quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

J. G. de Araújo Jorge (A Poesia Popular)

Somos felizmente um povo inteligente e de grande sensibilidade. Se querem um exemplo da inteligência do povo brasileiro, de sua filosofia, do seu senso de humor, procurem observar as frases que comumente se encontram escritas nos para-choques ou na própria carroceria dos caminhões que trafegam pelas estradas. 

São de uma graça e de uma acuidade, às vezes profundas, em sua simplicidade. Sozinhos, viajando durante dias, longe do lar e de seus amores, os motoristas de caminhões são como os marinheiros. Mas a permanente presença da terra, tira-lhes á saudade aquele tom de grande lirismo do homem do mar, realmente desligado de tudo, cercado de silêncios e horizontes. E espouca em seus espíritos a sátira, a alegria boêmia dos que fazem a vida de aventuras, em prazeres de cada momento.

Já pensei em comprar um caderninho para anotar as frases que leio nos para-choques dos caminhões. Tenho a convicção de que acabaria por ter um verdadeiro retrato do espírito popular, um verdadeiro “compêndio” dessa filosofia de vida, tão interessante e cheia de sutilezas, do homem da rua.

Uma das trovas que compõem o meu “Cantigas de Menino Grande” eu a fiz, aproveitando um pensamento de uma dessas frases que vi num caminhão, quando dirigia meu carro rumo a Friburgo. Dizia o seguinte

“Eu dirijo, Deus conduz”.

Nada mais, simples e profundo. E pensando no que acabara de ler fui arrumando mentalmente os outros versos, já que o pensamento vinha num verso de sete sílabas. No meio da serra a quadrinha estava pronta:

No meu carro vou tranquilo
tenha a estrada sombra ou luz,
pois bem sei que ao dirigi-lo:
- Eu dirijo, Deus conduz."

Numa crônica que preparei para volumes anteriores desta coleção, afirmei:

“Do mesmo modo que os provérbios e adágios representam o pensamento do povo que se vai cristalizando através do tempo, as trovas, são a sua alma. E os poetas, tocados pela “graça” das trovas, os intérpretes dessa alma.” 

O povo fala em versos, sem sentir e, instintivamente, nos seus provérbios e sentenças, procura a rima, que é um elemento oral de enfeite e de memorização mais fácil. Observem os provérbios. este, por exemplo, bem conhecido:

“Água mole em pedra dura
tanto bate até que fura.”

Dois. versos de sete sílabas, rimando.

E este outro:

“Ha sempre um chinelo velho
Pra um pé doente e cansado.”

Glosei, também, numa trova:

O tal ditado é um conselho,
não te mostres desolado…
“Há sempre um chinelo velho
Pra um pé doente e cansado…”

Nem tal fato é de se estranhar, quando sabemos que as línguas neolatinas esgalharam-se do tronco secular do velho latim, na língua poética, dos trovadores medievais, nas suas cantigas.

Sobre trovas populares e anônimas, escrevi, na crônica citada :

“Uma trova, (ou como a chamam também, uma quadrinha) é tanto mais expressiva quanto maior o grau de fidelidade ou de identidade do poeta com o sentimento popular. Cai então, pode-se dizer, no gosto do povo, que a recolhe, decora e divulga, e sua expansão se faz de modo permanente, extenso e profundo.

Seu processo de popularização é tamanho, que ela acaba desgarrada de quem a criou, filha de ninguém. Ou melhor: lhe arranjam um pai, lhe atribuem uma paternidade, ou várias, o que vem a ser a mesma coisa. É uma trova anônima.

Glória efêmero e paradoxal. No momento mesmo em que a atinge, o trovador a perde. E são quase sempre, as maiores trovas, aquelas que acabam no anonimato, emaranhadas em meio a dúvidas e suposições. Tratando-se de pequenas composições poéticas, facilmente reproduzíveis, acontece com as publicações o mesmo que se dá com a difusão oral. Jornais e revistas de toda a parte, álbuns e cadernos de poesia as divulgam com autores diversos, tornando cada vez mais difícil a identificação, e mais penosa a pesquisa.”

“A Ilíada” e a “Odisseia”, memorizadas durante séculos pelo povo grego, e mandadas escrever por Psístrato, guardaram a glória de Homero, ainda que lendária, intacta. Eram grandes poemas. Mas as pequeninas trovas, estilhaçam qualquer glória, e torna-se impossível identificar através dos tempos, os nomes dos seus verdadeiros autores, quando elas caem “na boca do povo”
* * *

Mas, trovas populares e anônimas, não são apenas as trovas “eruditas” dos grandes poetas, as trovas literárias, que um dia se perdem no rio da grande popularidade, afogando seus autores. São também as trovas rústicas e imperfeitas que nascem da alma do povo, na boca dos cantadores, dos violeiros, dos sanfoneiros, dos poetas populares anônimos que enxameiam pelo interior do Brasil e de Portugal. Verdadeiros filões de ouro de nossa sensibilidade e de nosso espírito.

Na sua obra, farto acervo de folclore e poesia, “Mil quadras brasileiras”, ( “Mil quadras populares brasileiras” (Contribuição ao folclore). Recolhidas e prefaciadas por Carlos Góis. (Catedrático do Ginásio Mineiro, membro da Academia mineira de Letras). F. Briguet & Cia., Editora. Rio de Janeiro. 1916).

Carlos Góis observa: 
“É no interior do país, longe do bulício convencional e cerimonioso das grandes cidades, onde mais intensamente floresce a poesia popular. Quem se internar no sertão do Brasil, verá, na razão direta da distância dos grandes centros populosos, a expandir-se a alma do povo em expressões rítmicas de um cunho espontâneo, subitâneo, flagrante. Só quem como nós já assistiu de viso, aos descantes ao som da viola e do violão, poderá aquilatar do grau de fluência e espontaneidade que jorra da musa popular”.

Ainda recentemente, aqui no Rio, tive a oportunidade de conhecer os irmãos Batista, (Otacílio e Dimas), exímios cantadores e improvisadores do Nordeste (de Campina Grande), e outros violeiros e repentistas, alagoanos e baianos. Durante horas, com seus violões ao peito, lançam-se reciprocamente desafios, e os versos vão brotando em catadupas, com uma espantosa facilidade, ricos de verve e imaginação.

Rodolfo Cavalcanti, que é, na Bahia, o Presidente do Grêmio Brasileiro de Trovadores, é um poeta popular típico do Norte. Homens simples, emotivos, sem quase instrução, com uma poesia fácil e “bem falante”, compõe longos poemas a propósito de tudo. Publica-os em folhetos que ele mesmo vende nas ruas de Salvador. E vive disto, como verdadeiro trovador de seu tempo.

Já se começa a dar valor também a essa manifestação literária do povo brasileiro. Os próprios críticos de gabinete, desligados até agora das raízes de nossa formação literária voltam-se para o estudo e a observação de extraordinário manancial de riquezas. O atual surto de trovadores, verdadeiro movimento ,de incentivo à poesia popular, obriga-os a reconsiderarem suas atitudes puramente intelectuais, e a perceberem o que há de autêntico e real nessa manifestação -de nossa sensibilidade e de nossa cultura.
Não foi sem razão, que defini:

Ó trovador: professor
de poesia popular!
Com suas trovas de amor
o povo aprende a cantar!

Fonte:
J. G. de Araújo Jorge. Cem trovas populares. Coleção Trovadores Brasileiros.

Arthur Thomaz (A pulguinha discreta)

O fato de meu avô e meu pai serem fanáticos torcedores do Barcelona mostra o porquê de meu nome ser Messi. Mamãe afirma até hoje que fui a mais linda pupa. Disputei como todos de minha idade o quesito salto em altura.

Meu avô, já com muita idade, sempre me aconselhou a ser discreto e não fazer como meu pai, que assistindo a um jogo do Barcelona, irritou-se com um gol do Real Madrid e picou a pessoa/hospedeiro, e que incomodada, desferiu-lhe um tapa fatal.

- Seja discreto, saiba a hora de molestar o hospedeiro, era a sua frase preferida.

Seguindo esta máxima, cresci, desenvolvi e tornei-me uma pulga forte, destacando-me nos esportes e na vida social.

Por essas coincidências do destino, estava eu sugando tranquilamente o sangue de um cachorrinho em um parque da cidade, quando um famoso jogador de futebol aproximou-se, gostou do cãozinho, levou-o para casa e o adotou.

Cheguei assim à Catalunha sem nem precisar pagar a passagem. Passei inúmeras vezes pela linda Barcelona e arredores. Mas já estava começando a me cansar desta monotonia, quando em um churrasco, troquei a cabeleira oxigenada do meu hospedeiro pela barba ruiva de outro jogador.

Vovô, quando me viu na televisão durante um jogo, telefonou-me e disse que era o tal Messi, meu xará. Ficou empolgado e pediu que eu tirasse uma selfie. Depois, publicou no PulgaNews, um famoso tablóide.

Fiquei muito famoso e pulei da barba portenha para a gaforinha de um zagueiro, que havia sido dispensado pelo clube e que retornaria ao país. Com o lema “se é bom para o Messi, é bom para todos”, ganhei fama. Recebi altos cachês das TV’s para entrevistas e participações em talk shows.

Transei com todas as PP (Pulguinhas Periguetes) que queriam aproveitar da minha fama para ascender nas carreiras. Mas quando estava prestes a ceder à tentação de entrar na política, veio um enérgico convite de meu avô para visitá-lo.

Recebeu-me com um cartaz no colo, com a palavra DISCRIÇÃO. Conversamos longamente e ele me fez ver que a exposição demasiada me levaria à desgraça e logo seria esmagado por um tapa do sistema.

Hoje, gozo da tranquilidade de um canil que adquiri, em um pacato bairro, onde todos os cães têm apetitosos sangues do tipo “O-”.

Fonte> Arthur Thomaz. Leves contos ao léu: imponderáveis. Volume 3. Santos/SP: Bueno Editora, 2022. Enviado pelo autor 

Caldeirão Poético LXXX


Augusto dos Anjos
Cruz do Espírito Santo/PB, 1884 – 1914, Leopoldina/MG

ASA DE CORVO

Asa de corvos carniceiros, asa
De mau agouro que, nos doze meses,
Cobre às vezes o espaço e cobre às vezes
O telhado de nossa própria casa...

Perseguido por todos os reveses,
É meu destino viver junto a essa asa,
Como a cinza que vive junto à brasa,
Como os Goncourts, como os irmãos siameses!

É com essa asa que eu faço este soneto
E a indústria humana faz o pano preto
Que as famílias de luto martiriza...

É ainda com essa asa extraordinária
Que a Morte — a costureira funerária —
Cose para o homem a última camisa!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 
Cláudio Manoel da Costa
Mariana/MG, 1729 – 1789, Ouro Preto/MG

ONDE ESTOU?

Onde estou? Este sítio desconheço:
quem fez tão diferente aquele prado?
Tudo outra natureza tem tomado;
e em contemplá-lo, tímido esmoreço.

Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
de estar a ela um dia reclinado;
ali em vale um monte está mudado:
quanto pode dos anos o progresso!

Árvores aqui vi tão florescentes,
que faziam perpétua a primavera:
nem troncos vejo agora decadentes.

Eu me engano: a região esta não era;
mas que venho a estranhar, se estão presentes
meus males, com que tudo degenera!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 
Jorge de Lima
(Jorge Mateus de Lima)
União dos Palmares/AL, 1895 – 1953, Rio de Janeiro/RJ

O ACENDEDOR DE LAMPIÕES

 Lá vem o acendedor de lampiões de rua!
Este mesmo que vem, infatigavelmente,
Parodiar o Sol e associar-se à lua
Quando a sobra da noite enegrece o poente.

 Um, dois, três lampiões, acende e continua
Outros mais a acender imperturbavelmente,
À medida que a noite, aos poucos, se acentua
E a palidez da lua apenas se pressente.

 Triste ironia atroz que o senso humano irrita:
Ele, que doira a noite e ilumina a cidade,
Talvez não tenha luz na choupana em que habita.

 Tanta gente também nos outros insinua
Crenças, religiões, amor, felicidade
Como este acendedor de lampiões de rua!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 
Lêdo Ivo
Maceió/AL, 1924 – 2012, Sevilha/Espanha

ACONTECIMENTO DO SONETO

À doce sombra dos cancioneiros
em plena juventude encontro abrigo.
Estou farto do tempo, e não consigo
cantar solenemente os derradeiros

versos de minha vida, que os primeiros
foram cantados já, mas sem o antigo
acento de pureza ou de perigo
de eternos cantos, nunca passageiros.

Sôbolos rios que cantando vão
a lírica imortal do degredado
que, estando em Babilônia, quer Sião,

irei, levando uma mulher comigo,
e serei, mergulhado no passado,
cada vez mais moderno e mais antigo.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 
Luís Vaz de Camões
Coimbra/Portugal, c. 1524 – 1580

SONETO 5

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence o vencedor,
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade;
Se tão contrário a si é o mesmo amor?
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 
Miguel Russowsky
(Miguel Kopstein Russowsky)
Santa Maria/RS (1923 – 2009) Joaçaba/SC

A VIDA É URGENTE

Se sabes que te quero e sou por ti bem quisto,
o “depois” não importa. O tempo nos dirá.
Viver!... Sentir o amor, é urgentíssimo já!
Não somes ao anseio uma descrença, insisto!

Felicidade... Instante azul!... Apenas isto.
Deixa então, o porvir, às leis do “Deus dará”.
Não penses que o amanhã necessite alvará
para dar luz ao sol, se tudo está previsto.

Aproveitemos agora os encantos da vida,
antes que o fado hostil os sonhos desarrume,
ou às desilusões os teus enganos somes!

A existência esvai-se em célere corrida...
Um dia eu serei pó e tu serás perfume
e o vento soprará sem lembrar nossos nomes.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 
Neide Rocha Portugal
Bandeirantes/PR

ÊXODO MENTAL

Ficou distante a roça… E, com a venda,
entre a mobília que cortava a estrada
se avolumava o pó, em fina renda,
sobre a “senhora” reduzida ao nada.
.
Noutro lugar, levada à estranha tenda,
não mais se lembra nem da filharada.
Dessa memória, que hoje é pura lenda,
recordou-se de mim… E, na empreitada,
.
tentei trazer à luz essa memória;
reconstruir a “ordem” nessa história,
sem entender por que me reproduz.
.
Do que é capaz um som?… Fiz o que pude:
– Sou a cantiga do sarilho rude
que traz o balde d’água para a luz!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 
Olegário Mariano
(Olegário Mariano Carneiro da Cunha)
Recife/PE, 1889 – 1858, Rio de Janeiro/RJ

O MEU RETRATO

Sou magro, sou comprido, sou bizarro,
Tendo muito de orgulho e de altivez.
Trago a pender dos lábios um cigarro,
Misto de fumo turco e fumo inglês.

Tenho a cara raspada e cor de barro.
Sou talvez meio excêntrico, talvez.
De quando em quando da memória varro
A saudade de alguém que assim me fez.

Amo os cães, amo os pássaros e as flores.
Cultivo a tradição da minha raça
Golpeada de aventuras e de amores.

E assim vivo, desatinado e a esmo.
As poucas sensações da vida escassa
São sensações que nascem de mim mesmo.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 
Tomás Antônio Gonzaga
Porto/Portugal, 1744 – 1810, Moçambique

MARÍLIA DE DIRCEU: SONETO II

Num fértil campo de soberbo Douro,
dormindo sobre a relva descansava,
quando vi que a Fortuna me mostrava
com alegre semblante o seu Tesouro.

De uma parte, um montão de prata e ouro
com pedras de valor o chão curvava;
aqui um cetro, ali um trono estava,
pendiam coroas mil de grama e louro.

Acabou (diz-me então) a desventura:
De quantos bens te exponho qual te agrada,
pois benigna os concedo, vai, procura.

Escolhi, acordei, e não vi nada:
comigo assentei logo que a ventura
nunca chega a passar de ser sonhada.

Mitos Indígenas (Mumuru - a estrela dos lagos)

Maraí, uma jovem e bela índia, muito amava a natureza. Passava seus dias a brincar perto do lago, tornando-se a companheira e melhor amiga dos peixes, das aves e dos outros animais. 

À noite, ficava a contemplar a chegada da Lua e das estrelas. 

Nasceu-lhe então um forte desejo de tornar-se também uma estrela. Perguntou ao pai, como surgiam aqueles pontinhos brilhantes no céu e, com grande alegria, veio a saber que Jacy, era um dos nomes indígena da Lua, ouvia os desejos das moças e, ao se esconder atrás das montanhas, transformava-se em estrelas. 

A partir deste instante, todas as noites Maraí esperava pela Lua, suplicando que a levasse para o céu, bem no alto. 

Muitos dias se passaram sem que a jovem realizassem seu sonho. 

Resolveu então aguardar a chegada da Lua junto aos peixes do lago. Assim que esta apareceu, Maraí encantou-se com sua imagem refletida na água, sendo atraída para dentro do lago, de onde não mais voltou. 

A pedido dos peixes, pássaros e outros animais, Maraí não foi levada para o céu. Jacy transformou-a numa bela planta, ganhando o nome de Mumuru, a Vitória-régia. 

Ela vive nos lagos e rios da Amazônia. Sua flor se abre sempre à meia-noite e tem o formato de uma estrela. 

Assim a linda jovem tomou-se a rainha da noite, a estrela dos lagos, a enfeitar ainda mais a Natureza com sua beleza e seu perfume.

Fonte> Adaptação do Texto de Jayhr Gael in O Caminho de Wicca - http://www.caminhodewicca.com.br (desativado). acesso em 13/10/2023.

Dicas de Escrita (Como Escrever uma Boa História Descritiva)

Escrever é uma forma de arte muito popular. Na escrita, qualquer um é capaz de se expressar através de diferentes paixões, sentimentos e expressões. Ser descritivo é uma característica importante para qualquer escritor, mas como escrever de maneira descritiva?

COMEÇANDO

1. Certifique-se de ter uma boa introdução.

É isso que atrairá o leitor para a história. Por exemplo: “Eu permaneci lá, na fortaleza da montanha, esperando e observando. Não sabia pelo que esperava, mas tinha certeza de que deveria estar ali. É como se tudo já estivesse determinado para acontecer."

2. Utilize linguagem descritiva!

Adjetivos são belos exemplos de palavras descritivas, tais como vermelho, macio, pegajoso, magnífico, horrendo, escamoso, entre outros. Com isso, o leitor poderá ter uma ideia clara do que está acontecendo na história. 

Por exemplo: “A cobra vermelha e escorregadia deslizou por entre as duas moitas espessas e repletas de folhas verdes.”

3. Crie sua conclusão.

Um final emocionante. NÃO use apenas o tradicional “Fim”, isso seria muito maçante! Termine de maneira inesperada, algo que ninguém nunca havia usado antes.

Por exemplo: “Ao perceber que minha jornada havia acabado, voltei meu olhar para o céu tão azul que parecia encoberto por um tecido. As nuvens eram negras como a noite. Embora tenha vencido, não realizei meu último desejo, que era encontrar minha mãe há muito perdida.”

USANDO A LINGUAGEM DESCRITIVA

1. Comece sua história de maneira que prenda a atenção do leitor.

A menos que esteja escrevendo um conto de fadas, você provavelmente não começará seu texto com “Era uma vez...”. Ao invés disso, use alguma coisa que desperte imediatamente o interesse do leitor, por exemplo:

“Mary foi ao chão ao que uma grande explosão atravessava a floresta como uma faca cortando um tecido.”. 

Com isso, o leitor será imediatamente apresentado ao personagem e ação principal. Não comece com uma cena de ação empolgante para depois seguir com várias páginas de exposição sobre o passado dos personagens e os bastidores de todas as ações. 

O leitor ficará irritado ao perceber que se interessou por uma parte apenas para ser forçado a passar por todas as partes entediantes.

Por exemplo: se você começar a história apresentando a personagem Mary e o contexto da explosão na qual está envolvida, dê sequência a esse segmento evitando seguir para páginas de descrição sobre como a floresta era antes e como passara por diversas transformações até se tornar o cenário atual, além de como era a aparência de Mary e sua história completa, etc. 

Ao invés disso, continue a ação principal contando o que Mary estava fazendo na floresta e o que causou a explosão.

2. Desperte os cinco sentidos do leitor.

Descreva como as coisas são, que cheiro elas têm, que sons podem ser ouvidos e que sensações podem ser sentidas. Dessa forma o leitor poderá sentir-se como parte integrante da ação e visualizar facilmente tudo o que está acontecendo.

Por exemplo, descreva como Mary sentiu o calor da explosão percorrendo seu corpo, faça com que o cabelo tenha ficado chamuscado para que ela possa sentir o cheiro de queimado.

Crie uma sequência em que ela quase sufoca com a fumaça acre e começa a tossir desesperadamente. E, por fim, faça com que seus ouvidos fiquem zunindo devido ao barulho da explosão (ao que esse pode ser um dos pontos-chave, onde Mary é capturada por não ouvir seus agressores se aproximando).

Obviamente, descreva apenas o que seja importante para sua história. Tente montar o cenário para dar ao leitor uma noção de como é a área onde está ocorrendo a ação, mas não sobrecarregue o leitor com cada ínfimo detalhe. Confie na imaginação do público.

3. Descreva os pensamentos e emoções de seu(s) personagem(ns).

Permitir que o público tenha esse conhecimento fará com que o leitor se sinta mais próximo e conectado a eles. Disserte sobre como os eventos da história influenciam a maneira como os personagens se sentem, como passam por mudanças emocionais devido aos eventos que experienciaram e que tipo de ação ou acontecimentos são criados a partir desses momentos.

Por exemplo: Mary pode estar se sentindo aterrorizada pela explosão na floresta, visto que ela havia dedicado sua vida a preservar esse habitat natural, ou talvez por que um de seus amigos estava próximo do ponto de impacto. Ela pode estar arrasada por causa da explosão, ou simplesmente nervosa. Talvez até esteja se sentindo arrasada, nervosa e aterrorizada, tudo ao mesmo tempo.

Reflita sobre como os pensamentos e emoções mudam conforme o rumo da história. Você não desejaria criar um personagem estático que não passa por nenhuma mudança, ao mesmo tempo que um personagem que passa por uma transformação drástica e sem sentido também poderia não agradar ao leitor. 

Por exemplo: no início da história, Mary pode estar se sentindo envergonhada por não ter ido contra as pessoas que criaram a explosão e, no decorrer da trama, desenvolve força e coragem impressionantes que a permitem derrotar os vilões.

4. Mostre, mas não conte.

Esta é a principal regra utilizada pelos mais criativos autores e escritores descritivos pelo mundo. 

Você não pode entregar toda a história pronta para o leitor, ao invés disso, utilize elementos de linguagem que passem pelo que você está querendo dizer, mas que não revelem o sentido literal de cada passagem construída.

Por exemplo: ao invés de dizer “Mary estava nervosa por causa da explosão”, você pode optar por uma passagem mais elaborada, tal como: “Mary cerrou os punhos ao ver as chamas e a fumaça devastando aquilo que um dia fora sua linda floresta. Ela mal sentia as pontas das unhas perfurando a carne de suas palmas. Tudo que ela havia trabalhado tanto para proteger agora estava destruído. Nesse momento, não era apenas a fumaça ardente que fazia seus olhos lacrimejarem.”.

DICAS

Não seja descritivo demais. 

Por exemplo, “Peguei com a mão esquerda a faca que estava guardada em sua devida posição dentro da gaveta localizada ao lado da geladeira com o imã vermelho de Papai Noel.” 

Isso é descritivo demais e facilmente incomodaria qualquer leitor. No entanto, evite fazer apenas descrições curtas e simples demais, tais como: “Seu cabelo era preto.”. Isso seria maçante demais!

Uma boa maneira de escrever uma história é pensar no que toca os personagens, o que escutam, cheiram, etc. Por exemplo: “Quanto mais ela andava floresta adentro, mais sentia o ar carregado”, ou algo parecido.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Varal de Trovas n. 595

 

Mitos Indígenas (Iguaçu - as cataratas que surgiram do amor)

Distribuída em várias aldeias, às margens do sereno Rio Iguaçu, a tribo dos Caingangues formava uma poderosa Nação Indígena. Tinham como Deus Tupã, o Deus do Bem e M'Boy, seu filho rebelde, o Deus do Mal. Era este o causador das doenças, tempestades, das pragas nas plantações, além dos ataques de animais ferozes e das demais tribos inimigas. 

A fim de se protegerem do Deus do Mal, em todas as primaveras, os Caingangues a ele ofereciam uma bela jovem como esposa, ficando esta impedida para sempre de amar alguém. Apesar do sacrifício, esta escolha era para ela um privilégio, motivo de honra e orgulho. 

Naípi, filha de um grande cacique, conhecida em todos os cantos por sua beleza, foi desta vez a eleita. Feliz, aguardava com ansiedade o dia de tornar-se esposa do temido Deus. 

Iniciaram-se assim os preparativos da grande festa. Convidados chegavam de todas as aldeias para conhecê-la. Entre eles estava Tarobá, valente guerreiro, famoso e respeitado por suas vitórias. 

Ocorreu que, talvez pela vontade do bom Deus Tupã, Tarobá e Naípi vieram a se apaixonar, passando a manter encontros secretos às margens do rio. Sem ser notado, M'Boy acompanhava os acontecimentos, aumentando a sua fúria a cada dia. 

Na véspera da consagração, os jovens encontraram-se novamente às margens do rio. Tarobá preparou uma canoa para fugirem no dia seguinte, enquanto todos adormeciam, fatigados com as danças e festejos e sob efeito das bebidas fermentadas. 

Iniciaram a fuga e, já à boa distância do local, M'Boy concretizou sua vingança. Lançou seu poderoso corpo no espaço em forma de uma enorme serpente, mergulhando violentamente nas tranquilas águas e abrindo uma cratera no fundo do rio Iguaçu. Formaram-se assim as cataratas, que tragaram a frágil canoa. 

Tarobá foi transformado em uma palmeira no alto das quedas e Naípi em uma pedra nas profundezas de suas águas. 

Do alto, o jovem apaixonado contempla sua amada, sem poder tocá-la. Resta-lhe apenas murmurar seu amor quando a brisa lhe sacode a fronde. 

Tarobá lança suas flores para Naípi, através das águas, como prova de seu amor. A jovem está sempre banhada por um véu de águas claras e frescas, que lhe amenizam o calor de seus sentimentos. 

Ainda hoje, M'Boy permanece escondido numa gruta escura, vigiando atentamente os jovens apaixonados. Ouve-se dizer que, quando o arco-íris une a palmeira à pedra, pode-se vislumbrar uma luz que dá forma aos dois amantes, podendo-se ouvir murmúrios de amor e lamento.

Fonte> Adaptação do Texto de Jayhr Gael in O Caminho de Wicca - http://www.caminhodewicca.com.br (desativado). acesso em 13/10/2023.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Edy Soares (Fragata de versos) – 43: Flor da Manhã

 

Artur De Azevedo (Contos em versos) Sem botas

Em tudo acreditava
O Lopes, bom rapaz, rapaz simplório,
Que dos seus companheiros de escritório,
No velho Banco onde os pirões ganhava,
Era o divertimento, era o «pratinho»;
Não lhe pregavam peta, coitadinho!
Que lhe não parecesse uma verdade.
Mas, apesar de tanta ingenuidade,
Pesava-lhe a amargura
De não ter tido nunca uma aventura
Amorosa; lembrava-se com pena
De que não fora nunca herói de um drama
Nem mesmo de uma cena,
Em que entrasse uma dama
Por ele apaixonada,
Ou solteira, ou casada.

Mas uma noite o acaso, enfim, num bonde
Que ele tomara a esmo,
Por fugir ao calor, sem saber onde
Iria ter, nem mesmo
Que tempo no passeio gastaria,
Deparou-lhe a aventura cobiçada:
Linda mulher, ao lado seu sentada,
Olhares tão sensuais lhe dirigia,
E com tanta insistência,
Que ele, apesar da sua inexperiência,
Pois que jamais se vira em tais assados,
Foi dos mais atirados,
E fez, com o cotovelo e com o joelho,
Trabalho digno de um «bolina» velho.

A passageira bela
Saltou do bonde, e o Lopes, prontamente,
Também saltou (pudera!) e foi atrás dela,
Sem saber em que bairro se encontrava,
Nem que rua era aquela,
Onde além deles, nem um cão passava,
— Rua deserta, silenciosa, escura,
Propícia a uma aventura.

Antes que o Lopes qualquer coisa diga,
Ela volta-se, e fala: — Por piedade
Os passos meus não siga.
Se não deseja a minha infelicidade!
Hoje, só hoje, desacompanhada
Fui a sair forçada
Por um negócio urgente.
Meu marido é doente,
E há três dias estamos sem criada.

Fez-me o senhor uma impressão profunda,
Por parecer-se com alguém que o sono
Eterno dorme numa cova funda:
Foi o primeiro dono
Do meu amor de virgem... Acredite:
Não posso crer que um morto ressuscite,
Mas, ao ver essa cara,
Supus que o meu Gabriel ressuscitara!

Adeus, senhor! não tente
Tornar a ver-me! Esqueça-me! É prudente!
— Mas eu... — De conta faça
Que uma visão eu sou... visão que passa...
E esgueirava-se a dama. O namorado
Que se havia deixado
Ficar mudo, enlevado

No som daquela voz, notas estranhas,
Misteriosa música divina
Que lhe invadia o âmago e as estranhas,
Tomou-lhe a mão papuda e pequenina,
Dizendo-lhe: — Senhora,
Não se afaste de mim, não vá se embora,
Sem me deixar ao menos a esperança
De que algum dia tornarei a vê-la!
Não queira que num céu todo bonança
Brilhe, e logo se apague a minha estrela!

— Não! deixe-me partir! — Oh, não! não parta!
— Pois sim... pois bem... escrevo-lhe uma carta...
Dê-me o seu nome e a seu endereço — Pronto!
Meu cartão aqui tem.
E o Lopes, tonto,
Qual se bebera capitoso vinho,
Ficou ali parado,
Enquanto ela seguia o seu caminho
E entrava num sobrado.

A carta não tardou. Dizia a bela
Que jamais faltaria
Ao seu dever por uma fantasia;
Que o pobre Lopes se esquecesse dela;
Se, entretanto, quisesse
Mandar-lhe uma resposta, que o fizesse
Para a posta-restante.
Foi a correspondência por diante,
E, á terceira missiva,
Já se mostrava a dama compassiva,
Prometendo que, logo que pudesse,
Uma entrevista ao Lopes marcaria.
E cumpriu a promessa um belo dia:
«Não posso mais! Se és homem que se afoite,
Podes vir sexta-feira, à meia-noite.
Fica à porta da rua
Uma criada à tua
Espera. Meu marido
Aqui estará, porém... adormecido.

Vê a quanto me exponho
Para tornar verdade um belo sonho!»
Achou o Lopes no posto a medianeira,
Uma velha mulata. Esta lhe disse,
Guardando, agradecida, algumas notas,
Que a escada não subisse
Sem descalçar primeiramente as botas,
Que tinham «ringideira».

Ele subiu ridículo, em palmilhas,
E co’um dedo enfiado nas presilhas
Das duas botas penduradas. Ela,
Que o vira da janela,
Foi no topo da escada recebê-lo,
Sugestivo o penhoar, solto o cabelo,
Ele quis abraça-la;
Ela, porém, fez — Psiu! — e, cautelosa,
Tomando-o pela mão fria e nervosa,
Pé ante pé levou-o para a sala,
Dizendo-lhe baixinho;
— Muito devagarinho...

Ele pode acordar... — Na sala escura
Teve ignóbil desfecho essa aventura...
— Mas teu marido? Tu não tens receio...
— Ai! se soubesses... Eu narcotizei-o!...
Olha... Não o ouves ressonar? — O moço
Nada ouvia, mas respondeu... Sim... ouço...

Sucederam-se novas entrevistas,
Sempre co’as mesmas precauções já vistas.
Logo à segunda, o Lopes foi sangrado
Em quinhentos mil réis, não para ela,
Que nada lhe faltava, Deus louvado,
Mas para a tal mulata, sentinela,
Que tinha precisão dessa quantia.
Oito dias depois, nova sangria;
Outra, mais outra, e muitas, — finalmente
Nunca se viu mulher mais exigente!

Ele mandava ao diabo a sua estrela!
Amante cara! E não podia vê-la
Senão à meia luz, e receoso,
De despertar o esposo!

Que idade ela teria
Ele ignorava, e despreza-la queria;
Porém era dos tais que não reagem
Por falta de coragem.

Os colegas do Banco
Perceberam que o Lopes ocultava
Alguma coisa que o mortificava.
Perguntaram-lhe o que era, e ele foi franco:
— Imaginem, rapazes,
Que numa noite em que eu esparecia
Num bonde da Alegria,
Uns olhos vi, capazes
De um morto erguer da sepultura fria!
Noite de amor nefasta!
Ela saltou na rua***. — Basta! basta!
(Um dos rapazes disse)
Que grande patetice!
Já sei de quem se trata:
É da celebre tipa da mulata,
Uma velha cocote aposentada,
Que finge ser casada,
E acha que toda a gente é parecida
Co’um tal defunto de quem foi querida!
Aos amantes faz crer que narcotiza
Um marido fantástico! Artemisa
Diz que se chama e chama-se Tereza! —
Pasmado estava o Lopes. — Com certeza
(Acrescentou o amigo, entre chacotas),
Para subir a escada,
Foste obrigado a descalçar as botas...
— Sabes de tudo! não ignoras nada!
— Se eu faço parte dos três mil idiotas
Que entraram lá sem botas!
Cara foi a lição, completa a cura,
Pois o Lopes não teve outra aventura.

Fonte> Artur de Azevedo. Contos em verso (contos cariocas). Publicado originalmente em 1909. Disponível em Domínio Público . Convertido para o português atual por J. Feldman

Naiker Dàlmaso (Trovas Capixabas)



Amizade verdadeira
se prova com lealdade.
Do contrário, é traiçoeira,
só traz infelicidade.
= = = = = = = = = 

Ao nascer a gente chora.
Quando jovem, quantos ais!
Velho sabe, não demora
– tempo é menos, que mais.
= = = = = = = = = 

Brotam suspiros no peito,
também lágrimas no olhar.
Os versos que tenho feito,
de você me faz lembrar.
= = = = = = = = = 

Da trova faço um buquê, 
com versos do coração; 
cheirosa feito você, 
a rosa da inspiração!
= = = = = = = = = 

Desde o albor da mocidade, 
ébrio amor que enaltecemos, 
bebo doses de saudade, 
da ebriez que já vivemos!
= = = = = = = = = 

Desta vida eu agradeço 
tudo, tudo, até má sorte! 
Não há erro num tropeço, 
toda queda me fez forte.
= = = = = = = = = 

Em busca dos meus anseios,
me desfiz em mil pedaços;
me perdi nos devaneios
até cair nos seus braços!
= = = = = = = = = 

Esta rosa e quatro espinhos
que abrandou meu coração,
perfumou os meus caminhos,
deu à vida mais razão.
= = = = = = = = = 

Há de rir quem encontrar 
a luz da felicidade. 
Mas quem não sabe chorar, 
nunca vai rir de verdade. 
= = = = = = = = = 

Imaturo, fraquejei,
com medo das frustrações…
Mas cada vez que esquivei,
chorei por mais ilusões!…
= = = = = = = = = 

Lembro bem do meu lugar,
salpicado de esplendor;
Onde as ondas vêm beijar,
bate a rede o pescador!…
= = = = = = = = = 

Na exaustão do sofrimento 
que lacera e amarga o peito, 
o poeta em desalento, 
faz dos versos o seu leito. 
= = = = = = = = = 

Nas águas que me banhei,
do seu quente litoral,
anseios, sonhos, deixei
nas ondas de coqueiral!
= = = = = = = = = 

Nas andanças dessa vida,
antes de te conhecer,
fiz coisas que Deus duvida,
e o diabo nem quis ver!
= = = = = = = = = 

Nas veredas dessa vida, 
vou plantando os versos meus… 
Pra faze-la mais florida, 
antes de dizer adeus! 
= = = = = = = = = 

O barco, seu passaporte,
pro portal da imensidão…
Pescador de braço forte,
o mar é seu ganha-pão.
= = = = = = = = = 

Olho a noite e lembro em pranto, 
nessa ocasião lunar, 
que hoje o céu é seu recanto, 
e a saudade o meu lugar.
= = = = = = = = = 

O nosso amor tem efeito
poético! E me envolvendo,
quanto mais amor no peito,
mais trovas eu vou fazendo…
= = = = = = = = = 

Os castanhos olhos seus:
uma flecha de harmonia.
Que após atingir os meus,
fez minha vida em poesia!…
= = = = = = = = = 

Perfeita combinação:
é café com poesia.
Um preenche o coração,
o outro nos dá energia.
= = = = = = = = = 

Quantos ais, ó dura vida, 
os espinhos foram tantos! 
Porém tu, minha querida, 
foste a cura dos meus prantos.
= = = = = = = = = 

Quem o sonho realiza,
sem perder os seus valores,
encara a dor, se humaniza,
dos espinhos colhem flores!…
= = = = = = = = = 

Se a vida é obra de arte,
o Artista teve a destreza,
que você fizesse parte
da mais linda natureza!
= = = = = = = = = 

Sem ter fé, és indefeso 
no estirão para o futuro; 
Igual não teres aceso 
nenhum fósforo no escuro.
= = = = = = = = = 

Ser feliz é uma sina,
na arte de viver a vida;
ou trabalha a disciplina,
ou acabará ferida.
= = = = = = = = = 

Se triste, do trilho escapo,
e falso sorriso trago.
Deixo de sentir-me um trapo,
só com o seu terno afago.
= = = = = = = = = 

Todo pai é um gigante!
A seu filho dá-se inteiro.
Força e fé edificante –
o Grão Mestre conselheiro.
= = = = = = = = = 
Naiker Dàlmaso é de Vila Velha/ES

Fonte> https://versifica.blog/