígios da idade,
são trilhas do meu desgosto
onde passeia a saudade.
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Feito folha solta ao vento,
horizontes eu transponho
e me alteio ao firmamento
porque vivo ao léu do sonho...
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Foi tanta recordação
num encontro inesperado
que, num "flashback" de emoção,
reprisamos o passado.
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Horas batem feito açoite,
quando a espera me angustia...
No talvez da quase noite,
não vieste... e é quase dia...
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Já vislumbro meu poente,
mas não receio a partida,
porque a morte é tão somente
o alvorecer de outra vida.
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Mãe, tuas simples sentenças,
em minha infância enraizadas,
ainda norteiam crenças
e escolhas de encruzilhadas.
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Mar agitado e bravio
foi teu amor sem ternura,
só me deixando o vazio
e as salinas da amargura.
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Meu coração é sem dono
— tapera à beira da estrada —
por onde, em seu abandono,
só passa o Tempo... mais nada!
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Mil vezes causou-me dor,
mas pelo amor sou movida,
porque renúncia ao amor
é renúncia à própria vida!
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Nas peças que a vida monta,
há milênios em cartaz,
que o tema "Guerra" — sem conta —
de lugar ao tema "Paz"!
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No adeus disfarçamos, sábios,
risos e lágrimas: jeito
de mascarar com os lábios
o pranto dentro do peito.
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Pelas veredas que trilho,
buscando teu coração,
meu coração andarilho
deixa rastros de paixão...
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Pode o "sim" gerar bonança,
e o "não" matá-la de vez.
Que seria da esperança
se não houvesse o "talvez"?
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Pode ser uma utopia,
mas persigo a identidade,
que espero alcançar um dia,
entre o sonho e a realidade.
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Quando o teatro frequento,
meus dias são mais risonhos:
a ribalta é encantamento,
caleidoscópio de sonhos...
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Recuse ao ócio guarida
que o labor Deus abençoa.
Paga um preço o boa-vida:
tem vazia a vida "boa"...
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Se nas trovas eu consigo
juntar meus sonhos dispersos,
o nosso amor, que bendigo,
não contenho em quatro versos...
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Sertanejo, quantas falhas,
na vida, a te flagelar!
De sol a sol tu trabalhas,
mas ao sol não tens lugar!
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Solidário com meu pranto,
sem ti, nosso lar vazio
tornou-se, por desencanto,
morada do desvario.
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Tanto foi teu desamor,
após nossa desavença,
que mascarei minha dor
com o véu da indiferença!
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Trouxe o amor tal claridade
a meu mundo antes tristonho
que hoje minha realidade
é a realidade de um sonho!
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Zeloso dos filhos Seus,
legou-lhes um bem fecundo:
Poesia, requinte de Deus,
para adornar nosso mundo.
Fonte: Wanda de Paula Mourthé. Com…passos de emoções. Belo Horizonte: Flux, 2013. Enviado pela trovadora.